
Gênero de teatro musicado surgido no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. Foi um grande lançador de compositores e músicos populares, numa época em que o principal mercado de trabalho era o teatro, os cabarés e os cafés dançantes. O gênero firmou-se como conseqüência de uma necessária opção de lazer para as camadas da crescente classe média urbana do Rio de Janeiro. Tinha como característica passar em revista os principais acontecimentos do ano, pondo em cena os fatos, revividos com humor e com o recurso da dança e da música. Segundo J. R.Tinhorão, o ambiente para o aparecimento desse gênero de teatro começou a ser preparado desde 1859, pelo gênero alegre do Alcázar Lyrique, do francês Joseph Arnaud. Nesse mesmo ano, foi encenada “As surpresas do sr. José da Piedade”, de Justino de Figueiredo Novais, considerada a primeira revista nacional, encenada sem sucesso no Teatro Ginástico. A partir da década de 1880, com o aumento da classe média e com a crescente intensificação dos serviços urbanos, o teatro de revista consolidou-se. Nessa época, Artur Azevedo já fazia sucesso com suas revistas, que contribuiriam para torná-lo o grande nome do teatro musical brasileiro. No início, o novo gênero sofreu a influência das revistas européias. Em 1887, com a apresentação da revista “La gran via”, encenada por uma companhia espanhola, o teatro musicado brasileiro sofreu uma transformação com a descoberta de números musicais cantados por coristas em movimento. As revistas brasileiras lançaram, a partir dessa época, um estilo que valorizava a canção popular, que acabaria tendo o teatro como seu importante divulgador. Esse fato foi o ponto de partida para usar o carnaval como tema nas revistas. Um ano depois do sucesso de “La gran via”, Oscar Pederneiras estreou, no Teatro Recreio, uma revista com o nome “O boulevard da imprensa”, na qual estariam representadas as três maiores sociedades carnavalescas do Rio de Janeiro: os Democráticos, os Tenentes do Diabo e os Fenianos. Cantadas nos palcos dos teatros, as músicas muitas vezes caíam na boca do povo, transformando-se em sucesso. Foi o caso do tango “Araúna” ou “Xô, Araúna”, lançado em 1885 na revista “Cocota”, de Artur Azevedo. Era um lundu amaxixado, interpretado na peça por Filipe de Lima, que foi tão cantado na época, que chegou a ser sucesso nacional (foi ouvido na voz de uma vendedora de balas da capital do Rio Grande do Sul, pelo gaúcho Aquiles Porto Alegre). Outro sucesso foi o tango “As laranjas da Sabina”, inspirado em caso policial, envolvendo uma ex-escrava gorda, vendedora de laranjas, que foi obrigada a retirar seu tabuleiro de laranjas por causa de uma manifestação de caráter republicano, promovida pelos estudantes de Medicina que costumavam freqüentar sua barraca. O caso rendeu até uma passeata. O episódio ficou famoso porque os estudantes chegaram a jogar as laranjas da Sabina no exato momento em que a carruagem da princesa imperial regente passava em frente à barraca, quase sendo atingida pelos manifestantes. Esse fato inspirou os irmãos Artur e Aluísio Azevedo a incluírem na revista “República” uma cena onde a atriz Ana Manarezzi, caracterizada como a baiana Sabina, canta o famoso tango. Esse fato introduziu a figura da baiana como personagem reincidente nos palcos brasileiros. Outro sucesso saído dos palcos do teatro musicado foi o tango “Gaúcho”, de Chiquinha Gonzaga, uma das grandes compositoras do teatro de costumes brasileiro. Tocado e cantado por Machado Careca pela primeira vez na revista “Zizinha maxixe”, de 1897, tornou-se um dos maiores sucessos da música popular brasileira. Conhecido com o nome de “Corta-jaca”, chegou a ser interpretado ao violão pela primeira-dama Nair de Teffé, no Palácio do Catete, em episódio que escandalizou a elite política e social de então. Dentre os grandes maestros compositores que atuaram no teatro de revistas, podemos citar, além de Chiquinha Gonzaga, Nicolino Milano, Paulino Sacramento, Bento Moçurunga, Antônio Sá Pereira, Sofonias Dornelas, Adalberto Gomes de Carvalho, Costa Júnior, Bernardo Vivas, Júlio Cristóbal, Assis Pacheco, José Nunes, Luz Júnior, Domingos Roque, Roberto Soriano. Além deles, podemos citar os grandes cantores: Xisto Bahia, o cômico Vasques, Filipe de Lima, Ana Manarezzi, Maria Lino e tantos outros. Posteriormente, veio uma nova geração de compositores e cantores que acabou sendo absorvida pelo rádio e pela indústria fonográfica: Freire Júnior, José Francisco de Freitas, Baiano, Araci Cortes, Pepa Delgado, Pepa Ruiz, Ismênia Mateus, Eduardo Souto, Sinhô, Henrique Vogeler, Hekel Tavares, Sebastião Cirino, Pixinguinha, Lamartine Babo, Ary Barroso, Augusto Vasseur, Vicente Celestino e tantos outros. Nossos grandes revistólogos foram Artur Azevedo, Oscar Pederneiras, Augusto Fábregas, Freire Júnior, Luís Peixoto, Luís Iglesias, Carlos Bittencourt, Cardoso de Meneses, Bastos Tigre, Marques Porto, Irmãos Quintiliano e outros. Dentre os grandes sucessos vindos do teatro musicado, podemos citar, além do “Corta-jaca”, de Chiquinha Gonzaga, “Vem cá, mulata”, de Costa Júnior; o tango “Forrobodó”, de Chiquinha Gonzaga; “O pé de anjo” e “Fala, meu louro”, de Sinhô; “Ai, Ioiô”, de Henrique Vogeler e Luís Peixoto; “Joujoux e balangandãs”, de Lamartine Babo, e “No tabuleiro da baiana”, de Ary Barroso, entre dezenas de outros títulos.