2.502
©
Termo
Solar da Fossa
Dados Históricos e Descrição

Casarão situado no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, que nas décadas de 1960 e 1970 foi uma pensão com 85 quartos que abrigaram muitos artistas, dentre os quais Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Gladys, Tom Zé, Gilberto Gil, Nana Caymmi, Glauber Rocha, Paulinho da Viola, Zé Keti, Sueli Costa e Tim Maia; os poetas Paulo Leminski e Abel Silva; os atores Cláudio Marzo, Beth Faria, Antônio Pitanga e Ítala Nandi; o jornalista Ruy Castro; o diretor teatral Aderbal Freire Filho; tornando-se o maior polo informal de produção cultural durante o período de ditadura militar no Brasil.

Antes de tornar-se pensão o casarão havia servido também como convento e foi a casa principal da antiga fazenda do Vigário Geral. No ano de 1964, foi arrendado em nome Jurema Romão Cavalcanti por Frederico Mello, arrendatário do terreno da Santa Casa de Misericórdia, que incluía três outros imóveis e ia até a igreja Santa Teresinha, próxima ao Túnel Novo, que liga os bairros de Botafogo e Copabacana. O casarão de dois pavimentos tinha paredes pintadas de rosa-claro e janelas, de azul. Na entrada, havia uma passagem estreita, que dava em um pátio, e uma escada que levava ao pórtico do prédio. Na parte interna do casarão, havia um amplo jardim com gramado e algumas árvores. Dona Jurema passou a oferecer para aluguel sem fiador, mas com pagamento antecipado, apartamentos de dois quartos, um quarto e até quitinetes. O módico preço do aluguel incluía troca de roupas de cama e lavagem de roupas pessoais feita por lavadeiras do Morro da Babilônia, próximo à pensão que dona Jurema batizou de Santa Teresinha.

O primeiro hóspede do meio artístico a chegar, em 1966, foi Kleber Santos, diretor do espetáculo Rosa de Ouro, de Hermínio Bello de Carvalho, em cartaz naquele ano, no Teatro Jovem, em Botafogo. Em seguida, veio a atriz Maria Gladys, do elenco fixo do teatro, que na época namorava o cantor e compositor Roberto Carlos. Paulinho da Viola, que também fazia parte do espetáculo Rosa de Ouro, passou a dividir um quarto na pensão com o amigo de faculdade Abel Silva, poeta que se tornaria compositor de vários sucessos da MPB. Maria Gladys trouxe Caetano Veloso que, por sua vez, trouxe os amigos baianos e artistas gráficos Rogério e Roberto Duarte, o cantor e compositor Tom Zé e a cantora Maria da Graça ou Gracinha – mais tarde, Gal Costa. Naquela filial baiana do solar, habitavam também Gilberto Gil, o poeta José Carlos Capinam e a cantora Nana Caymmi.

O solar foi o berço da Tropicália, movimento musical lançado em 1968 com o disco “Tropicália ou Panis et Circencis”. A capa do disco mostra vários moradores do solar e alguns visitantes habituais, como o poeta Torquato Neto e a cantora Nara Leão. O conceito e a criação da capa foram de Rogério Duarte, e a faixa-título “Panis et circenses”, com letra de Caetano, fazia referência ao próprio solar: “Mandei plantar folhas de sonhos no jardim do solar. As folhas sabem procurar pelo sol. E as raízes procurar, procurar..”

Enquanto Caetano e outros baianos seguiam pela vereda tropical, Paulinho da Viola compunha, no solar, “Sinal fechado”, um de seus maiores clássicos. Outro morador, Antonio José Waghabi Filho, mais conhecido como Magro, do conjunto vocal MPB4, escrevia o arranjo para a música “Roda Viva”, de Chico Buarque. Em outro canto do solar, Sá e Guarabyra ensaiavam o início de uma parceria, que incluía, ainda, o amigo Zé Rodrix.

As condições da pensão de dona Jurema eram atraentes para artistas jovens e duros, vindos de outras cidades; para jovens cansados de morar com os pais; e para desquitados sem muito dinheiro, precisando refazer a vida. Foi o caso do carnavalesco Fernando Pamplona, que se mudou para a pensão em 1967, depois de uma separação. Deprimido, Pamplona conseguiu rir da própria desgraça, batizando a pensão de Solar da Fossa. A fossa do carnavalesco durou pouco, ele foi visto animado no solar, com o amigo Arlindo Rodrigues, bolando o desfile do Salgueiro, mas o nome ficou.

Em 1972 foi demolido para a construção do Shopping Rio Sul.