
Fundado na cidade de Olinda, em Pernambuco, em 8 de dezembro de 1863, dia de Iemanjá, data da celebração de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade do Recife, e também de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
O Maracatu Nação Leão Coroado Nação Nagô, ou de baque virado, tem as cores branca e vermelha, sendo considerado por muitos como um segundo mais antigo maracatu do Brasil. De acordo com o pesquisador Roberto Azoubel, a data de fundação pode ter sido 11 anos antes, em 1852, sendo o mais antigo o Maracatu Nação Elefante, fundado em 1800.
Entre os fundadores do Maracatu Nação Leão Coroado destaca-se o ex-escravo Loreano Manoel dos Santos. Sua primeira sede foi no bairro de São José, no centro de Recife, na época em que essa região abrigava escravos recém-libertos, daí a ligação de seus primeiros moradores com os cultos africanos, logo depois atrelados ao sincretismo religioso. Em 1954, Seu Luís, autoridade do candomblé de origem Nagô das casas de santo do Recife, assumiu a liderança da agremiação, mantendo-se no cargo até o ano de 1997, por ocasião de sua morte. Seu Luís, Mestre Luís de França, nasceu em 1900 e era filho de Loreano Manoel dos Santos. Criado no bairro de São José, aprendeu a tradição do cortejo através do convívio familiar. Conhecido por seu temperamento severo, fez com que a agremiação ganhasse diversos títulos através dos anos. Os adornos do maracatu, bem como os troféus recebidos, ocupavam a maior parte da casa onde o mestre vivia, um imóvel localizado no bairro da Bomba do Hemetério, zona norte da cidade de Recife.
Em suas apresentações, o Leão Coroado faz uso dos tambores de macaíba (também chamados “alfaias”) fabricados por França, conhecido por ser um dos grandes construtores do instrumento em Pernambuco. Durante seus 97 anos de vida, Seu Luís teve cinco companheiras, entre as quais, Dona Madalena, que foi rainha do Leão Coroado e, em seguida, uma das mais importantes rainhas do Maracatu Nação Elefante. Com a morte do Mestre, a liderança do Leão Coroado passou para as mãos do babalorixá Afonso Aguiar. O novo responsável desenvolveu estratégias para manter o maracatu, sem perder muito as tradições características do grupo. Sob o seu comando, os integrantes não são obrigados a seguirem o culto Nagô ou seus compromissos. Porém, Afonso cumpre com todas as obrigações religiosas exigidas para a realização do seu cortejo. Ao assumir o Leão Coroado, Afonso recebeu como legado patrimonial algumas alfaias sem couro, o estandarte, um leão do carro alegórico muito desgastado, as espadas, o pálio e as calungas Dona Clara e Dona Isabel, bonecas que representam os orixás (Oxum e Iansã, respectivamente), protetores da agremiação. Como tudo estava muito deteriorado, foi preciso retomar o maracatu praticamente do zero. Ele entrou em contato então com os antigos batuqueiros da comunidade da Bomba do Hemetério e conseguiu reuni-los para integrar o baque do “novo” Leão Coroado.
De acordo com Roberto Azoubel, no ano de 2000, o grupo gravou uma das faixas da coletânea “Maracatu atômico”, CD que reuniu registros da música de vários maracatus tradicionais de Pernambuco. Em 2001, a agremiação fez uma turnê nacional visitando as cidades de São Paulo (SESC Belenzinho), Rio de Janeiro (Fundição Progresso) e Salvador, onde tocou no “Strictly Mundial 2001”, feira de música que ocorreu conjuntamente com o “III Mercado Cultural Latino-americano”. Em 2003 o Maracatu Leão Coroado organizou seus ensaios e outras atividades em sua sede no bairro de Águas Compridas.
No ano de 2005 o grupo lançou o primeiro CD. Mestre Afonso Aguiar (mestre da Nação Leão Coroado) fez várias apresentações em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, sendo recepcionado pelo grupo carioca Rio Maracatu, que organizou em sua sede, na Fundição Progresso, aulas com o mestre e ainda um desfile pela praia de Ipanema como ponto alto da celebração pelo lançamento do primeiro CD do Nação Leão Coroado. O grupo é considerado a mais antiga nação em atividade contínua.
Segundo o percussionista Reppolho em seu livro “Dicionário Ilustrado de Ritmos & Instrumentos de Percussão”:
“Baque Virado: Ritmo afro-brasileiro usado nos maracatus de Nação Nagô chamado de Maracatu de Baque Virado ou Maracatu Nação, em Recife. Instituição: nasceu na cidade de Olinda, em 1793, para homenagear os Reis do Congo. Alguns pesquisadores afirmam que esta Instituição fora implantada pelos portugueses. As variações rítmicas tocadas pelo tambor alfaia (bombo) recebem os nomes de Marcação, Malê, Baque-de-Parada Arrastão e Baque-de-Martelo. Vejamos como ocorre normalmente a sequência musical da percussão: o Tarol anuncia levemente um esquema rítmico bem simples, rufando e intercalando pausas. Quase no mesmo instante, o Gonguê assinala a sua rítmica característica, dando entrada às Caixas-de-guerra. Em seguida, ocorre a entrada das Zabumbas, segundo o maestro César Guerra Peixe. No decorrer dos anos o (tambor) Zabumba foi substituído pelo (tambor) Alfaia, acompanhado por Ganzás, Gonguê, e Xequerês, também chamado de Agbê”.
Em 2009, no livro “Maracatu Baque Virado e Baque Solto. Coleção Batuque Book – Volume 1” foram listadas algumas composições de desfiles anteriores, tais como “O carnaval tem seus direitos”, “O tabu tabutá” e “Olê olá negrada olha a linha”, todas de autoria de Mestre Afonso.
BIBLIOGRAFIA CRÍTICA:
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010.
REPPOLHO. Dicionário Ilustrado de Ritmos & Instrumentos de Percussão. Rio de Janeiro: GJS Editora, 2012. 2ª ed. GJS Editora, 2013.
SANTOS, Climério de Oliveira, RESENDE, Tarcísio Soares. Maracatu Baque Virado e Baque Solto. Coleção Batuque Book – Volume 1- Pernambuco. Recife: Edição do Autor, 2009.