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Termo
Jongo
Dados Históricos e Descrição

Dança afro-brasileira, originária de Angola, inicialmente de intenção religiosa fetichista. Hoje perdeu quase totalmente o caráter esotérico, transformando-se numa dança de simples divertimento. Muitos autores a consideram uma variedade do samba, encontrada nos estados do Rio de Janeiro, onde pode ser conhecida também pelo nome de ‘Bendenguê’, São Paulo (pelo nome de Corimá, angona e tabú), Minas Gerais e Espírito Santo. O jongo é uma dança do tipo geral batuque angolês, com coreografia de roda, seja de solista ou par ao centro ou em movimento circular, de homens e mulheres indistintamente. Sua coreografia é feita em roda girando no sentido contrário dos ponteiros do relógio. O acompanhamento, só de percussão, é feito por um tambor maior, chamado tambu ou também caxambu, e outro menor, denominado candongueiro, com a presença indispensável de cuíca e de guaiás (chocalhos). O tambor grande – caxambu – estendeu o significado também à própria dança do jongo, que em alguns lugares é chamada de caxambu. Não se admite no jongo a umbigada tradicional, considerada pelos jongueiros falta de respeito, substituída por uma elegante reverência à distância. Ultimamente, têm-se visto violões e cavaquinhos no acompanhamento e alguns conjuntos de jongo usam até instrumentos de sopro em apresentações de caráter comercial. O canto é repetido sobre um texto em verso tirado por um dançador e repetido, em forma de antífona. Esse texto, chamado ponto, é  cantado várias vezes e pode conter um enigma. Em tal caso, é repetido até que alguém o “desamarre”, isto é, decifre o significado oculto. A inexistência de textos de sentido simbólico, que dá às palavras uma semântica peculiar aos jongueiros, parece ter tido origem durante a escravidão, quando os negros necessitavam transmitir informações indecifráveis pelos senhores. Alguns desses pontos são de original e rara beleza, como o seguinte, colhido e interpretado pela folclorista Maria de Lourdes Borges Ribeiro:

 

                             “Água com areia

                               Não pode combiná

                               Água vai embora

                               Areia fica no lugá”

 

Interpretação:

Água: fazendeiro novo, inexperiente, sem prestígio político, que fracassa em seus negócios.

Areia: Proprietário antigo, poderoso, forte, que domina o município.

Os pontos recebem denominações diferentes de acordo com a finalidade a que se destinam. Assim há: ponto de louvação – no início para louvação; ponto de visário ou bizarria – para alegrar a dança; ponto de despedida – para o final do jongo; ponto de demanda ou porfia – para desafio; ponto de gurumenta ou gromenta – para briga;  ponto … – para magia. O ponto nem sempre é improvisado, há os que correm mundo e são empregados em formas diversas. Quando o ponto apresenta linguagem enigmática, deve ser desatado, isto é, deve ser decifrado. Quando ninguém o consegue, diz-se que o ponto ficou amarrado. Nesse caso, a cantoria só termina quando alguém o decifra, bate no tambu e grita “cachoera”. (em alguns lugares grita-se machado). O ponto pode ser cantado, rezado ou gungurado, isto é, usando a técnica erudita da “boca chiusa” – sussurro, murmúrio. Durante o jongo não há práticas fetichistas nem  movimentos convulsivos na dança, mas ela é aproveitada veladamente, em ambientes mais tradicionais, para contatos sutis com a magia, que podem resultar da essência da dança ou ser uma assimilação posterior.

No Rio de Janeiro pode ser encontrado no Morro da Mangueira, no Morro do Salgueiro, no Quilombo de São José (Estado do Rio de Janeiro), Quilombo de Quissamã e no Morro da Serrinha. Tem como um dos expoentes, Mestre Darcy do Jongo, do Morro da Serrinha, entre Madureira e Vaz Lobo, subúrbios do Rio de Janeiro. Mestre Darcy do Jongo inovou ao inserir instrumentos de sopro no jongo e criou o grupo Jongo da Serrinha, que através de trabalhos comunitários preserva as raízes do jongo (ver Darcy do Jongo).

No ano de 2019, no dia 18 de maio, faleceu Tia Maria do Jongo (Maria de Lourdes Mendes), aos 98 anos de idade. Fundadora, ao lado de Vovó Maria Joana (1902-1986) e Mestre Darcy do Jongo (1932-2001) da Casa do Jongo da Serrinha, uma das comunidades do bairro de Vaz Lobo. Também foi uma das fundadoras, em 1947, do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Império Serrano. Meses antes Tia Maria recebeu o “Prêmio Sim à Igualdade Racial 2019”, do Instituto Identidades do Brasil, na categoria “Arte em Movimento”, em cerimônia no Copacabana Palace.

 

BIBLIOGRAFIA CRÍTICA:

 

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.