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Termo
Fox-Canção
Dados Históricos e Descrição

A influência das danças estrangeiras na MPB foi importantíssima. Na primeira metade do século XIX, foram introduzidas no Brasil sobretudo a quadrilha, a valsa, a polca, a “schottisch”, o tango, a “habanera”, a mazurca, todas dando origem a formas ainda vivas de manifestações musicais nossas, como as quadrilhas folclóricas, o tango brasileiro, o maxixe, o choro, os novos recortes rítmicos das modinhas e das serestas. Essas danças aqui chegaram por meio das partituras importadas, das representações de artistas de teatro ou de ambas as formas. A partir da segunda década do século XX, outra dança estrangeira aclimatou-se aqui, exatamente como as da primeira metade do século anterior, embora os estudiosos da nossa música quase não a mencionassem nos seus escritos: o “fox-trot” americano. Já agora a aparição não se deve a partituras importadas ou à representação ao vivo. Os primeiros foxes apareceram gravados em disco. O primeiro deles foi o do disco Odeon nº 121336, gravado pela orquestra Pickman, constando o “fox-trot” “Ragging the scale”, de Edward B. Claypoole, que deve ser do ano de 1916, uma vez que o disco nº 121413 é o famoso “Pelo telefone”, gravado em fevereiro de 1917 pela Banda do 1º Batalhão de Polícia da Bahia. A este fox seguiram-se as gravações de vários outros de autores americanos: “Hindustan”, de Oliver G. Wallace e Harold Weeks; “Smiles”, de Lee S. Roberts, e vários outros. Logo depois, os autores brasileiros começaram a compor foxes, exatamente como um século antes tinham começado a compor valsas, polcas, “schottischs” etc. Entre 1921 e 1926, já era grande a safra de foxes da produção nacional. Freire Júnior, Eduardo Souto, Leopoldo Fróes, Nazareth, Pixinguinha, Joubert de Carvalho e Marcelo Tupinambá, entre outros, compuseram foxes nessa época.

A segunda metade da década de 1920 foi a era do jazz por excelência. A música americana invadiu o mundo na esteira do sucesso dos Estados Unidos na política internacional, com a sua contribuição definitiva para o fim da Primeira Guerra Mundial e com o formidável poderio econômico decorrente disso. Foi então que todos os grandes ícones da MPB, sem exceção, produziram e gravaram foxes com o instrumental popular brasileiro, como haviam com ele gravado polcas e valsas um século atrás. “Campanha do sul”, fox de Rogério Guimarães, foi gravado em solo de violão pelo autor com acompanhamento de Francisco Alves, também ao violão. Américo Jacomino, em 1928, gravou o seu fox “Quando os corações se querem”, em solo de violão; Luperce Miranda, com o grupo Voz do Sertão, gravou os seus foxes “Primoroso”, “Não gosto de você”, “Moto contínuo” e “Barulhento”, em solo de cavaquinho. Em 1928, Ladário Teixeira gravou em solo de saxofone um fox que, a despeito do sax, devia ter um cunho marcadamente não só nacional como até mesmo nordestino: chamava-se “Soluços do jegue” (Parlophon – 12 846). Com outras organizações instrumentais, abundaram os foxes muitas vezes com classificações inusitadas, como o samba-fox “Por causa da morena”, de Almirante e Hervé Cordovil, ou a marcha-fox de Gaudio Viotti “Numa noite de céu estrelado”. João Pernambuco (“Rosa carioca”), Noel Rosa (“Você somente”), Vinicius de Moraes e Haroldo Tapajós (“Loura ou morena”), Orestes Barbosa e J. Thomaz (“Saudades do arranha-céu” e o fox-samba “Flor do asfalto”), todos eles prestaram seu tributo à moda do “fox-trot”.

Se de toda essa produção pouco ficou, em compensação a safra de foxes produzida a partir da segunda metade da década de 1930 contribuiu com páginas imorredouras do cancioneiro nacional. Os grandes intérpretes mais tipicamente brasileiros, Francisco Alves, Sílvio Caldas, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, gravaram foxes-canção e com eles obtiveram retumbantes êxitos, incorporados definitivamente ao repertório permanente da MPB. Sem a preocupação de esgotar o assunto, podem-se recordar as gravações de Orlando Silva (“A última canção”, de Guilherme de A. Pereira), (“Nada além”, de Custódio Mesquita e Mário Lago), de Sílvio Caldas (“Mulher”, de C. Mesquita e Sadi Cabral), de Nelson Gonçalves (“Renúncia”, de Roberto Martins e Mário Rossi), que fez tão grande sucesso a ponto de se tornar o prefixo musical do cantor. Mário de Andrade afirmou que o samba-canção se tornou uma das formas atuais da modinha, por ter perdido em parte a sua função agógica e coreográfica. O mesmo se pode dizer do fox-canção brasileiro, uma vez que “Nada além” “Mulher” e “Tudo cabe num beijo”, de Carolina Cardoso de Menezes e Osvaldo Santiago, podem ser ouvidos sempre nas serestas de churrascarias e subúrbios da Zona Norte do Rio de Janeiro e em ambientes congêneres do Brasil todo.