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Termo
Canecão
Dados Históricos e Descrição

Tendo como seu fundador Mário Priolli, a casa de shows foi inaugurada a 20 de junho de 1967, no bairro de Botafogo, Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro, inicialmente como cervejaria. Para tanto, produziu dois eventos: um coquetel e, dois dias depois, a Feira da Providência, apresentada por Bibi Ferreira, com a presença de autoridades e artistas, como Pixinguinha. Na ocasião da inauguração, Ziraldo pintou o maior painel humorístico do mundo, com 23 metros de extensão. Também para o dia da inauguração,  foi montada uma banda de música que se apresentou no evento. A Banda do Canecão foi tão bem-aceita no meio musical, que a gravadora PolyGram, em menos de dois anos, lançou nada menos que 18 discos da banda. Entre as atrações neste ano constam, além da Banda do Canecão, Johnny River, Duo Ouro Negro e Cris Montez. Em 1968, entraram em cartaz várias revistas de Carlos Machado e atrações internacionais, como Miriam Makeba e Sandpippers. No ano seguinte, foi a primeira casa de espetáculo a introduzir a decoração temática nos bailes de carnaval. Neste mesmo ano, estreou com grande sucesso o show de Maysa. No espetáculo, foram criadas novidades cênicas pela equipe de produção, como cinema, projeções de efeitos e balé, incorporados ao show, posteriormente lançado em disco. Neste mesmo ano, aconteceram nove grandes bailes pré-carnavalescos, além das apresentações de artistas nacionais do porte de Elza Soares, Maria Bethânia, Marcos e Paulo Sérgio Valle, Agnaldo Rayol, MPB-4 e Wilson Simonal. Por essa época, foi produzido um show no qual foram apresentados quase que simultâneamente no grande palco Chico Buarque e a Orquestra Sinfônica Brasileira, tendo a frente o maestro Isaac Karabchevsky. Na semana seguinte à apresentação,  o show virou no notícia no New York Times. Em setembro de 1970, a dupla Miéle e Bôscoli, que já tinha sido responsável pela direção de Elis Regina, produziu o primeiro show de Roberto Carlos. Neste show, o cantor foi acompanhado pela primeira vez por uma orquestra, sendo usados também efeitos especiais. O cantor continuaria a fazer longas temporadas na casa, culminando em 1981 com o show “Emoções”, para o qual compôs a música título. Neste mesmo ano, a cantora Elizeth Cardoso fez uma temporada de cinco meses na casa. Em 1971, sob a direção de Manoel Carlos, foi realizado um espetáculo onde foram fundidas músicas eruditas e populares com estrelas do porte de Chico Buarque, Isaac Karabtchevsky, Jacques Klein, MPB-4, Quarteto em Cy, Orquestra Sinfônica Brasileira e a Ala da Bateria da Escola de Samba Padre Miguel, todos se apresentando quase que simultaneamente, em várias partes do palco. No ano seguinte, a portuguesa Amália Rodrigues ficou três semanas em cartaz e Regina Duarte apresentou” Regina mon amour”. Em 1973, Roberto Carlos fez temporada de cinco meses com o show “Além da velocidade” e se apresentaram também outros artistas como Martinho da Vila, Elizeth Cardoso e Baden Powell, além das atrações internacionais: James Brown, The Platter e Michel Legrand. No ano seguinte, Clara Nunes e Paulo Gracindo estrearam o show “Brasileiro, profissão esperança”, de Paulo Pontes, que fez temporada de quase oito meses. Em 1977, o Baile de Gala do Teatro Municipal do Rio de Janeiro foi transferido para a casa de shows de Botafogo, onde permaneceu até 1984. Ainda em 1977, outro show de grande sucesso reuniu Tom Jobim, Miúcha, Toquinho e Vinícius, permanecendo seis meses em cartaz. Ainda nesse ano,  o cantor Alice Cooper também  se apresentou. No ano seguinte, o show “Chico e Bethânia” ficou cinco meses em cartaz e, entre as atrações internacionais, constaram nomes como Astor Piazzola e Pepino di Capri. Na década de 80, vários artistas passaram pela casa: RPM, Blitz, Ultraje a Rigor e Gal Costa, Paulo Gracindo em “O bem-amado”, Caetano Veloso e Alcione e os internacionais Pablo Milanês, Manolo Otero, Paco de Lucia, Miles Davis, James Taylor, Mercedes Sosa, Ray Coniff e Bily Paul. Em 1982, no primeiro Baile Gala Gay, a casa suportou o seu recorde de público, cerca de 5.400 pagantes, fora os que não conseguiram entrar no baile, que engarrafou todo o trânsito nos arredores do Canecão. Em 1991, o crítico musical Ricardo Cravo Albin cronometrou 18 minutos de aplausos ininterruptos a Martinho da Vila, na ocasião da entrega do Prêmio Shell, o primeiro que não aconteceu no Teatro Municipal, onde o prêmio esteve consolidado desde sua criação. Em 1994, Chico Buarque, no show “Paratodos”, voltou oito vezes ao palco por insistência da platéia. Em 1999, liderados por de Ricardo Cravo Albin e Sérgio Cabral Filho, outros intelectuais como Barbosa Lima Sobrinho, Fernanda Montenegro, João Ubaldo Ribeiro e Chico Buarque, além da maioria dos deputados e vereadores cariocas, propuseram à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro  lei que tombaria o espaço como patrimônio artístico da cidade, ameaçado de ser trocado pela UFRJ por um grande empreendimento imobiliário. A lei foi prontamente promulgada pelo então governador do Estado do Rio de Janeiro, Antony Garotinho. Dificilmente se poderão listar todos os artistas que passaram pelo Canecão, uma das maiores e mais importantes casas de show da América do Sul.

No ano de 2010 a casa foi fechada permanecendo até o ano de 2019 quando, após uma votação na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), foi aprovado um projeto de lei que revogou o tombamento (que havia entrado em vigor em 1999), abrindo a possibilidade de uma licitação para uso da iniciativa privada do espaço. A licitação para a cessão do espaço foi aberta logo após sancionada a lei.

Após o destombamento, em 9 de dezembro de 2021, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou o Projeto de Lei Complementar (PLC) 28/2021. O projeto estabeleceu as condições de reconstrução do  Canecão. A proposta final foi elaborada tendo como base o diálogo entre a Reitoria da UFRJ, as associações de moradores da região e representantes da comunidade acadêmica da Universidade. Os entendimentos foram realizados em Audiência Pública promovida pela Comissão de Assuntos Urbanos presidida pela vereadora Tainá de Paula (PT).

Entre as mudanças no Canecão original foram estabelecidas a construção de uma casa de shows e de um equipamento multiuso, com salas de aula e espaço para dança, como compensação para a UFRJ, dona do terreno. O novo projeto restringiu a área construída em apenas metade do terreno de 15 mil metros quadrados. No restante, foram definidos uma área arborizada e um estacionamento, com entrada voltada para a rua Venceslau Braz (a entrada anterior ficava na rua rua Lauro Muller).

Uma lei publicada no Diário Oficial do dia 14/01/2022 estabeleceu as condições para a reconstrução do Canecão, espaço cultural em Botafogo, Zona Sul do Rio.  Entre as regras estabelecidas na lei, está a que determinou que o prédio não pode ter mais de 20 metros de altura e é preciso estudo de impacto no entorno.

Em  2023 aconteceu o leilão da concessão da área de 15 mil metros quadrados do campus da UFRJ onde ficava o antigo Canecão.O consórcio Bonus-Klefer foi classificado em primeiro lugar. O prazo de concessão previsto no edital elaborado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi de 30 anos. Após a assinatura do contrato, A empresa vencedora assumiu a responsabilidade de concluir a construção da nova casa de espetáculos em dois anos a partir da assinatura do contrato. Também em 2023 começou a ser gravado o documentário “Canecão: tantas emoções”. O filme começou a ser rodado com a direção de Bruno Levinson com a produção de Clélia Bessa. No decorrer das filmagens foram recolhidos mais de 50 depoimentos com nomes como o empresário Steve Altit, os artistas Lobão, Leo Jaime, Frejat, Alcione, Marcelo D2 e o bailarino Carlinhos de Jesus. Entre as histórias incluídas no filme está o show feito por Elymar Santos nos anos 1980 no qual ele alugou a casa por um dia.

Em 2024 foi iniciado o trabalho de demolição do antigo Canecão. Durante este trabalho, um incêndio começou no imóvel durante o corte de uma estrutura metálica. A fagulha provocada pelo corte do metal atingiu um objeto de fibra que pegou fogo. Os bombeiros foram acionados, mas a equipe de demolição conseguiu conter o fogo antes da chegada deles.

Bibliografia Crítica:

 

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.