2.001
Termo
Bloco Afro Agbara Dudu
Dados Históricos e Descrição

Bloco afro fundado no bairro de Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro em 4 de abril de 1982. O nome Agbara Dudu significa em yorubá “Força negra”. Considerado o primeiro bloco afro do Rio de Janeiro, ainda que existissem três anteriormente: Afoxé Os Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro (fundado por trabalhadores da zona do Cais do Porto do Rio de Janeiro), Dudu Éwe, do Morro da Mangueira, fundado em 1980 e o Afoxé Terê Babá (fundado no Largo das Neves, em Santa Tereza), todos com características de afoxé, isto é, saiam no carnaval cantando temas de blocos baianos (Afreketê, Olori, Oju-Obá, Muzenza, Malê-Debalê, Badauê e Ijexá Filhos de Gandhi) e músicas ligadas à religião africana, não mantendo trabalhos comunitários ou ações que os fizessem perdurar fora do carnaval. O Bloco Afro Agbara Dudu surgiu com a característica de mantenedor das tradições, mesmo fora do período de carnaval, assim como alguns blocos de Salvador o fazem, entre eles, Olodum, Ilê Aiyê e Araketu.

Entre seus fundadores, diretores, compositores e colaboradores diretos estão Reginaldo da Portela, empossado 1º presidente, Vera Mendes (Vera Agbara, 2º presidente), Ednaldo Lima (3º presidente), Zezé Guimarães (presidente), Hélio de Assis (diretor), Luiz Rei, Alcinéia F. Martins, Gabriel Lopes Neto, Rubinho Afro, José Luis, Sérgio Canda, Edejô Eware, Luiz Eduardo, Teresa Lírio, Jaciara, Tia Maria, Hugo Tobias, Mestre Corvo, Darcy do Jongo da Serinha, Tia Ambrosina, Tia Tereza e Tio Nozinho, entre outros. A ideia da fundação do bloco teve início durante a visita da missão cultural da Fundação Leopold Sédar Senghor, na inauguração do Museu do Negro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Tendo como padrinho o bloco baiano Ilê Aiyê, representado por Jetinha e Vovô, os fundadores reuniam-se no Bar do Nozinho, na Estrada do Portela, em Madureira, e entre dois nomes: Omodé (Os filhos do caçador) e Agbara Dudu (A força negra), escolheram o segundo. Sua bandeira traz as cores amarela, vermelha, preta e verde, as mesmas cores da bandeira da unidade africana (sonho de reunir a diáspora africana em uma só nação). A primeira sede foi inicialmente na Portelinha (antiga sede do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Portela). Os ensaios às sextas-feiras eram transformados em verdadeiros encontros de cultura negra (comida, bebida, roupas, instrumentos, ritmos, ogãs, dançarinas etc) denominado “Terreirão senzala”.  Nesta primeira sede o grupo deu início aos “Encontros das Entidades Negras”, no qual reuniam-se agremiações, artistas e entidades ligadas às artes e à política. Voltado para a comunidade, o grupo passou a desenvolver cursos, oficinas de dança e capoeira, além de debates, encontros e seminários sobre temas negros e afins. Outros eventos importantes desenvolvidos pelo grupo são: “Festiafro” (festival de músicas para a escolha da representante no desfile de cada ano) e “São João rastafari”, em junho.

Em 1983, foi organizado a “2ª Noite da Beleza Negra”, no Clube Renascença, evento homônimo baseado na experiência do bloco padrinho Ilê Aiyê, culminando na escolha da “Rainha negra”. Por essa época, o grupo se apresentava em vários eventos dentro e fora do Estado do Rio de Janeiro, destacando-se: “Natal Comunitário no Morro da Serrinha”, em Madureira, na Favela da Galinha, em Inhaúma, apresentações nos presídios Milton Dias Moreira, Talavera, Bruce, e Associação dos Ex-alunos da Funabem. O primeiro desfile do bloco aconteceu na Avenida Rio Branco, com o tema “Amor e negritude”, apresentando-se ao lado do afoxé Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro e do Afoxé Terê Babá. Nos anos posteriores o grupo apresentou vários temas: “Cem anos de abolição”, “O negro clama por justiça” e “Yabás – mulher brasileira”. Mais tarde o grupo transferiu-se para a sede na Rua Ernesto Lobão, 44, onde continuou o trabalho com as comunidades do em torno. No ano de 1988 o grupo participou da “Caminhada Zumbi dos Palmares”, considerada a maior manifestação da comunidade negra contra a farsa da abolição. Em 1992, juntamente com três outros grupo: Lemi Ayó (de São Cristóvão), Òrúnmilá (do Morro da Mineira, no Catumbi) e Dudu Éwe (do Morro da Mangueira) gravou a coletânea “Terreiros e quilombos”, com o apoio do CEAP (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas). Neste LP foram incluídas quatro músicas de compositores do Agbara Dudu: “Mulher negra Yabá” (Alcinéia F. Martins e Gabriel Lopes Neto), “Nação vertente” (Walmir Aragão e Alcinéia F. Martins), “Negritude consciência” e “Arerê”, ambas de autoria de Júlio Mendes.

Em 1996, em parceria e com o apoio da UERJ, o grupo mudou-se para a nova sede na Rua Carolina Machado, 467, em Madureira, dando prosseguimento às suas atividades de cursos, simpósios, etc. No ano de 2002 o grupo desfilou na Avenida Rio Branco com o tema Agbara-Dudu –  20 anos de resistência.

 

BIBLIOGRAFIA CRÍTICA:

 

Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.