De acordo com o pesquisador e poeta carioca Euclides Amaral, no livro “Alguns Aspectos da MPB”, de 2008:
“No início da década de 1970 o soul music fazia sucesso no Brasil. Os principais artistas por aqui conhecidos eram James Brown e sua banda JB’S, George Clinton, Sly & The Family Stones, Aretha Franklin, Ray Charles, Otis Redding, Marvin Gaye, Stevie Wonder, Jackson Five, Isaac Hayes, Smoker Robinson, Lionel Ritchie e grupos vocais como The Miracles, Temptations, Pretenders, Supremes, The Stylistics e Blue Magic, entre outros, a maioria, artistas das gravadoras Atlantic Recording Corporation, fundada em Washington pelo turco Ahmet Ertegun em 1947 e da Motown, fundada em Detroit em 12 de janeiro de 1959 por Berry Gordy Jr. No Brasil este gênero fez surgir diversos compositores e intérpretes, entre os mais conhecidos estavam Dom Salvador e Grupo Abolição, Tim Maia, Carlos Dafé, Sandra de Sá, Tony Tornado, Gérson King Combo, Hyldon, Lady Zu, Cassiano, Dom Mita e Banda Black Rio. Estes artistas, entre outros da época, faziam apresentações nos bailes suburbanos e muitos deles trabalhavam com ‘play-back’ com apoio das equipes de som como a Soul Grand Prix (de Mr. Paulão e Dom Filó), Messiê Limá, Big Boy, Ricardo Lamournier, Mr. Funky Santos, Ademir Lemos, A Cova, Saturno, Cash Box e a equipe ‘Som 2000 e Guarani 2000’, de Rômulo Costa e Gilberto Guarani, que mais tarde foi rebatizada para ‘Furacão 2000’, graças ao Presidente da República Humberto de Alencar Castelo Branco (1900-1967) que ao ouvir, na cidade de Petrópolis, o som produzido pela equipe no Quitandinha Santa disse que aquilo que ouvia não era Som 2000, nem Guarani, é um furacão. Daí Rômulo Costa apostou na sugestão e alterou o nome da equipe de som.”
Mas a raiz deste movimento carioca de música negra estava bem longe da América do Sul.
Segundo o jornalista e poeta manauara Simão Pessoa, em seu livro “Funk – A Música que bate – Uma revolução sonora que conquistou o planeta”, o termo soul music (‘música da alma’) surgiu nos EUA para designar um tipo de música profundamente influenciada pelo gospel, cantado pela comunidade negra norte-americana. Apesar de sua origem religiosa, o gênero foi marcado por apresentar um ritmo bastante sensual, tanto na interpretação como no modo de ser dançado. Com o surgimento de gravadoras como a Motown que, entre outras, revelou compositores como Marvin Gaye e intérpretes como Diana Ross, artistas como Aretha Franklin e James Brown popularizaram o gênero nos EUA e no mundo.
De acordo com Simão Pessoa:
“Nos seus primórdios o soul mostrou-se um negócio extremamente lucrativo, que colocou em oposição, pela conquista do mercado consumidor negro as duas escolas mais prolíficas desse estilo. De um lado do campo a gravadora Atlantic, de Nova York, que tinha a Stax, de Memphis, sul dos EUA, como uma de suas subsidiárias. Do outro lado, a Motown, gravadora instalada em Detroit, cidade ao norte do país. Em vez de didatismo barato, indicar cidades e regiões dos EUA que abrigaram a Stax e a Motown é importante para entender a formação das duas correntes principais do soul. Se os brancos misturaram o rhythm’n’blues com o hillbilly, gerando o rockbilly que deu origem ao rock, os negros misturam o rhythm & blues com o gospel, gerando o soul que deu origem à linhagem funk.”
Voltando ao Rio de Janeiro e perfilando alguns de seus personagens mais emblemáticos para o nascimento da Black Music no Brasil temos Dom Filó (Asfilófio de Oliveira Filho), fomentador e agitador cultural da época (início da década de 1970), que junto à equipe Sou Gand Prix, no Clube Renascença, no Andaraí, Zona Norte do Rio de Janeiro, organizava o baile “Noite do Shaft”, segundo o Dom Filó:
“Inspirado no policial negro e durão do filme ‘Shaft’.”
Também seria Dom Filó um dos primeiros a produzir discos com o repertório dos bailes, sendo o primeiro LP lançado em baile para mais de cinco mil pessoas no Guadalupe Country Clube, nas margens da Avenida Brasil.
No entanto, no Brasil, a influência do soul music americano começou a ser notada apenas no início dos anos 70, graças aos DJs Big Boy e Ademir Lemos que, por intermédio de seus programas de rádio e dos “Bailes da Pesada” – organizados na cervejaria carioca Canecão –, passariam a unir a grupos de rock e artistas como Wilson Picket e grupos como Kool & The Gang. Contudo, quando a casa resolveu se especializar em artistas da MPB, o baile passou para clubes dos subúrbios cariocas, onde a penetração da soul music e do funk era maior. Em meados da mesma década, de 1970, foi formada a equipe Soul Grand Prix, embrião de equipes depois famosas, como a Furacão 2000, que começou a lotar as quadras dos clubes, gerando assim o que se convencionou chamar de “Era de Ouro dos Bailes Black”. Esta penetração social, principalmente, em camadas da população negra que se identificavam com a postura ‘black power’ dos artistas norte-americanos de funk, logo resultaria no “Movimento Black Rio”, fortalecendo e/ou gerando nomes importantes como Cassiano e seu grupo Os Diagonais (também integrado por Hyldon, em início de carreira), Gérson King Combo, Tony e Frank, Banda Black Rio, Carlos Dafé, Tony Tornado, Sandra de Sá e Dom Mita. Porém, sem dúvida, o maior nome do soul brasileiro a despontar na década de 1970 foi Tim Maia.
Quando voltou dos Estados Unidos, depois de ser deportado por porte de maconha, o músico trouxe em sua bagagem um vasto conhecimento sobre o que estava acontecendo na música negra norte-americana. Todavia, só conseguiria mostrar o seu trabalho a partir do final dos anos 60 e início dos 70. Seguindo seus passos, Sandra Sá (primeiro nome artístico adotado na época em que foi cantora da Banda Black Rio em dupla com Carlos Dafé nos anos 70) e Ed Motta foram os principais nomes dos anos 80.
No final dessa década, de 1980, a música negra brasileira, sob influência da música norte-americana, começou a adotar estilos como o rap, marcados pela bateria eletrônica, pelo modo de cantar falado e com forte crítica social quanto às condições da comunidade negra. Nomes como Run DMC e Afrika Bambaataa & The Soul Sonic Force faziam sucesso nos bailes funk. Nesta época, também surgiu o que se convencionou chamar de “charm”, uma variação romântica, menos agressiva e contestadora do que o rap (o elemento sonoro da cultura hip hop). Dessa forma, na década de 1980, a maioria dos artistas brasileiros, influenciados pela música negra norte-americana, seguia um estilo ou o outro.
Segundo o pesquisador Euclides Amaral:
“No início da década de 1980 a sonoridade do soul music mudou para o Miami bass, com as batidas graves acentuadas, daí o título de um dos principais desdobramentos sonoros do funk. Este modelo de batida fora usado anteriormente por James Brown em 1965 na composição ‘Papa’s got a brand new bag’, mais ou menos ‘Papai conseguiu algo novo e excitante’, no qual a sessão rítmica do contrabaixo era sincopada no primeiro compasso (backbeat), criando o funk americano, gênero próximo ao soul music. Apesar de o nome ser o mesmo, o funk na acepção antiga (décadas de 1970/80, no Brasil e nos E.U.A) e o funk da década de 1990 têm certas semelhanças e diferenças, entretanto, não são as mesmas coisas. Inclusive, há quem defenda que não deveria ter este nome “Funk” e sim “Fank Carioca”.
A primeira geração do funk era engajada no conceito de negritude e com o ritmo mais parecido com o soul music (Tim Maia, Carlos Dafé, Sandra de Sá etc) e a segunda geração: Fank (Tati Quebra-Barraco, Bonde do Tigrão, Bonde do Faz Gostoso etc) com valores ideológicos mais dispersos, quase sempre ligados a posicionamentos da relação entre mulher e homem, além do ritmo estar mais para o charm, discoteque e outros subgêneros derivados do soul music. Em 1989, DJ Malboro lançou o LP ‘Funk Brasil nº 1’, o primeiro disco em que os Mc’s (DJs ou Mestres-de-Cerimônia) cantam seus fanks. Se até então esses estilos estavam mais restritos às comunidades negras dos subúrbios e favelas cariocas, a partir de 1992 ganharam uma surpreendente visibilidade na mídia. Isso se deveu aos incidentes ocorridos em 18 de outubro do mesmo ano, na praia de Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro, depois de um arrastão provocado por supostos “funkeiros”. A partir desse momento, a sociedade passou a associar o funk (fank) à marginalidade organizada das favelas cariocas. Todavia, em São Paulo, o surgimento dos Racionais MCs e outras bandas de rap (um dos desdobramentos do Movimento Hip Hop) cujas letras retratavam a violência do cotidiano das comunidades pobres da Zona Sul da cidade, além de selos independentes especializados no gênero, como o Zimbabwe Records, que contribuíram para a formação de um público fiel e numeroso, que deixou de ser restrito às comunidades carentes nas quais surgiram.”
Enquanto isso, em 1995, no Rio de Janeiro, a moda entre a juventude carioca da Zona Sul era subir a favela para participar dos bailes funk (fank) da comunidade. Especialmente o Baile da Paz, realizado no morro do Chapéu Mangueira, localizado no Leme. No mesmo ano, em 1995, o baile foi fechado pela Operação Rio, executada pelas polícias militar e civil em várias favelas da cidade. No ano seguinte, em 1996, o funk mais melodioso e de temática romântica da dupla Claudinho & Buchecha rompeu com o preconceito das FMs em relação a este gênero e torna-se sucesso nacional. O bordão “Ah! Eu tô maluco” passou a ser cantado por torcidas de futebol em todo o Brasil. Por outro lado, a formação de galeras, réplica brasileira das gangues norte-americanas, e a crescente radicalização das letras de MCs como Júnior e Leonardo, com “Rap das armas”, e Duda e William, com “Rap do Borel”, resultaram na detenção dos últimos e na investigação de autoridades sobre o envolvimento dos organizadores de bailes com traficantes.
Na virada do milênio, o gênero “Fank carioca”, ou simplesmente FUNK, seguia duas vertentes bem definidas: a primeira, oriunda do “charm”, também chamada de ‘funk melody’, mais comercial e adaptada às exigências do mercado fonográfico e, a segunda, envolvida com as circunstâncias e modo de vida de comunidades carentes, esta última ligada ao movimento hip hop em seu desdobramento poético “rap” (ritmo e poesia), com forte influência do soul music americano. Como exemplo da primeira vertente, são citados Latino, Claudinho (falecido em acidente de carro em 2002) & Buchecha e Copacabana Beat; da segunda vertente os Racionais, Câmbio Negro, Criminal D & Gangue de Rua, entre outros. Outro aspecto importante, foi a adesão de roqueiros e artistas brancos ao gênero na década de 1990. Fernanda Abreu, que começou a carreira na banda pop-rock Blitz, quando se lançou em carreira solo, adotou o estilo funk-disco music com grande sucesso. Grupos de rock como o Rappa, Boato e Planet Hemp mesclaram as guitarras distorcidas do rock à batida eletrônica do rap e também adotaram o modo falado de se cantar. Pode-se afirmar que, ao lado do rock e do jazz, a soul music é uma das principais influências da música norte-americana na MPB.
Ainda em relação ao Funk carioca, o cineasta Emílio Domingos, lançou em 2013 o curta-metragem “A Batalha do Passinho”, contudo, em termos de bibliografia crítica, o assunto foi pouco estudado.
Com relação à black music do Brasil e seus bailes em clubes da cidade, em 1987, a convite de Walter Clark, Dom Filo estreou um o programa diário na TV Rio intitulado “Radial Filó”, dedicado ao público negro dos bailes cariocas. O que o levou a criar, no ano seguinte, em 1988, o instituo e produtora CULTNE, com a finalidade de registrar em imagens a atividade de resistência negra no país, inclusive, com exibições de filmes e documentários em telões pelas favelas do país. O que veio a fortalecer a demanda, já que em 1999, estimou-se que, só na cidade do Rio de Janeiro, os bailes geraram 20 mil empregos e movimentaram R$ 10,6 milhões. No ano seguinte, em 2000, Dom Filó aderiu à internet e criou o canal “Cultne” na plataforma YouTube, disponibilizando o seu acervo em vídeo, considerado um dos maiores em termos de cultura negra na América Latina.
A partir do ano de 2001 surgiram diversos grupos e artistas ligados à recuperação do movimento black, seja ele o carioca ou o paulista. Entre os mais importantes estão Serginho Meriti, Marko Andrade, Carlinhos Trumpete, Artigo 86, Banda Clave do Soul, Marcelinho Ferreira, Lúcio Sherman, Seu Jorge, As Sublimes, e bandas como Funk Como Le Gusta, Skova, Black Mantra, Bid Bambas & Biritas (SP). No ano de 2002, outros artistas foram recuperados para a grande mídia, sejam lançando novos discos, como é o caso de Lady Zu e Gérson King Combo, ou apenas se apresentando em shows como Carlos Dafé, Cassiano, Cláudio Zoli e Paulo Zdan, entre muitos outros em todo o país. Ainda nos início dos anos 2000, segundo Sir Dema (Dj, produtor e pesquisador da black music), houve uma “Sessão Solene Em Homenagem aos 30 Anos da Black Rio”, na qual estavam presentes Gerson King Combo, Mr. Funky Santos, Don Filó, Fernando (Presidnete do Fã Club James Brown), Sandra de Sá, Barrozinho, Rômulo Costa e Mr.Paulão da Equipe Black Power.
No ano de 2016 foi lançado o livro “1976: Movimento Black Rio 40 Anos”, de Zé Octávio Sebadelhe e Felipe Gaoners. Com apoio e patrocínio da Empresa Natura e Natura Musical, Lei Federal de Incentivo à Cultura, Prefeitura do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura, o livro, assim como a exposição de fotos, e o documentário fazem parte das comemorações da passagem dos 40 anos do Movimento Black no Brasil. Segundo o autor do livro e curador do evento, DJ e pesquisador Zé Octávio Sebadelhe:
“… Da mesma forma, o movimento influenciou toda uma geração de artistas que promoveria a mistura entre o samba e a MPB com elementos do soul norte-americano marcando profundamente a música brasileira. No ano de 1976 o movimento chega auge, reconhecido em uma reportagem histórica de Lena Frias no Jornal do Brasil, com fotografias de Almir Veiga. O circuito de bailes e shows de artistas negros ganha repercussão nacional, influenciando mobilizações artísticas e sociais em diversas capitais. Não obstante, o Movimento Black Rio teria continuidade em inúmeras derivações culturais subsequentes como, por exemplo, a onda dos bailes de charme, hip hop Rio e o fenômeno do funk carioca.”
Além das fotografias de Almir Veiga, a exposição montada no Teatro Odisseia, na Lapa, no Centro do Rio de Janeiro, também contou com design e projeto gráfico de Chris Lima, supervisão musical de William Magalhães e obras exclusivas de Fábio Ema e Izolag.
O músico, cineasta, pesquisador e romancista Marcelo Gularte iniciou o livro “Enciclopédia do Funk”, que em 2016, já contava com 320 páginas com histórias e entrevistas com várias pessoas das equipes de som como Soul Grand Prix, Furacão 2000, Modelo, Sua Mente Numa Boa, Rick, Revolução Na Mente e outras mais, além de mais de 500 imagens da época dos bailes na década de 1970 e um grande acervo das filipetas sobre o funk no Rio de Janeiro e São Paulo. Já o discotecário Dom Filó (Asfilófio de Oliveira Filho) iniciou a produção do documentário “Black Rio, Por Onde Andas?”, no qual compilou algumas imagens raras e depoimentos de vários personagens da época. Segundo Dom Filó:
“… Em 2015 a Black Rio começou voltar à cena, destaco a volta dos bailes da Soul Grand Prix e teve até duelo de equipes com a Cashbox. E o mais importante é que houve atividades na Zona Norte e na Baixada, que sempre foram o foco da Black Rio.”
No ano de 2018 Luciana Xavier de Oliveira, Professora Adjunta do Bacharelado em Planejamento Territorial da Universidade Federal do ABC (São Bernardo do Campo, São Paulo) e Doutora em Comunicação Social pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense, lançou o livro “A Cena Musical da Black Rio: estilos e mediações nos bailes soul dos anos 1970”, publicado pela Edufba.
Em 2021 estreou no “Festival Visões Periféricas”, o documentário “Trem do Soul”, de Clementino Júnior. Com produção de Márcio Januário, produção executiva de Jusele Sá e Júlia Pacheco, direção de fotografia de Robson Maia, roteiro de Milena Manfredini e trilha musical, composição e arranjos de Jonathan Ferr. Com pesquisa musical e iconográfica de Ana Theresa de Andrade Barbosa, André Diniz, Jorge Luiz Barbosa e Zezzynho Andrade e cenas adicionais de bailes cedidas pelo Acervo CULTNE, no média-metragem foram entrevistados ícones do movimento jovem, preto e periférico do Rio de Janeiro da década de 1970, tais como Sandra de Sá, DJ Nenén, Dom Filó, Gérson King Combo, entre outros, além do próprio Carlos Dafé, considerado um dos pilares deste movimento musical carioca, inclusive, com detentor do epíteto “O Príncipe do Soul”, criado pelo crítico musical e letrista Nelson Motta.
Em 2023 a professora e pesquisadora Luciana Xavier de Oliveira (UFABC) foi uma das convidadas para a mesa-redonda “A cena musical da Black Rio e a música Disco no Brasil”, do Programa de pós-graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Eco.Pós-UFRJ). O encontro fez parte da disciplina “Alegria, disco queer e como estar juntos”, da Escola de Comunicação (sala 140) ministrada pelos professores Denilson Lopes, Dieison Marconi e Ribamar Oliveira. Neste mesmo ano de 2023 foi lançado o documentário, em longa-metragem, intitulado “Black Rio! Black Power!”, com apresentação e condução de Dom Filó, contando a história dos bailes de soul music dos subúrbios do Rio de Janeiro da década de 1970, que deram origem ao movimento Black Rio e serviram como espaço de afirmação de identidade e resistência política de jovens negros. Segundo matéria da época, nele está registrada a importância do cenário musical na luta por justiça racial durante os “Anos de Chumbo” dos anos 70 no Brasil, por intermédio da trajetória de Dom Filó (Asfilófio de Oliveira Filho), ativista do movimento negro e produtor cultural, e da equipe Soul Grand Prix, por uma das mais emblemáticas da época. Ainda em 2023 o documentário teve exibições no Cine Pireneus, em Pirenópolis, em Goiás, e também no Rio de Janeiro, no “Festival de Cinema do Rio” e, em Niterói, assim como em cinemas de Belo Horizonte, São Paulo e João Pessoa. Neste mesmo ano, de 2023, Dom Filó foi o curador de um do ambientes da exposição “Funk: Um Grito de Ousadia e Liberdade” do Museu de Artes do Rio, permanecendo a exposição até julho de 2024, e onde, o documentário “Black Rio! Black Power!”, de Emílio Domingos foi exibido entre os pilotis da instituição.
Sobre a importância de Dom Filó (Asfilófio de Oliveira Filho) como ativista do movimento negro e produtor cultural, cabe aqui ressaltar as palavras do cineasta Emílio Domingos, em entrevista ao pesquisador musical Sílvio Essinger, em matéria de 24 de outubro de 2023, para o “Segundo Caderno”, do jornal O Globo:
“Filó carrega com ele toda essa ética e responsabilidade de contar a história do povo negro, contar a história dele foi uma responsabilidade enorme para mim.”
No ano de 2024 o gênero carioca de música teve o seu documentário “Black Rio! Black Power”, do diretor Emílio Domingos, estreado em 2023, incluído na mostra “Prêmio Pierre Verger: filmes etnográficos, ensaios fotográficos e desenho” e exibido na “34ª RBA de Belo Horizonte 2024”. O documentário teve em sua ficha técnica direção, roteiro e pesquisa: Emílio Domingos; produção: Letícia Monte e Lula Buarque de Hollanda; produtor associado: Dom Filó, Emílio Domingos e Cutne; montagem: Yan Motta; direção de fotografia: Léo Bittencourt, Rita Albana e Dafb, e ainda, um corpo de entrevistados composto por Carlos Dafé, Dom Filó, Agenor Neto, Carlos Alberto Medeiros, Dj Nenném, José Reinaldo Marques, Marquinhos de Oswaldo Cruz, Nea Souza, Rômulo Costa, Salvador Gomes e Virgilaine Dutra.
BIBLIOGRAFIA CRÍTICA:
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.
MALBORO, DJ. DJ Malboro por ele mesmo – O funk no Brasil. (Org: Luzia Salles). Rio de Janeiro: MAUAD Consultoria e Planejamento Editorial Ltda, 1996.
PESSOA, Simão. Funk – A Música que bate – Uma revolução sonora que conquistou o planeta. Manaus: Coletivo Gens da Selva. Editora Valer, 2000.
PEIXOTO, Luiz Felipe de Lima, e SEBADELLE, Zé Octávio. 1976 – Movimento Black Rio. Rio de Janeiro. Editora José Olympio, 2016.