A AMC (Associação do Movimento de Compositores da Baixada Fluminense) é uma entidade voltada à inclusão social de crianças e adolescentes em situação de risco através da música e do ensino musical, sendo fundada na década de 1970.
Segundo o poeta, professor e letrista Sérgio Fonseca:
“Na verdade, sua fundação remete a meados da década de 1970, quando o músico instrumentista, compositor e pesquisador Bernard von der Veid, seu idealizador, se instalou em São João de Meriti, trabalhando com o movimento pastoral de bairros, sob a batuta do bispo D. Adriano Hipólito”.
Seu fundador, Bernard von der Veid, entre os anos de 1978 e 1999, trabalhou na “Nova Pesquisa e Assessoria em Educação”, interagindo com entidades e movimentos populares pelo Brasil, ocasião em que criou e desenvolveu o projeto “Educação e Expressão Popular – a linguagem musical”.
No ano de 1990 a associação, em colaboração com o grupo de choro Galo Preto, produziu e lançou o primeiro trabalho fonográfico intitulado “Movimento de Compositores da Baixada Fluminense”. De acordo com Sérgio Fonseca, o ex-Secretário Municipal de Cultura de Mesquita e ex-Membro do Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro na gestão de Ricardo Cravo Albin:
“O disco é um mergulho na cultura urbana dos trabalhadores que ganham a vida como pintores, metalúgicos, gráficos, petroleiros, camelôs e compõem melodias que seguem o mais tradicional e autêntico samba carioca da Baixada Fluminense”.
A partir do ano de 1991 seu fundador e coordenador, Bernard von der Veid, desenvolveu na sede da entidade, os projetos “Escola de Música” (voltado para crianças e adolescentes em situação de risco) e “Casa do Compositor Popular”.
No ano de a associação foi formalizada em 1991. A escola, dirigida por Lena de Souza, ficou pronta em 1996.
“Fizemos no peito e na raça. Tínhamos quatro violões, quatro cavaquinhos e quatro pandeiros. Fiz uma vaquinha com os amigos”, segundo Lena de Souza, que enfoca também a importância do patrocínio da Petrobras para a continuidade do projeto.
Em 1997, em uma ação conjunta com 30 colaboradores, a entidade adquiriu uma sede própria na Rua Duque de Caxias, 536, no bairro de Vilar dos Teles, em São João de Meriti, contando também com o apoio do BNDES para a reforma e adaptação das instalações da escola, além de equipá-la com a infraestrutura necessária.
Anualmente passaram pela escola cerca de 300 alunos, muitos deles inseridos no mercado artístico profissional (integrando grupos de samba e choro profissionais e acompanhando artistas de renome nacional) após sua estada na referida instituição, outros alunos tornaram-se monitores ou instrutores, em seus respectivos instrumentos, da própria instituição, atendendo a novos membros.
Outra atuação do projeto são as aulas práticas, nas quais os alunos acompanham os artistas convidados em eventos semanais. Por estes encontros musicais passaram Monarco, Dorina, Nilze Carvalho, Wilson Moreira, Nei Lopes, Euclides Amaral, Noca da Portela, Décio Carvalho, Nélson Sargento, Dona Ivone Lara, Zé da Velha, Afonso Machado, Bartolomeu Wiese, Wilson das Neves, Rui Alvin e Silvério Pontes, entre outros, cujo contato próximo, visa enriquecer a formação profissional dos alunos.
De acordo com Lena de Souza:
“As rodas de samba organizadas pela AMC também servem de vitrine para que os músicos sejam conhecidos pelos bambas. Foi o que aconteceu com a professora de violão Samara Líbano, 23 anos, que iniciou os estudos aos 11 anos e, depois de uma roda de samba, foi convidada para tocar com Nei Lopes”.
“Entrei na escola de música porque a minha mãe ficava preocupada com o meu tempo ocioso. Acabei encontrando uma profissão”, declarou Samara Líbano
Já Renan Altay, de 12 anos, ingressou na Associação em 2011 com um sonho:
“Quero tocar na Banda da Marinha”, diz, orgulhoso. As crianças da AMC sentem o friozinho na barriga das apresentações desde cedo: o grupo tem uma série de shows agendados durante todo o ano.
No ano 2000 foi criada pela associação a “Sabiá – Arte e Cultura Popular Brasileira”, entidade sem fins lucrativos com a missão de resgatar a cidadania e reforçar a presença da cultura popular no cenário da sociedade brasileira.
Entre outros trabalhos expressivos da instituição, merece destaque o CD “Da quixabeira pro berço do rio”, disco no qual a realidade rural do recôncavo e do sertão baianos são expostos através de seus ritmos (chula, reisados, sambas-de-rodas, bois-de-roça, aboios, sambas santo-amarenses etc). Todos os temas e composições foram recolhidos através de pesquisa dos alunos, sendo em sua totalidade criações coletivas e anônimas e transmitidas às novas gerações através da experiência comunitária.
Outro trabalho de pesquisa musical lançado pela instituição foi o disco “Por cima das aroeiras”, no qual há o registro de músicas e ritmos da Região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Ainda na área de pesquisa musical desenvolvida pelos alunos da AMC foi produzido e lançado o trabalho “O samba e o choro da AMC”, CD duplo com sambas dos compositores da associação, acompanhados pelos próprios alunos.
No ano de 2015 a entidade atendia a mais de 300 alunos com aulas e orientação musical diárias.
FONTE:
FONSECA, Sérgio “Cidadania em pauta”. O Prelo – Revista de Cultura da Imprensa Oficial e Órgão do Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro: Estado do Rio de Janeiro – dezembro 2006/ janeiro e fevereiro de 2007- Ano IV nº 13. p. 30 e 31.