Pesquisadora. Escritora. Compositora.
Nascida e criada no bairro de Vila Izabel, no Rio de Janeiro. O avô paterno, Cândido Gomes Trindade, era maestro em Ponte Nova (MG). Embora a pesquisadora não o tenha conhecido, a música foi desde a infância uma referência importante em sua vida. Estudou piano e violão e na adolescência começou a arriscar suas primeiras composições, mas seria mesmo na atividade de pesquisadora que ela firmaria seu nome na história recente da Música Popular Brasileira. No início da década de 1960, iria conhecer nas aulas de português do Colégio Pedro II o professor e mestre que iria tornar-se seu importante parceiro em livros escritos a partir da década de 1970. Na época, o professor Arthur de Oliveira ensinava análise sintática utilizando letras de Noel Rosa e de outros importantes compositores da MPB do período anterior à Bossa Nova. A futura pesquisadora encantou-se com aquele universo que a fazia ir além do que então ouvia nas festas dos clubes da Zona Sul carioca e começou a identificar-se com nomes como Pixinguinha, Silas de Oliveira, Cartola e Paulo da Portela, entre muitos outros. Graduou-se em Letras Clássicas (Português-Francês) pela PUC-Rio e em Direito pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil (atual UFRJ). Tornou-se Mestre em Lingüística pela PUC-Rio. Na Escola Superior de Guerra cursou Altos Estudos Políticos e Estratégicos, equivalente ao Doutorado em Ciência Política. Casou-se aos 18 anos com o economista José Barboza da Silva, de quem ficaria viúva e com quem teve os filhos Caio Márcio e Geórgia. Foi professora de língua portuguesa do Colégio Pedro II e do Colégio Santo Inácio, além de ter sido professora do Município do Rio de Janeiro. Foi também professora da UFRJ, da PUC-Rio e da Universidade Santa Úrsula. Exerceu cargos na administração pública e de 1986 a 1990 coordenou o Projeto Vila Olímpica da Mangueira. No carnaval de 1987, desfilou na comissão de frente da Mangueira no enredo sobre Carlos Drummond de Andrade, ao lado de Chico Buarque, Aldir Blanc, Hermínio Bello de Carvalho, Carlos Cachaça, Nelson Sargento, Afonso Romano de SantAnna e João Nogueira, entre outros.
Em 1977, a Funarte lançou o concurso de monografias sobre Pixinguinha, falecido quatro anos antes. Marília Barboza animou-se a participar e convidou seu antigo professor Arthur de Oliveira para escrever a monografia a quatro mãos. O júri que contava com Paulo Tapajós e Lúcio Rangel concedeu ao trabalho dos dois um prêmio especial, classificando em primeiro lugar o trabalho apresentado pelo jornalista e crítico Sérgio Cabral. Após o resultado, o próprio Sérgio Cabral escreveria para o jornal O Globo um artigo elogiando a pesquisa de Marília Barboza e Arthur de Oliveira. Em 1979, a Funarte finalmente publicaria a primeira edição de “Filho de Ogum Bexiguento”, título extraído do capítulo do “Macunaíma” no qual Mário de Andrade refere-se a Pixinguinha. A segunda edição, revista e ampliada, sairia pela editora Gryphus, em 1997. Em 1980, Marília Barboza e Lygia Santos ganhariam o primeiro lugar no Concurso Nacional de Monografias da Funarte, com “Paulo da Portela, traço de união entre duas culturas”, estudo sobre a formação das escolas de samba. Com Arthur de Oliveira a autora receberia o primeiro prêmio no Concurso de Monografias do Projeto Lúcio Rangel, pelo trabalho “Silas de Oliveira, do Jongo ao samba-enredo”, publicado pela Funarte em 1981. No mesmo ano, a Livraria José Olympio Editora lançaria o trabalho de Marília Barboza em parceria com Arthur de Oliveira e o compositor Carlos Cachaça, “Fala, Mangueira”. Na época em que preparavam o livro sobre Silas de Oliveira, Maríla e Arthur aproximaram-se de Cartola, que fez inclusive o prefácio, não sem antes confessar aos autores que adoraria ter um trabalho daqueles escrito sobre ele próprio. Foi assim que, em 1983, da parceria com Arthur de Oliveira nasceu o livro “Cartola, os tempos idos”, primeiro lugar no Concurso de Monografias do Instituto Nacional de Música. Cartola não chegaria a conhecer o trabalho, já que morreria de câncer em 1981, deixando para Marília Barboza seus manuscritos e seu violão. A quarta edição da biografia sairia pela Gryphus em 1998. Com a pesquisadora Vera de Alencar, Marília Barboza lançaria pela Fundação Emílio Odebrecht o livro sobre Dorival Caymmi, “Caymmi, som-imagem-magia”. A autora produziria pela Sargaço Produções Artísticas um álbum duplo com o mesmo título, tendo 24 faixas interpretadas pelo próprio Caymmi acompanhado por orquestra e coro regidos por Radamés Gnatalli. Da admiração pelo talento de Carlos Cachaça, com quem convivera durante a preparação de “Fala, Mangueira”, a pesquisadora viria a publicar pela Funarte, em 1989, “Alvorada, um tributo a Carlos Cachaça”. Entre outros livros, Marília Barboza escreveu também “Escolas de Samba de Portugal, o tripé afro-luso-brasileiro”, publicado em 1993 pela editora portuguesa Monumento e que chega ao público brasileiro em 2002 pela editora Gryphus. Além de pesquisadora e escritora, Marília Barboza roteirizou e dirigiu shows de artistas como D. Ivone Lara, Grande Othelo, Carlos Cachaça e Martinho da Vila, entre outros. Foi produtora do disco “Cartola entre amigos”, lançado pela gravadora Continental em 1984. Apesar de ser compositora bissexta, a autora afirma que “nada é igual a fazer música”. Nelson Sargento, Nelson Cavaquinho, Cartola, Carlos Cachaça, Arthur de Oliveira e Marcos Paiva são alguns dos parceiros das mais de 30 canções que já compôs, a maior parte delas ainda inédita. Alguns sambas podem surgir até mesmo em horas inusitadas, como por exemplo ‘a mesa do Bar Luiz, na companhia de Arthur de Oliveira e José Ramos Tinhorão. Presidente da Fundação Museu da Imagem e do Som (MIS) desde março de 1999, a autora prepara para o ano de 2002 a edição de “Luperce Miranda, o Paganini cabloco” e também de “Consciência Negra – contextualização e análise dos depoimentos de Grande Othelo, Haroldo Costa e Zezé Motta. Em 2002, foi uma das responsáveis pela criação do Centro Cultural Cartola em homenagem ao compositor carioca, com sede no antigo prédio do IBGE (reconstruído pelo MinC) ao lado da quadra da Estação Primeira da Mangueira.