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Nome artístico
Luiz Carlos Saroldi
Nome verdadeiro
Luiz Carlos Cardoso Saroldi
Data de nascimento
15/9/1931
Local de nascimento
Rio de Janeiro, RJ
Data de morte
16/11/2010
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Radialista.

Nasceu e foi criado no bairro de São Cristóvão. Ainda na infância se interessou por literatura e tornou-se entusiasmado ouvinte de rádio, numa época em que esse veículo começava a se expandir no Brasil. Freqüentador dos cinemas Íris e Ideal, localizados na rua da Carioca, no Centro do Rio, aos dez anos de idade já tinha o rádio e o cinema como duas grandes paixões. Mas logo o teatro entraria na sua vida. A mãe, que era atendente num posto de saúde da Prefeitura, costumava ganhar ingresos de artistas, já que na época era exigido o alvará de saúde para quem trabalhava em teatro. Saroldi passou, então, a freqüentar peças de Teatro de Revista e também o circo localizado na Praça da Bandeira, no qual costumavam ser encenadas peças teatrais. No rádio, os programas produzidos e apresentados por Almirante, o Rádio Almanaque Kolynos, escrito por Haroldo Barbosa e José Mauro, e, pouco mais tarde, o programa de Cesar de Alencar foram referências marcantes para Saroldi. Noel Rosa, Ary Barroso e Custódio Mesquita são compositores que começam a se tornar familiares para ele através do rádio. E havia também artistas internacionais que chegavam ao ouvinte atento, através de uma programação diversificada das rádios Tupi, Maryrink Veiga e Nacional, que incluía atrações internacionais dos cassinos no Rio de Janeiro (até que o jogo se tornasse proibido no país, em 1946).

 

Morreu na madrugada do dia 16 de novembro de 2010, aos 79 anos, vítima dos desdobramentos de um câncer. Ele havia feito uma cirurgia, mas contraiu uma pneumonia no hospital e não resistiu. 

Dados Atividade Específica

Apesar de seu entusiasmo pelo rádio, Saroldi começa a fazer teatro durante os tempos de estudante de filosofia e chega mesmo a pensar que seu destino profissional estaria nos palcos. No entanto, a companhia teatral da qual fazia parte se vê em grandes prejuízos e ele retoma os estudos de filosofia na Universidade do Distrito Federal, visando a trabalhar com jornalismo. Na Universidade, encena diversos espetáculos teatrais e se inicia na direção. Em meados da década de 1950, tem sua primeira experiência como locutor de rádio na Jornal do Brasil AM, mas o resultado não o anima muito e ele abandona temporiariamente a carreira radiofônica. Chega a lecionar filosofia, mas o trabalho como professor o aborrece e ele viaja a Porto Alegre (RS) onde começa a dirigir teatro regularmente. Paralelamente, edita, no Rio de Janeiro, a revista da Ação Social Diocesana. Em 1959, a rádio Jornal do Brasil passava por uma reformulação em sua programação. Saroldi foi convidado a ser redator de um programa sobre música erudita que deveria transmitir ao ouvinte a impressão de que era feito ao vivo, como se fosse um concerto. Acumulou também as fuções de programador musical e de assistente de direção da rádio. Trabalhava o dia inteiro na rádio e deixou o teatro de lado durante algum tempo, com exceção do período em que foi a Porto Alegre dirigir “Orfeu da Conceição”, de Vinicius de Moraes. Nos início dos anos 60, Reinaldo Jardim criou na JB AM o programa “Música também é notícia” com dez edições diárias de hora em hora, entre as 9h e às 18h. Era preciso conseguir dez novidades por dia que justificassem aquelas inserções musicais, tendo o programa sido reduzido, depois, a sete edições diárias. Um período muito fértil na vida de Saroldi e, segundo ele próprio, a época em que foi mais bem pago em toda a sua carreira como radialista. Naquele tempo, era produtor musical da Jornal do Brasil AM o maestro Edino Krieger. Os dois combinaram de fazer juntos uma ópera infantil, que acabou se tornando o musical “Uma girafa para Inocêncio”, encenado no Teatro de Arena da Faculdade Nacional de Arquitetura, na Praia Vermelha (atual UFRJ). Os ensaios aconteceram no auditório da Jornal do Brasil, instalada na época na Av. Rio Branco. Pouco depois, a peça foi encenada por um grupo pernambucano, que chegou a ser premiado e foi convidado pelo jornal Folha de S. Paulo a montar a peça na capital paulista. A Rádio Jornal do Brasil era, então, a quarta rádio mais ouvida no Rio de Janeiro e a primeira em faturamento, já que contava com muitos bancos entre seus anunciantes. Mas Saroldi acabou largando a produção do “Música também é notícia” por um desentendimento com a direção da emissora. Convidado a ser redator publicitário na Standar Propaganda, Saroldi pediu demissão da Jornal do Brasil AM. Durante algum tempo, atuou no ramo da publicidade, mas depois voltou a interessar-se por teatro. Foi convidado a ir trabalhar na então Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ) para ser professor de teatro, ao mesmo tempo em que continuava a trabalhar em publicidade como “free-lancer”. Montou um espetáculo de coletânea de poesias que se chamou “Ciranda”. Em 1967, Saroldi ganha o prêmio do Serviço Nacional de Teatro – SNT – com “Suave é a bomba”, um espetáculo em esquetes em que o autor focalizava o drama em que se vivia sob a ditadura militar. Trabalhou na produção de áudio-visuais para o Estúdio JB e depois foi para a TV Rio. Em 1973, retornou à Radio Jornal do Brasil (que acabara de se instalar na Avenida Brasil) para produzir e apresentar programas. Saroldi é colocado na produção do “Noturno”, juntamente com Simon Kury e outros. Com a saída de Simon Kury, assumiu a produção do “Especial”, que era apresentado por Eliakim Araújo. Durante as férias do locutor, Saroldi foi convencido pelo diretor da rádio, Fernando Veiga, a fazer ele próprio a locução do “Especial”. Os primeiros programas saíram um pouco insatisfatórios até que ele começou a improvisar, buscando um estilo próprio. O resultado foi que Saroldi tornou-se produtor e locutor dos Especias da JB AM, depois de dividi-lo durante um curto período com Maurício Tavares. Apesar dos especiais serem gravados, Saroldi passou a fazê-los em tempo real, como se fossem ao vivo. Em novembro de 1975, durante o programa com o compositor Cartola, Saroldi teve a felicidade de propiciar aos ouvintes, em primeira mão, a audição de “As rosas não falam” e de “O mundo é moinho”, duas obras-primas que só seriam gravadas pelo compositor no ano seguinte. Um dos programas que mais entusiasmaram o radialista foi o da entrevista com Waldir Azevedo, que já morava em Brasília, mas se encontrava no Rio para uma temporada de shows. Os programas eram então gravados a partir de um repertório básico escolhido previamente por Saroldi e pelo artista entrevistado. O programa com Hermeto Pascoal, que tocou acompanhado do flautista Mauro Senise foi também um dos que causou maior impacto junto aos ouvintes. A música “Bebê” já era então o prefixo do programa apresentado por Saroldi. Um dos programas, no entanto, não alcançou o objetivo esperado. Justamente o que tinha como entrevistado o radialista Adhemar Casé, uma legenda na história do rádio no Brasil. Como ele e Saroldi já haviam conversado bastante sobre sua vida e carreira antes do programa ser gravado, ao ir para o estúdio, Casé pouco ou nada conseguia falar sobre sua vida. Isso fez com que Saroldi se desse conta que o caminho para o sucesso do “Especial” estava mesmo em surpreender o artista no instante em que a gravação ia acontecendo, deixando a conversa fluir. Mas o “Especial” e o “Noturno” chegaram ao fim em meados da década de 1980. Com idéia semelhante ao “Música também é notícia”, Saroldi começou a produzir na JB AM o programa “Primeiro Plano”, de hora em hora. Pouco depois, a direção da rádio decidiu colocar novamente no ar o programa “Noturno”, mas Saroldi propõe um novo programa, o “Arte Final Variedades”, que estréia em 1986, ao vivo, no horário de 22h às 24:00h, de segunda a sexta. O horário depois foi reduzido em meia-hora, ficando das 22h às 23:30h. Aos domingos, Maurício Figueiredo, Célio Auzer e J. Carlos apresentavam o “Arte Final Jazz”. A idéia de retornar aos especiais permanecia. Um dia, uma ouvinte telefona para a produção do “Arte Final” querendo saber quais eram as músicas preferidas de Saroldi. Ele então tem a idéia de fazer um programa perguntando aos entrevsitados quais eram as suas músicas preferidas. E assim nasce, em setembro de 1987, o programa “As dez mais da sua vida”, que é transmitido sempre às terças-feiras, dentro do “Arte Final Variedades”. Num dos primeiros programas da série, realizado com o pesquisador musical Jairo Severiano, Saroldi propõe a ele que se encarregue de fazer uma estatística das músicas preferidas entre os entrevistados da série. A idéia era fazer um diagnóstico da memória musical dos brasileiros. Quais as músicas mais marcantes. O programa permitiu, portanto, que os ouvintes tomassem contato com o universo musical de diversos artistas importantes. Elizeth Cardozo, por exemplo, não relacionou uma única gravação sua, entre “as dez mais de sua vida”. Já outros cantores e compositores optaram por escolher algumas de suas obras entre as dez músicas selecionadas. Cantores, compositores, artistas plásticos, cieneastas, críticos, pesquisadores, escritores participaram das quase 300 edições do programa na Rádio Jornal do Brasil AM. Com a ida de Geraldo Leite (um dos integrantes do grupo paulista Rumo) da Rádio Eldorado para a Jornal do Brasil, Saroldi passou a ser o coordenador de programação e foram criados diversos programas na área musical, como os apresentados por João Máximo e Tárik de Souza, entre outros. Em três meses, a Rádio Jornal do Brasil ganhou 13 programas novos, além de passar a ter uma editoria cultural. Saroldi criou o programa “Estúdio A”, que pagava cachê para os artistas, transmitindo ao vivo conversas e shows com Nana Caymmi, Leila Pinheiro e Roberto Menescal e também Hermeto Pascoal, que adentrou a madrugada durante horas seguidas de programa (entre às 22:30h e 1:30 da manhã). Mas os patrocínios começaram a escassear e a programação não teve como prosseguir. A Rádio JB passou então por uma resstruturação e decidiu acabar com a editoria de cultura. Saroldi então resolve deixar a rádio e pensa em montar uma peça escita por ele sobre o compositor Ary Barroso, “Meu Ary Brasileiro”. Depois de desistir da proposta da rádio CBN para ser o “âncora” de um programa jornalístico, ganha bolsa da fundação Vitae para desenvolver, durante um ano, pesquisa sobre o maxixe.Na Rádio MEC, Saroldi continuou a produzir e apresentar o programa “As dez mais da sua vida”, cuja última edição foi ao ar em 1998, totalizando 394 entrevistados desde o período da Rádio Jornal do Brasil. Em 1984, já publicara um livro sobre a história da Rádio Nacional, que foi reeditado em 1988. Em 1993, assume a chefia de programação da Rádio Nacional, uma oportunidade de conviver com o dia a dia da rádio sobre a qual havia escrito, embora já estivessem longe os anos de apogeu da emissora que lançou nas décadas de 1930, 1940 e 1950 importantes nomes da música popular brasileira. Com a experiência na Rádio Nacional, já sob o comando da Radiobrás, Saroldi decidiu também escrever sobre o período de decadência da emissora, além de revelar algumas histórias de bastidores, para uma terceira edição de seu livro programada para 2002. Mestre em Comunicação pela Escola de Comunicação da UFRJ, Saroldi passou a lecionar naquela instituição e continua a se dedicar à dramaturgia e às pesquisas sobre rádio.