
Professor. Maestro. Compositor. Pesquisador. Arranjador. Produtor.
Os anos de infância vividos no Vale do Jequitinhonha ensejaram-lhe o contato íntimo com o folclore da região e o exercício amadorístico de acordeão e violão. Ainda na infância começou a tocar saxofone.
Em 1959 veio para o Rio de Janeiro e começou a estudar música formalmente na Academia Lourenzo Fernandes e na Escola de Música da UFRJ.
Em 1962 foi para a União Soviética, estudando por oito anos no Conservatório Tchaikovsky de Moscou, onde concluiu Mestrado em Musicologia Teórica, desenvolvendo tese sobre “O desenvolvimento do ouvido musical no sistema relativo de solfejo”.
Regressando ao Brasil, foi contratado pela Chantecler como arranjador popular. Nesse período, estudou também Harmonia, Instrumentação e História da Música no Instituto River e nos Seminários de Música Pró-Arte.
Em 1972, passou a lecionar Harmonia, Arranjos e Música de Câmara nos cursos de Licenciatura e Bacharelado da UNI-RIO. Sua chefia no Departamento de Linguagem e Estruturação Musical no Instituto Villa-Lobos, incorporado à UNI-RIO, caracterizou-se pelos esforços em introduzir a música popular e folclórica brasileira num ensino até então marcado pela presença exclusiva de modelos europeus.
Datam daí inovações naquela Faculdade de Música, como a revisão do conceito de Música de Câmara, passando a incluir na disciplina a formação de conjuntos dedicados à MPB e à música folclórica; criação e formalização em disciplina acadêmica do estudo de Evolução da Música Popular Brasileira, com enfoque sociológico, mercadológico e de direito autoral; e a reestruturação dos estudos de “Percepção Musical”, “Teclado Básico” e “Arranjos e Técnicas Instrumentais”, com a utilização preponderante de material rítmico e melódico proveniente do folclore e da MPB.
Para apoiar tais medidas administrativas, empenhou-se na produção de “partituras” sobre temas brasileiros para uso dos conjuntos vocais e/ou instrumentais, resultando daí cerca de 50 composições e arranjos, que continuam sendo utilizados em disciplinas daquela instituição. Três dessas peças receberam prêmios ou distinções em concursos nacionais de composição.
Em 1974 foi finalista do concurso de Composição e Arranjos Corais pelo Madrigal Renascentista – Fundação Artística, com a composição “No silêncio da madrugada”, em Belo Horizonte. Em 1977, foi premiado no Concurso Nacional de Composição da Universidade Federal da Paraíba, com a composição “Visão sertaneja”; em 1978 foi premiado pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Paraíba, com “Cantiga de cego”.
Criou o grupo Entradas e Bandeiras, formado por coro, solistas e uma pequena orquestra típica com timbres regionais, que realizou, entre 1979 e 1981, 42 apresentações públicas no Rio de Janeiro e em diversos estados. Em 1981, o grupo gravou três programas para a TV Educativa e lançou dois discos, “Cantigas” e “Entradas e bandeiras”, ambos com produção, direção e arranjos de Hélio Sena, privilegiando melodias recolhidas do folclore, ao lado de canções criadas a partir de células rítmicas ou entonações características da música do interior brasileiro, em que os temas poéticos procedem do campo e as harmonias são aquelas aprendidas com os músicos regionais.
Predominam nos timbres a viola, a sanfona e outros instrumentos tradicionais brasileiros. No disco “Entradas e bandeiras”, o grupo interpreta canções como “Assum preto” de Luiz Gonzaga, “Gemedeira”, adaptada do folclore pelo maestro com letra de José João dos Santos, o “Azulão” , “Aboio”, com música de Hélio Sena e letra de Lima e outros. No LP “Cantigas”, o grupo também interpreta várias canções com música de Hélio Sena. O maestro produziu, juntamente com Leonardo Bruno, os arranjos de um disco de candomblé para o Departamento Cultural dos Correios e Telégrafos.
Hélio Sena realizou ainda entre 1979 e 1980 pesquisa sobre as Escalas Modais na Música Nordestina e sua aplicação didática. A partir desse trabalho, criou, na UNI-RIO, um curso sobre o Modalismo Nordestino e suas implicações harmônicas, que passou a ser ministrado no Rio de Janeiro e, posteriormente, em outros estados, a partir da formação de seus alunos. Desde 1983, esse trabalho passou a abranger a cultura musical de diferentes etnias, particularmente no que diz respeito às formas de emissão vocal, aos modos e à rítmica, e aos processos de improvisação.
Produziu diversas coletâneas e fascículos teóricos, adotados hoje oficialmente na disciplina “Percepção musical” na UNI-RIO. Imprimiu ao estudo da música modal e da música de câmara uma metodologia onde exercícios de improvisação programada constituem parte integrante do processo de formulação e consolidação de conceitos. Criou ainda em 1988, naquela instituição, as bases para o que veio a ser a “Oficina de criação e recursos da voz”, integrada por alunos, vocalistas e compositores.
Com o nome “Cantos da Terra”, o grupo vocal formado naquela oficina passou a apresentar regularmente o repertório lá produzido. Desligando-se de sua origem universitária, mas mantendo as atividades da oficina, sob a orientação de Hélio Sena, o grupo desenvolveu pesquisa visando extrair recursos da música étnica de variados povos do mundo. Ao trazer à tona o universo sonoro do Oriente Médio, do Leste Europeu, da África, da Ásia e da América Latina, objetivou mostrar a riqueza das formas musicais desses países, em contrapartida às formas que se estabeleceram preponderantemente no Ocidente a partir do canto lírico, procurou as origens de toda tradição musical encontrada junto aos povos primitivos, com intenção de levar aquele “seu imaginário” às platéias populares. Foram inúmeros seus shows, apresentados do Circo Voador ao MAM, no Rio de Janeiro, passando por diversos palcos populares.
Em 1982/83 o maestro coordenou o projeto piloto para implantação do canto nas Escolas do Município do Rio de Janeiro. Desenvolveu em 1990 atividade de extensão universitária em que aprofundou seus estudos sobre a música nordestina.
Hélio Sena dedicou-se durante muitos anos ao estudo da música regional nordestina, resultando desses estudos a tese apresentada em 1992 no concurso de Livre Docência, “O Modalismo Nordestino e suas implicações harmônicas”, na qual detecta traços característicos da canção nordestina e identifica constância nos encadeamentos harmônicos, criando um embasamento teórico para a abordagem prática da música daquela região.
Em 1996, ministrou aulas na XIV Oficina de Música de Curitiba, criada na Universidade Federal do Paraná pelo maestro e professor Roberto Gnattai, seu ex-aluno. Por esa época, entrou para a Ordem dos Músicos do Rio de Janeiro, de que foi membro do Conselho Regional, criando um órgão chamado “Comissão de defesa dos interesses profissionais dos músicos”, emprestando à causa longa e intensa participação. Atuou também no Sindicato dos Músicos como vice-presidente, organizando e orientando vários encontros de artistas para desenvolverem a luta pelos interesses profissionais dos músicos e reorientação das conquistas na legislação, tanto na área cultural, quanto do trabalho.
Hélio Sena, ao criar a linha de pesquisa sobre MPB na UNI-RIO, possibilitou o surgimento de uma série de maestros, professores, músicos e pesquisadores que dão segmento aos estudos sobre a MPB no mundo acadêmico, atuando como expressões artísticas conscientes da valorização de nossa cultura popular. O maestro continua trabalhando incessantemente na criação musical e na orientação de novos grupos, sempre voltando sua atenção para o som que vem de nossa terra.
Em 2003, organizou a pesquisa musical para o Projeto “Música do Sudeste do Brasil”, realizado pelo SESC, dentro do macro projeto daquela instituição denominado “Sonora Brasil- Regiões/ Circuito Nacional de Música.” Nesse trabalho o maestro recolheu diversas peças musicais da região sudeste do país, trazendo ao público manifestações vivas da cultura popular como, aboios, rezas, cirandas, toadas, catiras, folias e acalantos. Na elaboração dos arranjos dessas peças, o maestro visou não ferir a o que ele denomina “Dignidade da criação popular” , que sâo as harmonias simples, na intenção de de criar climas sugeridos pelos próprios temas originais recolhidos, muitos deles, no Vale o Jequitinhonha, região na qual nasceu e cresceu.
Para a presentação do evento, foi formado o grupo “O Quinto”, tendo o próprio Hélio Sena no Acordeon e voz, ao lado de músicos como Marianna Leporace(Voz e percussão; Alexandre Luís (violão e voz) e Eduardo Camenietzki (Viola e voz).
O trabalho percorreu todo o Brasil, exceto a região sudeste, levando ao público geral um painel da musicalidade popular que se mantém no interior dessa região brasileira e resultou no CD “O Quinto”, produzido por Wagner Campos, em gravação independente.
Trabalhos publicados:
1981: Produção e direção musical do LP independente “Entradas e bandeiras” gravado pelo grupo Cantos da Terra. São do maestro os arranjos e a maioria das composições.
S/d : Arranjador do Disco Cultural do Projeto “Augustus”, na SUAM, RJ.
S/d : Manuais e coletâneas diversas sobre estudos da MPB editadas pela UNI-RIO. São inéditas suas monografias e teses acadêmicas sobre estudos da MPB e especialmente da música nordestina.