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Nome artístico
Geraldo José
Nome verdadeiro
Geraldo José de Paula
Data de nascimento
26/8/1929
Local de nascimento
Mimoso do Sul, ES
Data de morte
13/12/2019
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Contrarregra, engenheiro de som e sonoplasta.

Casado com Dalva Burlamaqui de Paula, com quem teve um casal de filhos e conviveu durante toda a vida.

Em 1939, a família transferiu-se para o Rio de Janeiro, mais especificamente para o bairro de Bangu, Zona Oeste da cidade, então capital federal do país.

Quando adolescente, trabalhou como entregador de pão; em serraria e como tecelão na fábrica de tecidos Bangu.

No ano de 1945, levado por um amigo de infância, foi apresentado a Paulo Gracindo, na Rádio Tupi, que o aceitou para a função de office-boy dele, que apresentava o programa “Sequência G3”. Na emissora, teve o interesse despertado para as radionovelas, frequentando as gravações na hora de seu almoço, quando conheceu o contrarregra Orlando Drummond, que depois passaria a ser radioator, deixando a sonoplastia. Assumiu a referida vaga quando substituiu Drummond no “Incrível, Fantástico, Extraordinário”, programa escrito e apresentado por Almirante. A partir desse dia, assumiu de vez a função de contrarregra principal da Rádio Tupi.

Na década de 1950, foi convidado por Waldemar Nóia (conhecido como Didi) para fazer sons complementares (de preenchimento) em algumas chanchadas da Companhia Atlântida, em estúdio de som na Rua México, 51, 7º andar. Longas-metragens com a dupla de comediantes Oscarito e Grande Otelo sob a direção de Carlos Manga, que também dirigiria, em 1962, outro longa-metragem, “As Sete Evas”, produzido pelo ator Cyll Farney, no qual já se ocupava com toda a sonoplastia. 

Em 1961, indicado pelo radioator Maurício Sherman, fizera, pela primeira vez a sonoplastia integral para o longa-metragem “Mandacaru Vermelho”, de Nélson Pereira dos Santos. Aliás, o diretor já o conhecera em 1955, quando colaborou com ruídos para a trilha de “Rio 40 Graus”. Uma proximidade amistosa e profissional que, além dos filmes citados, se ampliaria em outros títulos da carreira desse cineasta, sobretudo “Vidas Secas”, em 1963. Baseado na obra homônima de Graciliano Ramos, um filme sem música, de sonoplastia enfática, em que se destacava o ruído de um carro de boi acentuando o flagelo da seca e a desdita dos retirantes.

Trabalhou ainda, como operador de som, na Rádio Roquette-Pinto, e, como sonoplasta, na TV Globo.

No ano de 1974 foi contemplado com o prêmio “Coruja de Ouro”, do Instituto Nacional de Cinema, em cerimônia no Cinema Palácio, na Lapa, no Centro do Rio de Janeiro. 

Em 1988 ganhou o prêmio “Golfinho de Ouro”, pelo conjunto da obra, em cerimônia no Teatro Municipal, prêmio conferido pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. 

Em 2002, foi lançado o filme “Geraldo José: O Som sem Barreira”, de Severino Dadá, com o apoio do Ministério da Cultura – Secretaria do Audiovisual, Funarte Decine CTAV. Com trilha sonora de Carlos Malta, roteiro de Luís Alberto Rocha Melo e Severino Dadá, o média-metragem (52 min.) discorreu sobre sua trajetória como sonoplasta, sobretudo no cinema nacional, com depoimentos de vários convidados, entre os quais Roberto Farias, Jards Macalé, Maurício Sherman, Cyll Farney e Nélson Pereira dos Santos. No ano seguinte, em 2003, o filme foi premiado no “Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade”, em São Paulo.

Segundo informação no próprio documentário, o seu arquivo chegou a ter 13 mil sons, o maior das Américas, ficando atrás apenas do arquivo da BBC de Londres, de 20 mil registros sonoros.

Sonorizou discos de Moreira da Silva (da série “Músicas de Bang Bang – faroeste”); Nélson Gonçalves, Braguinha (da série “Disquinhos Infantis”) e de Jards Macalé, que, no depoimento para o média-metragem, vaticinou: “Geraldo José é um gênio”.

Dados Atividade Específica

Trabalhou em várias funções, ligadas à trilha sonora, nas seguintes produções cinematográficas: “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (direção: Glauber Rocha) e “Vidas Secas” (direção: Nélson Pereira dos Santos), em 1963; “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” (direção: Roberto Farias), em 1968; “Para, Pedro!” (direção: Pereira Dias), em 1969; “O Meu Pé de Laranja Lima” (direção: Aurélio Teixeira); “Marcelo Zona Sul” (direção: Xavier de Oliveira) e “Pedro Diabo Ama Rosa Meia-Noite” (direção: Miguel Faria Jr.), os três no ano de 1970. Neste mesmo ano de 1970, viria a ser um dos protagonistas do pioneirismo, no Brasil, em lançamento de disco, com o primeiro feito somente com trilhas de filmes. Em parceria com Ricardo Cravo Albin, diretor do Museu da Imagem e do Som e presidente da Embrafilme e do INC – Instituto Nacional de Cinema – na época, produziu e lançou pelo Museu da Imagem e do Som o LP “O Fino da Música no Cinema Brasileiro”. Por ser o primeiro registro nesta categoria, apresentamos aqui a ficha técnica na íntegra:

Supervisão geral (Ricardo Cravo Albin); Coordenação (Sérgio Junqueira); Produção artística (Geraldo José); Supervisão técnica (Hamílton Córdoba); Técnico de edição (Paulo Lavrador); Leiaute (Antônio Barroso) e Reprodução fotográfica (Clóvis Scarpino).

O disco seria montado, nos estúdios do MIS, em agosto de 1970, com as gravações originais extraídas das trilhas sonoras realizadas nos estúdios da RCA, Philips, CBS, Copacabana, Áudio Studio B e Odeon. A produção foi feita sob os auspícios do Instituto Nacional de Cinema (INC) – LP MIS 023.

 

Lado A

1) “O Cangaceiro”, filme de Lima Barreto – música: “Mulher rendeira” (motivo popular do Nordeste), com o Trio Marabá – arranjo: Hervé Cordovil;

2) “Os Deuses e os Mortos”, filme de Ruy Guerra – tema de abertura – composição e arranjo de Milton Nascimento;

3) “A Penúltima Donzela”, filme de Fernando Amaral – composição e arranjo de Egberto Gismonti;

4) “Mar Corrente”, filme de Luís Paulino dos Santos – “Tema renascentista”, de Baden Powell;

5) “Os Senhores da Terra”, filme de Paulo Thiago – música “Campina verde”, composição e arranjo de Sidney Miller e letra de Paulo Thiago – interpretação: Gutemberg Guarabira;

6) “Marcelo Zona Sul”, filme de Xavier de Oliveira – “Tema da Cascatinha”, composição e arranjo de Geni Marcondes;

7) “O Riacho de Sangue”, filme de Fernando de Barros “Tema de abertura”, composição e regência de Guerra-Peixe.

 

Lado B

1) “Férias no Sul”, filme de Reynaldo Paes de Barros – tema de abertura “Tônia”, composição e regência de Remo Usai;

2) “O Meu Pé de Laranja Lima”, filme de Aurélio Teixeira – tema de abertura, composição e regência de Edino Krieger;

3) “O Grito da Terra”, filme de Olney São Paulo – “Saudade sem nome”, com composição e interpretação de Fernando Lona – arranjo de Remo Usai;

4) “O Estranho Triângulo”, filme de Pedro Camargo – “Tema de abertura” – composição de José Ary;

5) “Mandacaru Vermelho”, filme de Nélson Pereira dos Santos – tema de abertura, composição e regência de Remo Usai e letra de Pedro Bloch, além de coral de Severino Filho;

6) “Ganga Zumba, Rei dos Palmares”, filme de Cacá Diegues – tema de autoria e regência de Moacir Santos;

7) “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, filme de Glauber Rocha – “Tema final da perseguição”, composto e interpretado por Sérgio Ricardo – letra de Glauber Rocha – efeitos sonoros de Geraldo José.

 

O disco foi lançado, ainda em 1970, no Festival Internacional de Cinema de Cannes, em que Ricardo Cravo Albin era chefe das Delegações Brasileiras.

Entre os anos de 1967 e 1976, trabalhou como engenheiro de som e editor de efeitos sonoros nos filmes “Perpétuo contra o Esquadrão da Morte”: direção: Miguel Borges/1967); “Manhã Cinzenta” (curta-metragem de Olney São Paulo – 1969), “Os Paqueras” (direção: Reginaldo Faria/1969), “A Casa Assassinada” (direção: Paulo César Saraceni/1971); “Eu Transo, Ela Transa” (direção: Pedro Camargo/1972), “Quem é Beta?” (direção: Nélson Pereira dos Santos/1973); “Como É Boa a Nossa Empregada” (direção: Victor di Mello e Ismar Porto – filme de episódios/1973); “Essa Gostosa Brincadeira a Dois” (direção: Victor di Mello – 1974); “Quem Tem Medo de Lobisomem?” (direção: Reginaldo Faria/1975) e “Paranoia” (direção: Antonio Calmon/1976).

Foi o sonoplasta de 504 longas-metragens e centenas de curtas-metragens. (No longa-metragem “Barravento”, o primeiro dirigido por Glauber Rocha, foram incluídas composições de Batatinha e ainda temas populares da Bahia para construir a trilha sonora.

Também sonorizou muitas peças publicitárias institucionais para empresas privadas e públicas, veiculadas em rádio e televisão.

Entre os longas-metragens mais conhecidos em que atuou na sonorização da trilha destacam-se “Assalto ao Trem Pagador” (direção: Roberto Farias/1962); “Os Cafajestes” (direção: Ruy Guerra/1962); “Ganga Zumba, Rei dos Palmares” (direção: Cacá Diegues/1963); “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (direção: Glauber Rocha/1964); “Os Fuzis” (direção: Ruy Guerra/1964); “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (direção: Roberto Santos/1965); “Copacabana Me Engana” (direção: Antonio Carlos Fontoura/1968); “Cara a Cara” (direção: Júlio Bressane/1968); “Navalha na Carne” (direção: Braz Chediak/1969); “Os Deuses e os Mortos” (direção: Ruy Guerra/1970); “Como Era Gostoso o Meu Francês” (direção: Nélson Pereira dos Santos/1971); Toda Nudez Será Castigada” (direção: Arnaldo Jabor/1972); “Jardim de Guerra” (direção: Neville d`Almeida/1973), “Vai Trabalhar, Vagabundo!” (direção: Hugo Carvana/1973); “A Rainha Diaba” (direção: Antonio Carlos Fontoura/1974); “Lição de Amor” (direção: Eduardo Escorel/1975); “O Rei da Noite” (direção: Hector Babenco/1975), “A Queda” (direção: Ruy Guerra/ 1976); “Chuvas de Verão” (direção: Cacá Diegues/1977); A Lira do Delírio” (direção: Walter Lima Júnior/1978); “O Princípio do Prazer” (direção: Luiz Carlos Lacerda, o Bigode/1979), “Os Sete Gatinhos” (direção: Neville d`Almeida/1980) e “O Baile Perfumado” (direção: Lírio Ferreira e Paulo Caldas/1996).

 

BIBLIOGRAFIA CRÍTICA

 

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.