2.001
Nome artístico
Carlos Machado
Nome verdadeiro
José Carlos Penafiel Machado
Data de nascimento
16/3/1908
Local de nascimento
Porto Alegre, RS
Data de morte
5/1/1992
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Produtor. Dançarino. Mestre de cerimônia. Nascido em família rica na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, fez o curso primário em colégio de freiras e o secundário em escola jesuíta. Ficou orfão de mãe com apenas um ano de idade sendo então criado pela avó que era muito rica. Desde cedo começou a levar uma intensa vida boêmia ficando conhecido como o “Machadinho de Porto Alegre”. Acabou involuntariamente participando da Revolução de 1930, quando remava no rio Guaíba e deu-se início ao conflito na cidade de Porto Alegre. Quando passava em frente ao quartel general do exército lá localizado foi chamado pelo tenente João Alberto que o aconselhou a lá se abrigar, o que acabou por transformá-lo em voluntário das forças rebeldes. Por conta disso seguiu para o Rio de Janeiro como amanuense. Na então capital federal passou a se envolver em intensa vida boêmia. Em 1931, ganhou a fortuna de 30 contos de réis na roleta e decidiu então viajar para Paris. Em 1965, recebeu o título de Cidadão Benemérito do Estado da Guanabara.

Dados Atividade Específica

Chegou em Paris em 1932, e inicialmente passou a levar a vida boêmia a que já estava acostumado. Dois anos depois, como era bom dançarino, acabou convidado pelo cubano Orefiche diretor da Lena Cuban Boys a se apresentar dançando rumba. Iniciava-se aí sua carreira de dançarino. Em 1935, foi contratado para atuar no cassino de Paris dançando num espetáculo do qual participava o cantor francês Maurice Chevalier. Em 1936, foi convidado pela cantora e dançarina Mistinguette, a maior figura do “music-hall” francês, para atuar com ela no musical “Refrains de Paris”. No mesmo ano, atuou no filme francês “Jeune-Fille d’Occasion”. Em 1938, atuou no espetáculo “Féerie de Paris” que se constituiu em um grande sucesso. Por essa época além de dançarino passou a ser também diretor de produção da companhia de Mistinguette. Em 1939, retornou ao Brasil de passagem para Buenos Aires onde se apresentou com a companhia de Mistinguette. Voltou novamente ao Brasil quando descobriu que se encontrava com tuberculose o que interrompeu sua carreira de dançarino. Ainda em 1939, convidou o pianista argentino Roberto Cesari e o pandeirista brasileiro Russo do Pandeiro para formar uma nova orquestra na qual o pianista Roberto Cesari seria o diretor artístico e ele o animador, diretor artístico e relações públicas. Como nunca havia estudado música e nem era, portanto, um maestro, ia aos ensaios no Dancing El Dorado e decorava os arranjos e orquestrações para então “dirigir” o conjunto auxiliado pelo seu ritmo de bailarino. Em dezembro de 1939, estreou no Tênis Clube de Petrópolis a Orquestra de Carlos Machado e seus Brazilian Serenaders que incluiu entre seus participantes alguns dos mais importantes músicos brasileiros como Russo do Pandeiro, Fafá Lemos, Laurindo de Almeida, Dick Farney, Nicolino Cópia, o Copinha, e outros. Com sua orquestra apresentou-se nos principais cassinos brasileiros da época como o Cassino da Urca, Icaraí e outros. Nesses espetáculos sua orquestra lançou sucessos como “Ai que saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago; “Atire a primeira pedra”, de Ataulfo Alves; “Praça Onze”, de Herivelto Martins e Grande Otelo; “Nega do cabelo duro”; “O cordão dos puxa-sacos”; “Maria Candelária”, e outros. Em 1942, foi a primeira orquestra brasileira a tocar o hoje clássico natalino “White Christmas”. Com sua orquestra, em especial em espetáculos no Cassino da Urca, acompanhou artistas como Grande Otelo, Marlene, Emilinha Borba, Virginia Lane, Loudinha Bittencourt, Linda Batitsa, Dircinha Batista e Heleninha Costa. Em 1946, com a decretação do fechamento dos cassinos pelo presidente Dutra sua orquestra chegou ao fim. No mesmo ano foi convidado a trabalhar como diretor artístico no Restaurante e Boate da Praia Vermelha. Contratou então o pianista Benê Nunes e a cantora Marlene para lá se apresentarem. Em 1947, assumiu o cargo de diretor artístico da boate Night and Day situada na Cinelânida, centro do Rio de Janeiro, que marcou época na noite carioca lá tendo se apresentado, entre outros, astros internacionais como Xavier Cugat e sua orquestra; Tommy Dorsey; Carmen Cavalaro; Amália Rodrigues, Josephine Baker; Charles Trenet; Pedro Vargas; Jean Sablon e outros. Em 1948, inaugurou a boate Monte Carlo. Com ele trabalharam na Boate Monte Carlo nomes como Jean D’Arco; Chiquinho do Acordeom; Chuca Chuca; Djalma Ferreira; Helena de Lima; Dick Farney e Fafá Lemos. Em 1953, inaugurou na Praia Vermelha a boate “Casablanca”, cujo primeiro espetáculo foi “Clarins em fá – Uma homenagem do carnaval carioca aos ídolos que o consagraram” e dele fizeram parte Linda Batista e Ataulfo Alves e suas pastoras, sendo a direção musical e artística de Britinho e Paulo Soledade. Ainda no Casablanca organizou os espetáculos “Acontece que eu sou baiano”; “Como é diferente o amor em Portugal”; “Feitiço da Vila”; “Esta vida é um carnaval” e “Satã dirige o espetáculo”. No espetáculo “Acontece que eu sou baiano” que homenageou o compositor Dorival Caymmi foi lançada a cantora Angela Maria. No espetáculo “Feitiço da Vila” fez homenagem a Noel Rosa e contou com as presenças de Grande Otelo e Sílvio Caldas, além de lançar a cantora Elizeth Cardoso. Sobre esse espetáculo assim escreveu a jornalista Elsie Lessa no jornal O Globo: “”Feitiço da Vila” é um show que a gente assiste de garganta apertada, quase de olhos molhados, de tão brasileiro, tão nosso, tão festa de São João, conversa de botequim, prosa de malandro, vida de bairro, amor feliz”. Em 1953, montou o espetáculo “Esta vida é um carnaval” que pela primeira vez colocou no palco de uma boate integrantes de uma escola de samba, no caso, passistas da Escola de Samba Império Serrano. Também atuaram nesse espetáculo nomes como Grande Otelo, Déo Maia, Ataulfo Alves e suas pastoras, Russo do Pandeiro, João Gilberto e Britinho. Em 1954, em sociedade com o pianista Sacha inaugurou a casa noturna Sacha’s Bar que funcionaria por doze anos. Em 1955, com o fechamento das boates Casablanca e Vogue passou a atuar no Night and Day. No mesmo ano foi escolhido pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais como o melhor produtor do ano. Em 1956, montou um dos maiores espetáculos de sua carreira, “Banzo-aiê”, título sugerido por Ary Barroso. No mesmo ano, levou mais de trinta artistas brasileiros, entre os quais a cantora Marlene e o cantor Roberto Audi, para apresentações no “Knickbocker’s Ball” no Star-Light do Waldorf Astoria de Nova York. Nesse ano, a boate Night and Day incendiou e por isso ficou fechada por alguns meses sendo reinaugurada em outubro de 1956 com o espetáculo “Rio… De janeiro a janeiro”, estrelado entre outros por Grande Otelo e Conjunto Farroupilha. Em 1958, homenageou o compositor Ary Barroso com o espetáculo “Mister Samba” que apresentou cerca de 40 composições de Ary Barroso, entre as quais “É luxo só”, feita especialmente para aquele espetáculo, do qual participaram o meaestro Guio de Moraes, Jean D’Arco, Elizeth Cardoso, Aurora Miranda e Grande Otelo. Em 1960, montou no Night and Day o espetáculo “Festival” escrito especialmente para a atriz Bibi Ferreira. No mesmo ano, estreou na famosa casa de espetáculos de Nova York Radio City Music Hall, o espetáculo “Brasil’,  que contou com as presenças de Russo do Pandeiro, Conjunto Farroupilha e Nelson Gonçalves. Sobre esse espetáculo assim reportou o jornal O Globo: “Teve marcante êxito a primeira apresentação do show de Carlos Machado, ontem à noite, no Rádio City, em Nova York. Vinte mil pessoas aplaudiram entusiasticamente, nas três sessões, os artistas brasileiros, sendo que Nelson Gonçalves, o Conjunto Farroupilha e Russo do Pandeiro conquistaram insistentes palmas. Jonas Moura, dançarino de frevo, foi, no entanto, o mais aplaudido do elenco. Enquanto o espetáculo se desenrolava, o sistema de ar-refrigerado do Radio City Music Hall, que é o maior auditório do mundo com capacidade para 6.400 espectadores sentados – deixava exalar essência de puro cafá, o que deliciou a grande assistência”. Foi sua essa idéia de colocar a essência de café no ambiente. Em 1961, adquiriu a boate Fred’s e no mesmo ano lá montou o espetáculo “Rio Boa-Pinta” escrito por Luiz Peixoto e Chianca de Garcia, e cujos nomes principais foram Grande Otelo e Elza Soares. Em 1963, na mesma boate montou o espetáculo “Chica da Silva 63”. No mesmo ano, apresentou no Goldem Room do Copacabana Palace aquele que seria um de seus maiores espetáculos, “O teu cabelo não nega”, uma homenagem ao compositor Lamartine Babo. O espetáculo foi intensamente elogiado pela crítica recebendo comentário do tipo: “Pela primeira vez, nessa longa e acidentada história do show carioca, há uma opinião unânime: Carlos Machado fez, afinal, o grande musical brasileiro”, opinião de Antônio Maria, ou então a opinião de Fernando Lobo que dizia: “A noite tem um espetáculo que bastaria para nós, os que escrevem sobre a noite, dizermos apenas que é um espetáculo espetacular”. Em 1964, apresentou no México os espetáculos “Samba, carnaval y mujer” e “Rio, ciudad Maravillosa”, que foram apresentados nas boates Señorial, Teatro Blanquita, Teatro Playa de Hornos e na televisão mexicana. Em homenagem ao quarto centenário de fundação da cidade do Rio de Janeiro apresentou, em 1965, o show “Rio de 400 janeiros” com arranjos e regência do maestro Lindolpho Gaya. A trilha sonora desse show foi lançada em LP pelo selo Elenco. Em 1966, montou aquele que seria o maior sucesso da boate Fred’s, o espetáculo “As Pussy Pussy Cats”, no qual o conjunto Os Originais do Samba lançou o “Samba do crioulo doido”, de Sérgio Porto. Pouco depois lá foi apresentado o espetáculo “Otelo é grande” uma homenagem ao ator Grande Otelo. Após alguns anos afastado dos espetáculos, voltou em 1973, e montou aquele que seria um des seus shows de maior sucesso, “Hip! Hip! Rio!”, que bateu todos os records de público na boate Night and Day sendo assistido por mais de 26 mil pessoas num local que tinha capacidade para apenas 250 assistentes. Sobre esse show, assim escreveu o crítico José de Vasconcellos: “Voltei ao passado… Ao bom passado do nosso Rio. Voltei e ao olhar para os lados descobri que era o presente brilhando, renovado, cheio de charme e do talento do “Rei da Noite” e fiquei tremendamente feliz. Carlos Machado voltou e grande, como sempre”. Nesse esptáculo estreou como vedete sua filha Djenane Machado. Esse espetáculo terminava com a apresentação da música “Hino de amor ao Rio”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia. Em 1974, montou o show “Graça do Bonfim” que também foi entusiasticamente recebido pela crítica especializada. Em 1976, produziu e dirigiu aquele que seria seu último grande espetáculo, o show “O Rio amanheceu cantando”, uma homenagem ao compositor Carlos Alberto Ferreira Braga o Braguinha, e dele particparam Elizeth Cardoso, MPB 4, Quarteto erm Cy e o cantor Sidney Magal, lançado nesse espetáculo. Em 1978, lançou seu livro de memórias “Carlos Machado apresenta – Memórias sem maquiagem”. Por seus inúmeros shows, sempre de grande sucesso ficou conhecido como “O Rei da Noite”.