
Instrumento de cordas, semelhante ao violão e que, no Brasil, assume várias versões sonoras, segundo as diversas regiões onde é cultivada. Com o mesmo nome são designados, na língua portuguesa, dois cordofones diferentes: a) um instrumento de arco, um pouco maior que o violino e da mesma família dele, de que é o contralto, afinado em dó, sol, ré, lá, do grave para o agudo, a viola de arco; b) um instrumento de cordas duplas dedilhadas, um pouco menor que o violão, de que é um ancestral afinado hoje geralmente em lá, ré, sol, si, mi, também do grave para o agudo, a viola e arame. A viola de arco, componente indispensável da orquestra sinfônica e do quarteto de cordas clássico, não é usada na música popular. Apesar de ter uma sonoridade menos enérgica que a do violino, supera a deste último em riqueza e calor emotivo. A viola de cordas duplas dedilhadas, também chamadas viola de arame, viola caipira ou viola sertaneja, componente indispensável das cantorias sertanejas e da música rural, não é usada na orquestra sinfônica. Tem maior sonoridade que o violão e timbre que lembra o do cravo. A viola caipira é formada por dois planos de madeira paralelos, o tampo e as costas, constituídos por dois bojos, o superior menor que o inferior, separados por uma cintura mais ou menos pronunciada. O bojo superior é continuado por um braço no qual se encontram doze casas ou trastes. Deve ter sido o primeiro instrumento de corda que o país conheceu. Foi introduzido no Brasil pelos colonizadores portugueses, no século XVI. Os jesuítas, quando aqui chegaram em 1549, com o 1º Governador Geral, Tomé de Souza, adotaram-no nas suas atividades missionárias e difundiram-no entre os catecúmenos, ensinando os curumins a tocar e até a construir o instrumento. O cultivo da viola de arame se desenvolveu e se mantém em diversas regiões rurais do Brasil, assumindo várias especificações sonoras, e estando presente em manifestações populares como, as cantorias, a folia de reis, os ternos de congo, os reisados em Minas Gerais e no interior do Rio de Janeiro, nas festas religiosas em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, em Minas Gerais, e a São Gonçalo, em regiões rurais do sudeste e do nordeste e nas festas de santos padroeiros.
Há um tipo de viola rural, no Centro-Oeste, a viola de cocho, oriunda sem dúvida dessa aprendizagem. A viola de arame do século XVI, muito difundida em Portugal, era um instrumento de quatro ordens de cordas duplas, que já no início do século XVII ganhou mais uma ordem de cordas, com a introdução de uma ordem mais grave. Passou a ter afinação geral lá, ré, sol, si, mi. Foi esse tipo de instrumento que se fixou no interior do Brasil até hoje. Usada por gente do campo, sem maior sofisticação de técnica instrumental, a viola passou a utilizar muitas afinações diversas, que facilitavam a digitação da mão esquerda sem exigir maior virtuosismo. Dizem os caipiras que há 25 afinações diferentes. Câmara Cascudo afirma conhecer as seguintes: cebolão, cebolinha, ré-abaixo, cartechana, quatro-pontos, oitavado, tempero mineiro, tempero-pro-meio, guariano, guaianinho, temperão, som de guitarra, guaianão, cana verde, do sossego, ponteado-do-Paraná. Para cantar moda, a melhor afinação é a quatro-pontos, e para cururu é a afinação cana verde. Cebolinha é boa também para moda. Cebolão muito usada para dança de cateretê. Conservada no interior. a viola, no Brasil, passou a constituir-se como instrumento de forte representação de várias culturas regionais, e, o violeiro, figura representativa de nossa música de raiz. São muitos os violeiros, como Roberto Corrêa, Paulo Freire e Renato Andrade, entre outros, com formação na música erudita e que emprestam interpretação criativa e irretocável ao toque regional da viola caipira e de cocho.
Já entre o toque popular da viola de arame, destacam-se violeiros das diversas regiões do Brasil, muitos autodidatas, como Helena Meirelles, do Mato Grosso, entre tantos violeiros do sexo masculino cada um com sua específica interpretação, também irretocável, consagrados no meio musical e cultuados nos mais variados recantos do Brasil, como Almir Sater, também do centro-oeste, os veteranos Téo Azevedo e Vicente Machado, Pereira da Viola, em Minas Gerais, e mais jovens, como Chico Lobo, Braz da Viola, entre outros, também em Minas. No interior de São Paulo, cite-se, entre tantos, o autodidata Gedeão da Viola, com seu toque aranhado, além de diversas duplas de violeiros, como Zé Mulato e Cassiano. Em se tratando de violeiros notáveis, entre tantos, sobressai o lendário Tião Carreiro, do norte-mineiro, que criou um estilo novo no toque da viola, o pagode sertanejo, tornando-se ídolo de gerações de violeiros mais jovens, como Almir Sater, e o jovem Rodrigo Matos, do interior de São Paulo, que desenvolve sua interpretação com influências declaradas de Tião Carreiro e que lidera um grupo de jovens violeiros na região.No interior do Rio e Janeiro, a viola também tem culto tradicional e pode ser destaque na interpretação do mestre Messias dos Santos, e de jovens violeiros, como Yassir Chediak, Marcus Ferrer, Leonardo Rugero e Marcelo Lopes, entre outros, que, emprestam formação erudita ao toque da viola de arame. Conforme o estilo e a região, o instrumento adquire denominações diversas, como: viola caipira, viola sertaneja, viola de cocho, viola de coité, viola de gamba, e outros. A viola tornou-se, através de nossa história cultural, símbolo de identidade nacional, ligada, especialmente, ao universo rural de nosso país, mas sua influência se faz sentir, inclusive em meios urbanos, como, por exemplo, nos nomes artísticos assumidos por tantos talentos das mais variadas vertentes de nossa música, como é o caso do já falecido cantor Chico Viola e de um dos principais representantes do samba carioca, Paulinho da Viola. É reconhecida como instrumento obrigatório, quando se fala do canto caipira e sertanejo, que traz o trabalho e o cotidiano das gentes do interior como tema, ou ainda, do canto romântico das, também tradicionais, serestas nas noites do Brasil.
O instrumento, sempre reverenciado, conta com festivais periódicos em diversas cidades do país, e eventos em sua homenagem, além de revistas, jornais e programas de TV e rádio, como o programa “Brasil caipira”, da cidade de Formoso, GO, comandado por Luis Rocha, na TV Senado e o “Viola, minha viola”, dedicado à música caipira e sertaneja, comandado por Inezita Barroso, na TV Cultura de São Paulo, com mais de 30 anos de edição. Este, em setembro de 2010, prestou homenagem ao instrumento, realizando um encontro entre violeiros de idades e procedências diferentes, como Fernando Deghi, de formação erudita, Rodrigo Mattos, violeiro desde menino, com carreira firmada e reconhecida no culto ao instrumento, Indio Cachoeira, violeiro veterano e reconhecido na tradição do instrumento e Arnaldo Freitas, expoente da última geração, já sendo apreciado no meio. No evento, os convidados reverenciaram o instrumento e lembraram lendários violeiros, como Tião Carreiro, Bambico e Gedeão da Viola, entre outros, e suas obras.