Instrumento musical africano.
Segundo o “Dicionário de Ritmos & Instrumentos de Percussão”, do percussionista e pesquisador musical Reppolho:
“Membranofone de fricção reinventado no Brasil pelos escravos vindos de Angola e do Congo. Chamada de ‘mpwita’ (em Angola), na língua Kimbundo é conhecida pelo nome de kpwita. Conhecida também por Tambos-Onça ou Tambor-Onça, Omelê, Socador, Roncador, Porca ou Onça e Ronca. Tem formato de um pequeno tambor com a pele fixada a uma haste de madeira interna friccionada com um pano molhado reproduzindo um som parecido com um ruído de um porco. Anteriormente essa haste era externa”.
O nome é de origem angolo-conguense e o instrumento deve ter sido trazido para o Brasil pelos negros bantos, embora alguns pesquisadores admitam, sem muita comprovação, uma certa procedência holandesa. O instrumento produz som semelhante ao ronco de um porco.
Segundo o pesquisador Arthur de Oliveira:
“Tem a forma de um tambor de uma só membrana, com uma haste presa ao centro do couro distendido. Essa haste pode ser interna, forma hoje praticamente única, ou externa. Friccionada pela mão molhada ou por um pano úmido faz a membrana vibrar, produzindo um ronco. Até meados da década de 1930, os sambistas traziam-na presas sob o braço esquerdo, com a membrana para trás. Com a mão direita atritavam a haste. A partir dessa época, começaram a pendurar a cuíca ao pescoço com um cordão, enquanto a mão esquerda, colocada no centro da membrana pelo lado de fora, variava a tensão do couro produzindo variação na frequência do som gerado. Diz-se que um bom cuiqueiro consegue tirar dezenas de sons diferentes do instrumento. Essa técnica de execução da cuíca, criada no Rio de Janeiro, não é utilizada na música popular de nenhum outro país”.
De acordo com o livro “Alguns Aspectos da MPB”, do pesquisador Euclides Amaral:
“Nas ilhas de Madeira, São Tomé e Príncipe o termo ‘puíta’ serve para designar um tipo de dança de umbigada (Dança da Puíta), dançada em pares por homens e mulheres. Mas a cuíca em si é uma espécie de aprimoramento de outro instrumento mais antigo de nome ‘Angona’, instrumento semelhante à cuíca fabricado com um pedaço de bambu ligado a uma lata, também usado nos antigos terreiros de macumba do antigo Morro de Santo Antônio, depois demolido para a obra da Avenida Chile, no Centro do Rio de Janeiro. A cuíca foi introduzida na percussão das Escolas de Samba por João Mina, músico do Morro do São Carlos, portanto, possivelmente pertencente ao grupo de Ismael Silva. Entre os virtuoses no instrumento, no Rio de Janeiro, destacam-se Zé Campista (Escola de Samba Independentes do Leblon, da Favela da Praia do Pinto, na década de 1950 e mais tarde, após o incêndio de 1969, renomeada para Favela da Cruzada); Seu Genaro (da Escola de Samba Independente de Padre Miguel, que puxava o ritmo mais para o lado da macumba); Mestre Marçal e seu discípulo Ovídio Brito, considerado um dos melhores cuiqueiros na atividade em 2008”.
O percussionista paulista Oswaldinho da Cuíca afirma que no início da década de 1920 a cuíca já estava incorporada ao samba, mas com um pequeno detalhe no instrumento, a vareta era tocada pelo lado de fora e não fazia tantas notas.
Na cidade de São Paulo Oswaldinho da Cuíca é o mais afamado e no Rio de Janeiro destaca-se também Zeca da Cuíca, do morro do São Carlos, mestre da Ala de Cuiqueiros da Escola de Samba Estácio de Sá e professor da nova geração no instrumento, entre os quais Cláudio da Cuíca, da Vila Penha, que usa a cuica, em solo, com uma sonoridade mais experimental; no hip hop, soul, jazz e samba.
Fonte:
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2010.
REPPOLHO. Dicionário Ilustrado de Ritmos & Instrumentos de Percussão. Rio de Janeiro: GJS Editora, 2012. 2ª ed. 2013