4.002
Nome do Grupo
Os Mutantes
Componentes

Rita Lee

Sérgio Dias

Arnaldo Baptista

Liminha

Dinho Leme

Dados Históricos e Artísticos

Grupo de rock formado por Rita Lee (Rita Lee Jones – voz, flauta, harpa e percussão), Arnaldo Baptista (Arnaldo Dias Baptista – voz, baixo e teclados) e Sérgio Dias (Sérgio Dias Baptista – voz e guitarra) na cidade de São Paulo em 1966. Do grupo também participaram Liminha (Arnolpho Lima Filho – baixista) e Dinho Leme (baterista). O conjunto originou-se da união de dois grupos, o Teenage Singers, do qual participava Rita Lee, e o The Wooden Faces, dos irmãos Sérgio e Arnaldo Baptista. Ainda chamado OSeis, chegou a lançar um compacto simples pela Continental com as composições “Suicida”, de Raphael Vilardi e Roberto Loyola, e “Apocalipse”, também de Raphael, porém em parceria com Rita Lee. Ainda no mesmo ano, a banda passaria a utilizar o nome definitivo por sugestão de Ronnie Von, que, na ocasião, lia “O império dos Mutantes”, ficção científica escrita por Stefan Wul. Ele comandava então o programa dominical “O pequeno mundo de Ronnie Von”, pela TV Record, e não havia gostado do nome anterior. Acatada a sugestão, no dia 15 de outubro de 1966 estreou aquele que viria a ser um dos mais importantes grupos de rock do Brasil. O sucesso foi tão grande que o conjunto passou a fazer parte do elenco fixo do programa e participou das gravações do LP “Ronnie Von – nº 3”. Todavia, no início do ano seguinte, com a mudança da direção do programa, o grupo foi diminuindo paulatinamente as suas apresentações por discordar das novas diretrizes. Além disso, havia a possibilidade de apresentações em outras emissoras. Convidado pelo maestro Chiquinho de Moraes, da Rede Bandeirantes, exibiu-se no programa “Quadrado e redondo”, apresentado por Sérgio Galvão. Foi também graças a outro maestro, Rogério Duprat, que o conjunto começou a participar dos grandes festivais de música popular, que estavam na sua época de ouro. Foi ele quem sugeriu a Gilberto Gil que convocasse o grupo para gravar “Bom dia”, cantada por Nana Caymmi, inscrita no “III Festival da Música Popular Brasileira”, da TV Record. Além dessa composição, outra de sua autoria também estava classificada: “Domingo no parque”. O conjunto acabou participando da gravação de ambas, pois, para a surpresa geral, ele se saíra muito bem, apesar de nenhum de seus integrantes ler cifras e partituras musicais e também da complexidade harmônica dos arranjos elaborados por Gil e Duprat.

Em 1968, indicada pelo produtor Manoel Barenbein, a banda assinou contrato com a Polydor e lançou seu primeiro disco, o LP “Os Mutantes”, com arranjos de Duprat e participação especial de Jorge Bem. Deste disco destacaram-se as faixas “Senhor F…”, na qual a mãe de Arnaldo Baptista tocou piano, “Panis et circenses” (Caetano Veloso e Gilberto Gil) e composta para o grupo, e “Trem fantasma” (Os Mutantes e Caetano Veloso) – composta na casa do produtor Guilherme Araújo. Nesse mesmo ano, fazendo parte integrante do Tropicalismo, gravou com Caetano Veloso e participou do disco manifesto do movimento “Tropicália ou panis et circencis”, gravando a faixa-título. Ainda nesse ano, chegou aos cinemas o filme “As amorosas”, de Walter Hugo Khouri, com Paulo José, Lilian Lemmertz e Anecy Rocha, no qual o grupo participou em duas seqüências filmadas na boate Ponto de Encontro. Ainda em 1968, participou do “III FIC” acompanhando Caetano Veloso na polêmica “É proibido proibir”, quando, embaixo de vaias, o compositor fez um indignado discurso contra a platéia. No mesmo festival, defendeu “Caminhante noturno” (Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee), classificando-se em sétimo lugar. Apresentou-se também no “IV FMPB”, defendendo “Dom Quixote” e “2001”, esta última, parceria de Rita Lee com Tom Zé. No ano seguinte, excursionou pela França tocando no festival “MIDEM”, em Cannes, e no tradicional Olympia de Paris. Lançou seu segundo disco, “Mutantes” (já com a presença do baterista Dinho e do baixista Liminha). Do LP destacou-se a faixa “Caminhante noturno”, na qual erradamente foi omitido o nome de Sérgio Dias como co-autor. Neste mesmo ano de 1969 o grupo fez também o seu último show com os baianos, na boate carioca Sucata, no qual ocorreu o famoso incidente da bandeira nacional, que, supostamente, fora desrespeitada, levando os baianos à prisão e posterior exílio.

Em 1970, o grupo lançou o LP “A divina comédia ou ando meio desligado”,, destacando-se as faixas “Ando meio desligado” (Arnaldo, Sérgio e Rita) e uma regravação do clássico “Chão de estrelas” (Sílvio Caldas e Orestes Barbosa), interpretação muito criticada pelos crísticos e puristas na época. No ano seguinte, gravou o LP “Jardim elétrico”. O som deste disco trouxe alguns instrumentos fabricados por Cláudio Baptista, irmã mais velho de Arnaldo e Sérgio, e que era considerado uma espécie de Professor Pardal do rock brasileiro. Do disco destacou-se a faixa “El justiceiro” e ainda “Portugal de navio”, cantada por Liminha.

Em 1972, lançou o LP “Mutantes e seus cometas no país do bauretz”. O derradeiro disco com a presença de Rita Lee guarda uma história curiosa a respeito do seu título. Este, de certa forma, era uma homenagem a Tim Maia, pois ele chamava os cigarros de maconha de “bauretz”, gíria que o grupo desconhecia e passou a adotar. Na verdade, a saída de Rita estava mais relacionada ao fim do seu casamento com Arnaldo do que a diferenças musicais propriamente ditas. Nessa época, o conjunto vivia numa comunidade alternativa na Serra da Cantareira, onde drogas e trocas de parceiros sexuais eram uma constante, o que acabou abalando a relação dos dois. Este disco foi um dos que mais fez sucesso do grupo. Quase todas as faixas foram executadas na mídia: “Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o rock and roll” (Arnaldo Baptista, Rita Lee e Arnolpho Lima Filho), “Vida de cachorro” (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Baptista), “Cantor de mambo” (Élcio Decário, Arnaldo Baptista e Rita Lee), “Todo mundo pastou” (Ismar S. Andrade “Bororó”), “Rua Augusta” (Hervê Cordovil) e “Balada do louco” (Rita Lee e Arnaldo Baptista), regravada com sucesso por vários intérpretes, inclusive por Ney Matogrosso. Ainda em 1972 o grupo gravou um novo disco, mas a gravadora insistiu para que apenas Rita Lee assinasse o disco, pois não ficaria bem a banda lançar dois discos no mesmo ano, por isso o LP “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida” ficou creditado apenas à Rita Lee, que havia gravado um disco solo anteriormente de nome “Build up”.

O ano de 1973, gravou o LP “O A e o Z”, disco marcado pela definitiva adesão do grupo ao rock progressivo. A gravadora, porém, o considerou sem apelo comercial e, além de não comercializá-lo, decidiu afastar o grupo de seu cast. Todas as suas faixas foram compostas e executadas sob o efeito de ácido lisérgico, o que resultou num LP hermético, somente para os “iniciados” na droga. O disco só viria a ser lançado em 1992, pela PolyGram, já em formato de CD. Ainda nesse ano de 1973, Arnaldo também deixaria o grupo, assim como Dinho. Foram substituídos respectivamente por Túlio Mourão e Rui Motta.

No ano seguinte, em 1974, o grupo assinou com a Som Livre, pela qual lançou “Tudo foi feito pelo sol”, um compacto e um LP ao vivo. Nesse período, também houve modificações na formação. A primeira seria a saída de Liminha, substituído por Antônio Pedro, que, por sua vez, seria substituído por Paul de Castro. Túlio Mourão também sairia, entrando em seu lugar Luciano Alves.

Em 1978, o grupo encerrou as suas atividades. É considerado um dos principais grupos do rock brasileiro. Se até o surgimento da banda, o gênero era basicamente imitativo, apresentando versões de sucessos estrangeiros, a partir dela, abriu-se o caminho do hibridismo, caracterizado pela mescla de elementos musicais e temáticos brasileiros com os instrumentos elétricos e o ritmo do rock and roll. A partir dos anos de 1990, a importância do grupo foi definitivamente consolidada no cenário do rock nacional e no exterior.

No ano de 1992 Sérgio Dias falou com então diretor artístico da PolyGram Mayrton Bahia e o convenceu a lançar o disco “O A e o Z”.

Em 1996, o selo Natasha Records lançou um disco-tributo no qual nomes como Planet Hemp, Kid Abelha, Pato Fu, Arnaldo Antunes e Lulu Santos interpretavam os seus sucessos.

No ano 2000 a gravadora Universal lançou “Technicolor”, disco produzido por Carlos Olms e gravado em 1970 em Paris, durante uma temporada do grupo no Olympia. Na época, em 1970, a PolyGran inglesa convidou o grupo para se radicar em Londres, e pediu para que as letras do discos fossem cantadas em inglês. Apenas Arnaldo Baptista sabia do convite para o grupo ficar em solo inglês, o que veio a contar aos outros participantes somente quando regressaram ao Brasil. A capa do disco e o encarte, em versão editada no ano 2000 foram desenhados por Sean Lennon.

Em 2006 o grupo foi homenageado na mostra “Tropicália – a revolution in Brazilian culture”, no Barbican Hall, em Londres, principal centro cultural da Europa. Ao grupo original – Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e Dinho Leme, juntou-se a cantora Zélia Duncan no lugar de Rita Lee, que não pode juntar-se aos antigos companheiros por ter compromissos agendados nesta data. O show, com todos os ingressos vendidos antecipadamente, teve teve como banda de abertura o grupo pernambucano Nação Zumbi, além do músico texano Devendra Banhart, fã incodicional dos Mutantes. Depois do show em Londres Os Mutantes seguiram para temporada nos Estados Unidos, aprsentando-se em Nova York (Webster Hall), Los Angeles (Hollywood Bowl), São Francisco (The Fillmore), Seatle (Moore Theatre), Denver (Cervantes Masterpiece Ballroom) e Chicago, no Pitchfork Music Festival. Neste mesmo ano de 2006 a gravadora Universal remasterizou todos os disco da banda dos anos de 1968 a 1972, fazendo uso das fitas originais.

No ano de 2011 a banda foi uma das principais atrações do “Rock In Rio IV”, apresentando-se com grande sucesso de público e crítica no Palco Sunset, no qual recebeu o cantor e compositor baiano Tom Zé. Dois anos depois, em 2013, a banda com nova formação, em sexteto, lançou o CD “Fool metal Jack”, no qual a faixa “The dream is gone” ganhou imediatamente divulgação em várias emissoras de rádio do país, assim como a faixa-título, uma alusão ao filme “Full metal jacket”, de 1987, do diretor norte-americano Stanley Kubrick. Outras faixas do disco também forma posta para audição grátis no site da banda, destacando-se “Picadilly Wille”, “Look out” e “To make it beautiful”, além de “Eu descobri”, de Gilberto Gil.

No ano de 2018 a cantora, compositora e escritora Chris Fuscaldo publicou pela Editora Garota FM Books o livro “Discobiografia Mutante: Álbuns que revolucionaram a música brasileira”, no qual contou as histórias da banda paulistana através de seus discos. Em edição bilíngue (Português/Inglês), o livro foi lançado no Brasil e nos Estados Unidos, com distribuição no Japão. No ano seguinte, em 2019, o livro rendeu à autora o “Prêmio Profissionais da Música 2019”, na categoria “Livros Musicais”.

Discografias
2000 Universal CD Technicolor
1992 Philips CD O A e o Z
1976 Som Livre LP Ao vivo
1976 Som Livre Compacto Duplo Cavaleiros negros/Tudo bem/Balada do amigo
1974 Som Livre LP Tudo foi feito pelo sol
1972 Polydor LP Mutantes e seus cometas no país do bauretz
1971 Polydor LP Jardim elétrico
1970 Polydor LP A divina comédia ou ando meio desligado
1969 Polydor LP Mutantes
1968 Polydor LP Os Mutantes
1968 Philips LP Tropicália ou Panis et Circencis

(vários)

Obras
2001 (Rita Lee e Tom Zé)
A hora e a vez do cabelo nascer (Arnolpho Lima Filho e Mutantes)
Algo mais (Os Mutantes)
Ando meio desligado (Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias)
Ave Gengis Khan (Os Mutantes)
Ave Lúcifer (Arnaldo Baptista, Rita Lee e Élcio Decário)
Balada do louco (Rita Lee e Arnaldo Baptista)
Beijo exagerado (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Baptista)
Caminhante noturno (Rita Lee, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista)
Cantor de mambo (Elcio Decário, Arnaldo Baptista e Rita Lee)
Desculpe baby (Arnaldo Baptista e Rita Lee)
Dia 36 (Johnny Dandurandm e Mutantes)
Dom Quixote (Arnaldo Baptista e Rita Lee)
Dune Buggy (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Baptista)
Fuga nº 2 (Mutantes)
Haleluia (Arnaldo Baptista)
Hey boy (Arnaldo Baptista e Élcio Decário)
Jogo de calçada (Wandler Cunha, Ilton Oliveira e Arnaldo Baptista)
Meu refrigerador não funciona (Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias)
Mutante e seus cometas no país do bauretz (Ronaldo Leme, Arnolpho Lima Filho e Mutantes)
O relógio (Os Mutantes)
Oh! Mulher infiel (Arnaldo Baptista)
Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o rock and roll (Arnaldo Baptista, Rita Lee e Arnolpho Lima Filho)
Qualquer bobagem (Tom Zé e Mutantes)
Quem tem medo de brincar de amor (Arnaldo Baptista e Rita Lee)
Rita Lee (Mutantes)
Senhor F (os Mutantes)
Tempo no tempo (J. Philips/Versão: Os Mutantes)
Trem fantasma (Caetano Veloso e Os Mutantes)
Vida de cachorro (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Baptista)
Shows
III FIC. TV Globo,
III FMPB. TV Record, SP,
IV FMPB. TV Record, SP,
MIDEM. Cannes, França,
O planeta dos mutantes. Teatro Casa Grande, RJ,
Olympia. Paris, França,
V FIC. TV Record, SP.
Bibliografia crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

ALBIN, Ricardo Cravo. MPB, a história de um século. Rio de Janeiro: Atrações Produções Ilimitadas/MEC/Funarte, 1997.

ALBIN, Ricardo Cravo. O Livro de Ouro da MPB. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A., 2003.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2009.

CALADO, Carlos. A divina comédia dos Mutantes. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.

CALADO, Carlos. Tropicália: a história de uma revolução musical. São Paulo: Editora 34, 1997.

CAMPOS, Augusto de. Balanço da bossa e outras bossas. São Paulo: Editora Perspectiva, 1993.

CHAVES, Xico e CYNTRÃO, Sylvia. Da Pauliceia à Centopeia Desvairada – as Vanguardas e a MPB. Rio de Janeiro: Elo Editora, 1999.

COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.

FAVARETTO, Celso. Tropicália – alegoria, alegria. São Paulo: Editora Kairós, 1978.

FUSCALDO, Chris.Discobiografia Mutante: Álbuns que revolucionaram a música brasileira. Rio de Janeiro: Editora Garota FM Books, 2018.

SANTOS, Jorge Fernando dos. Vandré: o homem que disse não. São Paulo: Geração Editorial, 2015.

VELOSO, Caetano. Verdade tropical. São Paulo: Cia. das Letras, 1997.

Crítica

 

O ano de 1968 foi diferente para Rita Lee, Arnaldo Dias Baptista e Sérgio Dias Baptista, que gravaram seu primeiro disco como Os Mutantes – depois do segundo, viraram só Mutantes, sem o artigo definido – para nunca mais serem esquecidos. Os Mutantes foram apadrinhados por Gilberto Gil e incentivados por Caetano Veloso, e aprenderam com eles a compor. No entanto, seu comportamento seguia outro tipo de “subversão”: enquanto os baianos desafiavam o público a pensar, o trio pensava estar desafiando com seus maus modos. Poucas de suas músicas foram censuradas, e o comportamento nada preocupado em seguir padrões da época era mais visto como uma grande brincadeira. “Dom Quixote”, presente no álbum “Mutantes” (1969), teve trechos censurados, mas foi gravada com o trio não acatando a ordem completa.

Arnaldo, Sérgio e Rita fizeram aparições polêmicas em programas de TV. Em uma delas, tiveram o disco “A divina comédia ou ando meio desligado” (1970) quebrado, pois Flávio Cavalcanti ficou irritado com a leitura de “Chão de estrelas”, de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa e fez um discurso sobre a decadência dos valores da juventude na TV Tupi. Com uma de suas brincadeiras de gosto duvidoso, o casal surpreendeu a apresentadora Hebe Camargo, que, enquanto assistia a Arnaldo e Rita rasgando a certidão de casamento, suspirava seu tradicional “que gracinha”. O trio abusava tanto de brincadeiras e de deboches que as capas dos álbuns eram simples resumos do que eles eram de verdade. A ironia é evidente na maioria delas.

O maior diferencial dos Mutantes era o equipamento exclusivos construídos pelo irmão mais velho de Arnaldo e Sérgio, Cláudio César Dias Baptista, apelidado de “quarto mutante”. Depois da virada do século, com a redescoberta de Mutantes por novas gerações, uma formação menos duradoura da banda ganhou uma legião de fãs: a da chamada “fase progressiva”, em que ficou apenas Sérgio Dias da formação original. Na década de 1970, com o tecladista Túlio Mourão, o baixista Antonio Pedro de Medeiros e o baterista Rui Motta, o Dias Baptista caçula esbanjou virtuosismo em shows em que faziam inveja às outras bandas, que sonhavam com aquele equipamento cada vez mais elaborado por Cláudio César.

Com essa irreverência e potencialidade musical, como publicou o jornal The New York Times, Mutantes conquistou até artistas estrangeiros, de David Byrne a Kurt Cobain, passando por Sean Lennon. Os Mutantes eram bem mais do que uma banda de rock’n’roll. A banda se arriscou, polemizou, desafiou e inovou a música popular brasileira ao introduzir seus instrumentos elétricos nos festivais da canção. Seus álbuns fizeram a diferença e influenciaram gerações mundo afora. Do enfrentamento à tradicional família brasileira à ousadia de se fantasiar ou de tocar instrumentos criados especialmente para eles, os Mutantes nunca se resguardaram de nada.

 

Chris Fuscaldo (Jornalista, escritora, cantora e compositora)