5.003
Nome do Grupo
Oito Batutas
Componentes

Primeira formação:

Pixinguinha

China

Donga

Raul Palmieri

Nelson Alves

José Alves

Jacó Palmieri

Luís de Oliveira

J. Thomaz

Em 1922:

Pixinguinha

China

Donga

José Monteiro

Nelson Alves

José Alves

Feniano

A terceira formação, em 1922:

Pixinguinha

China

Donga

J. Ribas

Nelson Alves

Dados Históricos e Artísticos

Grupo instrumental criado em 1919 por Donga e Pixinguinha atendendo a pedido de  Isaac Frankel que queria um grupo para se apresentar na sala de espera do cinema Palais, que andava vazia desde a epidemia de gripe espanhola do ano anterior. Os integrantes do grupo foram escolhidos entre os componentes do Bloco do Caxangá e o nome Oito Batutas foi escolhido pelo próprio Isaac Frankel. A primeira formação do grupo contou com as presenças de  Pixinguinha, na flauta; China, no vocal, violão e piano; Donga, no violão; Raul Palmieri, no violão; Nelson Alves, no cavaquinho; José Alves, no bandolim e ganzá; Jacó Palmieri, no pandeiro e Luís de Oliveira, na bandola e reco-reco. Este último, faleceu logo após as primeiras apresentações e foi substituído por João Tomás. A primeira audição do grupo foi no Cinema América na Praça Saez Pena perante uma platéia de empresários. No cinema Palais o conjunto era anunciado como sendo “A única orquestra que fala alto no coração brasileiro”. Já em anúncios de jornal o conjunto era anunciado da seguinte maneira: “Convidamos V. Excia. A vir ouvir no Cine Palais a Orquestra Típica Oito Batutas. Última novidade no mundo artístico carioca, no seu admirável repertório de música vocal e instrumental brasileira. Maxixes, lundus, canções sertanejas, corta-jacas, batuques, cateretês, etc.” Não foram poucos os protestos dos que consideravam um escândalo um grupo de música popular com quatro componentes negros tocando em um cinema de elite. O sucesso do grupo no entanto foi imediato e a sala de espera do cinema Palais passou a encher diariamente com admiradores querendo ouvir as apresentações do grupo. O grupo foi convidado a partiocipar de festas e saraus muitas delas a convite do milionário Arnaldo Guinle. No final de 1919, empreenderam uma viagem aos estados de Minas Gerais e de São Paulo contando então com a presença do violonista João Pernambuco, que passou a fazer parte do grupo. Na estréia em São Paulo, apresentaram o espetáculo “Uma noite no sertão” no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. No dia seguinte, exibiram-se no aristocrático Automóvel Clube. Apresentaram-se ainda nas cidadesde Santos e Campinas entre outras. No início de 1920, além de visitas a cidades do interior de Minas Gerais, tornaram a se exibir em São Paulo, sempre com muito sucesso. Nesse ano, apresentaram-se no Rio de Janeiro no Teatro São Pedro na revista “Flor tapuia”, de Alberto Deodato e Danton Vampré. Essa peça tinha originalmente os arranjos do maestro português Luís Quesada que abandonou a peça por desentendimentos com os diretores. Por sugestão de Donga, Pixinguinha assumiu o posto e escreveu novos arranjos o que fez a opereta retomar o sucesso. Segundo reportagem do jornal O Globo reproduzindo pesquisa do flautista José Maria Braga do conjunto Galo Preto, “Um dos destaques eram os Oito Batutas. Segundo os jornais, eles eram ovacionados pela platéia -diz Braga”. 

Também no mesmo ano, exibiram-se para os reis da Bélgica no piquenique da Tijuca, oferecido pelo governo brasileiro. Em 1921, desfilaram no carnaval com a sociedade carnavalesca Tenentes do Diabo. Logo depois, fizeram apresentações em Curitiba, e em seguida excursionaram para Bahia e Pernambuco. Na viagem ao Nordeste, Raul Palmieri e Luís Silva, que não puderam viajar, foram substituídos por J. Tomás e José Monteiro. O grupo contou também com a participação de João Pernambuco. Ainda nesse ano, apresentaram-se no Rio de Janeiro nas revistas “O que o rei não viu”, de Dias Pino, Pixinguinha e China, e “Um batizado na favela”. Realizaram também, entre outras apresentações, uma temporada no Cassino Assírio, no sub solo do Teatro Municipal, apresentando-se com o casal de bailarinos Duque e Gaby.

Em 1922, o grupo embarcou para Paris a partir de um convite do dançarino Duque para se apresentarem na capital francesa. A viagem foi patrocinada pelo mescenas carioca Arnaldo Guinle. A viagem do grupo à Paris provocou protestos de alguns que viam nessa iniciativa um acinte à música brasileira, mas em território francês, o sucesso do grupo foi total. Com nova formação, Palmieri e João Tomás, substituídos por Feniano e José Monteiro, o conjunto, rebatizado “Les Batutas” por Duque, estreou em Paris com sucesso imediato: “Nous sommes Batutas/ Venus du Brésil/ Nous faisons tout le monde/ Danser le Samba/…”. Retornaram ao Brasil no mesmo ano e logo ao chegarem passaram a se apresentar com a companhia francesa Bataclan na revista “Vla Paris”. Influenciados pelo jazz, incluíram saxofones, clarinetas e trompetes, arranjos no estilo jazz-bands e alteraram o repertório, acrescentando fox-trots, shimmys, ragtimes e outros ritmos. Apresentaram-se também num dos pavilhões da exposição comemorativa ao centenário da independência do Brasil, contando com os reforços de Bonfíglio de Oliveira e da cantora Zaíra de Oliveira. No final do mesmo ano, viajaram para apresentações na Argentina. Na ocasião, o grupo contava com as presenças de Pixinguinha, Donga, J. Tomás, China, Nelson Alves e José Alves, além de J. Ribas ao piano e Josué de Barros no bandolim e no ganzá. Em terras argentinas, o grupo obteve novo êxito e gravou vinte músicas na gravadora Victor da Argentina. As músicas gravadas na ocasião foram: os sambas “”Até eu!”, de Marcelo Tupinambá; “Falado”, de João Tomás; “Já te digo”, de China e Pixinguinha e “Meu passarinho”, de China; os maxixes “Ba-ta-clan”, de A. Treisleberg;  “Graúna”, de João Pernambuco; “Lá vem ele”, de J. G. Oliveira Barreto; “Não presta pra nada”, de J. Bicudo; “Pra quem é?…”, de J. Bicudo; “Tricolor”, de Romeu Silva; os choros “Caruru”, de João Tomás e Donga; “Três estrelinhas”, de Anacleto de Medeiros e “Urubu”, de Pixinguinha; o  tanguinho “Até a volta”, de Marcelo Tupinambá; as polcas “Lá-ré”, de Pixinguinha; “Me deixa serpentina!”, de Nelson Alves e “Nair”, de A. J. de Oliveira; o samba-maxixe “Se papai souber”, de Romeu Silva, e as marchas “Vira a casaca!”, de J. Carvalho e “Vitorioso”, de Gaudio Vioti. Apesar do sucesso na Argentina, que resultou na realização de espetáculos extras, o grupo se dividiu em duas facções, com uma delas, composta por Donga, Nelson Alves, J. Tomás e Aristides Júlio de Oliveira, que ingressara no grupo durante a excursão, retornaram ao Rio de Janeiro. O grupo remanescente não conseguiu se apresentar mais e passou dificuldades financeiras e somente retornou ao Brasil com a juda do consulado brasileiro. Conta-se que Josué de Barros apresentou-se como “enterrado vivo”, para levantar algum dinheiro na cidade de Rio Cuarto.

Em 1923, já de volta ao Brasil, o grupo foi reformulado por Pixinguinha, China e Raul Palmieri e passou a contar com as presenças de J. Ribas ao piano; Bonfíglio de Oliveira, no pistom; Euclides Galdino, no trombone; Eugênio de Almeida Gomes, na bateria e Luís Americano, no saxofone. Nesse, com a nova formação, apresentaram-se

no Teatro Trianon e em festas particulares. Foram também contratados para nova temporada no Cabaré Assírio. Ainda em 1923, os antigos membros dissidentes se reintegraram ao  grupo e foi criada a Bi-Orquestra Oito Batutas que tinha como intuito tocar músicas internacionais de sucesso sem abandonar as execussões de choro. A primeiras apresentação do novo grupo aconteceu no Teatro Lírico. Em seguida, apresentaram-se em temporda no Teatro Rialto.

Em 1925, apresentaram-se em São Paulo, Campinas e Santos. No ano seguinte, o pandeirista Alfredo José de Alcântara ingressou no grupo. Em 1927, o grupo então formado por Pixinguinha, Donga, Aristides Júlio de Oliveira, Alfredo de Alcântara, Esmerino Cardoso, Bonfíglio de Oliveira, Mozart Correia, João Batista  e Augusto Amaral viajou para apresentações em Florianópolis, Santa Catarina. Apresentaram-se ainda nas cidades catarinenses de Joinvile e Blumenau seguindo depois para o Paraná e depois para o Rio Grande do Sul. Por essa época, o grupo acabou se dissolvendo definitivamente, deixando uma grande contribuição para a música brasileira embora, curiosamente, apesar de todo o sucesso alcançado, somente tenha deixado registrado os discos gravados para a Victor na Argentina. Essas gravações foram reeditadas em 1995 pelo selo Revivendo no CD “Oito Batutas” com as vinte gravações originais.

Discografias
1995 Revivendo CD Oito Batutas
1923 Victor 78 Até a volta/Vitorioso
1923 Victor 78 Bataclan/Lá vem ele
1923 Victor 78 Caruru/Urubu

(Os Oito Batutas)

1923 Victor 78 Falado/Já te digo
1923 Victor 78 Graúna/Me deixa, serpentina!
1923 Victor 78 Lá-Ré/Pra quem é...
1923 Victor 78 Meu passarinho/Até eu

(Os Oito Batutas)

1923 Victor 78 Nair/Não presta pra nada
1923 Victor 78 Se papai souber/Tricolor
1923 Victor 78 Três estrelinhas/Vira a casaca
Bibliografia crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. MPB: A História de um século. Rio de Janeiro: Funarte, 1997.

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

CABRAL, Sérgio. Pixinguinha – vida e obra. Rio de Janeiro: Lumiar, 1997.

CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.

EPAMINONDAS, Antônio. Brasil brasileirinho. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro,1982.

História da Música Popular Brasileira. São Paulo: Editora Abril, 1982.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

MARIZ, Vasco. A canção brasileira. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2000.

SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume 1. São Paulo: 34, 1997.

SILVA, Marília Trindade Barbosa da e FILHO, Arthur Loureiro de Oliveira. Filho de Ogum Bexiguento. Rio de Janeiro: Funarte, S/D.

VASCONCELOS, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira. Vol. 2. Rio de Janeiro: Martins, 1965.