Aloysio de Oliveira
Hélio Jordão Pereira
Vadeco
Ivo Astolfi
Afonso Osório
Armando Osório
Stênio Osório
Conjunto vocal. Sua formação definitiva tinha como componentes Aluísio de Oliveira, no violão e vocal; Hélio Jordão Pereira, no violão; Vadeco, apelido de Osvaldo Moraes Éboli, no pandeiro; Ivo Astolfi, no violão tenor e banjo; Afonso Osório, no ritmo e flauta; Armando Osório, no violão e Stênio Osório, no cavaquinho.
O grupo foi formado em 1929 a partir do “Bloco do Bimbo” que desfilava no carnaval e participava de um banho de mar à fantasia no Flamengo. Esse bloco contava com 15 violões, três banjos e vários cavaquinhos. Nesse ano, o “Bloco do Bimbo” venceu um concurso como melhor conjunto musical do bairro do Flamengo. Depois do carnaval, nove componentes do bloco formaram o Bando da Lua, que fez uma audiência para J. Thomás, então diretor da Parlophon. Pouco depois, apresentaram-se para Josué de Barros, o descobridor de Carmen Miranda, que achou o grupo grande demais. O grupo foi então reduzido a sete elementos e aprovados por Josué de Barros apresentaram-se no Praia Clube. Em 1930, passaram a atuar no Programa Casé, apresentando-se ao lado de grandes nomes como Francisco Alves, Noel Rosa, Lamartine Babo, Mário Reis, entre outros. Ao final do programa, Casé entregou-lhes um envelope com a quantia de cem mil-réis, que os integrantes recusaram por não se sentirem profissionais, e porque” cantavam por amor à arte”.
Em 1931, o grupo gravou o primeiro disco, pela Brunswick, com os sambas “Que tal a vida?”, com vocal de Aloísio de Oliveira e “Tá de mona”, gíria que significava “Tá de porre”, com vocal de Castro Barbosa, composições de Maércio e Masinho. Em 1932, ingressaram por algum tempo na Odeon e gravaram a marcha “Opa…opa…” e o samba “É tua sina”, de Oldemar Gomes Pereira e Maércio Azevedo. Na mesma gravadora lançaram no ano seguinte os sambas “Muita gente diz que é bamba”, de Jorge André e “Imaginem só”, de Maércio Azevedo e Oldemar Gomes Pereira.
Em 1933, o Bando da Lua foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga e pela gravadora Victor. Quando o conjunto tornou-se realmente profissional, os integrantes resolveram montar estrutura e organização. Alugaram uma sala perto da Praça José de Alencar, que funcionava como sede, onde colecionavam todas as informações e registros sobre o grupo,como violões, guarda-roupa, discos, fotografias etc., e que também funcionava como ponto de reunião para ensaios. Chegaram a ter três jogos de violões iguais feitos especialmente para o conjunto. Tinham ainda extremo cuidado quanto ao figurino. Chegaram ao requinte de possuir seu próprio equipamento de som. Ainda em 1933, o grupo gravou o primeiro disco na Victor com as marchas “A hora é essa”, de Mazinho e Aloísio de Oliveira, primeiro sucesso do grupo e, “Bis…”, de Assis Valente. Em 1934, gravaram os sambas “A noite vem descendo”, de Alfredo Neto e Henrique Gonçalez; “Se você quiser saber”, de Cristóvão de Alencar e Sílvio Pinto e “Tristeza”, de Maurício Joppert, futuro engenheiro e renomado sanitarista e Maércio Azevedo; o fox-trot “Diga, diga, doo”, de Fields e McHughy e as marchas “Gosto mais do outro lado” e “Badaladas”, de Assis Valente. O conjunto possuía estilo próprio, apresentando novidades no estilo vocal. Neste mesmo ano, foram contratados, juntamente com Carmen Miranda, por Jayme Yankelevich, proprietário e diretor da Rádio Belgrano de Buenos Aires. Embora atuando em números separados, pois acreditava-se na época que conjunto de nome não devia acompanhar cantor, apresentavam-se em alguns números como acompanhadores da Pequena Notável. Ao final da excursão, Armando Osério abandonou o grupo, que passou a contar com seis integrantes.
Em 1935, lançaram um último disco pela Odeon com uma seleção do filme “Meu maior desejo” (Here is my heart) e o fox-trot “Ela é moreninha”, de Ari Machado. Nesse ano, lançaram pela Victor os sambas “Lua triste”, de Mauríco Joppert e Maércio de Azevedo; “Abandona o preconceito”, de Maércio de Azevedo e Francisco Mattoso; “Mangueira”, de Assis Valente e Zequinha Reis; “Eu me lembro”, de Mazinho e Francisco Mattoso; “Raiando”, de Murilo Caldas e Wilson Batista; “Vou me embora te levando”, de Paulo Tapajós e “A saudade me viu”, de Assis Valente e as marchas “É do barulho”, de Assis Valente e Zequinha Reis e “Boa noite”, de Assis Valente. Também em 1935, estrearam no cinema participando de “Alô Alô Brasil”, filme musical brasileiro produzido por Wallace Downey, no qual se apresentaram artistas como Francisco Alves, Carmen Miranda, Mário Reis, entre outros. Participaram também de “Banana da Terra” e “Estudantes”, filmes também produzidos por Wallace Downey.
Em 1936, apresentaram-se no espetáculo beneficente “Parada das maravilhas”, organizado pelo crítico teatral do jornal “O Globo”, Gustavo Dória. Para o carnaval de 1936, lançaram as marchas “Não resta a menor dúvida”, de Noel Rosa e Hervé Cordovil, e “Negócios de família”, de Assis Valente, música que cantaram no filme “Alô, alô, carnaval”, de Ademar Gonzaga. Ainda nesse ano, fizeram duas temporadas na Argentina. Também em 1936, o conjunto lançou três discos gravados em dezembo do ano anterior com os sambas “Maria boa”, sucesso de Assis Valente e “Uma voz de longe me chamou”, de Alberto Ribeiro e Hervê Cordovil e as marchas “Não resta a menor dúvida”, de Noel Rosa e Hervê Cordovil; “Negócios de família”, de Assis Valente; “Menina que pinta o sete”, de Ataulfo Alves e Roberto Martins e “Fulana”, de Hervê Cordovil. No mesmo ano, gravaram as marchas “Lobo mau”, de Ari Machado e “Cirandinha”, de Assis Valente e os sambas “Salve Mangueira”, de Kid Pepe e “Nem prá frente, nem prá trás”, de Manoel Ferreira. Também nesse ano, gravaram duas composições de Ary Barroso, o samba “Olha a lua” e a marcha “Chiribiribi quá-quá”, esta última, parceria com Nássara. Foram grandes lançadores de composições de Assis Valente como os sambas “Que é que Maria tem” e “Cansado de sambar” e as marchas “Só conheço uma” e “Adivinhação” lançadas ainda em 1936.
Entre os vários discos gravados pelo grupo em 1937 estão os sambas “Quando a lua lá no céu brilhar”, de Haroldo Lobo e Luiz Menezes e “Deixa o passado”, de Assis Valente. Nesse ano, gravaram três marchas de Lamartine Babo: “Menina das lojas”, “O teu cabelo não nega” e “Linda morena”. Ainda nesse ano, realizaram nova temporada na Argentina, apresentando-se nas cidades de Rosário e Baía Blanca, atuando ainda na Rádio Carve, de Montevidéu. Em 1938, lançaram mais duas composições de Assis Valente, o samba “Foi pouco”; a marcha “Bola preta”, sucesso carnavalesco do grupo naquele ano e o batuque “Não quero não”. Gravaram também duas obras da dupla José Maria de Abreu e Francisco Mattoso, o samba “O amor não vale um tostão” e a marcha “Pegando fogo”. Em agosto desse ano, foram da Argentina ao Chile, onde se apresentaram para o Presidente Arturo Alessandrini, no Palacio la Moneda, retornando depois para a Argentina. A excursão, que previa apresentações no Peru e Colômbia, contudo, foi interrompida por doença de Stênio. Durante os anos 1930, o Bando da Lua fez várias temporadas no Cassino da Urca, recebendo considerável soma pelo trabalho.
Em 1939, apresentaram-se ainda no Cassino da Urca ao lado de Carmen Miranda, que foi na ocasião convidada pelo empresário teatral americano Lee Shubert para apresentação nos Estados Unidos. Carmen Miranda aceitou, condicionando sua viagem à ida do Bando da Lua. Conseguindo doação do governo Vargas para as passagens aéreas, o conjunto comprometeu-se a realizar apresentação no pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova Iorque. Embarcaram no mesmo ano, estreando com grande sucesso na revista “Streets of Paris”. Alguns meses depois, Ivo Astolfi retornou ao Brasil, tendo sido substituído pelo multiinstrumentista Aníbal Sardinha, o Garoto. Participaram das gravações dos discos de Carmen Miranda na Decca e atuaram no filme “Serenata tropical” (Down Argentine Way) da 20th Century Fox. Além de acompanhar Carmen Miranda em suas gravações na Decca, o conjunto gravou vários discos com o nome de Bando Carioca e atuou em gravações realizando a parte rítmica para músicas brasileiras e latino-americanas. Em 1940, retornaram com Carmen Miranda ao Rio de Janeiro.
No mesmo ano, realizaram na Columbia gravações para o Carnaval de 1941, destacando-se o registro de “Samba da minha terra”, de Dorival Caymmi. Gravaram ainda os sambas “E o vento levou”, de Benedito Lacerda e Herivelto Martins; “Ora, ora”, de Almanir Grego e Gomes Filho e “Quero ver”, de Léo Cardoso, Ademar Santana e Vicente Paiva.
Garoto optou por permanecer no Brasil, tendo sido substituído por Nestor Amaral. Entre os anos de 1931 e 1940, gravaram no Brasil 38 discos em 78 rpm. Em 1942, Hélio Jordão abandonou o conjunto e, dois anos mais tarde, Vadeco voltou ao Brasil, encerrando-se, assim, a formação original do Bando da Lua, aquela que participou dos primeiros oito filmes de Carmen Miranda e de todos os espetáculos realizados nos Estados Unidos. Em 1948, Aluísio de Oliveira reorganizou o conjunto, contando com a participação de dissidentes dos “Anjos do inferno” que estavam nos Estados Unidos.
A nova formação do grupo contava com Aluísio de Oliveira no violão e vocal; Lulu (Aluísio Antunes de Oliveira) no violão; Harry Vasco de Almeida no pistom e ritmo e Russinho (José Ferreira Soares) no pandeiro. Gravaram vários discos nos Estados Unidos, um dos quais escolhido em 1950 pela revista “Metronome” como o disco do mês. Em 1954, fizeram grande sucesso com a versão bem-humorada para “In the mood”, de Glenn Miller, que Aluísio de Oliveira transformou em “Edmundo”. Com a morte de Carmen Miranda, em 1955, o conjunto se desfez. O último disco do grupo, gravado no Brasil pela Polydor incluiu os sambas “Sou feliz”, de Tito Mendes, José Raimundo Ribeiro e Rubens Campos e “Se queres meu amor”, de Hélio Pereira, Antônio Blancher e Stênio Ozório. O grupo marcou época no cenário musical brasileiro, fundamentalmente pela característica harmonização vocal. Em 1991, o selo Revivendo lançou o LP “Samba da minha terra”, com gravações do Bando da Lua, dos Anjos do Inferno, do Grupo X e do Quatro Ases e um Coringa.
(c/Anjos do Inferno, Grupo X e Quatro Ases e um Coringa)
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