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Nome Artístico
Zezé Motta
Nome verdadeiro
Maria José Motta
Data de nascimento
27/6/1944
Local de nascimento
Campos, RJ
Dados biográficos

Atriz. Cantora.

Transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro aos dois anos de idade.

Estudou no Tablado, curso de teatro de Maria Clara Machado.

Começou sua carreira como atriz em 1967, estrelando a peça “Roda-viva”, de Chico Buarque, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa. Atuou a seguir em “Fígaro, Fígaro”, “Arena conta Zumbi”, “A vida escrachada de Joana Martine e Baby Stompanato”, em 1969, “Orfeu negro”, em 1972, e “Godspell”, em 1974, entre outras.

Como atriz, participou dos filmes “A rainha diaba”, “Vai trabalhar vagabundo”, “A força de Xangô”, “Xica da Silva”, filme que a consagrou internacionalmente e pelo qual recebeu vários prêmios, “Tudo bem”, “Águia na cabeça”, “Quilombo”, “Jubiabá”, “Anjos da noite”, “Sonhos de menina-moça”, “Natal da Portela”, “Prisioneiro do Rio”, “El mestiço”, “Dias melhores virão”, “Tieta”, “O testamento do sr. Napumoceno” e “Orfeu”.

Em televisão, atuou nas novelas “Corpo a corpo”, “Pacto de sangue”, “A próxima vítima” e “Corpo dourado” e nas minisséries “Memorial de Maria Moura” e “Chiquinha Gonzaga”, da Rede Globo, nas novelas “Kananga do Japão” e “Xica da Silva”, e na minissérie “Mãe-de-santo”, da Rede Manchete.

Em 2016 participou do documentário “A Rainha das Américas – A Verdadeira História de Chica da Silva”, roteirizado de Rosi Young. O documentário foi baseado em um romance da jornalista Joyce Ribeiro. Ainda em 2016, foi homenageada no “4º Festival de Cinema de Vitória”, no Teatro Carlos Gomes, na cidade de Vitória no Espírito Santo. No ano seguinte, em 2017, foi homenageada com o enredo “Zezé Motta – A Deusa de Ébano”, da Escola de Samba, Acadêmicos do Sossego, em enredo criado pelo carnavalesco Márcio Puluker.

No ano de 2018 o escritor Cacau Hygino lançou a biografia “Zezé Motta: Um Canto de Luta e Resistência”, pela Companhia Editora Nacional, de São Paulo, com orelha escrita por Ricardo Cravo Albin, da qual destacamos os seguintes trechos:

“Este livro de Cacau Hygino perfila a vida de uma feiticeira. Como não considerar os dengos da biografia do sagaz Cacau um poete até aqui de feitiços? Uma simples orelha (como este pequeno texto em louvação) não representa muito bem a Zezé Motta. Simplesmente porque ela é tudo: orelha, cara, corpo. Quero dizer, já se vê, que Zezé Motta é uma síntese arrebatadora.”

“… Zezé Motta foi e é uma estrela. Cintila cada vez que canta, que projeta a luz incandescente dos olhos, que nos embriaga pelo charme e vivacidade de sua vida e de sua arte, agora destilados neste livro.”

Em 2019, convidada pelo fotógrafo Jorge Abud, pousou para uma série de fotografias do livro “Despertar da Mulher Brasileira, que contou também com fotos de Regina Duarte, Luana Piovani, Mel Lisboa, Carol Castro, Glória Maria, Thayla Ayala, Bárbara Paz, Fafá de Belém, entre outras personalidades brasileiras. As fotos foram feitas em sua casa, no bairro do Leme, no Rio de Janeiro, sendo o livro lançado no mesmo ano. No ano posterior, em 2020, no Copacabana Palace, ao lado do ator Lázaro Ramos, conduziu a cerimônia de entrega do “7ª Edição do Prêmio Cesgranrio de Teatro”, criado pela Instituição de ensino.

No ano de 2024 recebeu da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, a “Outorga Doutora Honoris Causa”.

 

Dados artísticos

Iniciou sua carreira de cantora em 1971, apresentando-se como crooner das casas noturnas Balacobaco e Telecoteco (SP).

Produzida por Guilherme Araújo, apresentou-se em show realizado no Museu de Arte Moderna (RJ).

Em 1975, gravou, com Gerson Conrad, o LP “Gerson Conrad e Zezé Motta”.

No ano de 1978 lançou o LP “Zezé Motta” com as faixas “Muito prazer Zezé” (Rita Lee e Roberto de Carvalho); “Magrelinha” (Luiz Melodia); “Trocando em miúdos” (Francis Hime e Chico Buarque); “Rita Baiana” (John Neschiling e Geraldo Carneiro); “Dores de amores” (Luiz Melodia); “Crioula” (Moraes Moreira); “Pecado original” (Caetano Veloso); “Mameto Oiaice” (Célio José e Odeamim José); “O morro não engana” (Ricardo Augusto e Luiz Melodia); “Dengue” (Leci Brandão) e “Babá alapalá”, de Gilberto Gil. No ano segunte, em 1979, lançou o disco “Negritude”.

Em 1980 lançou o LP “Dengo” e no ano de 1984 o disco “Frágil força” com as composições “Negrito” (Belizário e Paulinho Rezende); “Pouco me importa” (Francis Hime e Ruy Guerra); “Carnaval de rua” (Edil Pacheco e Paulo César Pinheiro); “Angorá” (Irinéia Maria e Paulo César Feital); “Castigo” (Marco Polo); “Dança” (Djalma Luz); “Romântico” (Zé Maurício e Elodi); “Nega Dina” (Moraes Moreira e Capinan); “Prateia” (Maria Carmem Barboza) e a faixa-título “Frágil força”, de Luiz Melodia.

No ano de 1987 com Paulo Moura, Djalma Correia e Jorge Degas lançou o LP “Quarteto negro”.

Em 1995 gravou o CD “Chave dos segredos”.

Apresentou-se, representando o Brasil, a convite do Itamaraty, em Hannover (Alemanha), Carnegie Hall de Nova York (EUA), França, Venezuela, México, Chile, Argentina, Angola e Portugal.

Em 2000, lançou o CD “Divina saudade”, interpretando o repertório de Elizeth Cardoso, com arranjos e produção musical de Roberto Menescal e Flávio Mendes. Realizou show homônimo pelo Brasil, entre 2000 e 2002.

Em 2002 apresentou o espetáculo no Canecão, no Rio de Janeiro.

Em 2011, lançou o CD “Negra melodia”, reunindo composições de Jards Macalé “Anjo exterminado” e “Mal secreto”, ambas com Waly Salomão, “Encanto” (c/ Ligia Anel, Xico Chaves e Christianne Dardenne), “Pano pra manga” (c/ Xico Chaves), “The archaich lonely blue star” (c/ Duda Machado) e “Soluços” e músicas de Luiz Melodia, tais como “Começar pelo recomeço” (c/ Torquato Neto), “Decisão” (c/ Sergio Mello), “Divina criatura” (c/ Papa Kid), “O sangue não nega” (c/ Ricardo Augusto), “Onde o sol bate e se firma” e “Vale quanto pesa”. Neste mesmo ano, fez show de lançamento do disco no Teatro do Sesi (RJ).

Acompanhada pelo pianista Ricardo McCord, apresentou-se, em 2012, no Teatro R. Magalhães Jr., da Academia Brasileira de Letras (RJ), pelo projeto “MPB na ABL”, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin.

Em 2014 cantou no Teatro Dulcina no Rio de Janeiro na 4ª edição da Mostra Internacional de Arte da Mulher Negra. Além da exposição de fotos com trabalhos assinados por brasileiros e estrangeiros, também se destacaram as apresentações musicais e teatrais. No show de encerramento da homenagem, cantou músicas de Dona Ivone Lara, com participação da cantora inglesa Folakemi. Ainda este ano, em celebração aos seus 70 anos e aos 50 de carreira, realizou o show Negra Melodia, interpretando composições de Jards Macalé e Luiz Melodia. O show ocorreu no Theatro Net Rio, em Copacabana no Rio de Janeiro. Neste mesmo ano, completou três anos da turnê “Xica da Silva”, apresentando-se pelo Brasil.

Prestou uma homenagem em 2015 aos seus compositores preferidos como Caetano Veloso, Luiz Melodia, em apresentação que inaugurou o projeto “Quartas Brasileiras” no Centro Cultural João Nogueira, o Imperator, no Méier na cidade do Rio de Janeiro.

No ano de 2018, após sete anos sem gravar, apresentou-se no Teatro Net do Rio de Janeiro, em lançamento de seu oitavo disco, “O samba mandou me chamar”, no qual interpretou as faixas “Ficar a seu lado” (Christiano Moreno e Flavinho Silva); “Alma gêmea” (André da Mata, Mingo Silva e Kinho), com participação especial de Xande de Pilares; “Poeira varrida” (Carlinhos da Ceasa e Darcy Maravilha); “Mais um na multidão” (Erasmo Carlos, Marisa Monte e Carlinhos Brown); “Nós dois” (Arlindo Cruz e Maurição), com participação especial de Arlindo Cruz; “Louco” (Ela é seu mundo) (Wilson Batista e Henrique de Almeida); “Missão” (Lourenço e Docsantana); “A primavera se despede” (Serginho Procópio e Ferreira Meu Bom); “Na hora de partir” (Serginho Meriti e Claudinho Guimarães); “Samba da amizade” (Flávio Lima); “Vou te provar” (Marquinho PQD e André Renato); “Batuque de Angola” (André Karta Marcada e Juninho Nogueira); “Já pode chegar” (Christiano Moreno, Paulinho Carvalho e Fábio Siri); “Vem” (Ciraninho, Leandro Fregonesi e Rafael dos Santos) e “Caciqueando”, de Noca da Portela, Valmir e Amauri.

Entre seus sucessos como cantora destacam-se “Dores de amores” e “Magrelinha”, de Luiz Melodia, “Trocando em miúdos” (Francis Hime e Chico Buarque), “Prazer Zezé” (Rita Lee e Roberto de Carvalho), “Crioula” (Moraes Moreira), “Rita Baiana” (John Neschling e Geraldo Carneiro) e “Senhora Liberdade” (Wilson Moreira e Nei Lopes).

No ano de 2023, no Teatro Firjan SESI, no Centro do Rio de Janeiro, apresentou-se no “Festival X-Todas” com o show “Coração Vagabundo – Zezé canta Caetano”, fazendo uma releitura de seu espetáculo dos anos 90, interpretando, entre outras, “Luz do Sol”, “O Ciúme”, “Odara”, “Esse Cara”, “Sampa” e “Tigresa”.

Em 2024 apresentou-se no Centro de Belo Horizonte, no “Elas Festival”, no Teatro da Funarte; na cidade de São Paulo, no “17° Fórum da Longevidade”, no Teatro Bradesco; no Teatro Raul Cortez, do Sesc 14 Bis, na capital paulista, com o show “Coração Vagabundo – Zezé Canta Caetano”; no Rio de Janeiro, no “Rio Jazz Festival 2024”, na Marina da Glória, dividindo o palco com o cantor e ator Toni Garrido; no Shopping Iguatemi, de São Paulo, para o desfile de modas e na cidade de Cachoeira, na Bahia, na “Flica – Festa Literária Internacional de Cachoeira”. Neste mesmo ano, de 2024, o cantor Danilo Azeviche montou o espetáculo “Danilo Azeviche Canta Melodia – Um Tributo ao Negro Gato”, apresentado no Largo do Pelourinho, no Centro da cidade de Salvador, no qual foi uma das convidadas ao lado de Renato Piau e Aluísio Menezes. O show fez parte das comemorações do “Dia Nacional da Comunidade Negra – 20 de novembro – Dia de Zumbi”, produzido pelo Fórum de Entidades Negras da Bahia, integrado pelos blocos afros e de afoxés Ilê Aiyê, Muzenza, Malê Debalê, Cortejo Afro, Okámbi e ainda pelas entidades FENACAB e ANAAD.

Discografias
2021 Selo Insetti Cultural CD O Grito

Zezé Motta, Angela Ro rô e Jey

2018 Coqueiro Verde Records CD O Samba Mandou me Chamar
2018 Selo Coqueiro Verde Records CD O Samba Mandou me Chamar
2011 Tratore/Independente (dist. Fonomatic) CD Negra Melodia
2011 Joia Moderna/Tratore Negra melodia (Zezé Motta) - CD
2001 WEA International Inc. CD E-Collection

(compilação)

2000 Selo Albatroz CD Divina saudade
2000 Albatroz CD Divina saudade (Zezé Motta)
2000 Gravadora WEA CD Série Dois Momentos, vol. 12

LPS Zezé Motta e Dengo

2000 WEA CD Série dois momentos vol. 12 - "Zezé Motta" e "Dengo" (Zezé Motta)
1996 Warner Music Brasil Ltda CD Geração Samba

(compilação)

1995 Selo Movieplay CD Chave dos segredos
1995 Movieplay CD Chave dos segredos (Zezé Motta)
1987 Kuarup Quarteto negro (Paulo Moura, Zezé Motta, Djalma Correia e Jorge Degas)
1984 Selo Pointer LP Frágil força
1984 Pointer LP Frágil força (Zezé Motta)
1980 Warner Music Brasil Ltda. LP Dengo
1980 Atlantic/WEA Dengo (Zezé Motta)
1979 Selo Atlantic/Gravadora WEA LP Negritude
1979 Atlantic/WEA LP Negritude (Zezé Motta)
1978 Warner Music Brasil Ltda. LP Zezé Motta
1978 Atlantic/WEA Zezé Motta (Zezé Motta)
1975 Gravadora Som Livre LP Gerson Conrad & Zezé Motta

(com Gerson Conrad)

1975 Som Livre LP Gerson Conrad e Zezé Motta (Gerson Conrad e Zezé Motta)
Shows
2018 Teatro Net Rio, Rio de Janeiro (RJ) O Samba Mandou me Chamar Lançamento
2015 Imperator, Rio de Janeiro (RJ) Quartas Brasileiras
2014 Teatro Dulcina, Rio de Janeiro (RJ) Mostra Internacional da Mulher Negra
2014 Teatro Net Rio, Rio de Janeiro (RJ) Negra Melodia
2012 Zezé Motta. Projeto “MPB na ABL” – Teatro R. Magalhães Jr. da Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro
Zezé canta Caetano.
Carnegie Hall, Nova York, EUA.
Hannover, Alemanha.
Museu de Arte Moderna, RJ.
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

ALBIN, Ricardo Cravo. MPB – A História de Um Século. 2ª ed. Revista e ampliada, Rio de Janeiro: MEC/Funarte/Instituto Cultural Cravo Albin, 2012.

ALBIN, Ricardo Cravo. MPB Mulher. (Fotos: Mario Luiz Thompson). Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin/Elpaso e SESC Rio de Janeiro, 2006.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2010; 3ª ed. EAS Editora, 2014.

AMARAL, Euclides. O Guitarrista Victor Biglione & a MPB. Rio de Janeiro: Edições Baleia Azul, 2009. 2ª ed. Esteio Editora, 2011. 3ª ed. EAS Editora, 2014. 4ª ed. EAS Editora, 2024.

CAMPOS, Conceição. A letra brasileira de Paulo César Pinheiro: uma jornada musical. Rio de Janeiro: Editora Casa da Palavra, 2009.

COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.

REPPOLHO. Dicionário Ilustrado de Ritmos & Instrumentos de Percussão. Rio de Janeiro: GJS Editora, 2012. 2ª ed. Idem, 2013.

Crítica

Zezé Motta: uma síntese arrebatadora

Desde que a conheci, e isso há décadas, fiz-me seu devoto. Esta unção ficou desde sempre aclarada e inamovível. Creio que o primeiro “oh!” para a consolidação do meu zezeismo ocorreu ao vê-la no palco em “Hair”.

Embora ainda ao começo, ela já ostentava, opulentemente, cabeça, tronco e membros. Além de voz, de beleza, de maneios, de carisma. Lembro-me de que sai do teatro – seria o extinto República? – e fui tomar umas e outras no Bar Luiz, com amigos. Aliás não falei de outra coisa,  senão na estrela que ela já antecipava ser. Com a experiência de ouvir centenas de vidas nos depoimentos para a prosperidade no Museu da Imagem e do Som, logo me bateu a certeza do sucesso de Zezé, antecipando-lhe, inclusive, uma carreira internacional. O que de fato logo aconteceria quando o profético Cacá Diegues fez dela a Xica da Silva, o mais radioso e estonteante personagem da história do cinema no Brasil. Tanto que passei a incluir Zezé nos cursos sobre MPB que ministrei centenas de vezes em todo o país (quase sempre solicitado por Manuel Diegues – vejam a coincidência – o pai do mesmo Cacá). Meu fervor pela cantora-atriz ia a ponto de compará-la, sem papas na língua, à uma Carmen Miranda dos anos 70/80. Só que com vantagens: a cor, a voz, a audácia, o corpo. De igual para igual só mesmo os olhos, ambos fulminantes na luz de vida e brilho que emitiam.

Comparando as duas, faltou à Zezé (muitíssimo mais apetecível que Carmen) apenas Hollywood e uns showzinhos na Broadway. Mas, com ou sem carreira internacional, com o tempo passando ou não, Zezé Motta foi e é uma estrela.

Cintila a cada vez que canta, projetando sempre a luz incandescente dos olhos, que nos embriaga pelo charme e vivacidade de sua vida e de sua arte.

Zezé – que nasceu em Campos (RJ), de família muito pobre – é bem o exemplo de autoafirmação de sua raça, já que teve de lutar contra tudo, especialmente a barreira do preconceito social e – o mais trágico – do racial. Seu talento avassalador passou por cima de tudo como um trator e fez dela uma atriz, logo depois cantora, ou vice-versa, tanto faz.

Quando ela estava por fazer quarenta anos, há um tempinho atrás, eu me ofereci a ela – musa minha e inspiração declarada – para fazer a chamada festa de arromba. E no que foi feita, tanto ela, quanto eu toda a gente carioca podemos reconhecer o quanto Zezé atingia o coração de todos. Foi um deus-nos-acuda de gente que chegava à festa a não mais acabar, todos rindo de orelha a orelha para homenagear a talvez mais querida dentre as cantatrizes do Brasil. A festa de Zezé, programada para 50 amigos, terminou numa consagração de centenas de afetos.

Costumo dizer que Zezé Motta irradia uma luz – um farol de avião – que existe dentro dela e que já iluminou o mundo através da magistral Xica da Silva, quando ela construiu, a meu ver o personagem feminino mais sedutor do cinema brasileiro.

Ao tempo em que o filme de Cacá Diegues rodava o mundo todo, recebi um convite para ser consultor dum filme americano sobre Carmem Miranda. Para surpresa dos produtores, indiquei Zezé Motta para viver a Pequena Notável.

Os gringos tomaram um susto inicial e acharam a minha dica uma piada. Até o momento que, por insistência minha, viram Xica da Silva em vídeo. E se renderam ao magnetismo da nossa negra soberba que iria fazer possível o impossível, isto é, mudar a cor da Carmem Miranda. O projeto só não deslanchou em Hollywood porque o estúdio envolvido – era o começo dos anos 80 – teve que se agrupar a outra megaempresa.

O Rio de Janeiro fica “a espera que Zezé cumpra o vaticínio que lhe fiz, ou seja, tornar-se uma estrela internacional. Méritos, bagagem e charme ela tem para dar e vender. E, cá pra nós, alguém pode representar melhor o talento brasileiro que ela?

Ricardo Cravo Albin