3.502
Nome Artístico
Zabé da Loca
Nome verdadeiro
Isabel Marques da Silva
Data de nascimento
1924
Local de nascimento
Buíque, PE
Data de morte
5/8/2017
Local de morte
Monteiro, PB
Dados biográficos

Tocadora de pífano.

Tornou-se conhecida como Zabé da Loca quando morou por 25 anos numa loca (gruta). Retirou-se do sertão pernambucano para a Paraíba ainda menina. Conheceu logo o trabalho rural, sem chances de freqüentar a escola. Aos sete anos aprendeu a tocar “pife” com o irmão Aristides, do qual, já adulta, não soube mais o paradeiro. Dos 15 irmãos, Zabé viu morrer oito, de fome, sede e doença. Passou a vida entre o trabalho com a enxada e o ofício do pífano. De aparência frágil, com 1 metro e meio de altura, olhos azuis e rosto, desde cedo, marcado pelo trabalho ao solo, teve que conviver com o assédio dos donos das fazendas em que trabalhou quando jovem. Por conta desta situação, engravidou e deu a luz a uma menina. Mais tarde, encontrou seu companheiro, Delmiro, de quem mais tarde ficou viúva, e com quem teve dois filhos. Com grandes dificuldades de ordem financeira, ao ter sua casa desmoronada, Zabé foi morar com a família sob duas pedras na Serra do Tungão, permanecendo lá por 25 anos. Precisando trabalhar na roça, e não tendo com quem deixar as crianças, cavava buracos no chão, sob as sombras da árvores, cobrindo-os com trapos, para que ficassem ali protegidas até o fim de sua jornada de trabalho. Em 2003, passou a morar no assentamento Santa Catarina, município de Monteiro, sertão do Cariri na Paraíba, distante 322 quilômetros de João Pessoa. A loca de Zabé continua intocável e deve se transformar num ponto de visitação turística e de preservação cultural.

Dados artísticos

Sempre acompanhada de seu pífano, atraindo a atenção geral pela propriedade com que executa o instrumento, é também apontada como a “rainha do pife” e solicitada para tocar em festas, o que, via de regra, sempre fez por prazer, sem receber nada por isso. Em 2003, foi descoberta pelo Programa de Bibliotecas Rurais Arca das Letras, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que, no processo de implantar bibliotecas e incentivar a leitura no campo, também identifica as potencialidades culturais das comunidades rurais. O reconhecimento de seu talento, lhe rendeu o CD “Zabé da Loca”, patrocinado pelo MDA, por meio do Projeto Dom Helder Camara, que atua no sertão nordestino. O CD é parte da Série Cantos do Semi-Árido, do MDA, e contou com a produção e assessoria do grupo Quinteto Violado. O disco foi gravado no assentamento, em estúdio móvel, e Zabé teve o acompanhamento dos seguintes amigos tocadores: o sobrinho Beiçola (pífano), o filho Setenta (caixa), o compadre Mestre Levino (prato) e o vizinho Pinto (zabumba). No CD, o grupo executa “Asa Branca” de Luiz Gonzaga e composições próprias como “Balão”, “Araçá cadê mamãe” e “Fulô de Mamoeiro”. Em dezembro de 2003, o CD foi lançado numa grande festa em Afogados da Ingazeira, no sertão do Pajeú pernambucano, durante o lançamento nacional do Programa Arca das Letras e da Série Cantos do Semi-Árido, com a participação do então Ministro da Cultura Gilberto Gil, da Banda de Pífanos do Leitão da Carapuça e do Grupo de Coco Negros e Negras do Leitão, grupos musicais da comunidade quilombola Leitão/Umbuzeiro, de Afogados da Ingazeira. Ainda em 2003, foi a maior atração do Festival de Brincantes, realizado em Recife. Em 2004, Zabé da Loca fez parte do projeto “Da Idade do Mundo”, da produtora Lume Arte, sendo a convidada do músico Carlos Malta para acompanhá-lo em duas apresentações no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em Brasília. Em junho do mesmo ano, sua apresentação com Hermeto Paschoal, no Forum Mundial de Cultura, ocorrido em São Paulo, foi efusivamente aclamada, merecendo atenção especial de participantes estrangeiros. No mesmo período, apresentou-se no espaço cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro.

Em setembro de 2007, aos 83 anos, gravou o CD “Bom todo”, pelo selo Crioula Records, com direção artística de Carlos Malta. O trabalho exibe faixas em que Zabé comprova sua consistência como instrumentista, através do virtuosismo com que executa seu “pífe” (pífano) em peças como “Balaio de onça”, de Carlos Malta; o xote “Sala de reboco”, de Luiz Gonzaga”; a ciranda “Sai de casa”, o coco “Limoeiro” e o baião “Caboré”, de sua autoria, além de “Queima” e “Vai minininho”, parceria com Beiçola, músico de mãos tortas, falecido em 2006, logo depois das primeiras gravações, e com quem Zabé interpreta os clarins marciais do Hino Nacional Brasileiro. O CD “Bom Todo” foi lançado em 2008, no SESC Pompéia, São Paulo. Ainda em 2008, apresentou-se em show no Planetário da Gávea (RJ), dentro da série “Música nas estrelas”, tocando juntamente com seu produtor, o multissopros Carlos Malta. Também em 2008, foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura. Em 2009, aos 85 anos, Zabé da Loca, ganhou o Prêmio da Música Brasileira, categoria Revelação, pelo CD “Bom Todo”, no Canecão, Rio de Janeiro, emocionando a platéia, que a aplaudiu efusivamente de pé. Após ir morar com a família, sua ex-casa, em um assentamento concedido pelo INCRA, foi transformada em um memorial, a Associação Cultural Zabé da Loca. Após anos convivendo com síndrome de Alzheimer, faleceu aos 93 anos, de morte natural.

Discografias
2008 Crioula Record CD Bom todo
2003 MDA CD Zabé da Loca
Obras
Caboré
Limoeiro
Queima (c/Beiçola)
Sai de casa
Vai minininho (c/Beiçola)
Shows
"Da Idade do Mundo", com Carlos Malta.Centro Cultural do Banco do Brasil, Brasília, DF
"Música nas Estrelas", com Carlos Malta, Planetário da Gávea. Rio de Janeiro, RJ
Espaço Cultural Sérgio Porto. Rio de Janeiro, RJ
Festival de Brincantes.Recife, PE
Lançamento do CD "Bom Todo", SESC Pompéia. São Paulo, SP
Lançamento do CD Zabé da Loca e Série Cantos do Semi-Árido, do MDA. Afogados da Ingazeira, PE
Zabé da Loca, Carlos Malta e DJ Mam. Museu da República. Brasília, DF
Fórum Mundial de Cultura. São Paulo, SP