Compositor.
Nasceu no Pará, mas ainda cedo mudou para o Rio de Janeiro. Perdeu a mãe com apenas um ano de idade. Pouco depois se mudou para Portugal, onde fez o curso primário na cidade do Porto. Em 1917 retornou ao Pará. Aos 13 anos, começou a estudar piano escondido do pai com a professora Anna Andrade. Em 1924 entrou para o Exército, indo servir no Batalhão de Caçadores da 7ª Região Militar.
Em 1923 e 1924 começou a divulgar suas primeiras composições para canto e piano com destaque para “Minha terra” e “Felicidade”. Pouco depois, o pai o colocou para trabalhar num banco, o que o levou a interromper os estudos devido à falta de tempo. Por essa mesma época, começou a freqüentar a noite, apresentando-se em festas nas casas de amigos. Em 1929 abandonou o banco e ingressou no Conservatório Carlos Gomes. Sua obra situa-se entre o clássico e o popular. De 1931 a 1932 ocupou a direção artística da Rádio Clube do Pará, acompanhando ao piano diversos artistas. Nesse período estudou violino, violão e canto. Ainda em 1931 compôs os 21 números para a revista “Na casa da viúva Costa”, que estreou em outubro daquele ano com bastante sucesso. Em 1933 realizou no Palace Teatro a “Noite da canção paraense”, com uma retrospectiva de sua obra. Em fins de novembro desse mesmo ano mudou-se para o Rio de Janeiro com o propósito de ser pianista. Na então capital federal, foi morar num apartamento na Cinelândia. No Rio de Janeiro, freqüentou, nos anos 1930, rodas no café Cine na Cinelândia, das quais faziam parte, entre outros, Noel Rosa, Silvio Caldas, Nássara, João de Barros, Luis Barbosa e Francisco Alves. Em 1934 a cantora Alda Verona gravou sua valsa “Meu amor” e a canção “Exaltação”, parceria com Valentina Biosca, na Victor. Por este último trabalho, a cantora recebeu o prêmio Victor do ano. No mesmo ano o cantor Gastão Formenti registrou a canção “Cabocla malvada”, com acompanhamento de Pereira Filho e Arthur Nascimento, o Tute, ao violão, e Luperce Miranda ao bandolim. Gravou ainda a toada amazônica “Foi boto sinhá!”, a valsa “Meu último luar”, a canção “Noite de São João” e o batuque amazônico “Tem pena da nega”, todos na Victor. Também em 1934 teve apresentada no teatro Beira-Mar sua composição “Tamba tajá”, composta após uma conferência que fez sobre lendas amazônicas. Ainda em 1934 escreveu a pedido de Heckel Tavares a partitura e a letra para a peça infantil “O sapo dourado”. Suas composições “Minha terra”, gravada por Francisco Alves, e “Meu último luar” alcançaram recordes de vendagem. Em 1935 fez sua primeira excursão a São Paulo, quando conheceu Mário de Andrade em um concerto de sua irmã Mara, ocasião na qual ela apresentou a composição “Boi bumbá”, muito elogiada pelo poeta modernista. Tornou-se amigo de Mário de Andrade, a quem costumava encontrar em uma casa de chope na Rua São Bento em São Paulo e no Amarelinho no Rio de Janeiro. Recebeu incentivos do escritor que sempre lhe dizia para “Tentar cair nas raízes”. De volta ao Rio de Janeiro passou a estudar harmonia, contraponto e fuga com Newton Pádua e composição com Oscar Lorenzo Fernandez. Em 1936 estreou com a irmã no Cassino do Copacabana Palace Hotel. No mesmo ano realizou com a mesma Mara uma excursão ao Norte e Nordeste do país. Neste ano compôs o batuque canção “Macumba” para o filme “Cidade mulher” de Carmen Santos. Em 1937, Gastão Formenti e o Grupo da Odeon gravaram a canção “Chorinho” na Odeon. Por essa época, assinou contrato de um ano com a Rádio Tupi e escreveu diversas obras, musicando ainda na íntegra o poema “Essa nega fulô” de Jorge de Lima, que se converteria num clássico do repertório dos declamadores, sendo inclusive gravado pelo grande ator declamador portugues João Villaret. Em 1939 realizou com a irmã Mara uma excursão à Bahia. Em 1940 realizou excursões por várias cidades paulistas acompanhando o cantor Antônio Marino Gouveia. Em 1941 realizou com a irmã excursão a Buenos Aires, onde se apresentou com enorme sucesso. Nessa ocasião assinou contrato com o empresário Alfonso Weissmann para realizar apresentações pela América Latina e Estados Unidos, que acabaram canceladas devido à guerra. Antes de retornar ao Brasil apresentou-se em Montevidéu e em solo brasileiro, apresentou-se em Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba e São Paulo. Em 1943 Jorge Fernandes gravou o coco “Coco peneruê” e a chula “Quiruru”. Em 1944 o mesmo Jorge Fernandes gravou o fandango “Chora morena” e a chula “Rolinha”. Em 1946, Francisco Alves gravou a canção “Minha terra”, que foi composta quando o compositor tinha apenas 18 anos. No mesmo ano fundou com alguns amigos a Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Editores de Música, a SBACEM. Em 1949 as canções “Tamba tajá” foi gravada por Antonieta Fleury de Barros e “Senhora Dona Sandra” por Gastão Vieira. No mesmo ano apresentou-se com a irmã em Portugal, a convite do governo português, como hóspedes oficiais. Em 1950, Jorge Fernandes gravou o ponto ritual “Abaluaiê” e as impressões de viagem “Trem de Alagoas”, parceria com Ascenso Ferreira. Em 1951 Inezita Barroso gravou a canção amazônica “Curupira”. No mesmo ano realizou excursão ao Norte e Nordeste do país, durante a qual tomou parte da programação de inauguração da Rádio Tamandaré de Recife. Em 1953, a convite de Murillo Miranda passou a atuar no Departamento de Cultura do então Distrito Federal, promovendo conferências, concursos e festivais de música brasileira. Em 1955, Inezita Barroso gravou a toada-canção “Minha terra” e Vanja Orico o batuque “Boi bumbá”. No mesmo ano, a serviço do Itamaraty viajou para a Europa com a cantora Maria DApparecida, realizando apresentações em Lisboa, Madri e Paris. Ainda em Paris gravou com Maria dApparecida diversas músicas pela gravadora Decca, entre as quais a canção “Essa nêga fulô”, a toada amazônica “Foi boto, sinhá!” e a cantiga “Hei de morrer cantando”. Freqüentou círculo de importantes artistas e intelectuais brasileiros. Em 1956 voltou a trabalhar na Rádio Roquete Pinto. No mesmo ano teve lançado o primeiro LP inteiramente dedicado à sua obra, com o cantor Jorge Fernandes interpretando pela Sinter, entre outras, as obras “Minha terra”, “Trem de Alagoas”, “Meu último olhar” e “No jardim de Oeira”. Conheceu e trabalhou com Villa-Lobos, que também muito o incentivou para pesquisar as raízes musicais brasileiras. Preparou um concerto em Paris para a cantora Maria DApparecida com obras de Villa-Lobos. Na Capital Federal acompanhou de perto os desfiles de Escolas de Samba na antiga Praça Onze, o que acabaria também influenciando sua obra. Fez viagens de estudos a Pernambuco, vendo maracatus, frevos e cocos. Musicou poemas de importantes poetas brasileiros como Manuel Bandeira, Ascenso Ferreira e Jorge de Lima. Em 1957, Joel de Almeida e Seus Turunas gravaram o coco “Coco perenuê” e Roberto Amaral, a cantiga “Hei de morrer cantando”. Em 1958 foi eleito para a cadeira número 49 da Academia de Música do Rio de Janeiro. No mesmo ano compôs trilha musical para o filme “O primo Basílio” feito em Lisboa. Em 1959 recebeu na Guanabara a medalha “Roquete Pinto”. No mesmo ano o serviço brasileiro da BBC de Londres transmitiu um recital de canções de sua autoria com interpretação de Madalena Nicol e acompanhamento de Radamés Gnattali. Em 1963, a convite de Pascoal Carlos Magno e com patrocínio do Ministério da Cultura, realizou recital de suas obras no salão Vermelho do Hotel Nacional de Brasília, um dos locais mais requisitados da época. Em 1965 retornou ao Pará e passou a dirigir o Teatro da Paz em Belém, sendo nomeado Diretor do Departamento de Cultura da Secretaria de Estado de Educação e Cultura. Em 1967, a convite do Departamento de Estado dos Estados Unidos, viajou para a América do Norte a fim de visitar universidades. Em 1969 a cantora Maria Lúcia Godoy registrou o LP “O canto da Amazônia”, nos estúdios do MIS, cujo lado A era totalmente dedicado a lendas indígenas escritas pelo compositor. O disco foi produzido por R. C. Albin e teve arranjos especiais de Guerra Peixe. Em 1976 tomou posse na cadeira número 7 da Academia Paraense de Letras. Em 1978 a cantora Fafá de Belém regravou “Tamba tajá”, que se tornou um grande sucesso, colocando novamente em evidência o nome do compositor, que na mesma ocasião foi entrevistado pelo jornalista e crítico Sérgio Cabral para o jornal carioca “O Globo”. Através da reportagem e do sucesso da música, foi localizado pela Editora Mangione, que assim pôde lhe pagar os direitos autorais devidos e que não eram pagos, pois não conseguiam localizar o compositor. Na mesma época foi o único compositor vivo a ser tema de monografia da Funarte. Em 1985, ao completar 80 anos, foi homenageado por R. C. Albin, que escreveu e dirigiu o show “Jubileu de ouro”, encenado na sala Sidney Miller da Funarte, com Maria Lúcia Godoy e o conjunto Viva Voz. O espetáculo foi levado a Belém e exibido com a presença do próprio autor no Teatro da Paz, obtendo grande sucesso de público.
CABRAL, Sérgio. ABC do Cabral. Rio de Janeiro: Ed. Codecri, 1979.
FILHO, Claver. Waldemar Henrique: O canto da Amazônia. MEC/FUNARTE. 1978