Cantora. Vedete. Compositora.
Foi interna do Colégio Regina Coeli, dos seis aos 14 anos. Estudou, em seguida, no Instituto Lafayette (famoso colégio situado no bairro carioca de Botafogo), chegando depois a cursar o primeiro ano de Direito. Estudou um período com Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi uma das artistas de maior prestígio no governo de Getúlio Vargas que, além de ser seu fã, conta-se, chegou a ter um “affair” com ela. No início dos anos 1970 passou a morar nos arredores da cidade de Barra do Piraí, onde chegou a ser Secretária de Turismo. Ali vivendo sozinha, apenas acompanhada por uma filha adotiva, dali só sai para shows esporádicos. Em 2002, sofre acidente automobilístico, tendo que colocar alguns pinos de aço na parte superior de suas famosas pernas. Faleceu às vésperas de completar 94 anos de idade, de falência múltipla dos órgãos, no Hospital São Camilo, em Volta Redonda, onde estava internada.
Em 1935, aos quinze anos de idade, começou a carreira artística como cantora na Rádio Mayrink Veiga sendo apresentada pelo radialista César Ladeira no programa “Garota bibelô”. Atuou em seguida na Rádio Tupi. Em 1939, atuou no filme “Laranja da China”, dirigido por Ruy Costa, lançado no ano seguinte. Nesse filme, interpretou a marcha “Cai cai”, de Roberto Martins. Em 1941, atuou no filme “Entra na farra”, dirigido por Luiz de Barros. Em 1943, foi trabalhar como corista do Cassino da Urca como crooner e dançarina, atuano nas orquestras de Carlos Machado, Vicente Paiva e Kolman. Atuou também em shows de Rei Ventura, Tommy Dorsey e Benny Goodman. Ainda em 1943, chegou a filmar uma cena para o filme “Samba em Berlim”, dirigido por Luiz de Barros, na qual interpretava a marcha “O Danúbio azulou”, de Nássara e Frazão; no entanto, a cena foi cortada pela censura do Estado Novo pois no cenário, à frente do qual a futura “Vedete do Brasil” cantava, aparecia a figura de Stalin, naquele momento, um dos líderes dos Aliados anti nazistas. Em 1945, depois de apresentações na Rádio Splendid e na boate Tabaris, de Buenos Aires, fixou residência na capital argentina por três anos. Apresentou-se também nos Cassinos Icaraí e Quitandinha.
Em 1946 lançou pela Continental seu primeiro disco interpretando a marcha “Maria Rosa”, de Oscar Bellandi e Dias da Cruz e o samba “Amei demais”, de Ciro de Souza e J. M. da Silva. Nesse mesmo ano, com o fechamento do cassinos no Brasil, saiu em excursão apresentando-se na Argentina, México, Estados Unidos, Espanha, Portugal e no Japão, Quando voltou ao Brasil, em 1948, atuou como vedete na revista “Um milhão de mulheres”, de Chianca de Garcia, encenada no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. A revista rendeu-lhe muito sucesso, o que lhe possibilitou um contrato com a companhia de Walter Pinto na qual trabalhou por quatro anos em espetáculos no Teatro Recreio. Em 1951, lançou seu grande sucesso, a marchinha “Sassaricando”, de Luís Antônio, Zé Mário, pseudônimo de Jota Júnior e Oldemar Magalhães, cantada por ela na revista “Eu quero sassaricá”, de Luís Iglesias e Freire Jr, e gravada pela Todamérica em novembro de 1951. A música foi feita de encomenda para a revista “Jabaculê de penacho”, produzida por Walter Pinto que, adorando o tema, resolveu trocar o nome da revista. O sucesso foi tanto que a música acabou criando a expressão maliciosa “sassaricar”. Ainda nesse ano, participou do filme “Tudo azul”, dirigido por Moacyr Fenelon, interpretano seu grande sucesso carnavalesco “Sassaricando”, de Luís Antônio, Zé Mário, pseudônimo de Jota Júnior e Oldemar Magalhães. Fez papéis marcantes no teatro de revista como “A mulata”; “Boneca de Piche”, “Carlitos”; “Joana DArc”; “Anita Garibalde”; “Cantinflas”; “Messalina” e “Marquesa de Santos”.
A partir de 1952, trabalhou no Teatro Carlos Gomes. No mesmo ano, gravou as marchas “Santo Antônio casamenteiro”, de Antônio Almeida e Alberto Ribeiro e “Balão”, de Luiz Antônio. Foi eleita Rainha das Atrizes, pela Casa dos Artistas. Destacou-se em programas da TV Tupi (“Espetáculos Tonelux”) na década de 1950. Na Companhia Walter Pinto atuou ainda nas revistas “Muié macho sim senhor” e “Eu quero sassaricar”. Em 1953, fez sucesso com a marcha “Zé Corneteiro”, de Lalá Araújo. Em 1954, gravou com sucesso a “Marcha do fiu-fiu”, que ela assinou com Nelson Castro e “Marcha da pipoca”, de Luiz Bandeira e Arsênio de Carvalho, de sentido malicioso ou de duplo sentido. No início da televisão no Brasil atuou na TV Tupi onde apresentou dois programas: “Espetáculos tonelux” e “Coelhinho Teco-Teco”, programa no qual contava histórias infantis. Em 1955 lançou o maxixe “No balaio de sinhá”, de Arsênio de Carvalho; o samba “Portão da casa do Juca”, de Rubens Silva e Loé Moulin e “Chorinho gostoso”, de sua autoria. Nesse ano, a “Marcha da pipoca” foi escolhida por um júri reunido no Teatro João Caetano como um das dez mais populares do carnaval daquele ano. Em 1956, gravou os cha-cha-chas “Aprenda o cha-cha-cha”, de C. Garcia e Hello e “Um beijinho por telefone”, de M. Perdomo, ambos com versão de Alberto Ribeiro. Em 1957, gravou as marchas “É baba de quiabo”, de sua parceria com Arsênio de Carvalho e “Madame sapeca”, de José Roberto e José Batista. Em 1958, gravou “Lanterninhas multicores”, marcha de sua autoria; “Santo Antônio vai me abençoar”, baião de Nelson Castro e José Batista e “Que palhaço”, marcha de sua parceria com William Duba. Gravou 24 discos em 78 rpm, um pela Continental e os outros pela Todamérica, principalmente com marchinhas de temas maliciosos ou humorísticos, apesar de ter gravado sambas também. Fez diversos filmes na Cinédia e na Atlântida, entre os quais, “Tudo azul”, “Anjo do lodo”, que escandalizou a sociedade da época; “Pé na tábua”, “Carnaval no fogo”; “Laranja da China”, “Mulher de verdade”, etc., muitos dirigidos por Watson Macedo e nos quais contracenou com artistas como Grande Otelo, Oscarito e Zé Trindade.
Em 1960, gravou dois discos pela etiqueta Carroussel incluindo as marchas “Meu América”, de Nelson Castro, homenagem ao time de futebol do América F.C, campeão carioca de futebol daquele ano, de quem é fanática torcedora, e “Marcha da vitória”, de Hélio Nascimento, Mirabeau e J. Gonçalves. Foi escolhida a madrinha da Corporação do Corpo de Bomneiros do Rio de Janeiro. É também a madrinha do 10º Batalhão da Polícia Militar do Município de Barra do Piraí, no Rio de Janeiro. Em 1973, participou do LP “Eu quero é cair na folia”, coletânea carnavalesca da gravadora Todamérica, interpretando as marchas “Sete e sete”, de Vicente Longo, Waldemar Camargo e Ganio Ganeff, e “Papai leva mamãe”, de Nelson Castro e Ganio Ganeff. No início do ano 2003, completou quinze anos de apresentações nos bailes populares de carnaval na Cinelândia, no centro, e cinco anos nas noite de reveillon na zona sul do Rio de Janeiro com acompanhamento da orquestra do maestro Perazio. Aclamada como a Rainha da Cinelânda, tradicional reduto boêmio e do carnaval do centro do Rio de Janeiro. No mesmo ano, lançou dois CDs comemorativos aos seus 80 anos de idade, “Virgínia Lane a Vedete do Brasil canta seus 80 anos”, com 32 músicas, entre as quais, “Sassaricando, Luiz Antônio e Jota Júnior; “Zé Corneteiro”, de Lalá Araújo; “Marcha da pipoca”, de Luiz Bandeira e Arsênio de Carvalho; “Brotinho vem cá”, de Gânio Ganeff e William e “Lá vem a cobra grande”, de Antônio Almeida e João de Barro. Recebeu do ex-presidente da República Getúlio Vargas o título de “Vedete do Brasil”. Em janeiro de 2014, em uma de suas últimas aparições públicas, foi coroada “Embaxatriz do Carnaval” na cidade de Belém do Pará.
Em dezembro de 2023 estreou, no Teatro do Copacabana Palace, a peça de teatro musical “A vedete do Brasil”. A autoria da peça musical foi do ator, escritor e dramaturgo Cacau Hygino e da dramaturga Renata Mizrahi. A direção foi de Claudia Netto. Virgínia foi interpretada pelas atrizes Suely Franco(na maturidade), Bela Quadros e Flavia Monteiro (na juventude).
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume 1. São Paulo: 34, 1987.