1.002
Nome Artístico
Vadico
Nome verdadeiro
Osvaldo Gogliano
Data de nascimento
24/6/1910
Local de nascimento
São Paulo, SP
Data de morte
11/6/1962
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Compositor. Pianista.

Filho de Erasmino Gogliano e Maria Adelaide de Almeida, casal de imigrantes italianos do bairro do Brás, pertenceu a uma família onde todos os seus irmãos eram músicos. Dedicou-se à música desde muito cedo. Aos 18 anos de idade, ganhou concurso de música popular realizado em São Paulo, concorrendo com a marcha “Isso mesmo é que eu quero”. Nesta ocasião, abandonou o ofício de datilógrafo para apresentar-se pela primeira vez em público em um hotel em Poços de Caldas, MG.

Enquanto compunha, aperfeiçoava seus estudos de piano. Em 1930, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Em 1939, partiu para os Estados Unidos, onde se casou sete anos mais tarde com Harriette Melane. Já de volta ao Brasil, numa sessão de gravação realizada em 1962, sentiu-se mal, tendo falecido a caminho do hospital.

Dados artísticos

Em 1930, o samba “Arranjei outra”, parceria com Dan Malio Carneiro  foi gravado na Odeon por Francisco Alves. Ao chegar ao Rio de Janeiro, apresentou suas composições ao também paulista Eduardo Souto, que conseguiu que uma delas, o samba “Silêncio”, fosse gravada na Odeon por Luís Barbosa e Vitório  Lattari. A mesma obra foi incluída na revista “Bibelô”, de De Chocolat e ainda vencedora de concurso realizado pelo “Correio da Manhã”. Nesse ano, atuou como pianista no cabaré “A caverna”, do Cassino Beira Mar.

Em 1932,  nos estúdios da Odeon, Eduardo Souto o apresentou a Noel Rosa. Ao  mostar uma de duas melodias, Souto sugeriu a Noel que escrevesse uma letra, iniciando-se assim parceria histórica com o clássico “Feitio de oração”, gravado por Francisco Alves em dueto com Castro Barbosa em 1933, uma das mais frutíferas  e instigantes parcerias da Música Popular Brasileira.

A segunda  composição da dupla  foi  o samba “Feitiço da Vila” lançado em 1934 por João Petra de Barros na Odeon. A estes, seguiram-se: “Provei”, “Quantos beijos”, “Só pode ser você”, “Conversa de botequim”, “Cem mil-réis”, “Tarzan, o filho do alfaiate”, “Pra que mentir” e a “Marcha do dragão” composta para fins publicitários. Nestas composições, fez inicialmente a melodia e Noel colocou a letra. No caso de “Mais um samba popular”, compôs a melodia, escreveu  o  estribilho e colocou o título. Noel modificou o estribilho e escreveu os versos da segunda parte. Ainda em 1934, foi contratado pelo clarinetista Luís Americano para atuar no Lido, passando pouco depois a substituir Luís Americano na chefia da orquestra. Gravou ainda nesse período, com sua orquestra na Columbia, as músicas “Maestro marmelada” e “Is it all right?”, cujos autores não foram indicados so selo do disco. Em 1935, teve a valsa “Natália” gravada ao saxofone por Luis Americano na Odeon com seu acompanhamento ao piano. Nesse ano, o samba “Conversa de botequim”, com Noel Rosa e que se tornaria um clássico foi gravado pelos próprio Noel Rosa. No ano seguinte, dois novos sambas em parceria com Noel Rosa foram gravados também por Noel, dessa vez em dueto com Marília Batista, “Provei” e “Cem mil réis”. Em 1937, teve o samba “Seja o que Deus quiser”, com Mário Morais gravado por Nuno Roland na Odeon.

Em 1938, atuou pelo período de quatro meses no Cassino Tênis Clube de Petrópolis. Nesse ano, Sílvio Caldas gravou na Victor o samba “Pra que mentir”, parceria com Noel Rosa. Em abril de 1939, embarcou  para os Estados Unidos com a Orquestra Romeu Silva, para tocar no Pavilhão Brasileiro da Feira Mundial de Nova Iork, quando também se exibiram Carmen Miranda e o Bando da Lua. Permaneceu nos Estados Unidos, seguindo para a Califórnia, onde trabalhou com Carmen Miranda e o Bando da Lua,   participando de vários filmes, dentre os quais, “Uma noite no Rio” (That night in Rio, de Irving Cummings) onde aparecia tocando instrumento de percussão, quando anteriormente já havia gravado a parte de piano. Posteriormente, integrou várias orquestras americanas. Prosseguiu como pianista de Carmen Miranda e do Bando da Lua, participando também como orquestrador de vários filmes em que estes   atuavam, como “Weekend in Havana” (Aconteceu em Havana) e “Spring time in the Rockies” (Minha secretária brasileira). 

Em 1943, fez shows em teatros e nightclubs, tendo recebido neste mesmo ano convite de Walt Disney para musicar o desenho de longa-metragem “Saludos, amigos”, onde o personagem Zé Carioca aparece como símbolo do Brasil. Em 1945, deixou de atuar ao lado de Carmen Miranda e do Bando da Lua, passando a integrar orquestras norte-americanas. Por essa época, teve aulas de harmonia, contraponto, orquestração e regência com o compositor Mario Castelnuovo Tedesco. Em 1948, recebeu convite de Carmen Miranda para acompanhá-la em uma excursão a Londres. De volta aos Estados Unidos, passou a viver em Nova Iork. Em 1949, ingressou na companhia da bailarina Katherine Dunham, com quem excursionou pela  Europa. 

Em 1950,  apresentou-se na Broadway como  diretor de orquestra dessa companhia. Excursionaram pela  América do Sul, percorrendo diversos países e no Brasil passaram por Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Ainda em 1950, dois de seus sambas com Noel Rosa foram relançados com grande sucesso por Aracy e Almeida, “Conversa de botequim” e “Feitiço da Vila”. 

Em 1954, voltou ao Brasil  inicialmente de férias,  mas acabou ficando definitivamente. Enfrentou problemas com os direitos autorais de suas músicas, pois seu nome nem sequer constava como  autor. Passou a atuar como pianista em gravações e a trabalhar como orquestrador para a Continental e para a Rádio Mayrink Veiga. Em 1955, Helena de Lima gravou com sucesso o samba-prelúdio “Prece”, considerado pela crítica como uma de suas músicas mais inspiradas, e que seria regravado dois anos depois pelo Trio Nagô e “Coração, atenção”, parcerias com Marino Pinto, gravações as quais acompanhou com sua orquestra. Ainda em 1955, acompanhou na Continental com seu conjunto o cantor Jamelão na gravação dos sambas “Corinthians, campeão do centenário” e “Oração de um rubro-negro”, ambos de Billy Blanco e a cantora Dalva de Andrade na valsa “Linda Espanha”, de Altamiro Carrilho e Armando Nunes e no samba-canção “Aquele quarto”, de Osvaldo Nunes e Aníbal Campos. Com sua orquestra, acompanhou no mesmo período Aracy de Almeida na gravação do samba-toada “Cafuné”, de Dênis Brean e Gilberto Milfont e no samba “Conselho inútil”, de Miguel Gustavo, e Gilberto Milfont na marcha “Dois mil e quatrocentos”, de Paquito e Romeu Gentil e no samba “Batendo cabeça”, de Haroldo Lobo. Também no mesmo ano, gravou com seu regional na Continental o samba “Conversa de botequim”, com Noel Rosa e o choro “Duvidoso”, de sua autoria e, com vocal de Zezinho, o samba “Tarzan o filho do alfaiate”, parceria com Noel Rosa e o choro “Não sobra um pedaço”, de Bororó e Aregivo. Ainda em 1955, foi escolhida pelo crítico Silvio Túlio Cardoso através da coluna “Discos populares” escrita por ele para o jornal O Globo como o “melhor arranjador do ano” recebendo como prêmio um “disco de ouro” entregue em cerimônia no Goldem Room do Copacabana Palace.

Em  1956, atuou com “Os Copacabana” na Boate Casablanca e lançou pela Continental o LP “Dançando com Vadico”. Nesse LP, no qual tocou piano acompanhou o cantor Zezinho na interpretação dos sambas “Agora É Cinza”, de Alcebíades Barcelos, o Bide e Armando “Marçal”, “Você Vai Se Quiser”, de Noel Rosa, “Nega”, de Waldemar Gomes e Afonso Teixeira, “Saudade Dela”, de Ataulfo Alves, “Aos Pés da Cruz”, de Marino Pinto e Zé da Zilda, “Minha Cabrocha”, de Lamartine Babo, “Se Você Jurar”, de Ismael Silva, Nilton Bastos e Francisco Alves, e “Vai-te Embora”, de Romualdo Peixoto “Nonô” e Francisco Matoso. No ano seguinte, ingressou na TV Rio como diretor musical. Seguiu atuando como pianista em clubes  noturnos. Durante o tempo que esteve fora do país praticamente não compôs. Ao chegar ao Brasil, musicou versos de David Nasser.  

Em meados dos anos 1950, Vinícius de Moraes, com quem compôs  “Sempre a esperar”, gravada no LP “Elizeth canta Vinicius”, da Copacabana em 1963, chegou a pensar em seu nome para musicar a peça “Orfeu da Conceição”, mas como ele hesitasse em aceitar a tarefa, a peça de Vinícius acabou sendo musicada pelo então jovem compositor Antônio Carlos Jobim, por sugestão de Lúcio Rangel. Em 1959, Carminha Mascarenhas gravou na Polydor o samba-canção “Dormir…sonhar”, com Herberto Sales, futuro integrante da Academia Brasileira de Letras. No mesmo ano, lançou com seu conjunto dois LPs pelo selo Festa. O primeiro desses LPs foi “Festa dentro da noite – Vadico e Seu Conjunto Instrumental” no qual interpretou os sambas “Leva Meu Samba”, de Ataulfo Alves, “Se É Pecado”, de Herivelto Martins, “Viva Meu Samba”, de Billy Blanco, “Naquele Tempo”, de Pixinguinha e Benedito Lacerda, “Lá Vem A Baiana”, de Dorival Caymmi, “Siga”, de Fernando Lobo e Hélio Guimarães, “Mangueira”, de Assis Valente e Zequinha Reis, “Faceira”, de Ary Barroso, “Canção da Volta”, de Ismael Netto e Antônio Maria, “Chega de Saudade”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, “Se Alguém Disse”, de Newton Teixeira, Arnô Canegal e Arnaldo Paes, e “Se Acaso Você Chegasse”, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, além do choro “Vai Astor”, de sua autoria, homenagem ao maestro Astor Silva. O segundo LP se chamou “Festa dentro da noite Nº 2 – Vadico e Sua Orquestra” e incluiu as músicas “Se Você Jurar”, de Ismael Silva, Nilton Bastos e Francisco Alves, “Conversa de Botequim”, com Noel Rosa, “Abre A Janela”, de Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti, “Neste Mesmo Lugar”, de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, “Maria”, de Ary Barroso, “Seu Libório”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, “Juramento Falso”, de J. Cascata e Leonel Azevedo, “Brigas Nunca Mais”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, “Meu Primeiro Amor”, de Alcebíades Barcelos “Bide” e Armando “Marçal”, “Saia do Caminho”, de Custódio Mesquita e Evaldo Ruy, “Desengano”, de Evaldo Ruy e Waldemar Silva, “Samba de Copacabana”, de Eratóstenes Frazão e Antônio Nássara, e “Meu Consolo”, de Gadé e Valfrido Silva. Em 1960, Elizeth Cardoso gravou na Copacabana o samba-canção “Até quando?”, pareceria com Marino Pinto. Em 1962, gravou na etiqueta Festa o LP “Festa dentro da noite”. Em 1979, foi homenageado pelo selo Eldorado com o lançamento do LP “Vadico – Evocação III” com doze composições de sua autoria na interpretação de diferentes artistas: “Feitio de Oração”, com Noel Rosa, e “Julgamento”, com Marino Pinto, interpretadas por Márcio Montarroyos, “Prece”, com Marino Pinto, e “Só Pode Ser Você”, com Noel Rosa, por  Dominguinhos, “Nego”, com Marino Pinto, e “Sempre a Esperar”, com Vinicius de Moraes, por Raul de Barros, “Choro Em Fá Menor” e “Chopp”, choros só de sua autoria, por Amilton Godoy, “Pra Que Mentir”, com Noel Rosa, e “Guanabara”, com Aloysio de Oliveira, por Roberto Sion, “Feitiço da Vila”, com Noel Rosa, por Edu da Gaita, e “Conversa de Botequim”, com Noel Rosa, por Heraldo do Monte.

Discografias
1980 Eldorado LP Vadico. Evocação III
1959 Festa LP Festa dentro da noite - Vadico e Seu Conjunto Instrumental
1959 Festa LP Festa dentro da noite Nº 2 - Vadico e Sua Orquestra
1956 Continental LP Dançando com Vadico
1955 Continental 78 Conversa de botequim/Duvidoso
1955 Continental 78 Tarzan o filho do alfaiate/Não sobra um pedaço
1934 Columbia 78 Maestro Marmelada/Is It All Right
Obras
Arranjei outra (c/ Dan Malio Carneiro)
Até quando (c/ Marino Pinto)
Cem mil-réis (c/ Noel Rosa)
Chopp
Choro Em Fá Menor
Conversa de botequim (c/ Noel Rosa)
Coração atenção
Dormir...sonhar (c/ Herberto Sales)
Duvidoso
Feitio de oração (c/ Noel Rosa)
Feitiço da Vila (c/ Noel Rosa)
Guanabara - com Aloysio de Oliveira
Julgamento - com Marino Pinto
Mais um samba popular (c/ Noel Rosa)
Nego - com Marino Pinto
Pra que mentir (c/ Noel Rosa)
Prece (c/ Marino Pinto)
Prenúncio
Provei (c/ Noel Rosa)
Quantos beijos (c/ Noel Rosa)
Seja o que Deus quiser (c/ Mário Morais)
Sempre a Esperar - com Vinicius de Moraes
Silêncio
Só pode ser você (c/ Noel Rosa)
Súplica (c/ Marino Pinto)
Tarzã, o filho do alfaiate (c/ Noel Rosa)
Vai Astor
Bibliografia Crítica

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.

VASCONCELOS, Ari. Panorama da música popular brasileira – volume 2. Rio de Janeiro: Martins, 1965.