
Compositor. Cantor. Arranjador. Ator.
Estudou na Universidade Federal da Bahia, onde teve aulas com H. J. Koellreuther, Walter Smetak, Ernst Widmer, Jamary Oliveira, entre outros. Tornou-se membro fundador do Grupo de Compositores da Bahia (música erudita), ao lado de Milton Gomes, Lindebergue Cardoso, Rinaldo Rossi, Nicolau Kokron e Ernst Widmer. Com este grupo, participou do concerto realizado pela Orquestra Sinfônica da UFBA. Foi professor de Contraponto e Harmonia na Escola de Música da universidade Federal da Bahia. Integrou, como violoncelista, a Orquestra Sinfônica da UFBA e a Orquestra de Estudantes da mesma universidade. Participou como compositor de concertos realizados em 50 escolas de Salvador, na Bahia.
No início da década de 1960, conheceu Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia.
Em 1964, participou do espetáculo “Nós, por exemplo”, que marcou a inauguração do Teatro Vila Velha, em Salvador, onde se apresentou ao lado de Caetano, Gal Costa, Maria Bethânia, Djalma Corrêa, Alcivando Luz, Piti, Fernando Lona e Gilberto Gil. Nesse ano, o grupo ainda apresentou, no mesmo teatro, o show “Nova bossa velha, velha bossa nova”.
Em São Paulo, participou, ao lado de Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Piti, de outro espetáculo, “Arena canta Bahia”, dirigido por Augusto Boal e apresentado no TBC, antigo palco do Teatro Brasileiro de Comédias, em São Paulo.
Em 1968, lançou, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, dos poetas letristas tropicalistas Torquato Neto e Capinam, e dos maestros e arranjadores Rogério Duprat, Júlio Medaglia e Damiano Cozzella, o LP manifesto “Tropicália ou panis et circensis”, no qual o grupo firmou as bases do Tropicalismo. Nesse mesmo ano, participou do IV Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record de São Paulo, obtendo a primeira colocação com sua composição “São São Paulo, meu amor”, e a quarta colocação com “2001”, em parceria com Rita Lee, defendida pelo grupo Os Mutantes, e que também levou o Prêmio de Melhor Letra. Seu primeiro LP individual, “Tom Zé”, foi lançado ainda em 1968.
Na década de 1970, fundou em São Paulo a Escola Popular Sofisti-Balacobaco – Muito Som e Pouco Papo. Participou ainda, como ator e cantor, da peça musical “Rock horror show”, dirigida por Rubens Corrêa, no Teatro da Praia, Rio de Janeiro.
Em 1973, lançou “Todos os olhos”. O disco não foi bem recebido por parte do público e da crítica, sendo considerado inovador demais. A partir daí, ao contrário dos seus amigos baianos Gal, Gil, Caetano e Bethânia, afastou-se da mídia.
Em 1977, trabalhou na agência de publicidade DPZ, ao lado de Washington Olivetto, Roberto Dualibi, F. Petit e Zaragoza.
Na década de 1980, trabalhou com música experimental. Nessa época, realizou um concerto no Teatro Municipal de São Paulo, exibido pela TV Cultura.
Ao final da década de 1980, foi descoberto pelo músico americano David Byrne, que comprou em um sebo seu LP “Estudando o samba”, lançado em 1974 pela Continental. As inovações propostas nesse disco levaram Byrne a lançar o compositor no mercado internacional.
Em 1990, lançou pelo selo Luaka Bop o disco “The Best of Tom Zé”, que foi aclamado pela crítica, ficando entre os 10 melhores da década em todo o mundo na avaliação da revista Rolling Stone. A partir disso, excursionou pela Europa e Estados Unidos durante toda a década de 1990.
Foi contemplado com o Prêmio de Criatividade em Telluride, no Colorado, EUA, no festival Composer to Composer, ao lado de músicos eruditos e/ou de vanguarda de todo o mundo.
Em 1993, apresentou-se em concerto no Moma (Museu de Arte Moderna de Nova York), sendo o primeiro e único músico brasileiro a se apresentar nesse espaço, onde não se fazem apresentações musicais habitualmente. Foi também o primeiro e único compositor da América Latina a se apresentar no altamente seletivo Walker Art Center, Minneapolis, que convoca apenas nomes como Phillip Glass, John Cage e Bob Wilson.
No ano seguinte participou, como ator, do filme “Sábado”, de Ugo Georgetti.
Em 1997, compôs para o Grupo Corpo a trilha sonora “Parabelo”, em parceria com José Miguel Wisnik. Com esse trabalho, recebeu o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), sendo também indicado para o Prêmio Sharp.
No ano seguinte, a APCA lhe conferiu o Grande Prêmio da Crítica, na categoria Música.
Ainda na década de 1990, participou do “Abril Pró-Rock” e realizou turnê nos Estados Unidos, acompanhado pelo grupo de vanguarda Tortoise.
Transformou-se num “ícone musical dos EUA”, segundo diversos críticos. A publicação “Rolling Stone” classificou o CD “The Best of Tom Zé”, único representante da música brasileira, como um dos 10 discos da década.
Recebeu o Troféu Cidadão-Artista, em companhia de Eduardo Suplicy e de outros brasileiros.
Em 1999, lançou no Brasil o CD “Com defeito de fabricação”, pela Trama, voltando a ganhar espaço na mídia brasileira. O disco obteve classificação de quatro estrelas da publicação “Rolling Stone” e recebeu críticas favoráveis das publicações “Spin”, “NY Times”, “Village Voice” e “Billboard” (EUA, “Les Inrockuptibles”).
Em 2000, lançou o CD “Jogos de armar (Faça você mesmo)”, contendo suas canções “Passagem de som” (c/ Gilberto Assis), “Peixe viva (Iê-quitíngue)” (c/ Zé Miguel Wisnik), “Jimi renda-se” (c/ Valdez, “Chamegá” (c/ Vicente Barreto), “Desafio” (c/ Gilberto Assis), “Conto de fraldas”, “Medo de mulher”, “O PIB da PIB (Prostituir)” (c/ Alê Siqueira e Sérgio Molina), “Cafuas, guetos e santuários”, “A chegada de Raul Seixas e Lampião no FMI”, “Perisséia” (c/ Capinan) e “Sonhar (Sonho da criança-futuro-bandido da favela, na noite de Natal)” (c/ Sérgio Molina), além de “Pisa na fulô” (Silveira Júnior, João do Valle e Ernesto Pires) e “Asa branca” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira).
Lançou, em 2002, o CD “Santagustin”.
No ano seguinte, lançou o CD “Imprensa cantada” e o o livro “Tropicalista Lenta Luta” (Publifolha). Também nesse ano, lançou o DVD “Jogos de armar”, registro do show homônimo.
Em 2005, lançou o CD “Estudando o Pagode – Segregamulher e Amor”, contendo 16 faixas inéditas, como “Quero pensar”, “Duas opiniões” e “Prazer carnal”. O disco, produzido por Jair Oliveira, contou com a participação de Luciana Mello, Zélia Duncan, Patrícia Marx e Suzana Salles. Nesse mesmo ano, participou do Festival de Banlieues, na França.
Lançou, em 2006, o CD “Danç-Êh-Sá – Pós-Canção/Dança dos Herdeiros do Sacrifício/7 Caymianas para o Fim da Canção”, contendo sete pós-canções sem letras mas com ruídos vocais, além de textos e sub-textos, transitando pelo terreno da música eletrônica com forte base percussiva: “Uai-uai – Revolta Queto-Xambá 1832”, “Atchim – Revolta Paiaiá 1673”, “Triú-triii… – Revolta Malê 1835”, “Cara-cuá – Revolta Nagô-Oió 1830” e “Abrindo as urnas – Encourados de Pedrão 1823”, todas com Paulo Lepetit, “Acum-mahá – Revolta Jege-Mina-Fon 1834” e “Taka-tá – Revolta Banta 1910”.
Em 2007, ganhou o 27º Prêmio Shell de Música, que teve entre os jurados desta edição a cantora Zélia Duncan, o pesquisador e crítico musical Rodrigo Faour e o músico Ricardo Silveira. Nesse mesmo ano, estreou no circuito cinematográfico o documentário “Fabricando Tom Zé”, do cineasta paulista Décio Matos Jr., centrado na turnê realizada pelo artista na Europa no ano de 2005. O longa foi eleito Melhor Documentário pelo júri popular do Festival do Rio de 2006. Também em 2007, realizou, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, o show que marcou a estréia do projeto “Independência ou Morte? – outros caminhos da música brasileira”, que teve como objetivo discutir a importância da música independente no Brasil, por meio de shows e debates. Também no mesmo projeto, participou, ao lado de Carlos Eduardo de Andrade (presidente da Associação Brasileira de Música Independente, ABMI), Benjamin Taubkin (músico e fundador da ABMI) e o produtor musical Alexandre Fontanetti, com mediação de Kid Vinil, de debate sobre música independente.
Lançou, em 2010, o DVD ao vivo “O pirulito da ciência” (Biscoito Fino), revendo sua trajetória de 50 anos de carreira. No repertório, 24 canções, entre as quais: “Nave Maria”, “Classe operária”, “Ui! (Você inventa)”, “Menina Jesus”, São, São Paulo”, “Síncope Joãobim” e “Lavagem da Igreja de Irará”. Mantém na internet o blog “tom-ze.blog.uol.com.br “, espaço em que propõe a seus leitores a leitura e a discussão de livros de autores brasileiros. Nesse mesmo ano, seu disco “Todos os olhos”, de 1973, foi reeditado em vinil, dentro da série “Clássicos em Vinil”, da Polysom.
Em 2011, foi lançada nos Estados Unidos a caixa de sete discos de vinil “Studies of Tom Zé – Explaining things so I can confuse you”. Nesse mesmo ano, apresentou-se no Alice Tully Hall, no Lincoln Center Festival, em Nova York. Também em 2011, fez show no Circo Voador, no Rio, acompanhado por Cristina Carneiro (teclado), Renato Léllis (guitarra), Felipe Alves (baixo), Jarbas Mariz (cavaquinho e percussão) e Lauro Léllis (bateria).
Em 2012, lançou o CD “Tropicália Lixo Lógico”, com suas canções “NYC Subway Poetry Department” (c/ Henrique Marcusso), “Apocalipsom A (O fim no palco do começo)”, “Capitais e tais”, “Tropicalea Jacta Est”, “O motobói e Maria Clara”, “Marcha-enredo da Creche Tropical”, “Amarração do amor”, “Não tenha ódio no verão”, “Jucaju”, “De-de-dei Xá-xá-xá”, “A Terra, meus filhos”, “Debaixo da marquise do Banco Central”, “Navegador de canções”, “Aviso aos passageiros”, “Apocalipsom B (O começo no palco do fim)” e a faixa-título. O disco contou com a participação de Emicida (nas faixas “Apocalipsom A (O fim no palco do começo)” e “Apocalipsom B (O começo no palco do fim)”), Mallu Magalhães (nas faixas “Tropicalea Jacta Est” e “O motobói e Maria Clara), Washington (na faixa “Tropicália Lixo Lógico”), Pélico (na faixa “De-de-dei Xá-xá-xá”) e Rodrigo Amarante (na faixa “NYC Subway Poetry Department”). O CD “Tropicália lixo lógico” figurou na relação “Os Melhores Discos de 2012” – assinada pelos jornalistas Bernardo Araújo, Carlos Albuquerque, Leonardo Lichote e Sílvio Essinger -, publicada na edição de 30 de dezembro desse mesmo ano do Jornal “O Globo”.
Em 2013, após polêmica na internet criada por um grupo de fãs que o criticou por ter atuado como narrador em um comercial da Coca-Cola, lançou o EP “Tribunal do Feicebuqui”, contendo suas canções “Zé a zero” (c/ Segreto e Tim Bernardes), “Taí” (c/ Segreto) e “Irará iralá”, além de “Papa Francisco” (Tim Bernardes) e “Tom Zé Mané” (Segreto, Tatá Aeroplano, Gustavo Galo e Emicida). Nesse mesmo ano, foi indicado ao Prêmio da Música Brasileira, na categoria Melhor Álbum Pop/Rock/Reggae/HipHop/Funk, pelo CD “Tropicália Lixo Lógico”, produzido por Daniel Maia.
Em 2014, lançou o disco “Vira lata na Via Láctea”. Composto apenas por múscas inéditas, o trabalho seguiu a mesma proposta do EP lançado em 2013: ativar e estabelecer a conexão com a chamada Geração Y, trazendo à tona temas como internet, mensagens inbox e até o Papa Francisco.
Ao longo das 14 faixas, o músico divide os vocais com nomes consagrados como Milton Nascimento (em “Pour Elis”) e Caetano Veloso (em “A pequena suburbana”) e, também, talentos da nova geração como Criolo (em “Banca de jornal”), Trupe chá de boldo (em “Irará irá lá”), O terno (em “Papa perdoa Tom Zé”) e Filarmônica de Pasárgada (em “Guga na lavagem), entre outros.
Em 2016, iniciou a turnê “Eu cantando para os meus”, apresentando-se no Circo Voador, no RJ. Para o repertório, releituras de músicas já consagradas. Ainda em 2016, lançou o disco de inéditas “Canções eróticas de ninar”, pela gravadora CIRCUS, com produção de Paulo Lopetit e Daniela Maia. O CD e LP contou com 13 faixas, sendo elas “Sexo”, “Descaração familiar”, “Urgência didática” (c/ Marcelo Segreto), “Sobe ni mim”, “Orgasmo terceirizado”, “USP x GV”, “No tempo em que ainda havia moça feia”, “Dedo”, “Arroz, lenda e buquê”, “Por baixo”, “Cadê, mané?”, “Levada: sobe ni mim” e “Um Circo Voador”. No ano seguinte, em 2017, o disco foi incluído na lista de indicados, na categoria “Pop/rock/reggae/hip hop/funk”, ao “28º Prêmio da Música Brasileira”. Além disso, a música “Descaração familiar” também foi incluída na lista de indicadas à melhor canção. Neste mesmo ano juntou-se a Paulo Lepetit e compôs “Queremos as delações”, música com teor político e com o objetivo de cobrar ações imediatas da operação Lava Jato, uma série de investigações contra um esquema de lavagem de dinheiro e propina que movimentou milhões de reais. Poucas semanas mais tarde, lançou no Sound Cloud, aproveitando o momento pré-carnaval, a marchinha “Homologô”, com arranjo de Daniel Maia, na qual seguiu cobrando agilidade nessas mesmas investigações e punições para os políticos envolvidos. Também em 2017, apresentou o show “Canções eróticas de ninar”, na Caixa Cultural, Rio de Janeiro. No espetáculo, o qual fazia parte da turnê que comemorava seus 80 anos de idade, foram executadas músicas do disco mais recente e alguns sucessos do artista, como “Augusta, Angélica e Consolação” e “2001” (c/ Rita Lee). O show contou com o acompanhamento da mesma banda que gravou o disco, formada pelos músicos Cristina Carneiro (teclado e voz), Jarbas Mariz (percussão, bandolim, viola de 12 cordas e voz), Daniel Maia (guitarra e voz), Felipe Alves (instrumentos experimentais berimblanck, buzinório e voz) e Rogério Bastos (bateria), além do próprio Tom Zé nos vocais.
Em 2018, em entrevista à colunista Mônica Bergamo do jornal Folha de São Paulo, declarou, “Tom Zé é um medroso e não fala mais de política”. Na ocasião afirmou que “ficou covarde” após ter sido atacado na internet devido a suas músicas sobre o presidente Michel Temer. Ainda no mesmo ano, realizou show comemorativo de 50 anos do LP “Grande Liquidação” (1968) e apresentou-se no festival “João Rock 2018”, ao lado de Gilberto Gil, Mutantes, Criolo, Planet Hemp, Raimundos, Skank e Pitty, celebrando 50 anos de Tropicália. Foi acompanhado por Jarbas Mariz (viola 12 cordas, bandolim, percussão e vocal), Daniel Maia (guitarra e vocal), Cristina Carneiro (teclado e vocal), Felipe Alves (baixo e vocal) e Fábio Alves (bateria).
Em 2019 o jornalista italiano Pietro Scaramuzzo lançou o livro “Tom Zé, l’ultimo tropicalista”, lançado na Itália, com prefácio de David Byrne. A biografia autorizada reuniu histórias sobre a infância do cantor em Irará (BA), anedotas tropicalistas, depoimentos de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Arto Lindsay, Luiz Tatit, Whashington Olivetto, Zé Miguel Winisk e do biografado.
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
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CAMPOS, Augusto de. No balanço da bossa. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1993.
DUNN, Christopher. Brutality Garden: Tropicália and the Emergence of a Brazilian Counterculture. Chapel Hill: University of North Carolina Press.
FUSCALDO, Chris. Discobiografia Mutante: Álbuns que revolucionaram a música brasileira. Rio de Janeiro: Editora Garota FM Books, 2018. 2ª ed. Idem, 2020.
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