Jornalista. Crítico Musical. Produtor Musical. Pesquisador. Escritor. Compositor.
Nasceu no subúrbio de Cascadura, sendo criado no bairro ao lado, Cavalcanti.
Vascaíno e mangueirense.
Iniciou sua carreira profissional em 1957, como estagiário do jornal Diário da Noite.
Em 1961, começou a atuar como jornalista especializado em música popular, no Jornal do Brasil, tendo sido demitido no ano seguinte por ter participado de uma greve de jornalistas.
Trabalhou como repórter, redator e cronista em quase todos os jornais do Rio de Janeiro, entre os quais Última Hora e O Globo, assim como nas emissoras de televisão da cidade, cobrindo várias Copas do Mundo e escrevendo colunas sobre futebol e a música popular brasileira.
Foi um dos fundadores, em 1966, do atual Teatro Casa Grande, onde atuou como diretor artístico, e um dos fundadores do “Pasquim”, em 1969, com Tarso de Castro e Jaguar, grupo também formado por Ziraldo, Millor Fernandes, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel, Horondino e o fotógrafo Paulo Garcez. No ano seguinte, em 1970, foi preso pela ditadura militar vigente no país, juntamente com os colegas de redação dessa publicação, ficando detido durante dois meses.
Em 1972, foi editor da revista “Realidade”, da Editora Abril, em São Paulo.
Trabalhou como produtor de discos entre 1973 e 1981.
Atuou como Jurado do Estandarte de Ouro do jornal O Globo.
Eleito Vereador em 1982, e reeleito em 1988 e 1992 (pelos partidos PSDB e MDB), atuou na elaboração da Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro e do Plano Diretor da Cidade, além de ter tido vários projetos de sua autoria transformados em Lei.
Em 1993, foi apontado pela Câmara de Vereadores para exercer a função de Conselheiro do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro, onde permaneceu até o ano de 2007.
No ano de 1997 a Escola de Samba Em Cima da Hora lhe prestou homenagem desfilando com o enredo “Sérgio Cabral: A Cara do Rio”
Publicou os seguintes livros: “As Escolas de Samba – o que, quem, onde, como, quando e porquê” (1974), “Pixinguinha, Vida e Obra” (1977), com o qual venceu o concurso de monografias sobre música popular, instituído pela Funarte, “ABC do Sérgio Cabral”, “(1979), “Tom Jobim” (1987), “No Tempo de Almirante” (1991), “No Tempo de Ari Barroso” (1993), “Elisete Cardoso, Vida e Obra” (1994), “As Escolas de Samba do Rio de Janeiro” (1996), “A Música Popular Brasileira na Era do Rádio” (1996), “Pixinguinha Vida e Obra” (1997), “Antônio Carlos Jobim – Uma biografia” (1997), “Livro do Centenário do Clube de Regatas Vasco da Gama” (1998), “Mangueira – Nação Verde e Rosa” (1998), “Nara Leão – Uma biografia” (2001). Em 2001, começou a elaborar a biografia de Waldir Azevedo.
Em 2002, foi o responsável técnico pelo festival “Fábrica do Samba”, realizado no Rio de Janeiro, com semifinalistas escolhidas por universidades e quadras de Escolas de Samba.
Em parceria com Rosa Maria Araújo, assinou a direção geral, pesquisa e roteiro do musical “Sassaricando – E o Rio inventou a marchinha”, com direção musical do violonista Luiz Felipe de Lima O espetáculo foi encenado no Teatro Sesc Ginástico (RJ), em 2007, onde bateu recorde de público, com quase 21 mil espectadores em 40 apresentações, seguindo para o Teatro João Caetano (RJ).
No ano de 2008 estreou o documentário “Sérgio Cabral – A Cara do Rio”, longa-metragem sobre a sua carreira.
No ano de 2007 doou para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro seu acervo pessoal, composto de sua biblioteca, mais de mil discos (vinis e 78 rpm), material de jornais e revistas acumulados durante quase 50 anos, fotos, e ainda suas crônicas sobre música popular brasileira publicadas em vários jornais do país, em um acervo com mais de 61 mil itens.
Faleceu aos 87 anos em decorrência de uma pneumonia, sendo o corpo velado na Sede Náutica do Vasco, na Lagoa, bairro do Rio de Janeiro.
No ano de 1973, Maria Creuza gravou, de sua autoria, “Janelas azuis”, primeira composição feita em parceria com o maestro, arranjador e multi-instrumentista Rildo Hora, e “Para falar a verdade”, também da dupla. No ano seguinte, em 1974, a gravadora RCA lançou um compacto simples com Rildo Hora interpretando, em um dos lados, outra parceria da dupla, desta vez “Patrícia”, em homenagem a filha de Rildo Hora.
Em 1973 Martino da Vila gravou “Visgo de jaca”, parceria com Rildo Hora.
No ano de 1975 o cantor Ataulpho Alves Júnior gravou um de seus maiores sucessos, “Os meninos da Mangueira”, parceria com Rildo Hora; o grupo Tamba Trio regravou “Visgo de jaca”, e Martinho da Vila gravou “Andando de banda” (c/ Rildo Hora). No ano seguinte, em 1976, Ataulpho Alves Júnior gravou “Pedro sonhador” (c/ Rildo Hora) e Eliana Pittman, no LP “Pra sempre”, pela RCA Victor, interpretou “Quincas Berro D’Água”, composição em parceria com Rildo Hora.
Duas composições suas, “Compositor” e “Prezado amigo”, ambas em parceria com Rildo Hora, foram gravadas por Elza Soares, em 1977. Mais tarde, Emílio Santiago regravaria “Compositor” e Elizeth Cardoso interpretaria “Prezado amigo”. Neste mesmo ano, de 1977, sua composição “Feira livre” (c/ Rildo Hora), foi incluída como tema da novela “Dona Xepa”, da Rede Globo, interpretada por Ataulpho Alves Júnior, que da mesma dupla gravou “A bela da tarde”, regravada também por Altemar Dutra. Ainda neste ano, compôs com Rildo Hora “Banda de Ipanema”, gravada por Ataulpho Alves Júnior. Outra composição da dupla, “Parece que foi ontem”, foi incluída no disco de Nélson Gonçalves naquele ano. Maria Creuza interpretou “Espraiado” (c/ Rildo Hora), em 1978. Neste mesmo ano, de 1978, Lena Rios interpretou “O artista do povo” (c/ Rildo Hora). No ano posterior, em 1979, Ataulpho Alves Júnior gravou “Velha-Guarda da Portela”, composta com Rildo Hora.
No ano de 1980 foi lançado o LP “Rildo Hora e Sérgio Cabral”, no qual Rildo Hora interpretou “Arraia-miúda”, “Banda de Ipanema”, “Amigavelmente” e um dos grandes sucessos da dupla, “Os meninos da Mangueira”. O disco contou ainda com as participações especiais de Martinho da Vila e Jane Duboc na faixa “Rancheira do boia-fria” (Para três vozes).
No ano de 1982 sua composição “Prezado amigo” (c/ Rildo Hora) foi incluída no LP “Outra vez” de Elizete Cardoso, lançado pela gravadora Som Livre.
Em 1989 a cantora Paula interpretou no disco do Bloco Carnavalesco Simpatia é Quase Amor a música “De pai pra filho desde 1926” (c/ Rildo Hora).
No ano de 2003 Rildo Hora lançou na Sala Cecília Meirelles, em parceria com a pianista Maria Teresa Madeira, o CD “Ano novo” (Rob Digital), disco no qual interpretou “Modinha” e “Espraiado”, ambas parcerias com Rildo Hora.
Em 2015 Rildo Hora com a filha, Patrícia Hora, lançou o CD “Eu e minha filha”, no qual regravou “Visgo de Jaca” e “Os meninos da Mangueira”.
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. A Letra & a Poesia na MPB: Semelhanças & Diferenças. Rio de Janeiro: EAS Editora, 2019.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.
COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.
A SIMPATIA DE SÉRGIO CABRAL
No momento em que nós, veteranos no meio musical, lamentamos o desaparecimento de Sérgio Cabral, me recordo de repente de um telefonema de Vinicius de Moraes, logo depois da reunião do à época célebre Conselho Superior de MPB do Museu da Imagem e do Som –
“Ricardinho, minha flor cravínea (assim o poeta me chamava quando em estado de grande alegria ou exaltação), você acertou em cheio em pedir ao Sérgio Cabral para convencer o Almirante (Henrique Foréis) em não ir procurar na tevê Tupi o Flávio Cavalcanti para tomar satisfação sobre as eventuais rusgas que, segundo Flávio, o Almirante teria mantido com Noel Rosa a propósito da Vila Isabel.
O Almirante chegou até à porta da Tupi na Urca, deu meia volta e já está em casa. Aliás muito calmo.”
De fato, o Cabral foi o rei da simpatia, e podia fazer inimigos se abraçarem em segundos.
Sérgio Cabral, além do boa-praça que sempre foi, exibia uma simpatia exuberante.
Ficamos muito amigos logo que cheguei ao Museu da Imagem e do Som para implantar nele os depoimentos para a posterioridade. Ao ouvir de mim que abriria o MIS inicialmente para os velhinhos que foram os pioneiros do samba, como os negros João da Baiana, Donga, Pixinguinha, à época, quase esquecidos pela avalanche da Bossa Nova, Sérgio exclamou
“Tô dentro, só me chamar que estarei aqui”
Dali pra frente Sérgio Cabral sempre esteve presente ao meu lado no MIS, inclusive, nos acalorados debates para as cobiçadíssimas premiações anuais “Golfinho de Ouro” e “Estácio de Sá”, entregues solenemente pelo governador na Sala Cecilia Meirelles.
Como esquecer do momento que Sérgio me puxou para um canto, ao final de show concorrido no Canecão e me confidenciou, em meia voz, – “Agora o único Sérgio que existe é o Serginho. Peço a você, velho amigo, o voto para ele, mas também diga à nossa turma que poupe meu filho dos pedidos intermináveis. Serginho está na flor da idade e não posso deixá-lo se afogar no mar de solicitação de empregos e de favores que se acumulam a cada dia mais e mais. – “Conte comigo, mas se prepare que ter um Sérgio Cabral como pai de um Sergio Cabral como governador, não será mole. A avalanche de pedidos deverá lhe tirar o sono.”
– “Não dormirei, mas o Sérgio governador sonhará com os anjos.”
– “Amém, amém. Assim seja” encerrei a entrevista, piscando o olho para o velho amigo.
Ao gravar neste domingo entrevista sobre ele para o “Fantástico”, da TV Globo, lembrei-me de evocar uma originalidade do Sérgio. Ele foi pioneiro como entrevistador para os depoimentos para a posteridade no Museu da Imagem e do Som, que lançaria o MIS para o Rio e para o Brasil em 1967/68. Convidei-o para entrevistar o núcleo dos fundadores do Samba, aos quais me referi logo acima, João da Baiana, Donga, Pixinguinha, todos negros e esquecidos. Sérgio ficou entusiasmadíssimo e era o primeiro a chegar ao MIS. E arranjava com seu imbatível humor um jeitinho de prolongar cada depoimento por mais incontáveis minutos – com o meu assentimento, agradecido e encantado.
– “Vou pedir aqui ao Diretor do MIS espaço para perguntar aos pioneiros do samba sobre seus times de futebol e seus pratos preferidos”
Respondi-lhe de pronto: “Sua sugestão passa a ser uma encomenda agora minha”…
Ricardo Cravo Albin
15 de julho de 2024