Cantor.
Nascido e criado no Rio de Janeiro. Embora de discreta atuação, sempre foi considerado um cantor correto. E, por isso, muito requisitado pelos compositores. A tal ponto, que registrou em 1956 o histórico LP original “Orfeu da Conceição”, com músicas iniciais de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Fez carreira primeiramente como cantor romântico, mas também fez sucesso interpretando sambas e marchinhas de carnaval. Começou a carreira artística quando ainda era estudante do ginásio, no Colégio Pedro II, depois de vencer um programa de calouros da Rádio Clube Fluminense, de Niterói (RJ), onde interpretou a valsa “A você”, de Francisco Alves. Por intermédio de Cyro Monteiro, passou a apresentar-se no programa “Picolino”, de Barbosa Júnior, na Rádio Mayrink Veiga, onde conheceu o pianista Nonô e o violonista Laurindo de Almeida, que acabou levando-o para a Odeon.
Em 1938, gravou seu primeiro disco com o samba “Último samba”, de Laurindo de Almeida, e a valsa “Jardim das flores”, de Nonô e Francisco Matoso, com acompanhamento da Orquestra Odeon. Em dezembro do mesmo ano, gravou para o carnaval do ano seguinte o samba “Foi um falso amor”, de Valdemar de Abreu, o Dunga, e a marcha “Palhaços azuis, de Vicente Paiva, com acompanhamento do Grupo Odeon. Em 1939, gravou da dupla J. Cascata e Leonel Azevedo a valsa “Ao cair da noite” e o samba “Longe, muito longe”. No mesmo ano gravou duas composições do maestro russo Georges Moran: a valsa “Sim…és…tu” e o fox-blue “Apaixonei-me outra vez”, esta uma parceria com Osvaldo Santiago. Ainda no mesmo período foi o primeiro a gravar um samba de Geraldo Pereira, “Se você sair chorando”, parceria com Nelson Teixeira. Em 1940, gravou a marcha-rancho “Céu do Brasil”, de Pixinguinha e Gomes Filho, o samba “Amor de falsidade”, de Nelson Teixeira, a valsa “Se recordar é viver”, de Gastão Bueno Lobo e Laurindo de Almeida e o fox-canção “Minha vida triste”, de Valemar de Abreu e Dias da Cruz.
Em 1941, transferiu-se para a Victor onde estreou com a marcha “Cheque ao portador”, de Ataulfo Alves e J. da Silva Barcelos, e o samba “O trem atrasou”, de Estanilau Silva, Artur Vilarinho e Paquito, seu primeiro grande sucesso e com o qual se tornou o grande vencedor daquele carnaval. No mesmo ano, transferiu-se para a Rádio Educadora e lançou mais um samba de Geraldo Pereira, “Lembras-te daquela zinha?”, com Augusto Garcez. Em 1942, lançou os sambas “Tenha santa paciência”, de Geraldo Pereira e Augusto Garcez, e “É natural”, de Augusto Garcez e Estanislau Silva, “Rosalina mudou”, de Grande Otelo e Darci de Oliveira, e as valsas “Frases decoradas”, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz e “Cigarra”, de Leonel Azevedo. Em 1943, gravou a valsa “Para mim… Para você”, de Newton Teixeira e David Nasser, e os sambas “Já tenho outra”, de Geraldo Pereira e Ari Monteiro, e “Podes crer” e “Tudo eu fiz”, da dupla Ari Monteiro e Jorge de Castro. Esses dois últimos sambas, ele revelaria mais tarde, eram na verdade de Nelson Cavaquinho que os havia vendido para a dupla que os assninou como autores. Em 1944, gravou os sambas “Louca” , de Ari Monteiro e Paulo Pinheiro, e “A tristeza”, de Herivelto Martins e Heitor dos Prazeres. No mesmo ano gravou com o trio vocal As Três Marias a “Valsa dos noivos”, de Roberto Martins e Mário Rossi.
Em 1945, transferiu-se para a Continental e estreou com o fox-trot “Num galho de acácias”, de Silesu e J. Carlos, e a valsa “Minas Gerais”, de Cottrau e Paulo Roberto. No mesmo ano, lançou a valsa “Volta ao paraíso”, de Ari Monteiro e Arnaldo Passos, e os sambas “Nossa história”, de Ciro de Souza, “Leva meu coração”, de Roberto Martins e Mário Lago, e “Elza”, de Roberto Martins e Wilson Batista, e com o Trio Melodia gravou o samba “Pregões cariocas”, de João de Barro. No ano seguinte, gravou o samba “Abandono”, de Roberto Martins e Orestes Barbosa, e o fox-trot “Subindo ao céu”, de Mário Rossi e Roberto Martins. No mesmo ano, gravou os sambas “Volta meu amor” e “Obrigado amigo”, da dupla Roberto Martins e Ari Monteiro. Passou o ano de 1946 sem fazer gravações e no ano seguinte, gravou os sambas “A orquestra está mudada” e “Vingança”, da dupla Roberto Martins e Alberto Ribeiro. Em 1948, gravou com acompanhamento de José Maria e sua orquestra o tango “Escreve-me”, de Raimondi, Frati e Ghiaroni, e o fox-trot “Sorriso de cristal”, deL. Ray e Cooke, com versão de Alberto Ribeiro. Em 1949, depois de deixar a Rádio Educadora, excursionou durante um ano pelo Brasil exibindo-se em cidades como Belém, no Pará e Curitiba, no Paraná. Quando voltou ao Rio de Janeiro, assinou contrato com a Rádio Guanabara.
Em 1950, gravou na Continental os sambas “Há quanto tempo”, de Arnaldo Passos, e “Subúrbio”, de Roberto Faissal. No mesmo ano, passou a gravar na Todamérica, gravadora na qual estreou com dois fox- trot: “É meu destino amar”, de J. Mc Hugh e D. Fields, e “O terceiro homem”, e A . Karas e W. Lord, com versões de Osvaldo Santiago. Em 1951, transferiu-se para a Rádio Tupi. No mesmo ano foi para uma nova gravadora: a Sinter e em seu primeiro disco no novo selo gravou os sambas-canção “Três apitos” e “Quando o samba acabou”, de Noel Rosa. No ano seguinte, gravou os sambas “O Catete vai passar”, de Ataulfo Alves, “Nâo quero você”, de Arnaldo Passos e Geraldo Pereira, e “Passou”, de Wilson Batista e Magno de Oliveira, e o baião “Tudo sobe minha gente”, de Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti. Em 1953, gravou para o carnaval a “Marcha do conselho”, de Paquito e Romeu Gentil, e a “Marcha do gato”, de Roberto Martins e Arnado Passos, e os sambas “Não importa”, de Raul Marques e Garcez, e “Maria Dolores”, também de Roberto Martins e Arnaldo Passos. No mesmo ano, lançou a primeira composição de Luiz Vieira, a toada “Menino de Braçanã”. Em 1954, em seu último disco pela Sinter gravou os sambas “Bastião”, de Wilson Batista e Brazinha, e “Mangueira de bambas”, de Geraldo Queiroz e Nelson Cavaquinho.
No mesmo ano, foi contratado pela Odeon e lançou a toada “Valei-me Nossa Senhora”, de Paquito e Romeu Gentil, e o samba “Réu confesso”, de Ataulfo Alves. Ainda neste ano, gravou a toada “Os olhinhos do menino”, de Luiz Vieira. No ano seguinte, lançou outra composição de Luiz Vieira, a toada “Vá com Deus”. Em 1956, gravou o samba “A saudade venceu”, de Oldemar Magalhães e Horácio Felisberto, as marchas “Deixe de chiquê”, de Silva Jr. E Hélio Nascimento, e “É ou não é”, de Adelino Moreira, e a batuca “A jurupoca piou”, de Ari Cordovil, Pereira Matos e Arnô Canegal. Em fins de 1956, gravou o elepê da peça “Orfeu da Conceição”, interpretando as primeiras parcerias de Tom Jobim e Vinícius de Morais, entre elas, a primeira gravação de “Se todos fossem iguais a você”, relançada depois por vários intérpretes. Ainda no mesmo ano, gravou junto com Francisco Egídio o elepê “Polêmica” com as músicas que Noel Rosa e Wilson Batista fizeram por conta do célebre desafio musical iniciado (despropositadamente) por Noel Rosa, com o samba “Rapaz folgado”, em resposta ao samba de Wilson Batista, “Lenço no pescoço”, que fazia um elogio à malandragem. Nesse LP, gravou os sambas “Lenço no pescoço”, “Mocinho de Vila”, “Frankenstein”, “Conversa fiada” e “Terra de cego”, todas de Wilson Batista. Em 1957, lançou os sambas “Lamento no morro”, de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Morais, e “Alguém que não vem”, de Luiz Vieira e Arcelino Tavares. No ano seguinte gravou os sambas “Volúpia”, de Antônio Almeida e Geraldo Queiroz, e “Maria da Graça”, de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, e a marcha “Resposta da fanzoca”, de Miguel Lima e Gil Lima. Em 1959, gravou o bolero “Tua”, de Malgoni e Pallesi, com versão de Lourival Faissal. Em 1962, gravou um único disco para a Mocambo com os sambas “Deixa de sofrer”, Nelson Cavaquinho, Pedro Martins e Renato Araújo, e “Deixa ela rolar”, de Nelson Cavaquinho, Pedro Martins e Valter Silva.
Segundo a crítica, seu grande equívoco foi o de recusar-se a gravar o samba “Falsa baiana”, maior sucesso da carreira de Geraldo Pereira, gravado em 1944, por Cyro Monteiro. Em “A canção no tempo”, de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, há uma declaração do próprio cantor: “Era de madrugada e o Geraldo, meio alto, cantou enrolando as palavras, dando a impressão de que o samba estava quebrado. Um mês depois, ao ouvi-lo na voz de Cyro, descobri que aquela beleza toda era o samba que o Geraldo me oferecera”.
Em 1974, voltou a gravar sambas da polêmica Wilson Batista x Noel Rosa, dentro da série “Temas e figuras da Música Popular Brasileira”, desta vez cantando com Jorge Veiga. Nesta nova versão da polêmica interpretou os sambas “Rapaz folgado”, “Palpite infeliz”, “Feitiço da Vila”, “João Ninguém” e “Eu vou pra Vila”, todos de Noel Rosa. Em 1987, convidado por Ricardo Cravo Albin para estrelar o espetáculo “O cordão dos puxa-sacos”, baseado na obra de Roberto Martins, show que ele chegou a ensaiar durante algumas semanas e que seria levado na série carnavalesca, da Sala Sidney Miller da Funarte, mas não estreou por conta de um súbito problema de saúde. No espetáculo, de que participavam o próprio compositor homenageado e a cantora Marília Barbosa, foi substituído às pressas pelo cantor Chamon. Em 2000, foi lançado o CD “A Música Brasileira deste século por seus autores e intérpretes” com um resumo de sua obra. Em 2001, apresentou-se em baile popular durante o carnaval na Cinelândia no centro do Rio de Janeiro. Vivendo no bairro carioca da Tijuca com a mulher, continuou a fazer shows esporádisocos, entre os quais o baile carnavalesco da Cinelândia. Foi responsável pelo lançamento das primeiras composições de Geraldo Pereira, Nelson Cavaquinho, Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Em 2011, aos 90 anos de idade, completados em 8 de fevereiro, apresentou-se no popular baile carnavalesco da Cinelândia. No mesmo período foi tema de reportagem do jornal O Globo ressaltando sua importância para a História da música popular brasileira. Ao final do texto, o jornalista João Máximo afirma: “Há, no mínimo, uma ironia na história: o cantor de rádio formado pela escola das grandes vozes (Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas) foi o divisor de águas entre um modo e outro de cantar Música Popular Brasileira. Ou seja, foi o primeiroa gravar a dupla Tom e Vinícius, que dois anos depois serviria de ponto de partida para a voz e o violão de João Gilberto criarem a bossa nova.”
(Com Jorge Veiga)
(c/orquestra da Odeon)
(Com Francisco Egídeo)
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.