
Compositor.
Filho de Francisco José Martins e Isaura Machado Martins. Sua mãe era pianista. Com um ano de idade ficou órfão de pai. Estudou na Escola Pública Teófilo Otoni. Com doze anos de idade começou a trabalhar em uma fábrica de manteiga no bairro da Tijuca. Foi empalhador da Fábrica Ortiz, em São Cristóvão, de onde saiu oficial com 15 anos. Já nessa época, começou a compor suas primeiras músicas. Trabalhou depois no comércio de calçado, atividade em que permaneceu até os 20 anos de idade. Trabalhou como balconista da Casa Azamor na Rua da Carioca e posteriormente na Casa Pereira Bastos, na Rua do Ouvidor. Em 1929, entrou para a Polícia como guarda-civil. Viúvo de seu primeiro casamento em 1931, casou-se novamente em 1940, e, após separação, realizou um terceiro casamento do qual nasceram três filhos, Yole Grillo (sobrenome de casada), Elizabeth Martins, e Jorge Roberto, que seria pianista amador, jornalista e ex-presidente do MIS do Rio de Janeiro. Em 1937, foi transferido para o 5º Distrito como investigador, lá permanecendo até 1939, quando conseguiu licença de dois anos, não mais voltando à Polícia. Desde então, passou a dedicar-se exclusivamente à música.
Compondo sempre com muito sucesso, a partir de fins da década de 1940, dedicou-se com mais intensidade a seu trabalho na UBC (União Brasileira de Compositores), da qual foi sócio fundador. Foi eleito inspetor (1948), tesoureiro (de 1950 a 1954), administrador (de 1954 a 1958) e finalmente, inspetor-geral, sendo responsável por toda a cobrança no então Estado da Guanabara.
Em 1929, compôs seu primeiro samba “Justiça”, que, embora não tivesse chegado a ser gravado, teve sua letra publicada no livro “Samba”, de Orestes Barbosa. Em 1932, teve suas primeiras composições gravadas, os sambas “Renegado” e “Segredo”, parcerias com Jardel Marques, pelo cantor Leonel Faria na Odeon. No mesmo ano, compôs com Benedito Lacerda a marcha “Geni” e o samba “Roubaram minha nêga”, gravadas também por Leonel Faria. Em 1935, Francisco Alves gravou na Victor seu samba “Não deixo saudade”, parceria com Manoel Ferreira e Mário Reis, também na Victor o samba “Amei demais”, parceria com Valfrido Silva. No mesmo ano, Aracy de Almeida gravou as marchas “Tic-tac”, parceria com Valdemar Silva e “Chave de ouro”, com Alcebíades Barcelos; Floriano Belham o samba canção “Morena que dorme na rede”, parceria com Valfrido Silva e Carlos Galhardo o samba “Rei vagabundo”, parceria com Ataulfo Alves. Também no mesmo ano, enveredou pelo tango, gênero raro em suas composições com “Y si algun dia”, parceria com Valentina Biosca e gravado por Paraguayta. Em 1936, fez com Jorge Faraj a valsa “Apenas tu”, gravada por Carlor Galhardo. No mesmo ano, teve o samba canção “Menos eu”, um dos sucessos do ano, gravado por Sílvio Caldas e o samba “Não fiz nada”, com Zé Pretinho, gravado por Jaime Vogeler, na Odeon. Também no mesmo ano, Francisco Alves gravou as marchas “Uma porta e uma janela”, parceria com Nássara e “Favela”, parceria com Valdemar Silva, um de seus maiores sucessos, que se tornou um dos grandes clássicos da música popular brasileira e que foi regravada por Carlos Galhardo, Sílvio Caldas, Ataulfo Alves, Maysa e as orquestras de Severino Araújo e Zacarias. Ainda nesse ano, o Bando da Lua gravou a marcha “Menina que pinta o sete”, com Ataulfo Alves, na Victor . No ano seguinte, teve o samba “Cadê o pandeiro?”, parceria com Walfrido Silva gravado por Castro Barbosa e “O que é teu está guardado”, também um samba, parceria com Nássara, gravado por Sílvio Caldas. Também em 1937, teve gravados o samba “Canjiquinha quente”, por Carmen Miranda, a valsa “Aliança partida”, com Benedito Lacerda, por Orlando Silva e o samba canção “Nunca mais”, parceria com Jorge Faraj, por Sílvio Caldas. Do mesmo ano, são as gravações de Francisco Alves para os sambas “Ando sofrendo”, parceria com Alcebíades Barcelos e “Foi você”, com Ataulfo Alves.
Em 1938, fez com J. Cascata a marcha “No fim do nosso amor” gravada por Carmen Barbosa. No mesmo ano, Nuno Roland gravou na Odeon a marcha “Sem Iaiá não vou”, parceria com Nássara e o samba “Bem boa!”, parceria com Jorge Faraj e Carlos Galhardo, na Victor, o samba “Não dou meu braço a torcer” e a marcha”Segura o vestido”, parcerias com Benedito Lacerda. Em 1939, fez com Màrio Lago o samba “Que tem você?” gravado por Francisco Alves; com Jorge Faraj o choro “Moleque teimoso”, gravado por Dircinha Batista e com J. Cascata o samba “Foi num sonho”, gravado por J. B. de Carvalho, todos na Odeon. No mesmo ano, Jararaca gravou a marcha “Eu botei na minha porta” e o samba “Eu vou quebrar o coco”, parcerias dos dois. Também no mesmo ano, Almirante gravou a marcha “Dona Doroteia”, parceria com Osvaldo Santiago e Aracy de Almeida o samba “Goodbye amor”, parceria com Oscar Lavado. No mesmo período, com Mário Lago compôs o fox “Dá-me tuas mãos”, outra obra-prima gravada por Orlando Silva e logo depois regravada por Laurindo Rabelo e Garoto. Para o carnaval de 1940, fez a batucada “Cai-cai”, gravada pela dupla Joel e Gaúcho na Columbia e executada em nada menos de 10 filmes estrangeiros, embora no concurso da prefeitura tivesse obtido apenas um modesto terceiro lugar. Curiosamente, foi com os direitos de “Cai-cai” que comprou a casa em que residiu na Ilha do Governador. Também em 1940, Gilberto Alves gravou os sambas “Graças a eus”, parceria com Osvaldo Santiago, “Eu quero você”, com Cristóvão de Alencar e “Melodia do amor”, com Mário Rossi e a marcha “Madame Satã”, com Sátiro de Melo. No mesmo ano, Edmundo Silva e Marília Batista gravaram a batucada “Vai andar”, parceria com Mário Rossi. Em 1941, teve duas de suas parcerias com Osvaldo Santiago gravadas por Roberto Paiva na Victor: a marcha “Lanterna de Diógenes” e a batucada “Devagar com a louça”. No mesmo ano, destacou-se com a marcha “Cowboy do amor”, parceria com Wilson Batista, gravada pelo Anjos do Inferno na Columbia. Ainda no mesmo período, a vedete Rosina Pagã gravou o choro “Tabuleiro de ilusão” e Isaura Garcia o samba “Eu não sou pano de prato”, parcerias com Mário Lago, ambas na Columbia.
Em 1942, teve lançada por Carlos Galhardo a batucada “Virou…virou…”, gravada na Victor no fim do ano anterior. Também em 1942, foi sucesso a marcha “Nós, os cabeleiras”, parceria com Benedito Lacerda, réplica ao famoso “Nós, os carecas”, gravada por Castro Barbosa na Columbia. Neste mesmo ano, fez sucesso com o fox “Renúncia”, parceria com Mário Rossi , primeiro grande êxito da carreira de Nélson Gonçalves, gravado pelo cantor com um acompanhamento de músicos de primeiro time como Luís Americano (sax), Carolina Cardoso de Menezes (piano) , Garoto (violão tenor), Faria (contrabaixo) e Duca (bateria). Ainda no mesmo ano, Dircinha Batista gravou para o carnaval a “Marchinha do pintor”, parceria com Nássara. Em 1943, fez com Augusto Garcez a batucada “O bigode do rapaz”; com Mário Rossi e Roberto Roberti a marcha “Roberta” e com Wilson Batista o samba “Fala baiano”, gravadas pelos Anjos do Inferno na Columbia. No mesmo ano, fez com Mário Rossi o fox-canção “Madrigal”, a marcha “Cecília” e o samba “Ana Maria”, gravados por Gilberto Alves na Odeon. Em 1944, teve mais duas das parcerias com Mário Rossi gravadas por Gilberto Alves: a valsa “Esperarei por você” e o samba “Casadinho com você”. No mesmo ano, obteve dois e seus maiores sucessos, a batucada “Cai, cai” e o samba “Beija-me” gravada pelo grupo vocal As Três Marias. Também no mesmo ano, a vedete Elvira Pagã gravou duas marchas de sua parceria com Herivelto Martins, “Cabelo azul” e “Briga de peru”. No ano seguinte, Aracy de Almeida gravou seu samba “Não sou Manoel”, parceria com Wilson Batista; Nelson Gonçalves a valsa “Falsos poemas”, parceria com Mário Rossi e o fox “Tudo em vão”, com David Nasser e Carlos Galhardo a valsa “Bodas de prata”, com Mário Rossi, que ficaria muito famosa. Também no mesmo ano, compôs com Eratóstenes Frazão um dos maiores clássicos do repertório carnavalesco, a marcha “Cordão dos puxa-sacos” gravada pelos Anjos do Inferno.
Em 1946, Orlando Silva lançou o samba “Se eu fosse milionário”, parceria com Eratóstenes Frazão e o fox-canção “Não me deixe sozinho”, com Ari Monteiro. No mesmo ano, mais duas de suas parcerias com Ari Monteiro foram gravadas por Carlos Galhardo: a marcha “Até Moscou” e o samba “Dia de festa”. Também no mesmo ano, Manezinho Araújo gravou a marcha “Sou do norte”, parceria com José Batista. Em 1947, Carlos Galhardo gravou o samba canção “Pecado original” e o samba “Dentro da lua”, parcerias com Ari Monteiro; Bob Nelson e seus Rancheiros a marcha “Alô beleza” e Albertinho Fortuna, o samba “Velho amor”, as duas últimas com Eratóstenes Frazão. Em 1949, mais duas parcerias com Ari Monteiro foram gravadas por Carlos Galhardo: a marcha “Canta vagabundo” e o samba “Neste mundo e no outro”. No mesmo ano, Gilberto Alves gravou o samba “Cabrocha” e a valsa “Dolores”, parcerias com Ari Monteiro e Sílvio Caldas o samba “Chora que passa”, com Eratóstenes Frazão. Também em 1949, obteve seu último grande sucesso, a marcha “Pedreiro Valdemar”, uma parceria com Wilson Batista e que sempre foi considerada um música de fundo social (“Vocês conhecem o pedreiro Waldemar/Não conhecem, pois eu vou apresentar/De manhã cedo toma o trem circular/Faz tanta casa e não tem casa pra morar”), gravada por Blecaute na Continental. Em 1950, Carlos Galhardo gravou a marcha “Turé-turé” e o samba “Tua carta”, também parcerias com Ari Monteiro. Com o mesmo parceiro fez a marcha “A dança do Ki-fa-fa” e os sambas “Juro por Deus” e “Festa de São Jorge” gravados por Gilberto Alves no mesmo ano. Ainda no mesmo ano, fez sucesso com o samba “Obrigado doutor”, parceria com Nássara gravado por Sílvio Caldas e orquestra Tabajara de Severiano Araújo.
Em 1951, teve o samba-canção “Menos eu”, parceria com Jorge Faraj gravado por Sílvio Caldas na Odeon. No mesmo, foram gravados na RCA Victor, o samba “Meu fracasso é sonhar”, parceria com Alberto rego, por Gilberto Alves e a “Marcha do cabrito”, com Ari Monteiro e o samba “Olhos vermelhos”, com Wilson Batista, pelos Anjos do Inferno. Também no mesmo ano, teve gravado por Carmélia Alves, a rainha do Baião, o samba “Se você não me levar”, parceria com Mário Lago. No ano seguinte, teve o choro “Guanabara” gravado por Garoto ao bandolim e ao violão tenor e o samba canção “Vergonha”, parceria com Jair Amorim, lançado por Carlos Galhardo. Também no mesmo ano, Gilberto Milfont gravou o fox “Carícia” e o bolero “Só”, parcerias com Ari Monteiro. Em 1953, teve duas composições gravadas por Nelson Gonçalves, o fox “Só vejo você”, parceria com Wilson Batista e o samba “Louquinho pra casar”, com Nóbrega de Macedo. No mesmo ano, Claudionor Cruz gravou com seu conjunto o baião “Dengozinho”, parceria dos dois. Em 1955, teve mais duas parcerias com Ari Monteiro gravadas por Carlos galhardo: a marcha “Tralá-lá” e o samba “Duas mulheres”. Em 1958, fez com Jair Amorim o samba “A pedida é samba” gravado por Sandra Helena na RCA Victor. Em 1959, Lúcio Alves gravou “Beija-me”, com Mário Rossi no LP “Lúcio Alves, sua voz íntima, sua bossa nova, interpretando sambas em 3-D”, da Odeon.
Em 1960, duas composições suas foram gravadas por Gilberto Alves no LP “Ontem e hoje” da gravadora Copacabana: “Adeus” e “Madrigal”, parcerias com Mário Rossi. No mesmo ano, Elza Soares regravou o samba “Beija-me”. Em 1963, sua valsa “Último beijo”, parceria com Jorge Faraj foi gravada por Gilberto Alves no LP “Gilbertom Alves de sempre nº 2” da gravadora Copacabana. Em 1968, seu samba “Favela”, com Waldemar Silva, foi gravado por Raul de Barros e Conjunto Brazian Serenaders no LP “Na mini onda – Brazilian Serenaders”, da Big/Rioson. Em 1988, foi homenageado na série carnavalesca da Funarte com o show “O cordão dos puxa-sacos”, criado e dirigido por Ricardo Cravo Albin, no qual o compositor apareceu narrando sua vida e falando de sua obra, cantada na ocasião pela dupla Marília Barbosa e Chamon, que substituiria o cantor Roberto Paiva na véspera da estréia. Em 2001, Moacyr Luz gravou “Leva meu coração”, parceria com Mário Lago. Entre seus principais intérpretes estão Francisco Alves, Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves, Anjos do Inferno e Orlando Silva. Foi enterrado num domingo de verão no Cemitério do Caju, cercado por poucos amigos e merecendo modesto obituário na imprensa carioca. Em 2009, foi homenageada pela Academia Brasileira de Letras no projeto “MPB na ABL” apresentado no Teatro R. Magalhães Jr., daquela entidade, com o show “Roberto Martins dos sonhos de amor e do samba canção” apresentado por Cristina Buarque e grupo Samba de Fato. Ainda em 2009, por conta do centenário do seu nascimento homenageado no auditório da ABI, Associação Brasileira de Imprensa, em evento no qual suas músicas foram relembradas.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.
VASCONCELLO, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira – volume 2. Rio de Janeiro: Martins, 1965.
Dos compositores populares de assegurada e indiscutível qualidade, Roberto Martins vem sendo o menos exposto à lembrança pública.
Em show que escrevi e dirigi para ele, em janeiro de 1989, o nosso antigo guarda de vigilância, inseparável companheiro de juventude de Ataulfo e Galhardo, comemorou seus oitenta anos. Tinha perdido, sim, parte da abundante cabeleira que o projetava – ao lado de Custódio Mesquita – ao Olimpo das escassas beldades de seu tempo boêmio. Mas certamente manteve Roberto a refinada categoria de compositor, juntando o elegante arquiteto de melodias ao implacável cronista do povo.
Aliás, a persistência de Roberto pelo registro dos clamores populares o levou muitas vezes a entreveros com a burrice da censura. Não fosse o poeta, aliás, a consciência do povo, a apontar as injustiças a que o Pedreiro Waldemar foi submetido através dos tempos, ontem e hoje.
Por tudo isso, quero deixar claro o meu orgulho em – levantando sua vastíssima obra – ter escrito um show, que serviu de pioneiro registro – homenagem para o “song book” de Roberto Martins. Ali foi, na antiga Sala Funarte Sidney Miller, a derradeira vez que ele se apresentou em público.
Ricardo Cravo Albin