Compositor, poeta e produtor musical.
Nasceu na maternidade da Vila Carrão, Zona Leste de São Paulo.
Seu primeiro contato musical foi com a instrumentação percussiva nas arquibancadas dos estádios de futebol e nos campos de várzea/bairro, no final da década de 1980, marcando A sua adolescência.
A iniciação se deu como ritmista em 1990, desfilando na bateria da escola de samba Gaviões da Fiel. As experiências como compositor surgiram nos anos seguintes, chegando na semifinal em sua primeira e única participação numa disputa de samba-enredo.
Em 1997 começou a visitar rodas e encontros de pesquisa relacionados ao samba e suas origens, até 2006.
Participou da fundação do Terreiro Grande, agrupamento que gravou dois discos ao lado da cantora Cristina Buarque – com uma indicação ao “Prêmio da Música”, em 2007.
No ano de 2013 transferiu-se de São Paulo para o Rio de Janeiro.
Sobre Roberto Didio declarou o poeta Paulo César Pinheiro em entrevista ao jornalista Bruno Ribeiro, da Revista Ópera, publicação digital de 24 de maio de 2020:
“Didio faz parte de uma raça quase extinta. O que se faz em versos hoje no Brasil está muito abaixo do que fazíamos antes, mas ele acompanha o nível dos grandes letristas — o que também o torna um cara bastante solitário, que não tem com quem discutir. No Brasil, a canção tem um peso grande. Eu sou um escritor e Didio é também. Para além da letra de música, quero que ele entre na literatura de poesia.”
Segundo o cantor Renato Braz:
“Ele transita entre gêneros com muita naturalidade. É admirável como mantém a sua marca própria com todos os parceiros. Eu o comparo ao Volpi, pintor que adoro. Volpi podia vender ou não seus quadros que continuaria fazendo a mesma coisa. Didio é igual: faz por necessidade”, declara. E emenda: “Quando o conheci me vi diante de um grande. É um privilégio ver de perto o nascimento de um letrista do porte dele na minha geração. Não é sempre que isso acontece.”
O poeta-letrista sintetiza a sua obra desta forma:
“Minha poesia conversa em meninez, tem grito de alambrado e mora entre contradições e despedidas.”
Em 2007, a cantora paulista Anabela gravou o CD “Cidade das Noites” ao lado de Edu de Maria, Renato Martins e Roberto Didio. Produção coletiva dos quatro artistas. O letrista assinou todas as composições do disco, parcerias com Renato Martins e Edu de Maria.
O cantor carioca Gabriel Cavalcante lançou em 2010 o CD “O Que Vai Ficar Pelo Salão”, incluindo “Quando o samba veio me buscar”, sua parceria com Moacyr Luz. Dois anos depois, em 2012, a cantora Anabela lançou o disco “Pé de Vento”, gravando 11 músicas de sua autoria, parcerias com Edu de Maria, Délcio Carvalho, Renato Martins e Moacyr Luz, incluindo a faixa “Casa do Coração”.
No ano de 2014, em parceria com Renato Martins, entrou em estúdio para gravar “Gerais”, trabalho sobre o universo do futebol, com a faixas “Samba pro Magro” dedicada ao jogador Sócrates.
Douglas Germano escreveria em seu blog a resenha definitiva do trabalho:
“O novo disco de Renato Martins e Roberto Didio será referência pétrea para quem quiser entender o futebol no universo da cultura brasileira daqui pra diante. É Corinthians. Já não é pouco, mas não é só isso. É futebol, mas também não é só isso. É a cabeça brasileira do torcedor de futebol de gerações passadas até a mais recente. Sim, e isso é muito. (…) É cinema. É cinema requintado pois permite a você montar tua cena com seus próprios retalhos de memória, posto que não direciona, mas dá pistas insinuantes, sensíveis e precisas. (…) Fiquei sem apoio. A gente procura se apoiar quando toma essas pancadas e, nesse esforço, me lembrei do filme ‘O Fabuloso destino de Amélie Poulain’. A personagem encontra, acidentalmente, em um vão de uma das paredes de sua casa, uma caixa de metal envelhecida pelo tempo. Abre a caixa e encontra figurinhas, soldadinhos de chumbo, carrinhos. Entre as delicadezas todas que a personagem comete no filme, ela se esforça para encontrar o dono da caixa e devolvê-la. O dono agora é homem feito nos 50 anos, aparenta certa sisudez, certa amargura. Ela consegue fazer a caixa chegar ao dono. A reação do homem reencontrando sua caixa de brinquedos foi a minha na primeira audição de ‘Gerais’. (…) As letras contêm pérolas aos montes. Tanto tempo é necessário para surgirem as pérolas. Roberto Didio é um craque em não dizer o que ele quer que você entenda. E você entende.”
Em 2019 seu trabalho em parceira com Cristovão Bastos começou a ser gravado, três músicas da parceria entraram no disco de carreira do pianista, incluindo “Acalanto pros avós”, interpretada por Renato Braz no CD “Espelho”, lançado pelo Selo Sesc. Neste mesmo ano participou do espetáculo “Autores”, no Auditório Ibirapuera, que reuniu em São Paulo compositores e cantores de diferentes gerações: Breno Ruiz, Cristovão Bastos, Mário Gil, Marcelo Menezes, Miguel Rabello; espetáculo organizado por Renato Braz.
Em parceria com o compositor Mário Gil, no ano de 2021, fez a composição “Tema de Ada” (personagem da atriz Marieta Severo) no filme “Noites de Alface”, do diretor Zeca Ferreira, interpretada por Mônica Salmaso.
Em 2023, assinou a direção geral na produção do EP “Ciclo de Poder”, ao lado do violonista e compositor Miguel Rabello. O trabalho contou com a participação especial de Alice Passos, Cristovão Bastos, Sérgio Santos, Breno Ruiz, Renato Braz, tendo o percussionista Marcus Thadeu na concepção rítmica. Na sequência, o cantor e compositor Marcelo Menezes lançou “Mafuá”, repertório e concepção desenvolvidos por ambos os compositores, com direção e arranjos de Mauricio Carrilho; produção artística de Memeca Moschkovich e produção executiva de Cris Pelarin. Marcelo Menezes interpretou as faixas “Acalanto de rua” (com a participação da cantora Fabiana Cozza); “Trilha velha”, “Vitória de Oxum” (com a participação da cantora Carmen Queiroz); “Caboverdiana”, “Devagar, rapaz”; “Chef Carolina”, “Destinadora”, “É Dia de Reis” (com a participação de Renato Braz); “No vira e mexe” (com a participação de Durval Pereira) e “Jongo pro Moreira”. O trabalho contou com os músicos Maurício Carrilho (violão 7 cordas), Paulo Aragão (violão 8 cordas); João Lyra (viola); Hugo Pilger (cello); Paulino Dias (percussão), Marcus Thadeu (percussão); Kiko Horta (acordeom); Rui Alvim (clarinete e clarone); Pedro Aune (contrabaixo acústico); Luciana Rabello (cavaco); Cristovão Bastos (piano); Aquiles Moraes (flugel); Everson Moraes (trombone) e o coro formado por Anabela Leandro, Cris Pelarin, Helena Gouveia, Lazir Sinval, Deli Monteiro e Paulino Dias. Sobre o trabalho escreveu Maurício Carrilho:
“A parceria de Marcelo Menezes e Didio é um presente para quem gosta de música brasileira. Marcelo é compositor de versatilidade impressionante. O que você pedir de ritmo brasileiro ele faz: samba, choro, ijexá, toada, forró, e tudo mais que se inventou por estas terras. Didio é um letrista fabuloso que nos faz rir ou chorar com a mesma maestria, acaricia ou fere profundamente nossa alma com a riqueza de sua narrativa. Esses dois camaradas juntos representam, como poucas parcerias, o que de melhor se produz por aqui hoje.”
Também em 2023 fez a produção do lançamento digital “Se For, Me Chama”, do cantor Gabriel Cavalcante, para o qual fez a direção do disco ao lado Mauricio Carrilho, assinando a metade das letras, parcerias com Mauricio Carrilho, Miguel Rabello, João Camarero, Cristovão Bastos e Douglas Germano. O poeta Paulo César Pinheiro assinou cinco músicas, parcerias com Paulo Frederico, Luciana Rabello, Mauricio Carrilho e Francis Hime. Ainda em 2023, Nani Medeiros (cantora radicada em Lisboa desde 2019) lançou o EP “Travessia”, com direção musical de João Pita. Foram gravadas duas composições de sua autoria: “Música” (com João Camarero) e “Mil pessoas”, um fado-choro em parceria com Mauricio Carrilho – sobre os heterônimos do poeta português Fernando Pessoa. No ano posterior, em 2024, Breno Ruiz lançou seu repertório da parceria de ambos, o disco “Pequenas Impressões Sobre o Caos”, no qual participam Cristovão Bastos, Guinga, Renato Braz e Miguel Rabello. O violonista João Camarero dividiu os arranjos com Breno Ruiz. Ainda neste ano, sua composição “Valsa de cinema”, parceria com João Camarero, em homenagem ao maestro italiano Ennio Morricone, contou com arranjo do maestro Tiago Costa, sendo apresentado pela orquestra Tom Jobim nas vozes de Breno Ruiz e da cantora Vanessa Moreno. Neste mesmo ano, de 2024, o compositor paulistano Renato Martins lançou o CD “Simples” (Selo Acari Records), apresentando suas parcerias com o letrista: “Bar dos Sonhos, 1900”; “Marca prateada” (com participação especial da cantora Amélia Rabello), “Fechando a porta”, “Crítico”; “Pedaço de vida”; “Rebatismo”; “Carta ao Blanc” (com participação especial de Gabriel Cavalcante), “Festa de família” (com participação especial Miguel Rabello), além da faixa-título “Simples”, e excepcionalmente “Coração musical”, na qual o compositor Moacyr Luz fez parte da parceria. Na ficha técnica do disco constam Renato Martins (voz), Maurício Carrilho (direção musical, arranjo e violão), Ana Rabello (cavaquinho), Marcus Thadeu (percussão), Kiko Horta (sanfona), Pedro Aune (contrabaixo), Andréa Ernest Dias (flauta baixo), Rui Alvim (clarinete e clarone), Hugo Pilger (violoncelo), Aquiles Moraes (trompete e flugel), Everson Moraes (trombone). Direção artística e produção musical de Roberto Didio. Também em 2024, no disco “Samba Tímido” do cantor e compositor Guilherme Neves, compôs todas as letras do CD, e ainda, fez direção artística, que contou com arranjos e direção musical de João Camarero. O cantor Renato Braz participou em duas faixas: “Zazie no metrô de SP” e “Pedro e Naná”, homenagem aos percussionistas Naná Vasconcelos e Pedro Sorongo. A percussão geral ficou a cargo de Marcus Thadeu. A cantora Nani Medeiros lançou, em 2024, o compacto “Tantos Poetas” (Selo Loop Discos), com duas composições suas em parceria com Cristovão Bastos: “Amores artistas” e “Tantos poetas”, ambas com a participação especial do pianista Participaram os violonistas Miguel Rabello em “Tantos poetas” e João Pita em “Amores artistas”, tendo sido gravado no auditório da Casa do Choro, no Rio de Janeiro. Sobre o trabalho escreveu o jornalista e crítico musical Hugo Sukman:
“As canções de Cristovão Bastos e Roberto Didio são um acontecimento: é como se Cristovão, o consagrado compositor, pianista e arranjador, parceiro de Aldir Blanc, Chico Buarque e Paulo César Pinheiro – e tantos outros letristas espertamente citados na letra de “Tantos poetas” – chamasse a atenção para o mais jovem Didio, parceiro de tantos jovens compositores como Breno Ruiz, Miguel Rabello, Marcelo Menezes, Guilherme Neves, Renato Martins e já de mestres como Dori Caymmi, e o consagrasse. No auge da precisão criativa, Cristovão criou duas lindas melodias para o seu parceiro Roberto Didio brilhar. O resultado são duas músicas históricas, como as grandes canções de Cristovão. E um compacto perfeito, as duas composições conversando entre si, como nos antigos discos. Costumo brincar com ele que suas letras são minhas, Roberto Didio só as escreveu. Essas duas então…E sobre melodias de Cristovão Bastos. Para a voz de Nani Medeiros. Não é todo dia que se dá um acontecimento desses, canções desse nível – grandes como as grandes, e tão frágeis – que chegam como o vento atlântico entre Rio e Lisboa, a música e a língua. Do Brasil, comovido, eu escrevi.”
Ainda em 2024 suas composições foram lançadas pelo selo Loop Discos: “Missal para Barrios Mangoré”, parceria com a violonista franco-boliviana Elodie Bouny, em homenagem ao compositor paraguaio Agustín Barrios Mangoré, interpretada por Renato Braz. A outra composição foi “Nossos Natais”, parceria com Breno Ruiz, com produção dos autores em parceria com a violonista.
Ao longo dos anos desenvolveu trabalho autoral com Breno Ruiz, Cristovão Bastos, Délcio Carvalho, Dori Caymmi, Douglas Germano, Edu de Maria, Elodie Bouny, Fernando Leitzke, Guilherme Neves, Ivor Lancellotti, João Camarero, Luiz Moura, Marcelo Menezes, Miguel Rabello, Mário Gil, Mauricio Carrilho, Moacyr Luz, Paulo Aragão, Pedro Amorim e Renato Martins, entre outros. Suas composições foram registradas por Alice Passos, Anabela, Adriana Moreira, Amélia Rabello, Áurea Martins, Breno Ruiz, Cristina Buarque, Dori Caymmi, Fabiana Cozza, Gabriel Cavalcante, Gabriela Buarque, Geraldo Azevedo, Guinga, Guilherme Neves, Joyce Moreno, Leila Pinheiro, Lúcia Menezes, Luísa Lacerda, Marcelo Menezes, Mônica Salmaso, Nani Medeiros, Nina Wirtti, Renato Braz e Sérgio Santos, entre outros.
AMARAL, Euclides. A Letra & a Poesia na MPB: Semelhanças & Diferenças. Rio de Janeiro: EAS Editora, 2019.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.