Instrumentista (baterista e percussionista). Compositor.
Nascido em Realengo, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, Robertinho Silva é filho de Dona Justina e Seu Antônio. Cresceu vendo as sessões de umbanda que a mãe promovia em casa. As sessões foram o primeiro contato de Robertinho com a percussão. Prestava tanta atenção que, quando o ogan faltava, era ele quem tocava os pontos.
Betinho, como era chamado, cresceu vendo estas sessões e vendendo petiscos e chocolate quente nos arredores dos quartéis de Realengo – bairro de intensa presença militar. Fora as sessões de umbanda, a família não tinha maiores ligações com a música. Mas os acontecimentos musicais no bairro sempre chamaram a atenção do garoto.
De rodas de choro dos músicos do bairro a um parque itinerante com um garoto que tocava garrafas coloridas, tudo era motivo para Robertinho absorver sons e notas musicais. Mas o acontecimento que despertou o menino, definitivamente, para a música foi o aluguel de um dos quartos da pensão montada no fundo do quintal de casa por Dona Justina para um soldado baterista.
Todo dia, ele escutava o músico e soldado Jair treinando, até que ele o convidou para sentar na bateria. Robertinho começou a ser uma espécie de auxiliar de Jair, ajudando a levar, montar e desmontar o instrumento nos bailes os quais Jair tocava. Mais que isso, Jair convidou o garoto para tocar bongô durante um dos shows e deu, por conta disso, um cachê que era o valor de uma semana de trabalho do pai. O garoto chegou em casa e disse para Seu Antônio e Dona Justina: “pois é, acho que agora sou músico”.
Ainda que tenha estudado com os professores Alberto Mesquita e Joaquim Neagle, a maior parte da sua trajetória de aprendizado foi mesmo como autodidata. Os dois professores o ajudaram a conhecer os fundamentos da escrita musical, o que seria fundamental para poder progredir nas orquestras de bailes no início da carreira. Quando se tornou músico profissional, Robertinho começou a tocar nos bailes da zona oeste em Realengo, Bangu e Padre Miguel. Nem o serviço militar o impediu de frequentar o Ponto dos Músicos no centro do Rio. O que o levou a uma trajetória de sucesso nos clubes e dancings da área até ser convidado para tocar na boate Drinks, que pertencia a Cauby Peixoto.
Nos bares de Copacabana, pode exercitar o jazz que descobriu e se apaixonou nas noites escutando rádio escondido em casa, durante a infância. Tocando na noite, teve contato com alguns dos músicos que construíram a bossa nova e com a geração seguinte, da qual fez parte, que incluía o trombonista Raul de Souza e o saxofonista Oberdan Magalhães, entre diversos outros, e desenvolveu seu toque moderno que o levou a ser a “bola da vez” entre os bateristas da época, tocando nas melhores boates e fazendo parte da banda fixa do Canecão recém aberto, em fins dos anos 1960.
Nessa época aconteceu o encontro fundamental com Wagner Tiso e Luís Alves e aconteceu o encontro com a música de Minas, a qual ajudaria a moldar e seria moldado por ela. Um encontro artístico que teria seu grande momento inicial com o lançamento do LP Clube da Esquina pela dupla Milton Nascimento e Lô Borges. O encontro com a música de Minas o levou a atuar no cenário da elite da música brasileira e mundial, tocando também com Gilberto Gil, Gal Costa, João Donato, Ivan Lins, Marcos Valle, Wayne Shorter, Herbie Hancock e muitos outros. A partir dos anos 1980, começou uma carreira solo como baterista, percussionista e professor, montando escolas de música e passando seu conhecimento, além de continuar a lançar álbuns.
A história de Robertinho Silva foi contada na trilogia formada pelos livros “Robertinho Silva em: se a minha bateria falasse…” (2013), escrito com Miguel Sá, “A Força do Tambor” (2018), escrito com Paulo Nunes e “Coração Mineiro” (2020), escrito com Maria Lúcia Daflon.
Em 2024, após separar-se e passar um tempo morando com um dos filhos, mudou-se para o retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro permanecendo em plena atividade musical.
Iniciou sua carreira nos anos de 1960, como baterista de vários conjuntos, destacando-se o grupo Flamingo, do qual se desligou em 1962.
Em 1964, participou pela primeira vez de uma gravação, em LP de Cauby Peixoto lançado pela RCA.
Atuou, de 1969 até o final dos anos 1970 como baterista e percussionista, em shows de Milton Nascimento, Taiguara, Gal Costa, Roberto Carlos, Marcos Valle e Gilberto Gil, entre outros.
Fez parte do grupo Som Imaginário de 1970 a 1974.
Gravou com Egberto Gismonti e com o hepteto de Paulo Moura.
Participou do Midem em Cannes (França), em 1973, e do Festival de Jazz de Montreux (Suíça), no ano seguinte.
De 1974 a 1978, morou nos Estados Unidos, onde acompanhou Airto Moreira, Egberto Gismonti, Flora Purim, Milton Nascimento, Moacir Santos, Wayne Shorter, Carl Tjader, Peggy Lee, Shelly Manny, Sarah Vaughan, George Duke, Ron Carter e Egberto Gismonti. Entre os principais trabalhos desta época está o LP “Native Dancer”(1974), que Wayne Shorter gravou com Milton Nascimento.
Em 1981, lançou seu primeiro LP solo, pela série MPB-C (Música Popular Brasileira Contemporânea), que contou com a participação de Raul de Souza e Egberto Gismonti.
No ano seguinte, gravou, com Mauro Senise, o LP “Alquimia”.
Em 1984, lançou o LP “Bateria”.
No ano seguinte, gravou, com Luiz Eça e Luiz Alves, o LP “Triângulo”.
Lançou, ainda, os discos “Bodas de prata”, “Speak no evil” e “Shot on goal”. Este último contou com a participação de Mauro Senise (flauta e sax), José Roberto Bertrami (piano e sintetizador), Luis Alves (contrabaixo), Dario Galante (teclados), Luizão Paiva (teclados), João Baptista (baixo elétrico), Arismar do Espírito Santo (baixo elétrico), Zé Nogueira (sax), Túlio Mourão (teclados), Nivaldo Ornelas (sax), Hugo Fattoruso (piano e sintetizador), Renan Penedo (guitarra), João Batista (baixo elétrico), Fernando Moraes (teclados), Ademir Candido (guitarra), Arthur Maia (baixo elétrico), Sidinho Moreira (percussão), além de seus filhos Ronaldo Silva (percussão) e Wanderlei Silva (percussão).
Em 1997, fundou o Centro de Percussão Alternativo Robertinho Silva, localizado no Rio de Janeiro. Na mesma época, montou a Levadas: orquestra de percussão formada apenas por mulheres.
Durante os anos 1990, montou o grupo “Família Silva”, composto pelo percussionista e seus filhos Ronaldo Silva, Pablo Silva, Tiago Silva e Vanderlei Silva. O grupo teve shows solo e também foi parte da band de Milton Nascimento
Em 2000, lançou, com Ney Conceição, o CD “Jaquedu”.
Em 2008, gravou, com Raul de Souza, João Donato e Luiz Alves, o CD “Bossa eterna”, que teve show de lançamento no Mistura Fina (RJ). Nesse mesmo ano, apresentou-se, novamente ao lado de Raul de Souza, João Donato e Luiz Alves, no projeto “Sarau da Pedra”, realizado pela Repsol no Instituto Cultural Cravo Albin, com produção de Heloisa Tapajós e Andrea Noronha.
Ainda em 2008, participou do projeto Batucadas Brasileiras com o músico Carlos Negreiros. O projeto social visava o apoio a crianças em situação vulnerável da região portuária do Rio de Janeiro por meio do ensino da música.
Durante os anos 2010, integrou a banda fixa de João Donato, com Luis Alves no baixo.
Em 2012 participou do retorno do grupo Som Imaginário.
De 2013 a 2020, lançou três livros baseados em sua história pessoal com diferentes autores.
Em 2021, ano em que completou 80 anos, foi homenageado em uma série de programas sobre a sua história produzida pela Rádio MEC. No mesmo ano lançou, em seu canal no Youtube, a webserie “Robertinho Silva • 80 anos • Músicas de Trabalho, Ritmos e Cadências do Brasil • Suíte Percussiva” também comemorando a data especial. A websérie foi gravada no estúdio onde foi gravado o álbum Suíte Percussiva, mostrando faixas do álbum intercaladas com falas do Robertinho Silva sobre sua carreira e depoimentos de músicos. O projeto foi viabilizado pela Lei Aldir Blanc com idealização e produção de Gabriel Moreira, Katia Moreira e Claudio França. Participaram os músicos Carlos Malta, Cristina Ribeiro, Dudu Dias, Julio Diniz, Junior Crispin, Rodrigo Pacato e o cantor Tony Garrido, além de Ronaldo, Vanderlei e Thiago Silva, filhos de Robertinho Silva, todos percussionistas. A direção foi de Ronaldo Silva.
Raul de Souza com João Donato, Luiz Alves e Robertinho Silva
Mauro Senise e Robertinho Silva
Som Imaginário
Som Imaginário
Som Imaginário
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2009.
AMARAL, Euclides. O Guitarrista Victor Biglione & a MPB. Rio de Janeiro: Edições Baleia Azul, 2009, 2ª ed. Esteio Editora, 2011.
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