
Cantor. Compositor. Violonista. Arranjador.
Natural de Santo Amaro da Purificação, onde aprendeu a ler com Mabel Veloso, irmã mais velha de Maria Bethânia e Caetano Veloso.
Radicou-se na França na década de 1980.
Faleceu na cidade de Salvador depois de um mês em coma.
Por ocasião de seu falecimento escreveu (trechos) o amigo e parceiro de palco Ricardo Cravo Albin:
“Faleceu hoje no Rio o cantor, compositor e violonista Paulo Costta, depois de quase um mês em coma. Menos conhecido no Brasil que nos fechados grupos musicais de Paris, Paulo foi excepcional cultor de João Gilberto, bem como dos também baianos Caymmi e Caetano Veloso.
A tal ponto atento ao amigo e mestre João Gilberto que foi dele a primeira homenagem em palco feita ao criador da batida da Bossa Nova.
Paulo deixa viúva a produtora Luciana Valléo, considerada uma das mais eficientes e qualificadas profissionais na difícil arte de produzir espetáculos irretocáveis. Como “Meu Recôncavo”, que ela produziu com a dupla Paulo Costta e Moreno Veloso, filho de Caetano e sobrinho de Mabel. Que foi justamente a professora de primeiras letras de Costta em Santo Amaro da Purificação, terra de ambos.”
Surgiu no início da década de 1970, quando integrou, como cantor e guitarrista, o grupo de rock Papa Poluição, ao lado de Luiz Penna (guitarra e voz), Beto Carrera (guitarra e voz), Tiago Araripe (violão percussão e voz), Bill Soares (baixo e voz) e Xico Carlos (bateria) na cidade de São Paulo, com o qual lançou os discos “Papa Poluição”, pela gravadora Chantecler – Compacto duplo, em 1976; “Papa Poluição”, pela gravadora Top Tape, um compacto simples, em 1977 e no ano seguinte, em 1978, o compacto simples “Papa Poluição”, pela gravadora RGE. No ano de 1983, após o grupo participar da trilha sonora do longa-metragem “Sargento Getúlio” encerrou as atividades. Ao final da década de 1980 para Paris, onde fixou residência. Ali, em atuação permanente passou a ser considerado “Embaixador da Bossa Nova na Europa”, realizando dezenas de apresentações em vários países.
No ano de 2016 lançou o “Meu Recôncavo”, trabalho com 14 faixas sobre a obra da poeta e escritora baiana Mabel Velloso, filha de Dona Canô, matriarca do clã Velloso, de Santo Amaro da Purificação, na Bahia. No CD interpretou composições em parceria com a poeta, entre as quais “Anoitecendo”, (com participação especial de Moreno Veloso); Bebé”; “À lua”; “Estações da vida”, (com participação especial de Jaques Morelembaum); “Canto da terra”; “Circo”; “Lua cheia”, (com participação especial de J.Velloso e Jaques Morelembaum); “Cigarra”; “Se eu tivesse uma casa”, (com participação especial de Caetano Veloso); “Coração safado”; “Minhas filhas” e “Pra te agradar”, (com participação especial de Jaques Morelembaum), além de “Menino do cabelo verde”. O trabalho contou com dois poemas declamados por Maria Bethânia: “Voando para sonhar” e “Amargura”, e ainda, Belô Velloso na faixa-título “Meu Recôncavo”. Produzido por Moreno Velloso (voz, ukulelê, barítono, prato, faca, pandeiro, congas e chocalho), o disco contou com os músicos Ricardo Dias Gomes (piano elétrico), Joana Queiroz (clarinete), Zero Telles (percussão), Nando Duarte (violão 7 cordas), Bruno di Lullo (baixo), Felipe Pinaud (flauta), Domenico Lacellotti (arranjo e bateria), Bebê Krammer (acordeon) e Paulo Costta, Moreno Veloso, Karaol Antunes, Lua Marina e Lu Dias (coro). Trecho do que André Conti escreveu para o encarte:
“…Assim, quem ouve este Meu Recôncavo – Samba & Poesia, onde Paulo Costta canta Mabel Velloso será transportado a uma praça qualquer de Santo Amaro da Purificação, num fim de tarde com brisa, entre amigos tocando samba de roda, samba amarrado, baião, xote, toada, maxixe, bossa, canção e valsa. Um passeio distraído, dos que transformam paisagens conhecidas em algo intereiramente novo.”
Belô Velloso escreveu no encarte:
“Meu Recôncavo é uma reunião de afeto, amizade e família. Uma homenagem carinhosa que deu frutos musicais. É sempre bom participar de um trabalho que exalte a oba de minha mãe, Mabel. E neste caso, ressalta a professora que inspirou um aluno e assim viraram parceiros. Ou seja, estão presentes a poeta e a educadora numa mesma face. Um trabalho sem dúvida, amoroso e especial para cada um dos envolvidos.”
Dois anos depois, em 2018 a gravadora Biscoito Fino lançou o DVD “Meu Recôncavo – Paulo Costta e Moreno Veloso – Cantam Mabel Velloso”, gravado ao vivo no Teatro do Sesi, no Centro do Rio de Janeiro, pelo Canal Brasil na turnê de lançamento do CD “Paulo Costta canta Mabel Velloso – Meu Recôncavo – Samba & Poesia”. No DVD, além das faixas do disco, foram incluídas as composições “Ano passarinho” (Paulo Costta e Antônio Miranda), “Coração safado” (Paulo Costta e Mabel Velloso) e também “Meu Recôncavo” e “Genipapo absoluto” (Caetano Veloso) interpretadas pela cantora Illy Gouveia, e ainda “Não acorde o Neném”, de autoria de Domenico Lancellotti e Moreno Veloso, além de Maria Bethânia na delcamação dos poemas “Voando para sonhar” e “Amargura”. Com arranjos de Paulo Costta e produção musical de Moreno Veloso, o trabalho contou com os músicos Paulo Mutti (guitarra), Bruno Di Lullo (baixo), Joana Qqueiroz (clarinete e flauta), Domenico Lancellotti (bateria), Zero Telles (percussão) e Karol Antunes (vocais), além de Moreno Veloso (voz, violão e percussão) e o próprio Paulo Costta ao violão, na voz e no pandeiro, além da concepção musical e arranjos.
No encarte do DVD escreveu o crítico musical e escritor Ricardo Cravo Albin ressaltou o encontro a três em seu texto “Transparências”, do qual pinçamos os seguintes trechos:
“…O fato é que um quase inexplicável conjunto de fazimentos e unções fez provocar em mim a raridade de considerar o que acabei de sentir neste DVD, uma exaltação à transparência. Isto ocorreu pela união de dois personagens que lideram a cena. O cantor, compositor e idealizador do disco Paulo Costta, encontrando o produtor, cantor e percussionista Moreno Veloso, sobrinho da homenageada.”
“…De fato, a poesia de Mabel é a verdade e o testemunho de seu caráter. De seu amor pelo povo de Santo Amaro, festeiro, religioso, original. Ela desenha as palavras dos poemas com a autoridade de Grande Senhora – senhôra, com circunflexo respeitoso (apenas) na pronúncia, como que eu ouvia quando menino na minha Salvador natal.”
“…Fé, bondade e altura também podem significar outra transparência, a da inserção deste DVD nas escolas, não apenas as de Santo Amaro – onde o menino Paulo aprendeu a beleza do reconhecimento pelas aulas da professora Mabel. Mas provavelmente também em outros circuitos do saber como universidades ou centros culturais. Tudo isso conduzirá ao reconhecimento público da cultura originalíssima que se extrai do Recôncavo. E de sua família prioritária, os Velloso. Transparências, transparências.”
E Caetano Veloso aduz em outro texto do encarte:
“…Paulo Costta foi aluno de Mabel e, depois de grande, pôs músicas em poemas que, criança, nem sabia que a professora fazia ou faria. Moreno produziu o disco com as canções e eu tive a alegria de participar. Agora lança-se esse DVD íntimo, delicado, afetivo, de um de um santamarense por adoção, na sua voz e na de santamarenses Vellosos. São faícas do espírito do Recôncavo.”
“… Paulo Costta ter musicado uns poemas de Mabel foi colocar asas sensíveis em sentimentos delicados da poeta. Um presente para todos nós. As melodias e os arranjos nos ajudam a percorrer melhor os caminhos do mabelismo: esse movimento que nos faz caminhar por sentimentos profundos e íntimos de todos nós.” (J. Velloso – trecho)
No ano de 2018 a Biscoito Fino relançou o CD “Paulo Costta canta Mabel Velloso – Meu Recôncavo – Samba & Poesia”. No ano seguinte, em 2019, muito comovido com o falecimento do ídolo me amigo João Gilberto, convidou o crítico e escritor Ricardo Cravo Albin para realizar a primeira homenagem ao criador da bossa nova, espetáculo inédito que celebrou o sétimo dia sob o nome “Requiem para João Gilberto”. O talk-show foi apresentado no Teatro Dulcina, no centro do Rio de Janeiro. Tal o sucesso obtido que o Sesc-SP os convidou a uma turnê paulista pela capital e várias outras cidades do estado.
No ano de 2020, ao lado do escritor Ricardo Cravo Albin, apresentou o talk-show “Requiem para João Gilberto”, no Sesc Jundiaí, em São Paulo.
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.