Flautista. Compositor.
Filho do barbeiro Bruno José da Silva e de Amélia Medina da Silva. A família transferiu-se para a cidade mineira de Cataguases, onde aprendeu o ofício do pai, no qual trabalhou desde os 12 anos de idade. Desde pequeno interessou-se por música, aprendendo a tocar em flauta de folha-de-flandres, que adquiria com negociantes árabes. Por volta dos 14 anos de idade, estudou solfejo e teoria musical com o maestro italiano Duchesne, que vivia em Cataguases. Conseguindo comprar uma flauta de chaves, nessa mesma época ingressou na banda de música da cidade. Um ano mais tarde, deixou Cataguases para percorrer bandas de cidades do Estado do Rio e de Minas Gerais, tais como São Fidélis, Miracema, Pádua e Campos, o que o tornou, já na época, muito conhecido.
Com a morte do pai, sua mãe casa-se novamente, e os três filhos deste segundo casamento tornaram-se músicos: Lafaiete e Cícero Meneses (violinistas) e João Meneses (flautista). Por volta de 1898, passou a atuar em Campos, onde conquistou o posto de mestre da Lira Guarani. Sua fama crescia como mestre e compositor de inúmeros dobrados, dentre os quais “Dobrado a Pessoa Barros”, dedicado ao diretor dos Correios de Campos. Transferiu-se para o Rio de Janeiro por volta de 1900, indo trabalhar como tipógrafo na Imprensa Nacional. Obteve ainda um lugar de impressor na Casa da Moeda.
No Rio de Janeiro, procurou o flautista Duque Estrada Meyer, então professor do Instituto Nacional de Música. Sua desenvoltura e talento impressionaram o professor, que, considerando o músico de 20 anos como um “brilhante em bruto”, tomou para si a responsabilidade de lapidá-lo. O mestre o preparou para o exame de admissão no Instituto Nacional de Música, no qual se matriculou já no terceiro ano. Nessa época, “por preços irrisoriamente pagos”, segundo seu irmão Cícero, gravou diversos discos para a Casa Edison.
Músico estudioso e obstinado, o flautista concluiu em dois anos o curso do INM, previsto para ser realizado em seis anos. No exame final, realizado em 1902, superou todos os seus colegas, tendo sido aprovado com distinção. Concorreu ainda ao concurso especial, cujo prêmio era uma flauta de prata, do qual saiu também vitorioso. Com uma excelente leitura à primeira vista era disputado pelas melhores orquestras do Rio de Janeiro, trabalho que raramente aceitava, mesmo atravessando dificuldades financeiras, devido a seu ideal de tornar-se um concertista. Entre 1904 e 1906, foi contratado por Fred Figner, gravando para a casa Edison.
Em 1904, em seu primeiro disco, gravou acompanhado de Serpa no violão a peça “Zamacueca”, de José White. Em seguida, gravou em solo de flauta a peça clássica “Noturno nº1”, de Chopin. No mesmo período, gravou as primeiras composições de sua autoria: “Variações de flauta”, a valsa “Primeiro amor”, um de seus maiores sucessos e verdadeiro clássico do repertório flautístico e a mazurca “Margarida”. Gravou também a polca “Só para moer”, de Viriato e outra peça clássica, a “Serenata”, de Franz Schubert. Em 1905, gravou a “Serenata”, de Gaetano Braga e a romança “Serenata de amor”, de sua autoria. Em 1906, gravou a valsa “Amor perdido” e a polca “Zinha”, de sua autoria.
Conhecido por seu virtuosismo, foi convidado a se apresentar no Palácio do Catete para o então Presidente Afonso Pena. Com o desejo de viajar para a Europa a fim de aperfeiçoar seus estudos, empreendeu uma turnê por estados brasileiros, a fim de reunir recursos para sua futura viagem. Apresenta-se em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, obtendo grande sucesso e recebendo críticas elogiosas dos principais jornais. No interior de São Paulo, apresentou-se acompanhado ao piano pelo futuro compositor Marcelo Tupinambá, ná época um adolescente de 15-16 anos de idade. Em Florianópolis, após apresentar-se brilhantemente em um concerto, contraiu difteria, vindo a falecer cinco dias depois. Seu funeral foi promovido pelo Governo de Santa Catarina.
O flautista deixou algumas composições, principalmente para flauta e piano, muitas das quais gravadas posteriormente. Em 1928, teve a “Fantasia de concerto” , números 1 e 2 gravadas ao saxofone por Ladário Teixeira na Parlophon. Comemorando o cinqüentenário de sua morte, o flautista Altamiro Carrilho gravou na Copacabana o LP “Revivendo Patápio”. Em 1967, homenageado pelo maestro e pianista Alceu Bocchino e pela flautista Lenir Siqueira com o LP “Lembrando Patápio – Lenir Siqueira (flauta) e Alceu Bocchino (piano)” com a interpretação das músicas “Sonho”, “Serenta damore”, “Idílio”, “Margarida”, “Evocação”, “Amor perdido”, “Zinha”, “Oriental” e “Primeiro amor” todas de sua autoria. Segundo os pesquisadores Jairo Severiano e Zuza Homem de Melo, o flautista foi tão popular em sua época que seu discos permaneceram em catálogo por vinte anos. Em 2004, foi lançado pelo flautista Sebastião Viana o CD “Patápio Silva – Sebastião Viana”, da série “Mestres Brasileiros – Vol 5 – Patápio Silva”, no qual
Hely Drummond tocou Piano e Marcus Viana tocou Violino em participação especial. Fizeram parte deste CD as seguintes composições: a polca “Zinha”, o romance fantasia “Sonho”, o romance elegíaco “Evocação”, a mazurka “Margarida”, a romanza “Serenata D’amore”, e as valsas “Amor Perdido”, “Oriental”, “Joanita”, “Idyllio”, “Volúvel”, e a clássica valsa “Primeiro Amor”. Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 1 desses CDs está incluída sua valsa “Primeiro amor” na interpretação de Altamiro Carrilho e seu conjunto. Em 2012, foi lançado, no Instituto Cultural Cravo Albin, o documentário “O flautista Patápio Silva”, do professor da UFRJ Alexandre Palma. Segundo o Jornal Musical, “No documentário, a trajetória brilhante do flautista é contada por meio de depoimentos que vão entrelaçando dados históricos e os cenários em que ele viveu – do interior do estado à capital do Rio de Janeiro – com o seu virtuosismo musical. A narrativa poética privilegia o encantamento que a arte provoca, informando o espectador, mas sem pretensões didáticas”. No documentário estão presentes depoimentos do musicólogo Ricardo Cravo Albin, do historiador Milton Teixeira, e dos músicos Altamiro Carrilho, que se considera discípulo do flautista, e Antonio Waghabi, o Magro, do MPB 4, também natural de Itaocara e que começou sua carreira na Sociedade Musical Patápio Silva.
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