
Cantora.
Filha de Alfredo Amaral, lavrador e posteriormente chofer de caminhão, e de Albertina Ferreira do Amaral. Nasceu em Niterói, mas com um ano sua família mudou-se para o Rio de Janeiro. Aos seis anos de idade entrou para o Colégio Uruguai, onde fez todo o curso primário. Em 1929, empregou-se na América Fabril como bordadeira Por sua bonita voz, era sempre convidada a cantar no teatro da escola, além de festas de aniversário. Sua irmã, que muito a admirava, levou-a à Rádio Guanabara, na época dirigida por Alberto Manes, para que fizesse um teste. Fez a prova acompanhada pelo pianista Felisberto Martins, cantando “Minha embaixada chegou”, de Assis Valente. Com o sucesso do teste, foi logo escalada para participar do programa “Suburbano”, onde também se apresentavam Sílvio Caldas, Marília Batista, Noel Rosa, Almirante, Aurora e Carmen Miranda, entre outros.
Em 1938, casou-se com Cyro Monteiro O casal foi considerado um dos mais famosos e populares de sua época e teve um filho. Separaram-se em 1949. Em abril de 1968, o jornal O Globo publicava a seguinte notícia sobre ele: “Deixar de cantar é coisa que nem passa pela cabeça de quem viveu trinta anos diante de microfones. Por isso é que Ciro Monteiro e Odete Amaral, ao contar que ingressaram no Instituto Nacional de Previdência Social com um pedido de aposentadoria, explicam logo que estão apenas reivindicando um benefício de direito. A atividade de fato vai continuar, “pois sambista só se aposenta quando morre”, insiste Ciro”. Odete, ao mesmo tempo em que pede a aposentadoria, informa que está para lançar um “long-play” e anuncia que ainda vai mandar muita “brasa”, se Deus quiser”.
Estreou na Rádio Guanabara em 1935, cantando “Minha embaixada chegou”, de Assis Valente, acompanhada pelo violão de Pereira Filho.
Levada por Almirante, passou a cantar também na Rádio Clube. No mesmo ano, participou da inauguração do Cassino Atlântico e pouco depois, apresentava-se na Rádio Ipanema. Por essa época atuou no teatro cantando “Ganhou mas não leva”, de Milton Amaral, em uma revista levada no João Caetano. Atuou ainda em várias emissoras, dentre as quais a Sociedade, a Philips e a Cruzeiro do Sul.
Em 1936, gravou seu primeiro disco na Odeon interpretando os sambas “Palhaço”, de Milton Amaral e Roberto Cunha e “Dengoso”, de Milton Amaral. Em seguida, foi levada por Ary Barroso para a RCA Victor onde estreou com a batucada “Foi de madrugada” e a marcha “Colibri”, ambas de Ary Barroso. Paralelamente, cantava em coro, atuando em discos de colegas como Francisco Alves, Mário Reis e Almirante. No mesmo ano, assinou o primeiro contrato de sua carreira, na Rádio Mayrink Veiga. Por essa época , recebeu de César Ladeira o slogan de “A voz tropical”. Em 1937, participou da inauguração da Rádio Nacional, onde permaneceu por dois anos. No mesmo ano gravou o samba “Sorrindo”, de Cyro Monteiro e L. Pimentel e a rumba “Terra de amores”, de Gadé e Valfrido Silva. Na edição de 30.10.1937 da Revista Carioca, falou de sua carreira: “Nasci em Niterói. Comecei a cantar quando tinha três anos de idade. Estreei há dois anos na Rádio Guanabara. Durante um ano conheci os microfones de todas as estações da cidade; durante outro ano, cantei exclusivamente para a Cruzeiro do Sul. Contratada agora pela Nacional, pretendo que ela me prenda por muitos anos (…). O samba-canção é o gênero que prefiro. O cinema é grande, mas o rádio é maior. Alguma coisa mais?”.
Em 1938 gravou de Ataulfo Alves e Alcebíades Barcelos os sambas “Ironia” e “Não mando em mim” e de João da Baiana o samba “É melhor confessar do que mentir”. Em 1939, participou do filme da Cinédia “Samba da vida”, e foi contratada pela Rádio Cultura de São Paulo, onde atuou durante uma ano e meio, percorrendo com Cyro Monteiro, nos intervalos dos programas , vários estados do Brasil. Ainda em 1939 gravou com Cyro Monteiro os sambas “Sinhá, sinhô” e “Bem querer”, ambos de Aloísio Silva Araújo. Em 1940 gravou a marcha “O gato e o rato”, de Wilson Batista, Arnô Canegal e Augusto Garcez, a batucada “Eu já mandei”, de J. Cascata e Leonel Azevedo e o samba “Quando dei adeus”, de Ataulfo Alves e Wilson Batista. Em 1941 retornou para a Rádio Mayrink Veiga e lá ficou por seis anos. No mesmo ano gravou a marcha “Serenata”, de Felisberto Martins e Sá Róris, o samba “Pode chorar se quiser”, de Roberto Cunha e o frevo canção “Não sei o que fazer”, de Capiba. No mesmo período passou a gravar na Odeon, onde estreou com a valsa “Minha primavera”, de Gadé e Almanir Grego e a fantasia “Minha voz”, de Eratóstenes Frazão. Em seguida, gravou “Não quero dizer adeus”, samba-choro de Laurindo de Almeida. Em 1942 gravou os sambas “Quem não chora não mama”, de Laurindo de Almeida e Ubirajara Nesdem, “Caminhar sem destino”, de Felisberto Martins e Henrique Mesquita e “Por causa de alguém”, de Ismael Silva. No ano seguinte, registrou o fox canção “Primavera em flor”, com música de Georges Moran sobre versos do poeta J. G. de Araújo Jorge e os sambas “Favela morena”, de Estanislau Silva e João Peres e “Resignação”, de Geraldo Pereira e Arnô Provenzano.
Em 1944 gravou de Geraldo Pereira e Ari Monteiro, o samba “Carta fatal”, com o Quarteto de Bronze, a valsa “Toureador”, de Georges Moran e Osvaldo Santiago e o choro “Murmurando”, de Fon-Fon e Mário Rossi, seu maior sucesso. Em seguida lançou de Haroldo Lobo e Eratóstenes Frazão a marcha “Quem tem mágoa bebe água”.
Passou um período em que realizou poucas gravações fazendo alguns registros no selo Star, entre eles, a marcha “A moleza do faquir”, de Dênis Brean e Osvaldo Guilherme e o samba “Por que mentir?”, de Luiz Antônio e Ari Monteiro. Em 1951 retornou para a Odeon com os choros “Bichinho que rói”, de Dênis Brean e “Mais uma vez”, de K-Chimbinho e Delore. No mesmo ano, assinou contrato com a Rádio Tupi. Em 1952 gravou o clássico samba canção “Ai Ioiô”, de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto. No ano seguinte gravou “Carneirinho de São João”, marcha de Luiz Vieira. Em 1954 gravou os sambas “Nasceu pra sofrer”, de Arnô Provenzano, Isaias Ferreira e Oldemar Magalhães e “Vem amor”, de Enésio Silva, Isaias Ferreira e Jorge de Castro.
Em 1957 assinou contrato com a gravadora Todamérica na qual estreou com os sambas “Dedo de Deus”, de Raul Marques e Ari Monteiro e “Tô chegando agora”, de Monsueto Menezes e José Batista. Em 1959, lançou seu primeiro LP com arranjos do maestro Guio de Moraes, “Tudo me lembra você”, interpretando as músicas “Murmurando”, de Fon-Fon e Mário Rossi, “Fala Coração”, de Victor Oliveira e Arlindo Oliveira Filho, “Gênio Mau”, de Augusto Mesquita e Jaime Florence “Meira”, “Silêncio Triste”, de Osmar Navarro, “Nada Posso Fazer”, de Amado Régis, “Dona do Lar”, de Monsueto e Raul Longras, “Maria Madalena”, de Porfírio Costa, “Piedade”, de Norival Reis, “Assim É o Amor”, de Olinda Valle, “O Sereno Falou”, de Jota Júnior e Oldemar Magalhães, “Tarde Demais”, de Nilton Pereira e Edgardo Luis, e “Saudade Saudade”, de Sandra Roberta. No mesmo ano, lançou o samba “Enquanto houver Mangueira”, de Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr. Em 1962, assinou contrato com a Copacabana. Nesse ano, lançou um de seus trabalhos mais interessantes foi o LP “Do outro lado da vida – Os que perderam a liberdade contam assim sua história”, gravado com Cyro Monteiro Jr., no qual interpretou composições de presidiários do então estado da Guanabara e de São Paulo, entre as quais, “Luar de Vila Sônia”, valsa de Paulo Miranda, “Nos braços de alguém”, samba canção de Quintiliano de Melo e “Silêncio! É madrugada”, samba canção de Wilson Silva. Em 1968, participou, juntamente com Cartola, Clementina de Jesus, Nélson Cavaquinho e Carlos Cachaça, do LP “Fala Mangueira!”, lançado pela Odeon, no qual interpretou os sambas “Enquanto Houver Mangueira”, de Roberto Roberti e Arlindo Marques Júnior; “Tempos Idos”, de Carlos Cachaça e Cartola; “Alvorada no Morro”, de Carlos Cachaça, Cartola e Hermínio Bello de Carvalho; “Quem Me Vê Sorrindo”, de Carlos Cachaça e Cartola; “Alegria”, de Cartola, este último, em dueto com o cantor Zezinho; “Sei Lá Mangueira”, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho; “Folhas Caidas”, de Nelson Cavaquinho e César Brasil, e “Despedida de Mangueira”, de Benedito Lacerda e Aldo Cabral. Em 1969, lançou, com Silvio Viana e seu conjunto, o LP “Sua majestade Odete Amaral – A rainha dos disc jockeys”, no qual interpretou as músicas “Julgar É Missão Divina”, de João Machado e Hélio Simões; “Quem Volta” , de Ubirajara Nesdan eTrigueiro Jr.; “Sou Feliz”, de A. Solano, S. Pina e A. Luz; “Amargura”, de E. Lemos e Samuel Perna; “O Que Passou”, de A. Mesquita e Célio Settimi; “Vem Vai”, de Talvi Vilaró; “É Só Recordação”, de S. Pina, A. Solano e A. Luz; “Erro Sem Perdão”, de Hélio Simões, Dilson Dória e César Caligula; “Se Não Tem Felicidade”, de S. Magalhães e A. Santos; “Foi o Pesadelo Que Voltou”, de Talvi Vilaró; “Samba Que Fala de Samba”, de A. Costa e F. Alves, e “Duelo”, de A. Amaral.
Em 1975, participou da série “M.P.B. 100 ao vivo” irradiada pelo projeto Minerva, Rádio MEC, em cadeia nacional de emissoras. Ao lado de Paulo Marques, cantava os grandes sucessos dos anos 1930 A série de 30 programas deu origem a oito LPs criados por seu produtor Ricardo Cravo Albin. Dois anos mais tarde, participou do show “Café Nice”, ao lado de Paulo Marques e Altamiro Carrilho, com direção e narração de Ricardo Cravo Albin. Em 1977, lançou, pelo selo Olympic/Crazy, com produção de Nelson Trigueiro, o LP “A tropicalíssima” no qual interpretou “Por Que Você Mentiu”, de Nelson Trigueiro e José Neder; “Peço Silêncio”, de Nelson Trigueiro e Guilherme de Almeida; “Triste Canção”, de Walter Paiva e Arati Lacoste; “Fases da Vida”, de Olavo Santana; “Preciso Falar”, de Zilda B. de Abreu; “Por Quanto Tempo Ainda”, de Luis de Souza e Canhete Jr.; “Samba Em Tom Jobim”, de Luis Antônio; “Balançando Meu Bem”, de Ormindo Fontes “Toco Preto” e Helinho; “Deixa Passar o Meu Samba”, de Nelson Trigueiro e Fausto Farias; “Mal De Amor”, de Cacilda de Assis, J. Guerra Peixe e Nilton Silva, e “Eu Quero Ser” e “Quantas Vezes”, ambas de Ruy Afrânio Peixoto. Em 1987, suas interpretações para ss sambas “Triste fim de um coração” e “Respeita a cadência”, de Amaro Silva, com acompanhamento do Conjunto Regional Cruzeiro do Sul, e para a marcha “Não chora pirerot”, de Nelson Ferreira e Fernando Lobo, com acompanhamento da Orquestra Columbia do Rio de Janeiro foram incluídos na coletânea “Grandes cantoras” lançada pelo selo Revivendo. Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. Nesses CDs estão incluídas suas gravações para a marcha “Taí”, de Joubert de Carvalho, para o samba “Feitiço da Vila”, de Noel Rosa e Vadico, e para o samba-canção “Último desejo”, de Noel Rosa.
(volumes II e III)
(c/Ciro Monteiro)
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário biográfico da música popular. Rio de Janeiro; Edição do autor, 1965.
EPAMINONDAS, Antônio. Brasil brasileirinho. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1982.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Vol 1. São Paulo: Ed. 34, 1997.
VASCONCELOS, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Martins, 1965.