
Compositor. Escritor. Jornalista. Produtor de Rádio e TV. Teatrólogo.
Nasceu na cidade de Vitória de Santo Antão, no Estado de Pernambuco. Filho do farmacêutico Nestor de Hollanda Cavalcanti Filho e da médica Maria de Lourdes Galhardo de Hollanda Cavalcanti. Os avós maternos eram italianos: Estevão Galhardo, da Calábria, e Joana de Queiroz Galhardo, de Nápolis. Quando o compositor tinha apenas dois anos de idade, seu pai faleceu. A partir daí, sua jovem mãe, já formada pela Escola Normal e pelo Conservatório de Música (piano e bandolim), passou a trabalhar para criar os filhos Nestor e Nelby, ainda de colo. Em 1929, transferiu-se com os filhos para Recife, fixando residência na Rua do Sossego, 235, casa que, mais tarde, o inspiraria a escrever o romance “Sossego, rua da revolução”. Em 1931, Lourdes Galhardo ingressou na Faculdade de Medicina de Recife, onde se formou em 1936. Fez seus estudos na Faculdade de Direito do Recife. Desde muito jovem mostrou interesse pelo jornalismo. Ainda no ginásio, dirigiu o semanário “A Fama”, que acabou apreendido e proibido por razões políticas. Em seguida, trabalhou na “Gazeta do Recife”, “Jornal Pequeno”, “Jornal do Commércio” e “Diário da Manhã”. Aos 17 anos fez parte de um grupo de jovens que fundou a Editora Geração, pela qual publicou um livro de poemas, “Fontes Luminosas”, que consideraria, anos mais tarde, “uma brincadeira de criança”. Faziam parte da Editora Geração os jovens Guerra de Holanda, Paulo Cavalcanti, Mário Souto Mayor, Sousa Leão Neto, Raul Teixeira, Aristóteles Soares, Dagoberto Pires e outros. Nessa época, participou de concurso de peças para operários promovido pelo governo do estado, mas seu trabalho, “Mais tem Deus… “, foi censurado. Dedicando-se ao teatro, produziu várias comédias. Até os 19 anos viveu em Recife e Olinda. Convocado pelo Exército, esteve em operações de guerra e chegou à patente de sargento. Na corporação, recebeu dos companheiros o apelido de Sargento Iolando (os recrutas confundiam seu Holanda com Iolanda ). Depois da guerra, já tendo saído do Exército, reiniciou suas atividades intelectuais.
Em 1947, casou-se com dona Kezia Alves de Hollanda Cavalcanti. O casal teve dois filhos, o hoje compositor e arranjador Nestor de Holanda e Maria Marta de Holanda. Foi membro do Conselho Superior de MPB, órgão consultivo do Museu da Imagem e do Som, desde sua fundação em 1966.
Produziu grande quantidade de composições populares, entre elas “Quem foi?”, “Seu nome não é Maria”, “Xém-ém-ém” (que figurou na trilha sonora de um filme de Walt Disney ), “Periquito da madame”, “Último beijo”, “Muito agradecido”, “Eu sei que ele chora”, “Meu mundo é você”. Em 1941, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Na capital federal foi redator de “A Cena Muda”, “Revista da Semana”, “Brasilidade”, “Vida”, “Deca” e das rádios Vera Cruz, Transmissora e Educadora.
Trabalhou em diversos jornais – “Folha Carioca”, “Democracia”, “O Imparcial”, “A Noite”, “Folha do Rio”, “Shopping News”, “Diário Carioca”, “Última Hora” e “Diário de Notícias” -, revistas – “Manchete”, “A Noite Ilustrada”, “Carioca” – estações de rádio – Clube Fluminense, Cruzeiro do Sul, Clube do Brasil, Globo, Nacional e Ministério da Educação e Cultura, da qual era redator – emissoras de televisão – Continental, Excelsior, Rio. Escreveu muito para teatro: as revistas “A Bomba da Paz”, “Está em Todas”, “TV para Crer”, “Terra do Samba” e as comédias “Um Homem Mau” e “A Bruxa”. Foi fundador da SBACEM, e da SADEMBRA, e filiado à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais e à Associação Brasileira de Imprensa – ABI.
Foi parceiro de Luiz Gonzaga, Ary Barroso, Ismael Neto, Haroldo Lôbo e muitos outros. Seus maiores sucessos foram o samba-canção “Quem foi?”, em parceria com Jorge Tavares, gravado por Aracy de Almeida pela Odeon em 1947, e a marcha “O periquito da madame”, em parceria com Carvalhinho e Afonso Teixeira, gravada pelo conjunto Quatro Ases e um Coringa na Odeon em novembro de 1946. No mesmo ano, lançou o frevo-canção no carnaval do Rio de Janeiro, com “Regina”, gravado pelo cantor Jorge Tavares e pela Orquestra Tabajara. Em 1950, fez com Fernando Lôbo o samba “Ele já voltou”, gravado por Neusa Maria e a batucada “O vizinho é do contra”, gravado por Stelinha Egg, ambos na Sinter. No ano seguinte, a mesma Neusa Maria gravou, também na Sinter, o baião “Eu sei que ele chora”, parceria com Ismael Neto e, José Ramos gravou na Copacabana o samba “Gastei tudo”, com Domingos Costa e Geraldo Medeiros. Em 1952, Neusa Maria gravou seu samba canção “Os seus olhos dizem”, parceria com Manezinho Araújo.
Em 1953, Olivinha Carvalho gravou a marcha “Dança chinesa”, parceria com Haroldo Lobo. Em 1956, compôs com Luiz Bandeira a marcha “Diabo te carregue”, gravada pelo próprio Luiz Bandeira na Sinter. Em 1957, João Dias gravou na Copacabana o samba “Vou procurar outro bem”, parceria com Ary Barroso. Em 1959, compôs com Lúcio Alves o samba canção “Muito agradecida”, gravado por Nora Ney na RCA Victor.
Está entre os escritores que mais venderam no Brasil e que tiveram o maior número de obras traduzidas. Livros seus, como “Diálogo Brasil – URSS”, “O mundo vermelho”, “Sossego – Rua da Revolução”, “Jangadeiros”, “A ignorância ao alcance de todos”, “Itinerário da paisagem carioca” e outros, figuram entre os recordistas de venda, alguns com edições sucessivas, tendo o último lhe rendido o título de Cidadão Carioca, por decisão da Assembléia Legislativa do então ainda Estado da Guanabara. Faleceu em 14 de novembro de 1970, na cidade do Rio de Janeiro.
AMARAL, Euclides. A Letra & a Poesia na MPB: Semelhanças & Diferenças. Rio de Janeiro: EAS Editora, 2019.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. Editora: 34. São Paulo, 1999.