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Nome Artístico
Nelson Cavaquinho
Nome verdadeiro
Nelson Antônio da Silva
Data de nascimento
29/10/1911
Local de nascimento
Rio de Janeiro, RJ
Data de morte
18/2/1986
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Compositor. Instrumentista (cavaquinho e violão). Cantor.

Nasceu na Rua Mariz e Barros, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro. O pai, Brás Antônio da Silva, era contramestre da Banda da Polícia Militar e tocava tuba. A mãe, Maria Paula da Silva, foi lavadeira do Convento de Santa Teresa. O tio, também músico, juntamente com o pai e amigos, organizava, aos domingos, rodas de samba em sua casa.

Por volta de 1919, a família, fugindo de aluguel, mudou-se para a Rua Silva Manuel, depois para a Rua Joaquim Silva, ambas na Lapa.

Frequentou a escola primária Evaristo da Veiga, abandonando o curso para trabalhar como eletricista.

Na Lapa, fez amizade com os então chamados “valentes” Brancura, Edgar e Camisa Preta. Mais tarde, adolescente, foi morar com a família no subúrbio de Ricardo de Albuquerque para, finalmente, se estabelecerem em uma vila operária do bairro da Gávea, onde frequentava os bailes dos clubes Gravatá, Carioca Musical e Chuveiro de Ouro, conhecendo músicos decisivos em sua formação, como Edgar Flauta da Gávea, Heitor dos Prazeres, Mazinho do Bandolim e o violonista Juquinha. Alguns desses músicos eram empregados de uma fábrica de tecido local. Do violonista Juquinha, receberia importantes noções de como tocar cavaquinho. Nesta época, Nelson Cavaquinho cunhou a sua marca e também a maneira peculiar de tocar o instrumento apenas com dois dedos, ganhando, a partir daí, o apelido de Nelson do Cavaquinho. Aos 16 anos, sem dinheiro para comprar o instrumento e pagar um professor, treinava em cavaquinho emprestado. Por essa época, trabalhava, também, como pedreiro e compôs a sua primeira música, o choro “Queda”. Apresentou-o aos músicos amigos Juquinha, Eugênio, Mazinho e Filhinho, que formavam um conjunto de choro e samba. Logo depois, foi chamado para integrar o conjunto, que atuava em shows nos clubes da redondeza da Gávea. Ainda nesta época, frequentava a roda de choro que acontecia na Rua da Conceição, no centro do Rio de Janeiro, na qual se reuniam músicos como os irmãos Romualdo e Luperce Miranda.  Apesar de tocar bem o cavaquinho, era sempre necessário pedi-lo emprestado. Ao vê-lo nessa situação, Ventura, um jardineiro português, deu-lhe de presente o instrumento.

Em 1931, conheceu Alice Ferreira Neves. Meses depois, arrastado para a delegacia pelo pai da moça, casava-se com Alice, com quem teve quatro filhos. O casal foi morar no subúrbio de Brás de Pina. O pai de Alice indicou-o para servir na Cavalaria da Polícia Militar. Por essa época, o pai de Nelson Cavaquinho alterou a sua certidão de nascimento para 29/10/1910, um ano mais velho, para que pudesse ingressar na cavalaria. Nelson Cavaquinho e seu cavalo de nome “Vovô” patrulhavam o Morro da Mangueira, local onde fez amizade com sambistas como Zé Com Fome (Zé da Zilda) e Carlos Cachaça. Ao conhecer Cartola, na Quadra da Mangueira, e depois de ficar muito tempo conversando com este, seu cavalo Vovô voltou sozinho para o Batalhão, o que ocasionou mais uma vez, a sua detenção. Ficar detido era comum naquela época, já que passava dias sem ir ao quartel, em decorrência da boemia. Sobre este fato narrou:

“Eu ia tantas vezes em cana que já estava até me acostumado com o xadrex. Era tranqüilo, ficava lá compondo. Entre as músicas que fiz no xadrex está Entre a cruz e a espada “.

No ano de 1938, antes de ser expulso da corporação, conseguiu dar baixa e, separado da mulher e afastado dos filhos, ingressou, de vez, na boemia e dedicou-se à música.

Mudou-se para o Morro da Mangueira em 1952.

No ano de 1969 foi lançando o documentário “Nelson Cavaquinho”, com direção de Leon Hirszman. Filmado quatro anos antes, o trabalho contou com fotografia de Mário Carneiro, som de Gilberto Macedo e montagem Eduardo Escorel. Na trilha, entre outros clássicos do compositor (Luz negra e A falecida) foram incluídas duas composições pouco conhecidas e pouco gravadas à época: Dama das camélias e Pimpolho.

Teve vários relacionamentos até que, no início da década de 1960, conheceu Durvalina, trinta anos mais nova do que ele, com quem viveu até a sua morte, ocorrida na madrugada de 18 de fevereiro de 1986, vitimado por um enfisema pulmonar.

Em sua homenagem, ao CIEP do bairro da Chatuba (em Mesquita), foi dado seu nome, graças aos esforços dos professores Sérgio Fonseca e Alda Fonseca. Na ocasião da inauguração, houve um show de Guilherme de Brito e Velha-Guarda da Mangueira.

Sobre sua forma de levar a vida, sempre na boemia, uma passagem muito interessante foi descrita pelo parceiro Eduardo Gundin que lembra do dia em que dirigindo o carro, ligou o rádio e passou a ouvir uma entrevista do compositor para o programa “Balance”, da Excelsior. “A certa altura, o apresentador perguntou a Nelson quais eram os seus planos. E ele:

 

Meus planos? O Gudin vai passar aqui para me pegar e vamos beber no Bar do Alemão.”

 

No ano de 2011 em comemoração ao centenário do compositor foram feitas várias homenagens, entre as quais a de ter sido enredo da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, que desfilou com o samba-enredo “O filho fiel, sempre Mangueira”, de Alemão do Cavaco, Cesinho Maluco, Xavier, Ailton Nunes, Rifai e Pê Baianinho, tendo como intérpretes Luizito, Zé Paulo Sierra e Ciganerey, classificando a escola em terceiro lugar na disputa do carnaval carioca deste ano. Neste mesmo ano o compositor foi homenageado pelo Instituto Cultural Cravo Albin com a exposição fotográfica “Vozes de Nelson Cavaquinho”, do fotógrafo Ricardo Poock, com curadoria do poeta Jorge Salomão. Ainda em 2011 foram feitas outras homenagens ao compositor, como o show da Velha-Guarda da Mangueira e Elton Medeiros abrindo a série “Som em 4 Tempos”, na Sala Funarte Sidney Miller, no Rio de Janeiro. O bandolinista Afonso Machado (do grupo carioca de choro Galo Preto) lançou, pela ND Comunicação, no Museu da República, no Rio de Janeiro, um livro com entrevistas (feitas entre os anos de 1999 e 2001) com vários amigos dando depoimento sobre o compositor, entre os quais João Nogueira, Guilherme de Brito e Jair do Cavaquinho. Zé Renato e Leandro Braga apresentaram um show no Espaço Tom Jobim sobre a obra do compositor. No Instituto de Educação de Surdos, no Rio de Janeiro a homenagem ficou por conta da exibição do filme do cineasta Leon Hirszman sobre Nelson Cavaquinho. Neste mesmo ano o compositor e cantor Zé Renato participou do programa de auditório “Agora no Ar!”, da Rádio Roquette Pinto, escrito e apresentado por Ricardo Cravo Albin, todo dedicado à obra do compositor mangueirense.

No ano de 2013 foi citado em verbete no livro “Frutos da Terra: Sambas e Compositores Iguaçuanos”, organizado por Otair Fernandes e Edna Inácio da Silva e Silva, publicado pelo Núcleo LEAFRO (Laboratório de Estudos Afro-brasileiro e Indígenas), da UFFRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).

Dados artísticos

Em 1939 teve a sua primeira música, “Não faça vontade a ela” gravada pelo cantor Alcides Gerardi. A música passou despercebida do grande público, tendo o disco tiragem reduzida.
No ano de 1943 Cyro Monteiro gravou, de sua autoria, “Apresenta-me àquela mulher” (c/ Augusto Garcez e Gustavo de Oliveira) e “Não te dói a consciência?” (c/ Ary Monteiro e Augusto Garcez). Dois anos depois, o mesmo cantor gravou “Aquele bilhetinho” (c/ Arnô Canegal e Augusto Garcez) e no ano seguinte, em 1946, “Rugas” (c/ Augusto Garcez e Ary Monteiro), todas pela gravadora RCA Victor. Por essa época, o compositor assinava N. Silva.
No ano de 1953 Dalva de Oliveira gravou “Palhaço” (c/ Osvaldo Martins e Washington Fernandes). Elizeth Cardoso interpretou, de sua autoria, “Amor que morreu”, parceria com Roldão Lima e Gilberto Teixeira.
No início da década de 1950 frequentava vários pontos de samba existentes na Praça Tiradentes, mas veio a conhecer Guilherme de Brito em Ramos, subúrbio do Rio de Janeiro, quando tocava nos botequins do bairro. Guilherme de Brito, quando voltava do serviço à tardinha, princípio da noite, encontrava Nelson Cavaquinho tocando e assim passou a ser mais um de seus fãs. Certa vez, Guilherme arriscou-se a mostrar uma primeira parte de um samba ainda não concluído. O novo amigo interessou-se em colocar uma segunda parte e, assim, nasceu a parceria, que viria a trazer grandes sucessos à dupla. Apesar de ambos não lembrarem o nome da primeira música, se “Garça” ou “Cinza”, o fato é que “Garça” foi gravada mais tarde, em 1954, por Ruth Amaral, enquanto “Cinza” teve o seu primeiro registro na voz da cantora Lucy Rosana.
No ano de 1957 o cantor Raul Moreno fez a primeira gravação de “A flor e o espinho” (c/ Guilherme de Brito e Alcides Caminha). Roberto Silva registrou, no LP “Descendo o morro nº 3”, a música “Aquele bilhetinho”, parceria de Augusto Garcez e Arnô Canegal com Nelson Silva, nome, aliás, com o qual Nelson Cavaquinho assinava, na época. No ano posterior, em 1958, o cantor Roberto Silva incluiu “Notícia” (c/ Norival Bahia e Alcides Caminha) e “Degraus da vida” (César Brasil e Antonio Braga) no LP “Descendo o morro nº 4”.
Em 1961 passou a frequentar a casa de Cartola e Dona Zica. Com a inauguração do Restaurante Zicartola, na Rua da Carioca, no centro do Rio de Janeiro, iniciou as suas apresentações públicas. Por essa época, juntamente com Cartola, Nuno Veloso, Zé Kéti, Elton Medeiros e Jorge Santana, formou o grupo A Voz do Morro, que se apresentou uma única vez em um programa de televisão, desfazendo-se logo depois. Por essa época, Nara Leão gravou “Pranto de poeta” (c/ Guilherme de Brito).
Em 1965 no disco “Elizeth sobe o morro” foram incluídas de sua autoria: “Vou partir” (c/ Jair do Cavaquinho), “A flor e o espinho” (c/ Guilherme de Brito e Alcides Caminha). Elizeth Cardoso lançou outro LP, “Quatrocentos anos de samba”, no qual interpretou “O meu pecado”, parceria com Zé Kéti. No ao seguinte, em 1966, a gravadora CBS lançou um LP da cantora alagoana Thelma Soares interpretando só músicas de Nelson Cavaquinho. Neste disco, produzido por Sérgio Porto e arranjado por Radamés Gnatalli, o compositor participou interpretando três músicas: “Cuidado com a outra” (c/ Augusto Tomás Júnior), “História de um valente” (c/ José Ribeiro de Souza) e “Rei sem trono” (c/ Alberto Jesus). Ainda em 1966, ao lado de Moreira da Silva e João do Vale, apresentou o show “A voz do povo”. No ano posterior, em 1967, o depoimento dado a Sérgio Cabral, Eneida, Sargenteli e Elizeth Cardoso foi registrado em LP, disco no qual também interpretou, de sua autoria, 12 composições: “Aceito o teu adeus” (não me olhes assim) (c/ Luiz Rocha e Amado Regis), “Caridade” (c/ Ermínio do Vale), “Juro” (c/ Amado Regis), “A flor e o espinho”, “Pranto de poeta”, “Degraus da vida”, “Palhaço” e “Luz negra”, entre outras. No mesmo ano, faria seu histórico depoimento para o MIS (Museu da Imagem e do Som), a convite do então diretor Ricardo Cravo Albin.
No ano de 1968 participou do LP “Fala Mangueira”, ao lado de Clementina de Jesus, Cartola e Carlos Cachaça. Neste mesmo ano, Paulinho da Viola gravou, de sua autoria “Não te dói a consciência” (c/ Ary Monteiro e Augusto Garcez). No ano seguinte, foi tema do curta-metragem “Nelson Cavaquinho”, de Leon Hirszman. Neste mesmo ano, o cantor Nélson Gonçalves gravou “Eu não sei porquê” (c/ Anatalício Silva). Ainda em 1969 “Vou partir” (c/ Jair do Cavaquinho) foi incluída no LP “Elizeth e Zimbo Trio balançam na Sucata”, lançado pela gravadora Copacabana.
Em 1970, lançou, pela etiqueta Castelinho, o seu primeiro LP, “Depoimento de poeta”. Neste mesmo ano, Elizeth Cardoso regravou “Degraus da vida” (c/ Antônio Braga e César Brasil), no LP “Falou e disse”. No ano posterior, Paulinho da Viola interpretou “Depois da vida”, parceria com Guilherme de Brito. Neste mesmo ano, o grupo Originais do Samba incluiu no LP “Samba é de lei” (BMG) a composição “O bem e o mal” (c/ Guilherme de Brito).
Em 1972 gravou, pela RCA Victor, o LP “Série documento”. Neste mesmo ano, Clara Nunes gravou “Sempre Mangueira” (c/ Geraldo Queiroz). Posteriormente, em 1973, pela gravadora Odeon, lançou o LP “Nelson Cavaquinho”, disco no qual foi incluído um choro de sua autoria, “Caminhando” (c/ Nourival Bahia). No ano seguinte, em 1974, seu primeiro LP, “Depoimento de poeta”, foi relançado pela gravadora Continental. Ainda em 1974, ao lado de Sabrina, Aparecida, Roque do Plá, Rubens da Mangueira e Dida, participou do LP “Roda de samba nº 2” no qual gravou as faixas “Quero alegria” (c/ Guilherme de Brito) e “Armas proibidas” (c/ José Ribeiro e Guilherme de Brito). Gravou, pela Odeon, o disco “Nelson Cavaquinho”, LP que contou com a participação do parceiro Guilherme de Brito em várias faixas interpretando sucessos da dupla. Elizeth Cardoso gravou “Quando eu me chamar saudade” (c/ Guilherme de Brito), no LP “Mulata maior”, lançado pela gravadora Copacabana, e Zuzuca do Salgueiro interpretou “Nome sagrado” (c/ José Alcides e José Ribeiro). No crédito do disco constam José Alcides e José Ribeiro, em vez de Guilherme de Brito e José Ribeiro de Souza. No ano seguinte, em 1975, Paulo César Pinheiro interpretou “Tatuagem” (c/ Guilherme de Brito e Paulo Gesta), no LP “O importante é que nossa emoção soberviva”, de Marcia, Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro, gravado ao vivo em São Paulo. Nesse mesmo ano, em seu LP “Pandeiro e viola”, Beth Carvalho interpretou “O dia de amanhã” (c/ Guilherme de Brito).
No ano de 1976 Clara Nunes interpretou “Risos e lágrimas” (c/ Rubens Brandão e José Ribeiro) e “Tenha paciência” (c/ Guilherme de Brito). Logo depois, em 1977, participou do disco “Pranto de poeta”, do parceiro e amigo Cartola. No LP, interpretou, juntamente com Cartola, a faixa-título. Neste mesmo ano, gravou, juntamente com Guilherme de Brito, Candeia e Elton Medeiros, o disco “Quatro grandes do samba”, pela RCA Victor. Ainda em 1977, foi lançado o disco “Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim, Zimbo Trio e Época de Ouro – Fragmentos inéditos do histórico recital realizado no Teatro João Caetano em 19 de fevereiro de 1968”. No LP foi incluída sua composição “Vou partir” (c/ Jair do Cavaquinho).
No ano de 1980 a cantora Jurema interpretou “Sinal de paz” (c/ Guilherme de Brito), que deu título ao disco produzido por Adelzon Alves para a gravadora EMI-Odeon. No ano seguinte, no LP “O homem dos quarenta”, João Nogueira incluiu “Pimpolho moderno”, parceria de Nelson Cavaquinho e Gerson Filho.
Em 1985, foi lançado o LP “Flores em vida”, produzido por Carlinhos Vergueiro. O disco contou com a participação de vários artistas, entre eles Chico Buarque, Mauro Duarte, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, João Bosco, Toquinho e Cristina Buarque, entre outros, e pelo próprio compositor, que compareceu em quatro faixas. O disco-homenagem foi lançado em uma grande festa na Quadra da Mangueira.
Na década de 1990 a cantora Leny Andrade prestou-lhe homenagem gravando um CD só com composições suas intitulado “Luz negra – Nelson Cavaquinho por Leny Andrade”, lançado pela gravadora Velas.
Em 1996 Paulinho Tapajós incluiu “Coração poeta”, parceria de ambos, que deu título ao disco do parceiro lançado pela gravadora CID. A composição foi interpretada por Paulinho Tapajós, Chico Buarque e João Nogueira. Dois anos depois, Paulinho Tapajós gravou outra parceria com Nelson Cavaquinho, “Do fundo do armário”, no CD “Reencontro”, também lançado pela gravadora CID. No ano de 1998 a gravadora BMG lançou o CD “Chico Buarque de Mangueira”. Neste disco, em homenagem aos compositores da Escola, apareceram duas composições de sua autoria: “Folhas secas”, interpretada por Chico Buarque, e “Pranto de poeta”, cantada por Leci Brandão.
No ano 2000 o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro lançou o CD duplo com livreto “Mangueira – sambas de terreiro e outros sambas”. No disco foram resgatadas algumas composições gravadas por Hermínio Bello de Carvalho em fitas cassetes na década de 1960, nas quais o compositor, com voz e violão, cantou clássicos como “Notícia”, “Nome sagrado”, “Caridade” (c/ Hermínio do Vale), e “Cheiro à vela” (c/ José Ribeiro de Souza). Ainda neste disco, foram incluídas algumas composições inéditas como “Freira querida” e “Os teus olhos cansam de chorar”, ambas em parceria com Alfredo Português e interpretadas por Nelson Sargento. Neste mesmo ano 2000, durante todo o mês de fevereiro, com roteiro de Ricardo Cravo Albin, foi apresentado no Centro Cultural Banco do Brasil a série de shows “Pranto de poeta – Nelson Cavaquinho 90 anos”. O espetáculo, dividido em quatro partes, contou a vida e a história do compositor, através de suas composições. Na primeira semana, os convidados para “Nelson Cavaquinho – O poeta solitário” foram Elton Medeiros e Nelson Sargento. A segunda semana de apresentação, “Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito – A grande parceria do samba de raiz”, contou com Leny Andrade, Guilherme de Brito e Gilson Peranzzetta. Na terceira semana, o show “Nelson Cavaquinho – O profeta da morte” ficou por conta de Monarco e Cristina Buarque. E, por fim, na quarta semana, Leci Brandão fechou com “Nelson Cavaquinho e a Mangueira”. Ainda no ano 2000, o Quinteto em Branco e Preto, grupo de jovens músicos e compositores da periferia de São Paulo, gravou o primeiro disco, no qual incluíram “Quero lhe ver em meus braços”, parceria de Nelson Cavaquinho e Wilson Moreira. Ainda em 2000 o SESC São Paulo lançou uma caixa com alguns dos programas de Fernando Faro para a TV Cultura na década de 1970, entre os quais “MPB Especial” e “Ensaio”, em uma das caixas foi incluído o depoimento-show de Nelson Cavaquinho com trechos de sua apresentação ao lado do parceiro Guilherme de Brito.
Em 2001 Guilherme de Brito gravou o CD “Samba guardado”. Neste disco foram incluídas várias parcerias de ambos: “Consciência”, “Choro do adeus”, “O bem querer”, “Pomba da paz”, “Me esquece” e “Erva daninha”, esta última com a participação especial de Cássia Eller, e, ainda, “Cinza” (c/ Guilherme de Brito e Renato Gaetani). Neste mesmo ano, em sua homenagem, Nelson Sargento, Soraya Ravenle e grupo Galo Preto apresentaram, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, o show “O dono das calçadas”, lançado em CD no ano seguinte, trazendo, entre outras, “Minha honestidade vale ouro” (c/ Guilherme de Brito), “Rugas” (Nelson Cavaquinho, Augusto Garcez e Ari Monteiro), “Luz negra” (c/ Amâncio Cardoso), “A flor e o espinho” (Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha), “Caminhando” (c/ Nourival Bahia), “Nair” (Nelson Cavaquinho), “Pranto de poeta” (c/ Guilherme de Brito), “Beija-flor” (c/ Noel Silva e Augusto Tomás) e a inédita “Velho amigo”, parceria de Nelson Cavaquinho e Paulo César Feital. Em novembro de 2001, Beth Carvalho apresentou, no Teatro Rival, o show “Nome sagrado”, em homenagem a Nelson Cavaquinho. No mês seguinte, pela gravadora Jam Music, lançou o disco “Nome sagrado – Beth Carvalho canta Nelson Cavaquinho”. Com 20 composições de Nelson Cavaquinho, Beth Carvalho fez uma releitura da obra do compositor e incluiu, entre outras, “Luz negra” (c/ Amâncio Cardoso), “Visita triste” (c/ Anatalício Silva e Guilherme de Brito), “Não te dói a consciência” (c/ Ary Monteiro e Augusto Garcez), “Notícia” (c/ Alcides Caminha e Nourival Bahia), “Minha festa” (c/ Guilherme de Brito), “A flor e o espinho” (c/ Guilherme de Brito e Alcides Caminha), “Nome sagrado” (Guilherme de Brito e José Ribeiro), “Palhaço” (c/ Oswaldo Martins e Washington Fernandes), “Juízo final” (c/ Élcio Soares), “Rugas” (c/ Augusto Garcez e Ary Monteiro) e ainda contou com as participações especiais de Zeca Pagodinho, na faixa “Dona Carola” (c/ Nourival Bahia e Walto Feitosa Santos), Wilson das Neves em “Degraus da vida” (c/ Antônio Braga e César Brasil), Guilherme de Brito, na faixa “Pranto de poeta” (c/ Guilherme de Brito), “Cheira à vela” (c/ José Ribeiro de Souza) e, ainda, do próprio Nelson Cavaquinho, na faixa “Minha festa” (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), faixa na qual o compositor teve a voz acrescentada mediante o aproveitamento de uma gravação antiga desta composição. Neste mesmo CD, Beth Carvalho ainda interpretou a inédita “Nem todos são amigos” (c/ Guilherme de Brito).
Em 2002 foram lançados os livros “Suíte gargalhadas – cento e tantas histórias engraçadas sobre música e músicos” (José Olympio) de Henrique Cazes, e “Dois dedos de prosa e um de poesia”, de Sergio Fonseca, livros nos quais os autores fazem várias referências ao compositor. Do livro de Sergio Fonseca destacamos uma história bem exemplar da conduta de Nelson Cavaquinho: “Na década de 1960, João da Viola, compadre e amigo de Nelson Cavaquinho, foi apresentado por este a Tom Jobim. Nelson teceu bons comentários a respeito do amigo e cumpadre: grande compositor etc. Voltando para Mesquita (onde os dois moravam na época), João da Viola comentou com Nelson: Olha aí compadre. Aquilo não é papel que se faça! Me apresentar a um maestro daquele tamanho e dizer ainda por cima que eu sou compositor! Nelson respondeu: – Que nada João! Deixa de ser bobo! Pára com isso! Que mania que vocês têm de dizer que fulano é bom, que beltrano é melhor, que Cartola é bom, que o Tom e Vinicius são bons, que eu sou o máximo… Eles são tudo igual a gente, rapaz: eles fazem música porque não gostam de trabalhar!”. No ano posterior, em 2003, foi lançado o livro “Luto e melancolia na música popular brasileira”, de José Novaes, no qual o autor citou, várias vezes, muitas composições de Nelson Cavaquinho em parceria com Guilherme de Brito. O livro foi lançado no Bar Bip Bip, em Copacabana, e contou com a presença de vários artistas citados: Guilherme de Brito, Beth Carvalho e Cristina Buarque, entre outros. Neste mesmo ano, Eliane Faria incluiu “Folhas secas” (c/ Guilherme de Brito) no CD “Alma feminina”, lançado pelo selo ICCA (Instituto Cultural Cravo Albin). Ainda em 2003, no CD “Um ser de luz – saudação à Clara Nunes”, foi incluída “Juízo final”, interpretada por Dona Ivone Lara.
Em 2004 Beth Carvalho, com a participação especial do violinista francês Nicolas Krassik, incluiu “Folhas secas” no DVD “Beth Carvalho – a madrinha do samba”, gravado ao vivo no Canecão, no Rio de Janeiro.
No ano de 2005 Elton Medeiros interpretou “Lavo minhas mãos”, no disco “Bem que mereci”. No ano seguinte, em 2006 sua composição “Desconsolo”, com Maurício Tapajós e Hermínio Bello de Carvalho, foi incluída no CD póstumo “Sobras repletas”, de Maurício Tapajós, interpretada em duo voz e piano dos paulistanos Mônica Salmaso e André Mehmari. Neste mesmo ano, outra composição inédita de sua autoria, desta vez “Euforia”, parceria com Eduardo Gudin e Roberto Riberti, foi incluída no CD “Um jeito de fazer samba”, de Eduardo Gudin.
Em 2010 o parceiro Eduardo Gudin apresentou o show “60 anos de Eduardo Gudin – Notícias dum Brasil” no teatro do BNDES, no Rio de Janeiro, espetáculo no qual interpretou “Euforia”, parceria com Nelson Cavaquinho e Roberto Riberti. Neste mesmo ano o Grêmio Recreativo Escola de Samba Mangueira escolheu como tema do desfilhe para o ano seguinte a estória e a obra de Nelson Cavaquinho. Ainda em 2010 foi citado no livro “Vinicius de Moraes”, de Ricardo Cravo Albin, em uma passagem de uma conversa com Lila Bôscoli, então esposa de Vinicius de Moraes, que o havia apresentado à mulher, por sinal o poeta, seu admirador confesso, fez menção a Nelson Cavaquinho na composição “Samba da benção” (Baden Powell e Vinicius de Moraes). No ano seguinte, em 2011, a gravadora EMI lançou o álbum duplo “Nelson Cavaquinho – Cem Anos – Degraus da Vida”, compilação feita pelo pesquisador musical Rodrigo Faour. O CD 1 contou com 14 faixas e vários intérpretes de clássicos do compositor, entre as quais Beth Carvalho em “Folhas secas”, Nora Ney em “Quando eu me chamar saudade”, Roberto Silva em “Notícia”, Emílio Santiago em “Quero alegria” e Dalva de Oliveira interpretando a composição “Palhaço”, gravada em 1951 pela cantora. O CD de raridades do compositor apresentou músicas não tão conhecidas e apenas incluídas em discos de 78 rpm, LPs, compactos simples e duplos de intérpretes e a maioria das gravações nunca incluídas em coletâneas desses intérpretes, muitos deles poucos conhecidos do grande público. Do disco número dois (com as raridades do compositor) destacam-se as faixas “Não me precisa me humilhar” (na voz de Germano Batista); “Se me der adeus” (interpretada por Jorge Veiga); “É só vergonha” (cantada por Gilberto Alves); “Cigarro” (com interpretação do cantor Risadinha); “Mesa farta” (na voz da cantora paulista Márcia), “Tenha paciência” (com Clara Nunes); “Depois da vida” (com gravação de Paulinho da Viola); “Meu caminho” e “Se você me ouvisse”, ambas cantadas por Beth Carvalho. Ainda em 2011 foi lançado pelo Selo Discobertas, do pesquisador Marcelo Fróes, em convênio com o Selo ICCA (Instituto Cultural Cravo Albin), o box “100 Anos de Música popular Brasileira” é integrado por quatro CDs duplos, contendo oito LPs remasterizados. Inicialmente os discos foram lançados no ano de 1975, em coleção produzida pelo crítico musical e radialista Ricardo Cravo Albin a partir de seus programas radiofônicos “MPB 100 AO VIVO”, com gravações ao vivo realizadas no auditório da Rádio MEC entre os anos de 1974 e 1975. Roberto Silva interpretou no CD volume 7 a faixa “Notícia” (c/ Alcides Caminha e Norival Bahia) e Beth Carvalho no mesmo volume as faixas “Luz negra” (c/ Amâncio Cardoso), “A flor e o espinho” (c/ Alcides Caminha e Guilherme de Brito) e “Folhas secas” (c/ Guilherme de Brito). Ainda em 2011 foi lançado o CD “Uma flor para Nelson Cavaquinho” pela gravadora Lua Music. Produzido por Thiago Marques Luiz para a gravadora paulista Lua Music, o disco apresentou gravações inéditas de composições clássicas do compositor, entre as quais “Luz negra” (c/ Amâncio Cardoso) interpretada por Arnaldo Antunes; “Quando eu me chamar saudade” (c/ Guilherme de Brito) com Alcione; “Palhaço” (c/ Oswaldo Martins e Washington Fernandes) com Leci Brandão; “A Mangueira me chama” (c/ José Ribeiro de Souza) com Beth Carvalho; “Folhas secas” (c/ Guilherme de Brito) com Tânia Maria; “Juízo final” (c/ Élcio Soares); com Zeca Baleiro; “Rugas” (c/ Augusto Garcez e Ari Monteiro) com Benito Di Paula; “Se você me ouvisse” (c/ Guilherme de Brito) interpretada por Verônica Ferriani; “Ninho desfeito” (c/ Wilson Canegal) com Cida Moreira; “Pranto de poeta” (c/ Guilherme de Brito) com Fabiana Cozza; “Cuidado com a outra” (c/ Augusto Tomás Júnior) cantada por Diogo Nogueira, além da faixa “Luto” (c/ Guilherme de Brito e Sebastião Nunes), interpretada pela cantora Milena. Neste mesmo ano de 2011 o cantor e compositor Carlinhos Vergueiro lançou disco em homenagem ao amigo e parceiro, CD no qual interpretou várias composições inéditas e regravou alguns clássicos, nos quais contou com as particIpações especiais de Chico Buarque, Cristina Buarque, Marcelinho Moreira, Wilson das Neves e ainda de Beth Carvalho na faixa “Palavras malditas”, gravada anteriormente pelo cantor Ary Cordovil em 1957. Neste mesmo ano Jard’s Macalé regravou “Juízo final” no CD “Jards”, lançado pela gravadora Biscoito Fino.
No ano de 2012 o grupo carioca Sururu na Roda prestou homenagem aos 100 do compositor lançando o CD “Se você me ouvisse – 100 anos de Nelson Cavaquinho”, pela gravadora Rob Digital. No disco foram incluídas as faixas “Se você me ouvisse” (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), “A flor e o espinho” (Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha), “História de um valente” (Nelson Cavaquinho e José Ribeiro de Souza), “Minha festa” (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), “Quando eu chamar saudade” (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), “A vida” (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), “Notícia” (Nelson Cavaquinho, Alcides Caminha e Nourival Bahia), “O meu pecado” (Nelson Cavaquinho e Zé Keti), “Folhas secas” (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), “Degraus da vida” (Nelson Cavaquinho, Antonio Braga e César Brasil), “Luz negra” (Nelson Cavaquinho e Amâncio Cardoso), “Gotas de luar” (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), “Caminhando” (Nelson Cavaquinho e Nourival Bahia), “Rugas” (Nelson Cavaquinho e Augusto Garcez), “Juízo final” (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares) e “Dona Carola” (Nelson Cavaquinho, Nourival Bahia e Walto Feitosa), além do pou-porri “Pranto de poeta” (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), “Quero alegria” (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), “Vou partir” (Nelson Cavaquinho e Jair do Cavaquinho) e “Sempre Mangueira” (Nelson Cavaquinho e Geraldo Queiroz). No final deste mesmo ano, a exposição de fotos, de Ricardo Poock, montada no ICCA (Instituto Cultural Cravo Albin), foi exibida durante um mês no município de Maricá, levada pelo então Secretário de Cultura Ricardo Cravo Albin, para servir de enredo didático e escolar para os alunos da Rede Pública do município. Neste mesmo ano o cantor e compositor Jard’s Macalé também lhe prestou homenagem apresentando no Espaço Cultural Eletrobrás Furnas, em Botafogo, no Rio de Janeiro, o show “A História do Bem e do Mal”, reverenciando a obra do amigo. Com direção musical e arranjos do pianista Cristóvão Bastos e acompanhado pelos músicos Jorge Helder (abaixo acústico e elétrico), Fernando Pereira (bateria e percussão) e Dirceu Leite (sopros), o cantor interpretou clássicos como “A Flor e o Espinho”, “Rugas”, “Notícia”, entre outros. Neste mesmo ano de 2012 a gravadora Warner lançou o CD “Nelson Cavaquinho – Programa Ensaio TV Cultura São Paulo”, com o depoimento-show gravado sob direção de Fernando Faro na década de 1970.
Em 2016 o cantor paulistano Rômulo Fróes lançou em homenagem ao compositor mangueirense, pelo Selo Sesc, o CD “Rei Vadio”, no qual interpretou 14 composições, destacando-se as faixas “Eu e as flores” (c/ Jair do Cavaquinho) com participação especial de Dona Inah; “Vou partir” (c/Jair do Cavaquinho), com participação especial da Velha da Nenê da Vila Matilde; “Caminhando” (c/ Nuno Ramos), com participação da cantora Ná Ozzetti; “Luz negra” (c/ Amâncio Cardoso), com participação especial do cantor Criolo; “Juízo final” (c/ Élcio Soares); “Notícia” (c/ Alcides Caminha e Nourival Bahia); “História de um valente” (c/ José Ribeiro Souza) e “Mulher sem alma”, parceria com Guilherme de Brito. O disco causou polêmica entre os críticos especializados. Enquanto alguns como João Máximno declarava que a obra do compositor estava fora de seu eixo natural, outros entendiam que uma nova e vigorosa roupagem era necessária para a obra do sambista.
No ano de 2018 o Grupo Semente e a cantora Simome Mazzer lhe prestaram homenagem, no palco da Sala Municpal Baden Powell, com o espetáculo “Grupo Semente & Simone Mazzer Cantam e Tocam Nelson Cavaquinho”.No ano posterior, em 2019, o músico Eduardo Neves (flauta e sax-soprano) integrante do 4Teto, grupo também composto por Adriano Souza (piano), André Vasconcellos (contrabaixo) e Rafael Barata (bateria) apresentou no Espaço Cultural Artístico & Restaurante Vizinha 123, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, o espetáculo intitulado “Nelson Cavaquinho Jazz”.
Dificilmente poderão se listados todos os intérpretes da obra de Nelson Cavaquinho. Contudo, destacam-se Chico Buarque (‘Cuidado com a outra’ e ‘Folhas secas’), Elza Soares (‘Saudade, minha inimiga’ e ‘Pranto de poeta’), Clara Nunes (‘Juízo Final’, ‘Minha festa’ e ‘Palhaço’), Nora Ney (‘Quando eu me chamar saudade’), Emílio Santiago (‘Quero alegria’), Elizeth Cardoso (‘A flor e o espinho’, ‘Luz negra’ e ‘Degraus da vida’), Cláudia Telles (‘Luz negra’), Leny Andrade (‘Vou partir’), Orlando Silva (‘Degraus da vida’), Beth Carvalho (‘Folhas secas’, ‘Quero alegria’ e ‘Se você me ouvisse’), Cazuza (‘Luz negra’), Alcione (‘Luto’), Nélson Gonçalves (‘Meu velho coração’), Elis Regina (‘Folhas secas’) e Cyro Monteiro (‘Rugas’), além do próprio parceiro Guilherme de Brito em várias composições da dupla. Beth Carvalho foi uma das intérpretes que mais o gravou: em 1973, “São Jorge meu protetor”; em 1974, “Falência” e “Miragem”; em 1975, “O dia de amanhã”; em 1978, “Meu caminho”; em 1979, “Beija-flor”; em 1980, “Voltei” e, em 1981, “Deus me fez assim”. Em 1981, Elizeth Cardoso, no LP “Elizetíssima”, incluiu “Quando eu me chamar saudade”.

Seus parceiros foram tantos, que, também, dificilmente, poderão se listados. Contudo, alguns, como Guilherme de Brito, Cartola, Jair do Cavaquinho, João de Aquino e Paulo César Pinheiro figuram entre os mais importantes.

Sobre ele, escreveu José Ramos Tinhorão:

“Tome um homem seu violão, cante pelas ruas como um antigo trovador da Idade Média a beleza das flores, a efemeridade da vida e a angústia metafísica da morte, e esse será o retrato de Nelson Cavaquinho. Com sua cabeleira branca, seu permanente ar de dignidade e a sua voz enrouquecida por muitos anos de cervejas geladas, o que Nelson Cavaquinho canta (fazendo percutir, mais que dedilhando, as cordas do seu violão) é a saga de um homem que vive em estado de poesia. E cuja obra, por isso mesmo, não morrerá.”

No ano de 2019 Maria Bethânia regravou “A flor e o espinho” (c/ Guilherme de Brito e Alcides Caminha) para o projeto musical “Mangueira – A Menina dos Meus Olhos”, lançado em CD neste mesmo ano. No ano seguinte, em 2020, a cantora e compositora Rosa Passos lançou, pelo selo digital Tratore, o single “From Paulelli to Rosa Passos”, para o qual regravou “Folhas secas”, parceria com Guilherme de Brito. Ainda em 2020 foi lançando pelos selos Guitarra Brasileira e Tratore o EP “Luiz Melodia e Renato Piau Ao Vivo”. Gravado em ocasiões de shows, por diversos teatros de estados brasileiros, no disco ambos interpretaram “Palhaço”, de Nelson Cavaquinho, Washington Fernandes e Oswaldo Martins.

Discografias
2020 Gravadora Biscoito Fino CD Grupo Semente e Simone Mazzer Cantam e Tocam Nelson Cavaquinho
2020 Independente CD Sucesso de Mistura

Dona Ivone Lara, Nélson Sargento e Nelson Cavaquinho

2018 Gravadora Fina Flor CD Leny Andrade e Gilson Peranzzetta: Canções de Cartola e Nelson Cavaquinho
2016 Selo Sesc/ Dist. Tratore CD Romulo Fróes - Rei Vadio: As Canções de Nelson Cavaquinho
2012 Gravadora Biscoito Fino CD Carlinhos Vergueiro Interpreta Nelson Cavaquinho
2012 Gravadora Warner CD Nelson Cavaquinho - Programa Ensaio TV Cultura - São Paulo
2012 Gravadora Lua Music CD Uma Flor Para Nelson Cavaquinho

(Compilação de vários intérpretes)

2011 (vários) EMI Music CD Nelson Cavaquinho - Cem Anos - Degraus da Vida
2011 EMI Music CD Nelson Cavaquinho - Cem Anos - Degraus da Vida

(vários)

2011 Gravadora Fina Flor CD Nelson Cavaquinho Por Conjunto Galo Preto
2009 Warner Music Brasil CD Dois Gênios: Cartola & Nelson Cavaquinho

(vários intérpretes)

2001 Jam Music CD Nome sagrado - Beth Carvalho canta Nelson Cavaquinho

(participação)

2000 Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro CD Mangueira - samba de Terreiro e outros sambas

(participação)

2000 Selo Sesc São Paulo CD Programa Ensaio - Depoimento-show

(c/ Guilherme de Brito)

2000 Selo Sesc São Paulo CD Programa Ensaio - Depoimento-show (c/ Guilherme de Brito)
1996 Independente CD Cláudia Telles Interpreta Nelson Cavaquinho e Cartola
1996 RCA Victor CD Nelson Cavaquinho

(Série Aplauso)

1996 EMI/Odeon CD Quando eu me chamar saudade
1985 Gravadora Eldorado LP As flores em vida

(vários)

1977 RCA Victor LP Cartola - verde que te quero rosa

(participação)

1977 RCA Victor LP Quatro grandes do samba

(c/ Guilherme de Brito, Elton Medeiros e Candeia)

1974 Odeon LP Nelson Cavaquinho

(c/ participação de Guilherme de Brito)

1974 Relançamento pela Continental LP Nelson Cavaquinho. Depoimento do poeta
1974 CID LP Roda de samba nº 2

(vários)

1973 Odeon LP Nelson Cavaquinho
1973 Odeon/EMI Recodrs LP Nelson Cavaquinho
1972 RCA Victor LP Série documento
1972 RCA Victor LP Série documento: Nelson Cavaquinho
1970 Selo Castelinho LP Nelson Cavaquinho - depoimento do poeta
1968 (c/ Cartola, Clementina de Jesus e Carlos Cachaça) LP Fala Mangueira
1966 CBS LP Thelma Costa

(participação)

Obras
A Mangueira me chama (c/ José Ribeiro de Souza)
A dor de uma paixão (c/ José Ribeiro de Souza)
A flor e o espinho (c/ Guilherme de Brito e Alcides Caminha)
A lágrima (c/ Guilherme de Brito)
A tua traição (c/ Guilherme de Brito)
A vida (c/ Guilherme de Brito)
A última esperança (c/ Guilherme de Brito)
A última rodada (c/ Guilherme de Brito)
Aceito o teu adeus (c/ Luiz Rocha e Amado Regis)
Agora é tarde (c/ José Alcides)
Agradeço a Deus (inédita)
Ameaça samba (inédita)
Amor de mãe (c/ Guilherme de Brito)
Amor e paz (inédita)
Amor proibido (c/ Guilherme de Brito)
Amor que morreu (c/ Rondão Lima e Gilberto Teixeira)
Amor-perfeito (c/ Guilherme de Brito)
Apresenta-me àquela mulher (c/ Augusto Garcez e Gustavo de Oliveira)
Aquele bilhetinho (c/ Augusto Garcez e Arnô Canegal)
Arma do covarde (inédita)
Armas proibidas (c/ Guilherme de Brito e José Ribeiro de Souza)
Beija-flor (c/ Noel Silva e Augusto Tomás)
Caminhando (c/ Nourival Bahia)
Caminhando (c/ Nuno Ramos)
Cansado de chorar (c/ Amâncio Cardoso)
Capital do samba (c/ Alcides Caminha)
Caridade (c/ Hermínio do Vale)
Chega de sofrer (c/ Pedro Martins e Renato Araújo)
Cheiro à vela (c/ José Ribeiro de Souza)
Choro do adeus (c/ Guilherme de Brito)
Cigarro (c/ José Batista)
Cinza (c/ Guilherme de Brito e Renato Gaetani)
Consciência (c/ Guilherme de Brito)
Coração de pedra (c/ César Brasil)
Coração de poeta (c/ Paulinho Tapajós)
Cuidado com a outra (c/ Augusto Tomás Júnior)
Dama de baralho (c/ Guilherme de Brito)
Decididamente (c/ Guilherme de Brito)
Degraus da vida (c/ Antônio Braga e César Brasil)
Deixa ela rolar (c/ P. Martins e Valfrido Silva)
Depois da vida (c/ Guilherme de Brito)
Derrota (c/ Guilherme de Brito)
Desconsolo (c/ Maurício Tapajós e Hermínio Bello de Carvalho)
Deus me fez assim (c/ Guilherme de Brito)
Deus não me esqueceu (c/ Armando Bispo de Jesus e João Ananias da Silva)
Deus olha por mim
Deus é a caridade (c/ José Ribeiro e Rubens Brandão)
Devia ser condenada (c/ Cartola)
Dia de amanhã (c/ Guilherme de Brito)
Dizem (c/ Guilherme de Brito)
Do fundo do armário (c/ Paulinho Tapajós)
Dona Carola (c/ Nourival Bahia e Walto Feitosa Santos)
Duas horas da manhã (c/ Ary Monteiro)
Ela chorou (c/ Armando Borges dos Reis)
Ela não é o que dizem
Encontro marcado (c/ Nélson Cavaquinho)
Enquanto a cidade dorme (c/ Jair do Cavaquinho)
Entre a cruz e a espada
Erva daninha (c/ Guilherme de Brito)
Escola da vida (c/ Juvenal Fernandes)
Esquina do pecado (c/ Guilherme de Brito) inédita
Eu e as flores (c/ Jair do Cavaquinho)
Eu já sabia (c/ Paulo Pedroso Leite)
Eu não sei porquê (c/ Anatalício Silva)
Euforia (c/ Eduardo Gudin e Roberto Riberti)
Falência (c/ Guilherme de Brito)
Fita roxa (c/ Guilherme de Brito)
Folhas caídas (c/ César Brasil)
Folhas secas (c/ Guilherme de Brito)
Fora do baralho (c/ José Ribeiro de Souza e Antonio Gomes de Farias)
Freira mais querida (c/ Nelson Sargento e Alfredo Português)
Fruto da maldade (c/ César Brasil)
Garça (c/ Guilherme de Brito)
Gotas de luar (c/ Guilherme de Brito)
História de um valente (c/ José Ribeiro Souza)
Humilhação (c/ Guilherme de Brito)
Insônia (c/ Neoci Dias e Bandeira Brasil)
Inveja e maldade (inédita)
Irene (c/ Alfredo Português)
Juro (Amado Régis)
Justiça divina (c/ Guilherme de Brito)
Juízo final (c/ Élcio Soares)
Lavo minhas mãos
Louco (c/ Guilherme de Brito)
Luto (c/ Guilherme de Brito e Sebastião Nunes)
Luz negra (c/ Amâncio Cardoso)
Lá vem elas (inédita)
Lágrima sem júri
Mais um palhaço (inédita)
Mangueira (c/ Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti)
Mangueira de bambas (c/ Geraldo Queirós)
Me esquece (c/ Guilherme de Brito)
Mesa farta (inédita)
Meu caminho (c/ Guilherme de Brito)
Meu pecado (c/ Zé Kéti)
Meu perdão (c/ Guilherme de Brito)
Meu sofrer (c/ Guilherme de Brito)
Meu velho coração (c/ Guilherme de Brito)
Minha fama (c/ Magno de Oliveira)
Minha festa (c/ Guilherme de Brito)
Minha honestidade vale ouro (c/ Guilherme de Brito)
Minha vida
Miragem (c/ Guilherme de Brito)
Mulher sem alma (c/ Guilherme de Brito)
Nair
Negaste um cigarro (c/ José Batista)
Nem todos são amigos (c/ Guilherme de Brito)
Nena (c/ Joaquim Vaz de Carvalho)
Ninho desfeito (c/ Wilson Canegal)
Nome sagrado (c/ José Ribeiro de Souza e Guilherme de Brito)
Nosso caso é o fim (c/ Guilherme de Brito)
Notícia (c/ Alcides Caminha e Nourival Bahia)
Não brigo mais (c/ César Brasil)
Não fales naquela mulher (c/ Milton Monteiro e Wilson Canegal)
Não faça vontade a ela (c/ Henricão e Rubens Campos)
Não me olhes assim (c/ Luís Rocha e Armando Borges dos Reis)
Não precisa me humilhar (c/ Armando Borges dos Reis)
Não sei porquê (c/ José Ribeiro de Souza)
Não sirvo de espelho (inédita)
Não te dói a consciência (c/ Ari Monteiro e Augusto Garcez)
Não tenho inveja (c/ Silvio Trancoso)
Não é só você (c/ Guilherme de Brito)
O bem e o mal (c/ Guilherme de Brito)
O dono das calçadas (c/ Guilherme de Brito)
O meu pecado (c/ Zé Kéti)
Orgulho e agonia (c/ Fernando Mauro)
Os teus olhos cansam de chorar (c/ Alfredo Português)
Palavras malditas (c/ Guilherme de Brito)
Palco vazio (c/ Nélson Cavaquinho)
Palhaço (c/ Oswaldo Martins e Washington Fernandes)
Pecado (c/ Ligia Uchoa Barbosa)
Perfeito só Deus (inédita)
Pimpolho moderno (c/ Gerson Argolo Filho)
Pobre caído (inédita)
Pode sorrir (c/ Guilherme de Brito)
Pomba da paz (c/ Guilherme de Brito)
Porões (c/ Paulo César Feital)
Pranto de poeta (c/ Guilherme de Brito)
Quando alguém pergunta (c/ Guilherme de Brito)
Quando eu me chamar saudade (c/ Guilherme de Brito)
Que caia sobre mim (c/ Armando Borges dos Reis)
Queda
Quem chora tem sempre razão (c/ Guilherme de Brito)
Quero alegria (c/ Guilherme de Brito)
Quero lhe ver em meus braços (c/ Wilson Moreira)
Realidade (c/ Geraldo Cunha e Antônio Braga)
Rei sem trono (c/ Alberto Jesus)
Rei vadio (c/ Joaquim Vaz de Carvalho)
Rei vagabundo (c/ José Ribeiro de Souza e Noel Silva)
Revertério (inédita)
Rio vagabundo (c/ Carioca)
Rio, não és mais criança (c/ José Ribeiro de Souza)
Risos e lágrimas (c/ José Ribeiro de Souza e Rubem Brandão)
Rugas (c/ Augusto Garcez e Ari Monteiro)
Samba de São Jorge (c/ Oldemar Magalhães e Jorge Silva)
Saudade a minha inimiga (c/ Guilherme de Brito)
Se a terra falasse (c/ José Ribeiro de Souza)
Se eu sorrir (c/ Guilherme de Brito)
Se me der adeus (c/ Armando Borges dos Reis)
Se você me ouvisse (c/ Guilherme de Brito)
Semente do samba
Sempre Mangueira (c/ Geraldo Queiroz)
Sinal de paz (c/ Guilherme de Brito)
Suicídio (c/ Guilherme de Brito)
São Jorge, meu protetor (c/ Jorge Silva e Noel Silva)
Tatuagem (c/ Guilherme de Brito e Paulo Gesta)
Tenha paciência (c/ Guilherme de Brito)
Terra de ninguém (inédita)
Todo mundo sabe (c/ Djalma Mafra)
Traço de união (inédita)
Triste destino
Uma estrela do céu caiu (c/ Guilherme de Brito)
Vaidosa (inédita)
Velhice (inédita)
Velho amigo (c/ Paulo César Feital)
Visita triste (c/ Anatalício Silva e Guilherme de Brito)
Voltei (c/ Guilherme de Brito)
Vou partir (c/ Jair do Cavaquinho)
É só vergonha (c/ Hermínio do Vale)
É tão triste cair (c/ Guilherme de Brito)
Shows
1980 Teatro Ipanema, RJ. Show com Nelson Cavaquinho, Rildo Hora e Vânia Carvalho
1966 Rio de Janeiro, RJ. Show A voz do povo (c/ João do Vale e Moreira da Silva).
1964 Teatro Opinião, RJ. Show Opinião
1962 Boate Caixote, RJ. Show Rildo Hora, Nelson Cavaquinho e João do Vale
1961 Zicartola, RJ. Nelson Cavaquinho
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

ALBIN, Ricardo Cravo. MPB, a história de um século. Rio de Janeiro: Atrações Produções Ilimitadas/MEC/Funarte, 1997.

ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 2003.

ALBIN, Ricardo Cravo. Vinicius de Moraes. Rio de Janeiro: Edição Instituto Cultural Cravo Albin, Fundação Alexandre Gusmão, FAPER, FINEP e Ministério das Relações Exteriores, 2010.

AMARAL, Euclides. A Letra & a Poesia na MPB: Semelhanças & Diferenças. Rio de Janeiro: EAS Editora, 2019.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2009.

ANDREATO, Elifas e SOUZA, Tarik de. Rostos e gostos da música popular brasileira. Porto Alegre: L&PM, 1979.

CAMPOS, Conceição. A letra brasileira de Paulo César Pinheiro: uma jornada musical. Rio de Janeiro: Editora Casa da Palavra, 2009.

CASTRO, Ruy. Chega de saudade – a história e as histórias da bossa nova. Rio de Janeiro: Companhia das Letras.

CAZES, Henrique. Suíte gargalhadas – cento e tantas histórias engraçadas sobre música e músicos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002.

COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.

COSTA, Flávio Moreira da. Enxugue os olhos e me dê um Lenço. Rio de Janeiro: Relume Dumará, S/D.

FERNANDES, Otair e SILVA, Inácio da Silva (Organizadores). Frutos da Terra: Sambas e Compositores Iguaçuanos. Rio de Janeiro: Núcleo LEAFRO (Laboratório de Estudos Afro-brasileiro e Indígenas), da UFFRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), 2013.

FONSECA, Sergio. Dois dedos de prosa e um de poesia. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 2002.

FONSECA, Sérgio. Frente & verso – poemas, crônicas, letras, prosa e trovas. Editora do Autor, 2013.

Fascículo MPB. Compositores, nº 26 – Nelson Cavaquinho. São Paulo: Editora Globo, S/D.

Fascículo Nelson Cavaquinho. Nova história da música popular brasileira. São Paulo: Editora Abril, 1978.

MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da música Brasileira – erudita, folclórica e popular. 3. ed. São Paulo: Arte Editora/Itaú Cultural/Publifolha, 1998.

MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da música brasileira – erudita, folclórica e popular. 1 v. São Paulo: Arte Editora/Itaú Cultural, 1977.

NOVAES, José. Luto e melancolia na música popular brasileira. Rio de Janeiro: Editora Intertexto/Oficina do Autor, 2003.

Crítica

Poucas pessoas tão densas e interessantes terei conhecido quanto Nelson Cavaquinho. Lembro-me de que ele me foi apresentado por Sérgio Porto no Zicartola, o lendário bar de Zica e Cartola na Rua da Carioca.

“- Este aqui, chapinha, é o cantor e compositor Nelson do Cavaquinho, que não é do cavaquinho, mas do violão. Que não é cantor porque é rouco e desafina. Mas te garanto que compositor ele é, e dos melhores, apesar de ter o mau hábito de vender muitos dos seus sambas”.

Nelson, já mais pra lá do que pra cá, olhou Sérgio de alto a baixo e disparou com afeto indisfarçado: “- Ah, é? Pois então, pra você deixar de ser besta e metido a dono da verdade, vai me pagar a conta dos meus comes e bebes desta noite”.

O poeta – começando a fazer seu auto-retrato ante meus olhos – comandou o máximo de “bebes”, o mínimo de “comes” e fez duas ou três aparições no palco do bar durante a noite.

Foi ali naquele encontro em que todos bebemos mares de uísque e chopes, que descobri um dos sujeitos mais originais que conheci em toda a minha vida. E por várias razões: a primeira era o tipo físico do Nelson, atarracado e pequeno mas admirável pela cor de bronze luzidio, que fazia contraste com uma cabeleira branca, bela e vasta. Seu rosto, expressivo e forte, era quase sempre emoldurado por um grosso par de óculos que fazia dele uma figura severa. Seu todo era triste. E quando cantava, atracado ao violão que mais parecia um náufrago agarrando sua tábua, saía dele uma carga magnética, rigorosamente indefinida, que me comovia a cada música.

Ah! a música do Nelson. Que sambas, que letras, que unidade estilística, que originalidade!

Na noite em que o conheci, ele cantou músicas tristes e que falavam de morte, de enterro, de corações partidos, de despedidas.

Ao final, impressionadíssimo com o que acabara de ouvir, bradei pro Sérgio Porto, do alto da minha pretensão, só perdoável pelos insuportáveis vinte e poucos anos: “- Mas é o nosso Boris Vian, ou melhor, é o nosso Sartre da Mangueira”.

“- Deixe de ser coroca, chapinha, você não vê que Nelson dá de dez nesses filósofos chatos?”

Dava. E dará sempre, a quem se dispuser a ouvir sua grande arte carioca. E universal.

Ricardo Cravo Albin