5.001
©
Nome Artístico
Naná Vasconcelos
Nome verdadeiro
Juvenal de Holanda Vasconcelos
Data de nascimento
2/8/1944
Local de nascimento
Recife, PE
Data de morte
9/3/2016
Local de morte
Recife, PE
Dados biográficos

 

Instrumentista (percussionista). Compositor.

Aprendeu a tocar sozinho ainda na infância, batucando em panelas e penicos. Aos doze anos, apresentava-se profissionalmente em bares e clubes. Jamais frequentou nenhuma escola de música, tendo, por toda sua carreira, sido autodidata. Em uma entrevista declarou: “Quando você aprende teoria musical por livros, precisa sempre consultar os textos. Quando você aprende com o corpo, é como andar de bicicleta. Seu corpo se lembra.”.

Foi eleito oito vezes, entre 1983 e 1990, pela revista Down Beat, considerada a Bíblia do Jazz, o melhor percussionista do mundo.

Em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). No mesmo ano, descobriu um câncer no pulmão esquerdo e passou quase um mês internado. Morreu no ano seguinte, em 2016, vitimado por complicações derivadas do câncer. Permaneceu internado por dez dias no hospital Unimed III, no Recife, onde sofreu uma parada respiratória a qual não resistiu. O velório ocorreu na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Segundo familiares, o músico se sentiu mal após apresentar-se em Salvador, num show com o violoncelista Lui Coimbra. Seu corpo foi sepultado no cemitério de Santo Amaro, no dia seguinte a sua morte. Sobre sua partida, o governador Paulo Câmara declarou: “Pernambuco acordou triste. O silêncio causado pelo desaparecimento de Naná Vasconcelos em nada combina com a força da sua música, dos ritmos brasileiros que ele, como poucos, conseguiu levar a todos os continentes. Naná era um gênio, um autodidata que com sua percussão inventiva e contagiante conquistou as ruas, os teatros, as academias. Meus sentimentos e a minha solidariedade para com os seus familiares”. Foi decretado luto oficial de três dias.

Em 2024 foi lançada, no Itaú Cultural, em São Paulo, exposição comemorando os 80 anos do percussionista. O centro da exposição foi o primeiro berimbau do músico. A exposição foi estruturada em eixos a partir de fotos, vídeos, figurinos, instrumentos e objetos. Também foi feita uma HQ, intitulada “Quase dois irmãos”, de Mateus Araújo e Diox, sobre a relação de Naná com o Berimbau distribuída aos visitantes da exposição.

 

Dados artísticos

Iniciou sua carreira profissional em Recife, tocando bateria em cabarés. Mais tarde, foi percussionista da Banda Municipal local. Acompanhou Gilberto Gil em shows pelo Nordeste. 

Em 1967, viajou para o Rio de Janeiro, onde conheceu Maurício Mendonça (Maurício Maestro), Nélson Ângelo, Joyce e Milton Nascimento, com quem atuou na gravação de dois LPs. 

No ano seguinte, seguiu para São Paulo. Ao lado de Nélson Angelo, Franklin e Geraldo Azevedo, fez parte do Quarteto Livre, que acompanhou Geraldo Vandré em “Pra não dizer que não falei de flores” na fase paulista do III Festival Internacional da Canção. 

Em 1969, apresentou-se com Gal Costa no Curtisom e no Museu de Arte Moderna de São Paulo. 

De volta ao Rio de Janeiro, formou o Trio do Bagaço, com Nélson Angelo e Maurício Maestro, apresentando-se, com o grupo, no México, a convite de Luis Eça.

Atuou na trilha sonora de “Pindorama”, filme de Arnaldo Jabor. Nessa época, conheceu Gato Barbieri, com quem viajou para Nova York (EUA) para a gravação de um disco. Nesta cidade, participou de festivais de jazz, como o de Chateau Vallon, e gravou com Jean-Luc Ponty, Don Cherry, Roff Kün, Oliver Nelson e Léon Thomas. 

Mais tarde, viajou para a Europa. Fez contato com gravadoras parisienses através de Pierre Barrouh. Apresentou-se no Teatro Ranelagh e foi convidado a gravar com Joachin Kunhu, na Alemanha, seguindo, depois para Montreux (Suíça), onde realizou mais um show. Atuou durante dois anos com o Quarteto Iansã, na Europa. Seguiu, depois, para a África, onde permaneceu durante seis meses fazendo pesquisas. Seu primeiro LP, “Africadeus”, foi gravado no exterior. Ainda na Europa, compôs a trilha sonora de uma novela para a televisão francesa com temas brasileiros. Em Portugal gravou um disco no dialeto angolano quimbundo.

Em 1972, retornou ao Brasil e apresentou, no Teatro Fonte da Saudade, o material com que participou de festivais e gravações com Don Cherry, Tony Williams, Art Blakey, Miles Davis e Oliver Nelson, entre outros, utilizando instrumentos de percussão como o berimbau e a queixada de burro. Nessa apresentação, interpretou o repertório de seu disco “Africadeus” e uma bachiana de Villa-Lobos, regendo um coral e atuando como único músico do show.

No ano seguinte, gravou seu segundo LP, “Amazonas”, lançado pela Philips, mesclando o ritmo brasileiro ao folclore africano. 

Ainda na década de 1970, voltou a Paris, onde realizou um trabalho com crianças excepcionais. 

Trabalhou durante oito anos com Egberto Gismonti, com quem gravou, na Alemanha, o LP “Dança das cabeças” (1977), nomeado Álbum do Ano pela “Stereo Review” e premiado com o Grober Deutscher Schallplattenpreis. 

Em 1979, gravou o LP “Egberto Gismonti & Naná Vasconcelos & Walter Smetak”. Nessa época, transferiu-se novamente para Nova York. Atuou com artistas internacionais como Pat Metheny, B.B. King e Paul Simon. 

É autor da música de “O sertão das memórias”, filme de José de Araújo. 

Em 1997, voltou ao Brasil para organizar, com Gilberto Gil, o IV Panorama Percussivo Mundial, realizado no Teatro Castro Alves, do qual participaram artistas de vários países do mundo. 

Em 1999, lançou o CD “Contaminação”, contendo suas composições “Science” (c/ Vinicius Cantuária e Mércia Rangel), “Tá na roda tá”, “Irapurú”, “Quase choro”, “Luz de candeeiro”, “Cajú” e “To you to”, todas com Vinicius Cantuária, “Lágrimas”, “Coco lunar”, “Forró do Antero” e “A seca” (c/ Dino Braia, Mércia Rangel e Alceu Valença), além de “Ciranda” e da faixa-título, ambas com Mércia Rangel. 

Em 2000, participou do CD da banda Via Sat. 

No ano seguinte, lançou o CD “Fragmentos”, uma compilação de temas que compôs para filmes e espetáculos teatrais. No repertório, ” Vento chamando vento”, “Mundo verde”, “Sertão das memórias”, “Forró do Antero”, “Vozes”, “Vamos pra selva”, “Caminho dos pigmeus” e “Gorée”, além de sua versão para “Marimbariboba” (Domínio Público). Também nesse ano, participou, como arranjador, do CD “Cordel do Fogo Encantado”. 

Em 2002, lançou o CD “Minha Lôa”, contendo suas composições “Futebol”, “Afoxé do Nêgo Véio”, “Estrela negra” (c/ João de Souza Leão), “Goreé”, “Macaco”, “Dons rollerskates (Tributo a Don Cherry)” e “Curumim”, além de “Voz Nagô” (Paulo César Pinheiro e Pedro Amorim), “Isleña” (Kiko Klaus), “Caboclo de lança” (Erasto Vasconcelos e Esdras) e “Forró das meninas” (Erasto Vasconcelos, Guga e Murilo).

Lançou, em 2005, o CD “Chegada”, com a participação de César Michiles (flautas e saxes), Lui Coimbra (cello, charango e violão), Chiquinho Chagas (piano, teclados e acordeon) e Lucas dos Prazeres (percussão).

Em 2006, lançou o CD “Trilhas”, reunindo temas que compôs para os filmes “Quase dois irmãos”, de Lucia Murat, “Nizinga”, de Rose Lacret e Otávio Bezerra, e “Ori – Canção para Aisha”, de Raquel Gerber, e para os espetáculos de dança “Corpos luz”, da companhia de balé Dança Vida, de Ribeirão Preto, e “Balé de Rua – Uma história brasileira”, da companhia Balé de Rua, de Uberlândia. Em todas as faixas, o músico assina voz e percussão.

Em parceria com Marcos Suzano, Caito Marcondes e Coração Quiáltera, lançou, em 2010, o CD “Sementeira: Sons da Percussão”, contendo suas composições “Sementeira”, “Ifá”, “Convite” e “Ensaio geral”, todas com Caito Marcondes, Marcos Suzano e Coração Quiáltera, “Lua Nova” (c/ Coração Quiáltera) e “Nada mais sério”, além de “Triciclo” e “Ditempus Intempus”, ambas de Coração Quiáltera), “Canto de trabalho” (Caito Marcondes) e “No morro” (Marcos Suzano).

Em 2013, o músico fez a trilha sonora da animação O Menino e o Mundo, que disputou o Oscar de melhor filme de animação em 2016.

Ao lado de Zeca Baleiro e Paulo Lepetit, lançou o CD/projeto Café no Bule, em 2015. Sobre o disco, afirmou: “Foi uma ideia do Paulo Lepetit e do Zeca Baleiro, parceiros que estiveram comigo em um outro projeto que ‘deu repercussaõ’. E eu aceitei de cara tomar esse café com eles. Já sobre a escolha das músicas declarou que “Foi simples e não teve seleção de repertório. Fomos fazendo.”. Dentre as faixas, compostas à distância, por telefone e por email, “Yellow Taxi”, “Ciranda da meia noite”, “”A maré tá boa”, “Xote do Tarzan”, “A dama do chama maré”, “Batuque na panela”. Os três revezaram-se nos vocais durante as gravações.

Em 2016, participou da abertura do carnaval de Recife, no Marco Zero, na companhia de Lenine, Sara Tavares, Maracatu Nação Porto Rico e do Clube Carnavalesco Misto Pão Duro, e na companhia de 400 batuqueiros.

Em 2017 sua estátua foi inaugurada no Marco Zero em Recife (PE), e junto à ela, uma placa informativa com um “QR Code” (código lido por celulares com câmera fotográfica) fornecendo informações sobre a vida e a obra do artista.

Em 2018 foi lançado seu boneco gigante durante o carnaval pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, a mesma que o condecorou com o título de “Doutor Honoris Causa” no ano de 2015.

Em 2019 o Museu do Instrumento Musical da cidade de Phoenix (EUA) exibiu 16 instrumentos seus, com objetivo de mostrar a extensão de sua pesquisa, incluindo instrumentos e exemplares de países africanos.

Discografias
2015 Sesc SP CD “Café no bule”

Com Zeca Baleiro e Paulo Lepetit

2011 Daquí Pra Lá

Com Pablo Arrieta

2011 Tratore Rheomusi

Com Fabiano Araújo e Arild Andersen

2010 Sementeira: Sons da Percussão (Naná Vasconcelos, Marcos Suzano, Caito Marcondes e Coração Quiáltera) – Tratore – CD
2009 Far Out Recordings Visions of Dawn

Com Maurício Maestro e Joyce

2006 Tratore Isso vai dar repercussão

Com Itamar Assumpção

2006 Azul Music CD Trilhas (Naná Vasconcelos)
2005 Azul Music CD Chegada (Naná Vasconcelos)
2002 Net Records CD Minha Lôa (Naná Vasconcelos)
2001 Rec Beat Discos CD Cordel do Fogo Encantado (Cordel do Fogo Encantado) - participação
2001 Núcleo Contemporâneo CD Fragmentos (Naná Vasconcelos)
2000 Morango Music CD Via Sat (Via Sat) - participação
1999 M. Officer CD Contaminação (Naná Vasconcelos)
1994 Velas CD Contando estórias (Naná Vasconcelos)
1993 ECM If you look far enough

Com Arild Andersen e Ralph Towner

1990 Brass Star CD Lester (Naná Vasconcelos e Antonello Salis)
1989 Island Records/Polygram LP Rain dance (Naná Vasconcelos & The Bushdancers)
1987 Kepach Music Lester

Com Antonello Salis

1986 Island/WEA Bush Dance (Naná Vasconcelos)
1985 Europa Music LP Nanatronics (Naná Vasconcelos)
1984 ECM Records (USA) Duas vozes (Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos)
1983 ECM Records/Ariola LP Codona 3

Com Don Cherry, Collin Walcott (trilogia completa)

1983 Europa Music LP Zumbi (Naná Vasconcelos)
1982 ECM/WEA LP Codona 2 (Collin Walcott, Don Cherry e Naná Vasconcelos)
1980 ECM Eventyr

Com Jan Garbarek e John Abercromble

1980 ECM Saudades
1979 ECM Records/WEA LP Codona (Don Cherry, Collin Walcott e Naná Vasconcelos)
1979 LP Egberto Gismonti & Naná Vasconcelos & Walter Smetak (Egberto Gismonti, Naná Vasconcelos e Walter Smetak)
1979 ECM/WEA LP Saudades (Naná Vasconcelos)
1978 Improvising Arts aka IAI Records Kundalini

Com Perry Robinson e Badal Roy

1978 ECM/EMI-Odeon Sol do meio dia (Egberto Gismonti) - participação
1977 ECM/EMI-Odeon Dança das cabeças (Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos)
1974 Saravah (França) LP Naná Vasconcelos, Nelson Ângelo e Novelli (Naná Vasconcelos, Nelson Ângelo e Novelli)
1973 Phonogram LP Amazonas (Naná Vasconcelos)
1972 Saravah (França) LP Africadeus (Naná Vasconcelos)
1971 Altercat The incredible Naná Com Agustin Pereyra Lucena
Obras
4 cavaleiros do apocalipse
A dama do chama maré c/ Paulo Lepetit e Zeca Baleiro
A maré ta boa c/ Paulo Lepetit e Zeca Baleiro
A seca (c/ Dino Braia, Mércia Rangel e Alceu Valença)
Afoxé do Nêgo Véio
Amazonas
Aquela do Milton
Balança rede
Batalha do Nego Santo
Batuque na panela c/ Paulo Lepetit e Zeca Baleiro
Bird boy (c/ Don Cherry)
Bonne chance c/ Paulo Lepetit e Zeca Baleiro
Bush dance
Caju c/ Vinicius Cantuaria
Cajú (c/ Vinicius Cantuária)
Calmaria (c/ Mário Toledo)
Caminho dos pigmeus
Cara com cara
Chegada "Corpo"
Ciranda (c/ Mércia Rangel)
Ciranda da meia noite c/ Paulo Lepetit e Zeca Baleiro
Clementina No terreiro
Coco lunar
, Codona (c/ Collin Walcott e Don Cherry)
Coisas do norte
Contaminação (c/ Mércia Rangel)
Convite c/ Caito Marcondes, Marcos Suzano e Coração Quiáltera
Cortina Curtain
Curumim
Dado
Dida
Don's rollerskates Tributo a Don Cherry
Ensaio geral c/ Caito Marcondes, Marcos Suzano e Coração Quiáltera
Espafro
Estrela brilhante (c/ E. Vasconcelos)
Estrela negra (c/ João de Souza Leão)
Forró do Antero
Fui fuio Na praça (c/ Teese Gohl)
Futebol
Gorée
Ifá c/ Caito Marcondes, Marcos Suzano e Coração Quiáltera
Irapurú (c/ Vinicius Cantuária)
Let’s go to the jungle
Loa c/ Paulo Lepetit e Zeca Baleiro
Lua Nova c/ Coração Quiáltera
Luz de candeeiro (c/ Vinicius Cantuária)
Lágrimas
Macaco
Macacos "Corpo"
Mamãe cadê Baleia (c/ Erasmo Vasconcelos)
Marimbariboba
Morte do Nego Santo
Mosca de bolo c/ Paulo Lepetit e Zeca Baleiro
Mundo verde
Nada mais sério
Noite das estrelas Night of stars (c/ Erasmo Vasconcelos)
Nos olhos de Petronila "Ondas"
O berimbau
O dia, a noite
Ondas Nos olhos de Petrolina
Paletó
Passo
Pregões "Rua"
Quase choro (c/ Vinicius Cantuária)
Que fazer
Rain dance (c/ P. Scherer)
Rameverde (c/ Antonello Salis)
Science (c/ Vinicius Cantuária e Mércia Rangel)
Sementeira c/ Caito Marcondes, Marcos Suzano e Coração Quiáltera
Sertão das memórias
Tem café no bule c/ Paulo Lepetit e Zeca Baleiro
Terreiro
Tira o Leo
To you too (c/ Vinicius Cantuária)
Trayra boia (c/ Milan)
Tu nem quer saber You don’t want to know
Tá na roda tá (c/ Vinicius Cantuária)
Um dia no Amazonas A day in the Amazone
Um minuto
Uma tarde no norte Na afternoon in the north
Vamos pra selva
Vento chamando vento Wind calling wind
Vou de candonga c/ Paulo Lepetit e Zeca Baleiro
Vozes Saudades
Xaxado
Xingu Xangô (c/ Clive Stevens)
Xote do Tarzan c/ Paulo Lepetit e Zeca Baleiro
Yellow Taxi c/ Paulo Lepetit e Zeca Baleiro
Zumbi
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.

COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.

REPPOLHO. Dicionário Ilustrado de Ritmos & Instrumentos de Percussão. Rio de Janeiro: GJS Editora, 2012. 2ª ed. Idem, 2014.

SANTOS, Givaldo José dos. Reppolho: por Givaldo José dos Santos. Rio de Janeiro: GJS Editora, 2025.