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Nome Artístico
Messias dos Santos
Nome verdadeiro
Messias dos Santos
Data de nascimento
4/10/1942
Local de nascimento
Cataguazes, MG
Data de morte
26/2/2011
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Músico. Violeiro. Professor de música. Poeta. Pintor.

Desde a adolescência, no início da década de 1950, foi membro das mais importantes bandas de música de Cataguases.

Passou os primeiros anos de sua vida numa fazenda localizada na região rural de Cataguazes, onde seus pais trabalhavam. Teve seu primeiro contato com a música

através da sanfona de oito baixos do pai , Augusto Severino dos Santos, mestre de Folia de Reis e sanfoneiro dos bailes da região rural, além da musicalidade das religiões de origem africana, cultuadas por sua família. Segundo Messias, “os negros antigos, da época da escravidão eram escravos e músicos de igreja, seus descendentes, aos poucos, foram se transformando em líderes na cultura da Folia de Reis”. Foi o caso de seu pai, que, ativo participante nessas folias, tornou-se mestre de Folia de Reis e de Pau Mineiro (manifestação afro que ocorria por época do 13 de maio, cujo elemento principal da folia era o pau/porrete, como símbolo do cabo de ferramentas do trabalho rural (cabo de foice, de enxada, etc.)

Com a morte do pai, a família mudou-se da roça para Cataguases e o menino de 10 anos passou a ter contato estreito com as músicas feitas na rua, enquanto realizava pequenos trabalhos como engraxate, varredor, ou servente de pedreiro. Aos 14 anos, época em que trabalhava na fábrica de tecidos local, ingressou na banda de música da Indústria Cataguases, entrando em contato com todos os instrumentos de sopro e percussão, aprendendo a ler e a escrever música pelo método da Artinha(Princípios de Organização da Escrita e do Solfejo) do Maestro Pierre. Daí em diante iniciou o estudo do violão, do trumpete e da percussão.

Dados artísticos

Por volta dos seus 15 anos, começou a acompanhar o famoso sanfoneiro na cidade de Cataguazes, José Trocati,  tocando nos bailes do meio rural daquele município. Simultaneamente a este trabalho, organizou um conjunto de baile chamado Jazz (denominação dada a todo  conjunto de sopro na época) composto de sopros, bateria, violão. Com o crescimento do conjunto, Messias passou a baterista, cantor e compositor de música dançante para bailes populares (calango, caxambu, bolero,samba , blues ). Participava de todas as manifestações musicais da cidade, tanto nos bailes das classes mais abastadas, como nos clubes de operários. Por essa época, junto aos rapazes intelectuais da cidade,entrou em contato com o teatro e o cinema,devido à forte influência de Humberto Mauro, também filho de Cataguases e atuante ativista em sua terra. Começa, então, a compor canções de temática rural e urbana.
Os dezoito anos foi para Juiz de Fora para prestar serviço militar e, lá, entra em contato com os músicos da banda de música do quartel,  tornando-se baterista do cojunto de baile formado pelos sargentos da Banda de música do exército, naquela cidade. Assim, aproximou-se também dos músicos de Juiz de Fora.
Chamando a atenção dos estudantes locais, voltou a compor canções de temática rural e urbana. Junto com Valmiro (famoso múltiplo instrumentista) e Afrânio (irmão de Sueli Costa),começou uma intensa atividade na vida musical da cidade e em toda a região circunvizinha. Tinha cerca de 20 anos quando passa a ser músico de baile, revezando no violão, na guitarra, na percussão e no canto solo, ao mesmo tempo em que atuava como compositor nos movimentos políticos e culturais da cidade, compondo canções filosóficas de temática rural ( Roda do Milho, Cotidiano, Gavião do Medo e do Ar, Virandeiro, Dança do Chão de Ninguém). Esse movimento vai até 1964, quando é interrompido pelo golpe militar.
Em 1966, chegou para o Rio de Janeiro e integrou  movimentos musicais,  tocando em bares e boates.
Participa do Programa  de Sérgio Bittencourt na Rádio Nacional e do Programa de Bibi Ferreira na TV
Tupi, apresentando suas composições junto com o Grupo Manifesto de Mariozinho Rocha, Guto Graça
Melo, Fernando Leporace, Augusto e Renato. Nessa ocasião é gravada a sua música Boi Tatá pelo
conjunto de câmara do maestro Valtel Branco. Nesse mesmo período, Messias foi convidado por diversos artistas, como D.Salvador, Luis Eça, Sidney Miller, Guto Graça Melo, Mariozinho Rocha, Amauri Tristão, Sérgio Mendes, entre outros para fazer apresentações “canja” em seus shows, divulgando , assim, o seu trabalho. Em 1970, sua composição “Boi tatá” foi gravada por Rosinha de Valença pela Odeon. Em 1974, na mesma gravadora Leny Andrade gravou “Promessa”.
Para fazer face às dificuldades financeiras próprias do
músico e do compositor, ingressou no curso de História da PUC/RJ, em 1976. Em 1979, Elza Soares gravou a música “Momento”.
Como professor de História enveredou pelo campo da Etnologia e da Etnomúsica, ampliando seus estudos sobre a música e tradição oral. Passando a se dedicar às salas de aula, teve como primeira experiência o trabalho de formação de banda de música, coro e conjuntos de música popular entre  detentos,  no Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro – Fundação Santa Cabrini. Mais tarde atuou no Centro Cultural  Laurinda Santos Lobo, de Santa Teresa, onde criou o Núcleo Experimental de Música. Em seguida, fez parte do corpo docente da Escola de Música Villa Lobos, lecionando Apreciação Musical e Violão Popular. Naquela Instituição, criou a cadeira de Etnomúsica e exerceu a função de diretor adjunto. Obrigado por motivo de saúde a afastar-se da escola, passou a se dedicar  à criação no campo da pintura afro-brasileira de temática rural.
Messias dos Santos participou como jurado em vários festivais de música desde os anos 60. Compôs algumas trilhas sonoras para teatro e alguns documentários.
Em 1986, teve a música “Canção de você” gravada por Waleska na gravadora Cid.
Como professor de música também fundou a Oficina de Violão e Cavaquinho da Associação dos Funcionários do Banerj entre 1985 e 1991. A partir de 2000, passou a pesquisar  a viola no jongo instrumental, no calango e nas toadas. Realizou  concertos no Arte Sumária, Teatro Rival e Teatro Municipal de Cabo Frio. Foi o idealizador do projeto “Apanhei-te Cavaquinho”, da Prefeitura Municipal de Cabo Frio, juntamente com o maestro Ângelo dos Santos  (Bodega).
Participou como convidado especial no Encontro de Violas realizado em 2003 no Espaço Cultural Constituição. Nesse ano, teve as músicas “Cotidiano (A Cidade)”; “Abre chão”; “Virandeiro”; “Jongo diminuto” e “São Sebastião” gravadas na Espanha pelo músico Alex Oliveira.
Suas composições foram gravadas por intérpretes diversos, podendo-se destacar: “A Peteca”, de Messias dos Santos, em parceria com J. Canceira e gravada por Dóris Monteiro, Odeon, e Fabíola, em 1968.”Promessa” por Leny Andrade, com arranjo de Cesar Camargo Mariano; “Momento”, gravada por Elza Soares, registrado por gravadora italiana; recentemente, as músicas “Cotidiano”,” Abre o Chão”,” Diminuto” (jongo),” São Sebastião” e “Virandeiro” no CD Virandeiro, pelo cantor brasileiro Alex Oliveira, na Espanha, além de composições gravadas por Waleska, Tânia Soares e  Rosinha de Valença.
Em 2004, continuou seu projeto de  recuperação da memória de suas vivências no meio rural, através da pintura e de suas composições anteriores,  apresentando-as em shows ( Teatro Rival, Atelier Arte Sumária em SantaTeresa, entre outros) e registrando-as em discos.
Também em 2004, realizou a curadoria da “Série Viola de Arame”, dentro do Projeto “Vertentes Cariocas”, apresentado no Parque das Ruínas, em Santa Teresa,RJ, levando ao palco, durante os quatro domingos do mês de junho, jovens violeiros cariocas, como Marcos Ferrer, Yassir Chediak, Léo Rugero e Marcelo Lopes. No último domingo da série, Messias interpretou, à viola, peças do cancioneiro popular, indo de autores como Luís Bonfá, a cantigas do universo afro-brasileiro. Acompanhado de Marcelo Lopes e recebendo  os convidados Davi do Pandeiro e o percussionista Pedro Lima, mostrou peças do jongo e do calango, entusiasmando a platéia.
Nesse mesmo ano, desenvolveu,  o projeto de  implantação do Centro de Referência da Viola de Arame Fluminense, dentro do Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA), na cidade do Rio de Janeiro. Em 2005, apresentou-se em diversos espaços, como o Sesc no Rio de Janeiro. Em 2005, além de atuar, dando aulas de viola pelo Sesc de Madureira, no RJ, apresentou show na mesma  instituição. Em dezembro do mesmo ano, tocou no encontro de violeiros, realizado na sala Baden Powell, em Copacabana, RJ, ao lado de Marcus Ferrer, Léo Rugero, Yassir Chediak, Andrea Carneiro e Marcelo Lopes. Viveu seus últimos anos no bairro carioca de Santa Tereza, onde se tornou uma das figuras mais conhecidas do bairro, costumando dar canjas em bares como Marcô e Simplesmente. Foi homenageado pelo jornalista André Câmara com o artigo “Mestre Messias” publicado no JB On line. Recebeu também homenagem póstuma, através de grande reportagem ilustrada com suas fotos e seus quadros, na revista editada pelo Instituto Cultural Cravo Albin, Carioquice, número 28, referente aos meses de março, abril e maio de 2011.

Obras
A peteca (c/ J. Canceira)
Abre Chão
Boi Tatá
Canção de Você
Cotidiano A Cidade
Jongo diminuto
Mangueira (c/ Tranka)
Momento
Promessa
São Sebastião
Virandeiro
Virandeiro