
Compositor. Pianista.Violinista.
Filho do maestro Eduardo Álvares Lobo e de Maria Rodrigues de Azevedo. O pai era regente da banda Santíssima Trindade, em Tietê. O tio, Elias Lobo, também era maestro. A convivência com a música começou bastante cedo, ainda nos primeiros anos da infância. Aprendeu a tocar piano de ouvido e estudou violino com Savino de Benedictis. Quando tinha cinco anos, a família mudou-se para Itapetininga. Em 1904, foi matriculado no Ginásio São José, de Pouso Alegre, MG onde chegou a executar diversos instrumentos e deu os primeiros passos em seus estudos de regência. Entre seus colegas estava o futuro poeta Menotti Del Pichia. Aos 15 anos, excursionou pelo interior de São Paulo, acompanhando ao piano o flautista Patápio Silva. Em 1911 inicia o curso de engenharia civil na Politécnica de São Paulo. Na ocasião, optou por adotar um pseudônimo para assinar suas composições, pois o diretor daquele estabelecimento de ensino era radicalmente contrário ao fato de haver ali estudantes que quisessem ser músicos. Seguno o livro “A canção no tempo”, o Diretor Paula Souza o teria chamado a seu gabinete e dito: “Não permito que aluno meu ande fazendo maxixes. Quem vai confiar num engenheiro que faz maxixes?”. Assim, decide-se pelo pseudônimo de Marcelo Tupinambá em 1914, fazendo ao mesmo tempo uma referência ao personagem da ópera La Bohème, e aos indígenas brasileiros. Como Marcelo Tupinambá abraçou a carreira musical e como Fernando Álvares Lobo tornou-se engenheiro civil, formando-se em 1916.
Em 1917, transferiu-se para Barretos e exerceu a profissão de engenheiro até 1923, impedido de continuar a trabalhar em decorrência de uma doença nos olhos. Afastado da engenharia, voltou-se inteiramente para a música, compondo e apresentando-se em espetáculos. Em 1918, casou-se com Irene de Menezes, com quem teve uma filha, Cecília de Menezes Lobo. Morreu de derrame cerebral, aos 64 anos de idade.
Em 1914, musicou a revista musical “São Paulo Futuro”, de Danton Vampré, que estreou no Teatro São José, em São Paulo. Em 1916, a canção “São Paulo futuro” foi gravada na Odeon pelo cantor Bahiano. Em 1917, musicou a revista “Cenas da roça”, escrita por Arlindo Leal (José Eloy). Em 1918, seu tanguinho “Que sodade” foi gravado na Odeon pelo Bloco dos Parafusos e pela Orquestra Odeon de São Paulo, sendo um dos destaques do ano. Em 1920, Mário Pinheiro gravou com grande sucesso na Odeon o cateretê “O matuto”, regravado pela Banda do Batalhão Naval e o tanguinho “Pierrô”. Em 1924, Mário de Andrade chegou a dizer que ele era quem, ao lado de Ernesto Nazareth, “tornava-se notável na construção de uma música nacional”. Em 1927, Francisco Alves gravou sua marcha “Asas do Jaú”, Gastão Formenti a toada-sertaneja “Cabocla apaixonada” e Albenzio Perrone o tango “Paraguayta”. Em 1928, teve gravadas por Roberto Vilmar as canções “Pobre pierrô…pobre cega…”, “Canção da guitarra” e “Canção da saudade”, por Leontina Kineese as canções “Única”, com Correia Jr. e “Infantil”, com Olegário Mariano e por Francisco Alves o maxixe “Pião”, a modinha “Ruana” e a canção “Barbuleta, barbuleta”. No mesmo ano, foi realizado em Porto Alegre um festival de suas músicas com versos de poetas gaúchos. Em 1929, Patrício Teixeira gravou a canção “Trovas”. No mesmo ano, duas parcerias com o escritor Coelho Neto foram gravadas: “Batuque”, por J. Thomaz e a toada “Muchocho” por Edgard Arantes.
Em 1930, Jesy Barbosa gravou a toada “Cantiga”, Lindomar Torres a toada “Cafuné”, com Hélio Azevedo e Gastão Formenti a canção “Quadras” e a valsa “Noite de encanto”. Para a Revolução de 1930 compôs o hino “Redenção”, com versos de Paulo Gonçalves. No mesmo ano, mais seis composições foram gravadas por Edgard Arantes: as canções “Cirandinha”, com Augusto Méyer, “Canção”, com Alphonsus de guimarães, “Soldadinhos de chumbo”, com Galba de Paiva, “Olhos venenosos” e “Canção marinha”, sob poema de Mário de Andrade e a toada “Mal de amor”, com Coelho Neto. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, compôs outro hino marcial, “O passo do soldado”, com versos de Guilherme de Almeida. Em 1933, Gastão Formenti gravou a toada “Fico de mal”, a toada-canção “Coisa ruim” e a valsa “Castelo de cartas”. Ainda nesse ano, compôs com Paulo Gonçalves “A glória de São Paulo”, hino das forças constitucionalistas. Em 1938, Silvinha Melo gravou a canção “Soldadinhos de chumbo”, com Galda de Paiva.
Musicou poemas de Vicente de Carvalho, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Olegário Mariano, Coelho Neto, entre outros, e teve intérpretes como Francisco Alves, Gastão Formenti, Vicente Celestino, Patrício Teixeira, Abigail Maia e Bidu Saião. Boa parte de sua obra teve inspiração em temas sertanejos. Compôs cerca de 264 músicas, entre cateretês, valsas, maxixes, tangos e algumas peças eruditas. Destacam-se os tangos “Pierrô”, ” Xodó” (com J. Taful), “Viola cantadera” (com Arlindo Leal), o fox-canção “O cigano” (com João do Sul) e o cateretê “Matuto” (com C. Costa), além de “Tristeza de caboclo” (com Arlindo Leal), que foi até gravada em Paris pelo barítono belga Armand Crabbé, e “Maricota, sai da chuva”. Outras de suas canções de destaque foram “Ruana” (C/ Arlindo Leal) e Serenata damor (c/Bento de Camargo), ambas gravadas por Francisco Alves. Acompanhou, ao piano, diversos intérpretes de suas canções em espetáculos pelo interior paulista e chegou a usar outros pseudônimos, como Biograph, Samuel de Maio, XYZ, Hélio Azevedo, L. Azevedo e Pedro Gil. Na década de 1950, o pianista Nelson Souto dedicou-lhe todo um elepê (10 polegadas), pelo selo Sinter. Em 1955, por acasião do segundo aniversário de sua morte a Revista da Música Popular, dirigida por Lúcio Rangel publicou reportagem sobre sua vida e obra assinada por Dupat Fiúza, que escreveu: “Com a morte de Tupinambá, sofreu a música popular rude golpe, pois o seu nome ultrapassou o ambiente regional para projetar-se com brilho no cenário da música popular nacional, da qual foi um nome consagrado. As músicas de Tupinambá representam historicamente uma época, uma tradição que os paulistas guardam com veneração, constituindo glorioso patrimônio de seu estado natal e da cidade que oconsagrou e onde morreu”. Em 1958, sua valsa “Tristeza de caboclo”, com Arlindo Leal, foi gravada por Oswaldo Sbarro e seu conjunto no LP “Hora da saudade – Swaldo Sbarro e conjunto Serenata” da gravadora RGE. Considerado o criador do tanguinho e um dos primeiros divulgadores dos ritmos regionais paulistas. Em 1961, sua toada “Eu tenho adoração por meus olhos”, com letra de Clêmenes Campos, foi gravada por Hebe Camargo, no LP “Hebe comanda o espetáculo”, da Odeon. Em 2007, o selo Revivendo lançou o CD “Gastão Formenti – Noite de encanto” com gravações feitas pelo cantor em 1930 e 1931 pelo selo Brunswick. Fazem parte do CD suas canções “Quadras” e “Noite de encanto”.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
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