
Cantor. Compositor. Multiinstrumentista (piano, violão e contrabaixo). Poeta. Escritor.
Filho do médico baiano Dr. Eliezer Audíface.
Seu primeiro instrumento foi o piano, por influência de sua mãe, excelente pianista.
O pseudônimo “Berimbau” lhe foi dado pelo maestro e pianista Carlos Lacerda, e segundo o próprio:
“Parecia um berimbau: Fino, comprido e de uma sonoridade ímpar.”
Participou do programa de Flávio Cavalcanti.
Por volta de 1967 e 1968 passou a se apresentar em casas noturnas do Rio de Janeiro e São Paulo.
Entre os anos de 1970 e 1971 residiu em Denver Colorado-EUA, por conta de um programa de intercâmbio acadêmico entre as instituições Adams State College e o Instituto de Estudos Califórnia da Universidade Católica do Salvador, onde se apresentou em diversos palcos e vários eventos musicais.
Entre os anos de 1980 e 1985 trabalhou como produtor de programas na TV Itapoan. Em outra emissora, a Rádio Sociedade da Bahia, atuou como apresentador de paródias no programa “Balanço Geral”.
No ano de 1991, assinando o nome de batismo, Luiz Audíface, lançou o livro de poemas “Laivos” (Edições Palmares), com prefácio do poeta e professor Ildásio Tavares, do qual destacamos o seguinte trecho:
“… Por isso vejo nestes poemas satíricos de LAIVOS não uma chicotada maniqueísta, sadicamente profligando pessoas do mais diverso quilate. Vejo neles um decidido animus corrigendi que oculta um menino travesso a troçar do mundo mau dos adultos, mas querendo, no fundo, mudá-lo. LAIVOS é, mesmo em seus momentos mais pornográficos, um livro de ética.”
Faleceu em sua residência, no bairro de Jardim Baiano, sendo sepultado no Cemitério das Quintas.
Como escritor deixou inédito um romance policial.
Começou a carreira musical ainda em Salvador no ano de 1964, aos 19 anos, como instrumentista de grupos de jazz e crooner de pequenas orquestras. Logo depois, passou a atuar como cantor do Quinteto Xangô, formado com Gecildo Caribé (piano), Lula Nascimento (bateria), Carlito (guitarra) e Bira (baixo), na boate do antigo Hotel da Bahia, em Salvador.
Luiz Freire também fez várias gravações na RCA no Brasil. Ainda em Salvador participou de vários shows e eventos, tais como “A Bossa da Bossa”, “Nós Três” e “Eu sou Berimbau”, e outros. Recebeu o prêmio “Melhor Interpretação” no festival “O Brasil Canta no Rio”. Participou do “Festival Nordestino de Música Popular” na Bahia e atuou como jurado em um programa de televisão para músicos.
Em 1967 Maria Creuza gravou de sua autoria “Apolo 11” (c/ Antônio Carlos Pinto e Ildásio Tavares), faixa que deu título ao LP da cantora baiana. Neste mesmo ano o pianista Carlos Lacerda regravou a composição no disco “Piano Informal”. Neste mesmo ano transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a fazer parte do movimento musical carioca “Musicanossa”, também integrado pelo jornalista Armando Henrique Schiav, o pianista Hugo Bellard (fundadores), e ainda pelos músicos, compositores, cantores e letristas Antonio Adolfo, Dom Salvador, Johnny Alf, Lindolfo Gaya, Lúcio Alves, Marcos Valle, Mário Castro Neves, Mário Telles, Maurício Einhorn, Oscar Castro Neves, Paulo Sérgio Valle, Rildo Hora, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Novelli, Tibério Gaspar, Tito Madi e Ugo Marotta, entre outros. No ano seguinte, em 1968, participou do LP “Musicanossa”, no qual interpretou as faixas “Você tem que sambar” (Antônio Adolfo e Paulinho Tapajós) e “Chorar pra quê?”, de Rildo Hora. Na contracapa do disco o cantor e letrista Mário Telles escreveu:
“…Berimbau, vindo da Bahia, trazendo um balanço e uma divisão incomuns, encontrou também no MUSICANOSSA do Rio a sua oportunidade e soube aproveitá-la, como vocês podem conferir ouvindo “Você tem que Sambar” de Antonio Adolfo e Paulinho Tapajós e “Chorar pra quê?”, de Rildo Hora.”
O disco contou com arranjos de Roberto Menescal, Guerra Peixe, Antonio Adolfo, Ugo Marota, Hugo Bellard e Mário Castro Neves, além de supervisão geral de Rildo Hora e a participação de vários intérpretes, também integrantes do movimento, tais como Márcio Lott, As Compositoras, Marisa Rossi, Cenira, Forma 4, Rildo Hora e Tito Madi.
No início da década de 1970 participou de projetos do poeta e dramaturgo Paschoal Carlos Magno na Aldeia de Arcozelo, em Paty do Alferes, no Estado do Rio de Janeiro e ainda do “Festival de Teatro do Estudante”.
Em 1973 o cantor Carlos Gazineo gravou em compacto simples sua composição “- Falsa cabrocha”. No ano posterior, em 1974, suas composições instrumentais “Doms tune”, “Braun-blek-blu” e “Family talk” , todas em parceria com Blanchris e Dom Um Romão, foram incluídas no LP “Dom Um Romão”, lançado pela gravadora americana Muse Records, em disco que contou com músicos renomados como Stanley Clarke , Dom Salvador, João Donato, Sivuca e William Campbell, entre outros. Neste mesmo ano de 1974 “Falsa cabrocha” foi regravada pelo grupo Milton Banana Trio em LP no qual também foi incluída sua composição “Liso, leso e louco”, em parceria com a dupla baiana Antonio Carlos e Jocafi.
No ano de 1975 Leny Andrade gravou “Falsa moral”, parceria com o compositor Bentana. Neste mesmo ano sua composição “Malvadez” foi incluída em um compacto duplo da cantora Dóris Monteiro. No ano seguinte, em 1976, a dupla Dick Farney e Claudette Soares gravou a faixa “Casualmente”, de sua autoria, no disco “Tudo isto é amor – Vol. 2”. Ainda em 1976 Dick Farney gravou “Não encontro Maria” no LP “Dick Farney”.
Em 1978 em parceria com o poeta e letrista Ildásio Tavares (professor de literatura, tradutor e alabê) lançou o LP “Os Orixás”, com 12 composições, com arranjos do maestro Élcio Alvarez e todas as faixas interpretadas pela cantora paulistana Eloah – Aeluah Marize Souza Valle: “Exú”, “Ogun”, “Omulú”, “Oxossi”, “Logun Edé”, “Nanan”, “Oxun”, “Yansan”, “Xangô”, “Oxalá” e “Axé Opô Afonjá-Alujá”, exceto a música “Yemanjá”, somente de autoria de Luís Berimbau. O disco, produzido por Magno Salermo, contou com capa do pintor Carybé e texto de contracapa de Jorge Amado, do qual destacamos o seguinte trecho:
“Para mim, a música de Berimbau está além da contingência pois eu a sinto ritual e antiga, nascida na roda de santo. Também o poema de Ildásio Tavares tem suas raízes numa língua brasileira mestiça onde vocábulos ibéricos e vocábulos africanos se misturam e renascem em terras da Bahia. Fundem-se música e poema numa única verdade popular: a homenagem aos orixás que protegem a cidade e a gente que aqui vive, labuta, sofre, confia e canta. De Berimbau só sei da música e não é pouco pois a música do jovem compositor aí está para quem queira ouvi-la e destina-se, creio eu, a sucesso merecido e amplo. De Ildásio, sei muito pois há tempos acompanho seu caminhar e sua disposição em prosa e verso, sobretudo em verso. Esse moço intelectual tem trilhado muitos e diversos caminhos. Marcha porém sempre em frente, buscando o encontro constante da criação literária com as fontes populares, marcadas quase sempre pelo quotidiano dramático, numa conotação social que se afirma mesmo quando o poema é litúrgico.”
Ainda em 1978 sua composição “Tarde pra mudar” foi gravada por Dick Farney, e “Falsa moral” (c/ Bentana) foi regravada no primeiro LP do cantor Carlos Gazineo (Carlos Vicente). No ano posterior, em 1979, a dupla Dick Farney e Lúcio Alves interpretou de sua autoria “Antes que alguém se lembre dela”, e no ano de 1984 “Falsa moral” foi regravada pelo cantor Carlos Gazineo no LP “Cantando sorrindo”, no qual também fora incluída a composição “Fogo aceso”, em parceria com Tito Madi. No ano posterior, em 1985, na coletânea “Dick Farney Especial”, lançada pela gravadora EMI/Odeon, foi incluída a faixa “Antes que alguém se lembre dela”.
Em 1987 a música “Tanta cidade”, composta em parceria com Tito Madi, foi interpretada por Nora Ney no LP “Meu cantar é tempestade de saudade”.
No ano 2000 a cantora Cláudia Moreno regravou “Fogo aceso” (c/ Tito Madi) no CD “Cantando o amor”.
Em 2002 lançou “O mago”, CD independente produzido por Wesley Rangel, no qual regravou e interpretou diversas composições inéditas de sua autoria, entre as quais “Jussara”, “O que é que eu vou fazer”, “Noturno”, “Sei lá”, “Megalópolis”, “Pretensões”, “Capoeira”, “Trajetória” e “Outrora”, todas somente de sua autoria, além de “No balcão”, esta última em parceria com o poeta Ildásio Tavares. O disco trazia um texto de apresentação do jornalista Sérgio Cabral, do qual destacamos os seguinte trecho:
“Eis que, em 2001, tomo conhecimento de que meu amigo Berimbau continua firme e, mais do que isso, gravando um disco inteiro com a sua obra de compositor. Um compositor romântico, de imagens inesperadas, como aquela do verso “faça de conta que a reta curvou-se pra nos cumprimentar”, de definições precisas, como a da “multidão de solidões particulares” e de confissões sinceras, como as que estão na letra de Outrora. Fiquei feliz com o reencontro, por vê-lo em plena forma, compondo sozinho, ou com o poeta e também amigo Ildásio Tavares.”
No ano de 2003 lançou, também de forma independente, o CD “Deusa humana – Berimbau e parceiros”, no qual interpretou de sua autoria as faixas “No balcão” (c/ Ildásio Tavares), “Trajetória”, “Pano verde”, (c/ Kabá Gaudenzi), “Visão” (c/ Dílson Silveira), “Abençoado Abassá” (c/ Pedreira Lapa), “Jussara”, “O que é que eu vou fazer?”, “Vitrine dos sonhos” (c/ Pedreira Lapa), “Sei lá”, “Amanda” (c/ Dílson Silveira) e “Megalópolis”, além da faixa-título “Deusa humana”, em parceria com o letrista e dentista baiano Dílson Silveira. O CD foi lançado, neste mesmo ano, em show em uma casa noturna no bairro de Rio Vermelho, com a participação de vários convidados, entre os quais o músico Carlinhos Marques.
Pouco antes de falecer gravou um CD, em seu estúdio caseiro, no qual interpretou poemas que musicou de autores renomados como Castro Alves, Cecília Meirelles e Alphonsus de Guimarães, do qual musicou o texto “Ismália”.
Entre seus parceiros, em composições gravadas, constam Ildásio Tavares, Antonio Carlos Pinto, Jocafi, Tito Madi, Dom Um Romão, Pedreira Lapa e Dílson Silveira.
Deixou diversas composições inéditas, entre as quais”Em tom de você” e “Rosinha do mercado”, e ainda “Mulher bonita”, composta com seu primo, o poeta, letrista e radialista carioca Ricardo Brito.
SANTANA, Amandina A. Ribeiro de, SANTOS, Milta de Azevedo. Talentos Musicais da Bahia; dos inéditos aos inesquecíveis. Salvador: GBK, 1998.