Cantora.
Santista, começou a carreira com o nome de Hildinha. Residia em São Paulo, onde morreu aos 64 anos, vítima de diabetes. Seus discos só são encontrados em sebos do país ou na Internet e podem custar mais de 100 dólares cada. Segundo amigos como Luís Vieira, Adelaide Chiozzo, Lana Bittencourt e Agnaldo Rayol, ela passou por sérios problemas pessoais e de saúde a partir do início dos anos de1970, ocasião em que seu marido saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou. A partir de então, ficou traumatizada e foi aos poucos perdendo a saúde. Antes de falecer, chegou a ter as duas pernas amputadas. Durante muitos anos o desaparecimento de seu marido foi explicado desta forma. A verdadeira história, no entanto só veio à tona após sua morte quando os restos mortais de seu marido foram encontrados em um conjunto de ossadas juntamente com vários sindicalistas. Ao que parece a morte de seu marido foi um equívoco, pois ele não tinha envolvimento político. Porém, provavelmente tornou-se testemunha de um crime e foi silenciado, ainda mais que era casado com uma cantora tão famosa, e conhecida internacionalmente. Como foi dado como desaparecido e não como oficialmente morto, ela não pode lançar mão dos bens do casal, pois eram casados em comunhão de bens. Assim ela acabou morrendo quase na miséria.
Em outubro de 2023 foi lançada a biografia “A incrível história de Leny Eversong ou A cantora que o Brasil esqueceu”. O livro foi escrito pelo pesquisador musical Rodrigo Faour, com textos de apresentação de Ruy Castro e Cida Moreira.
Conhecida pela sua voz poderosa, que lhe deu fama internacional nos anos de 1950, fez várias temporadas anuais nos cassinos de Las Vegas. Chegou a gravar nos Estados Unidos e na França (com a orquestra de Pierre Dorsey), já que se destacou pelas interpretações em vários idiomas. Começou sua carreira aos 12 anos, quando se apresentou no programa Hora Infantil, da Rádio Clube de Santos, SP. Logo foi chamada para um teste, que lhe valeu um contrato e o espaço para atuar no programa noturno daquela emissora. Seu forte, desde então, eram as interpretações para os foxes estrangeiros. Recebeu então o pseudônimo de “Hildinha, a Princesa do Fox”. Transferiu-se em 1935 para a Rádio Atlântica, também em Santos. Nessa ocasião, adotou seu famoso nome artístico, sugerido pelo produtor Carlos Baccarat e passou a cantar apenas em inglês. Decorava as letras com sua pronúncia perfeita, mesmo não falando o idioma. Em 1936, foi para o Rio de Janeiro, onde fez uma temporada de três meses na Rádio Tupi. Atuou em shows no Copacabana Palace Hotel e no Cassino da Urca.
Em 1937, assinou contrato com a boate Night and Day, casa noturna inaugurada no último andar do Edifício Martinelli, em São Paulo. Fez também temporadas no Cassino Guarujá, SP. Participou de inúmeros programas de rádio em São Paulo, principalmente nas Rádios Bandeirantes e Cultura. Em 1940, atuou na Rádio Educadora Paulista. Gravou seu primeiro disco em 1942, interpretando os estribilhos do foxs “Tropical magic”, “The nango” e “When I love, I love!” e a rumba “Week-end in Havana”, com a Orquestra Columbia dirigida pelo maestro Totó (pseudônimo de Anthony Sergi), da qual era crooner. Um ano depois, gravou o fox “Tangerine” e o samba “Carioquinha”, entre outras músicas com a mesma orquestra. No mesmo ano, gravou seu primeiro disco solo, interpretando o fox-canção “Besame mucho”, de Velasquez e o bolero “Por mi culpa”, de Cesar Siqueira. Em 1944 gravou seu segundo disco solo, interpretando o fox-trot “Stormy weather” e o fox “I cant give you anything but love”.
Em 1945, transferindo-se da Rádio Tupi, passou por duas rádios paulistas: a Excelsior e depois a Nacional. Em 1948, fez temporada na Argentina, apresentando-se como uma cantora americana. Nas décadas de 1940 e 1950, uma cantora peruana chamada Yma Sumac fazia enorme sucesso por causa de seu registro vocal extraordinariamente agudo. Segundo Jairo Severiano, “em matéria de extravagância o Brasil tinha uma representante mais interessante que a Yma, pois ela não cantava com tanta expressão ou em tantas línguas quanto a Leny, que cantou em todas que se possa imaginar”.
Na década de 1950, a cantora voltou a interpretar músicas brasileiras. Em 1951 gravou na Continental o samba canção “Estranho”, de Osvaldo Nunes e Cabeção, o bolero “Inultimente”, de Sílvio Donato e Heitor Carrilho e os sambas “Vidas iguais”, de Osvaldo Nunes e Ciro de Souza e “Vem amor”, de Nei Campos e João Basile. Em 1952 gravou a marcha “Pode ir em paz”, de Adoniran Barbosa e Hervê Cordovil e o samba “Volta por Deus!”, de Mário Vieira e Conde. No mesmo ano, gravou um de seus grandes sucessos, o fox-trot “Jezebel”, de Shanklin. No mesmo disco, que contou com o acompanhamento de Poly e Seu Conjunto, gravou com Cauby Peixoto o fox-trot “Blue guitar”, de Leyghton e C. Red Sorther. Em 1953 gravou o samba “Confissão”, de Mário Vieira e o choro baião “Solidão”, de Aldo Cabral e Ataulfo Alves. No mesmo ano, assinou contrato com a gravadora Copacabana onde estreou gravando o samba canção “E ele não vem”, de Hervé Cordovil e a valsa “Roda, roda, roda”, de Jair Gonçalves. Nessa época, gravou o LP “Leny Eversong em foco” que trazia vários sucessos: “Granada”, de Agustín Lara e “Nunca”, de Lupicínio Rodrigues. Em 1955, gravou a marcha “Coração de palhaço”, de Osvaldo França e Nilo Silva, o samba “Enxuga as lágrimas”, de Avaré e Nei Campos e o samba canção “Portão antigo”, de Antônio Maria. No mesmo ano, gravou do maestro Guerra Peixe, com acompanhamento do mesmo, a toada “Nego bola-sete” e o ponto de macumba “Mamãe-Iemanjá”.
Em 1956, registrou os sambas “Oxalá”, de Pernambuco e Marino Pinto e “Ritmo do coração”, de Aires Viana e Edel Nei. Em 1958, fez apresentação no Olympia de Paris, França. Lá, recebeu de um comentarista francês o slogan “A Voz do Amazonas”. No mesmo ano, gravou com Roberto Audi na Copacabana a toada “Geada”, de David Nasser e Armando Cavalcânti e o fox “No azul pintado de azul”, uma versão de David Nasser. Em seguida, ainda no mesmo ano, foi contratada pela RGE estreando com o rock balada “Sereno”, de Aloísio Teixeira de Carvalho e a canção “Esmagando rosas”, de Alcyr Pires Vermelho e David Nasser.
Em 1960, apresentou-se em Las Vegas, EUA, permanecendo em cartaz por dois anos. Nos Estados Unidos chegou a gravar o LP “Leny Eversong na América do Norte”, acompanhada pela Orquestra de Neal Hefti. O disco foi distribuído no Brasil pela Copacabana. Por essa época, foi uma das pioneiras do rock no Brasil gravando em 1960 os rocks “Carina”, de Paes e Testa, com versão de Bruno Marnet e “Sabor a mi”, de Alvaro Carrilho. Em 1963, gravou pela Copacabana o LP “Ritmo fascinante nº 1” trazendo “Fascination, de Marchetti e Morley e “Franqueza”, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme. Participou em 1964 do filme “Santo Módico”, de Robert Mazoyer. No mesmo ano, lançou pela RGE o LP “A internacional Leny Eversong”, que trazia as músicas “Esmagando rosas”, de Alcyr Pires Vermelho e David Nasser e “Stormy Weather”, de Arlen e Koehler. Ainda em 1964 participou da montagem da “Ópera dos três vinténs”, de Berthold Brecht, em São Paulo. Participou também de alguns festivais da canção.
Ainda na década de 1960, registrou em LP um show ao vivo, na extinta Boate Drink, ao lado de Cauby Peixoto. Em 1970, fez show no Canecão, Rio de Janeiro. Logo depois, afastou-se da vida artística, por motivos pessoais e de saúde. Em 1983, ainda fez uma participação no programa televisivo “O Show é o limite”, de J. Silvestre. Em 2005, foi lançado pelo selo Revivendo o CD “A Grande Leny Eversong” reunindo 21 gravações suas, entre as quais, “Candy”, de Mack David, Whitney e Kramer, “How blue the night”, de Adamson, Mason e McHugh, “Song of the islands”, de Charlers E. King, “Amado mio”, de A. Roberts e Doris Fisher, e “Put the blame on mame”, de A. Roberts e Doris Fisher. Sua voz foi considerada pela cantora e atriz Bibi Ferreira e pelo cantor norte americano Bing Crosby como excepcional. Chegou a ser comparada pela revista norte americana Times com Billie Holiday. Ganhou prêmio de melhor cantora nos Estados Unidos, e foi a primeira cantora a cantar com Tom Jobim nos Estados Unidos.
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