Cantor. Compositor.
Nascido no bairro de São Cristóvão, começou a ganhar a vida aos nove anos como pequeno jornaleiro. Ganhou o apelido de Jamelão na gafieira Jardim do Meyer, um dos muitos endereços de seu aprendizado de crooner. Foi levado à Mangueira pelo lendário compositor Gradim, amigo de Cartola e Carlos Cachaça, apesar de ter iniciado a trajetória de sambista acompanhando a mãe, Dona Benvinda, que saía na Escola Deixa Malhar, no Engenho Novo. Trabalhou como operário antes de começar a cantar em gafieiras. Faleceu aos 95 anos vítima de infecção generalizada na Clínica Pinheiro Machado onde estava internado. Seu corpo foi velado na quadra da Escola de samba Estação Primeira de Mangueira, sendo seu caixão coberto pelas bandeiras da Mangueira e do Vasco da Gama, e sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.
Iniciou-se na bateria da Estação Primeira de Mangueira tocando tamborim. Interessou-se por aprender cavaquinho. Quando começou a cantar, seu estilo foi influenciado por Cyro Monteiro. Nos anos de 1930, passou por diversas gafieiras como a Fogão, de Vila Isabel, Cigarra e Tupi. Entre os dancings, cantou no El Dorado, Farolito, Avenida, Samba-Danças, Brasil e Belas-Artes. Começou a gravar no fim da década de 1940, após participar de inúmeros programas de calouros do rádio, incluindo o célebre “Calouros em desfile”, de Ary Barroso e vencer um concurso da extinta Rádio Clube do Brasil, que finalmente o contratou por um ano. Até então, contentava-se em substituir seu padrinho Onésimo Gomes e até o “Rei da Voz”, Francisco Alves. Em 1945, interpretou “Ai, que saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, no programa radiofônico Calouros em Desfile, apresentado por Ary Barroso. Logo depois, tornou-se crooner da Orquestra Tabajara e passou a cantar no rádio e em boates. Em 1949, gravou na Odeon, com Antenógenes Silva ao acordeom, o calango “A giboia comeu”, de Antenógenes Silva e J. Correia da Silva, e o samba “Pensando nela”, de Antenógenes Silva e Irani de Oliveira. Em 1950, gravou solo as marchas “Pancho Vila”, de Liz Monteiro, Victor Simon e Luiz Thomasi, e “Este é o maior”, de Pereira Matos, Correia e O. Silva e, em dueto com Onéssimo Gomes, o samba “Capitão da mata”, de Henrique de Almeida, Humberto de Carvalho e Gadé, e a marcha “Já vi tudo”, de Antenor Borges, Raimundo Lessa e S. Queima. Em 1951, gravou como crooner de Carioca e sua orquestra os choros “Casinha da colina”, de Luiz Peixoto e Pedro de Sá Pereira, e “Voltei ao meu lugar”, de Carioca. No mesmo ano, gravou solo o baião “Torei o pau”, de Luiz Bandeira, e o samba-canção “Onde vai sinhazinha”, de Carioca. Em 1952, foi contratado pela Sinter e lá estreou com a marcha “Só apanho resfriado”, de Wilson Batista e Erasmo Silva, e a batucada “Você vai…eu não”, de sua parceria com Pereira Matos. No mesmo ano, fez grande sucesso como crooner da Orquestra Tabajara de Severino Araújo no baile do Castelo de Coberville, na França, quando o estilista francês Jacques Fath apresentou o algodão brasileiro à alta costura européia. No ano seguinte, gravou os sambas “Eu não poderei”, de sua autoria e José Batista, e “Acabei entrando bem”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, além da batucada “Deixa amanhecer”, de sua parceria com Rossini Pacheco e José Ribamar.
Em 1954, passou a gravar na Continental e lançou os sambas “Leviana”, de Zé Kéti e Amado Regis, e “Deixa de moda”, de Pandeirinho. Em 1955, gravou o samba “Bica nova”, de Luiz Antônio e D. Palma, e a batucada “Se parar esfria”, de Norival Reis e José Batista. No mesmo ano, gravou dois sambas de Billy Blanco: “Corinthians, campeão do centenário” e “Oração de um rubro-negro”. Gravou ainda no mesmo período o samba “Exaltação à Mangueira”, de Enéas Brittes da Silva e Aloísio Augusto da Costa. Em 1956, gravou a primeira composição apenas de sua autoria, o samba “Cansado de sofrer”. No mesmo ano, gravou o choro “Mirando-te”, de Aldo Cabral e Severino Araújo, e os sambas “Folha morta”, de Ary Barroso, seu primeiro grande sucesso, e “Dengosa”, de Raul Marques e Estanislau Silva. Em 1957, gravou o samba-canção “Pense em mim”, de Antônio Maria, e os sambas “Quem mandou”, de Valdemar de Abreu, o Dunga, e Jair Amorim, e “Como ela é boa”, de sua autoria.
Em 1958, gravou pela primeira vez uma composição de Cartola, o samba “Grande Deus”. No mesmo ano, gravou os sambas “Saudade que mata”, de sua parceria com Oldemar Magalhães, e “Guarde seu conselho”, de Alcebíades Nogueira, Luiz de França e Átila Nunes, e a marcha-rancho “Serenata de pierrô”, de João de Barro. Ainda no mesmo ano, lançou o LP “Escolas de samba”, interpretando dez sambas de diferentes escolas de samba, com destaque para “Apoteose ao samba”, de Mano Décio e Silas de Oliveira, “Alvorada na Portela”, de Francisco Santana, “Mangueira não morreu”, de Jorge Zagaia, “Cântico à natureza”, de sua parceria com Antônio Lourenço, e Nelson Matos, e “Benfeitores do universo”, de Hélio Cabral. Ainda em 1958, gravou o LP “O samba em noite de gala”, com, entre outras, “Preto velho”, de Jorge Faraj e Custódio Mesquita, “Fui feliz” e “Solidão”, de José Maria de Abreu e Custódio Mesquita, e “Noturno”, de Evaldo Rui e Custódio Mesquita.
No ano seguinte, fez grande sucesso com o samba-canção “Ela disse-me assim”, de Lupicínio Rodrigues. Ainda em 1959, gravou o samba-canção “Três amores”, de Sebastião Cirino e Célio Batista, e o samba “Há sempre uma que fica”, de sua autora e Alcebíades Nogueira. Também no mesmo ano, lançou o LP “O samba é bom assim – A boite e o morro na voz de Jamelão”, no qual registrou quatro composições de sua autoria: “Que onda é essa”, “Jajá da Gamboa”, com Batatinha, “Águas passadas”, com Edgardo Luiz, e “A saudade já chegou”, com Norival Reis. No mesmo disco, gravou outro sucesso de Lupicínio Rodrigues, o samba “Exemplo”. No ano seguinte, gravou o samba-enredo “O grande presidente”, de Padeirinho, com o qual a Mangueira desfilara anos antes. Ainda em 1960, gravou o LP “Desfile de campeãs – Jamelão e Escolas de Samba”, com “Recordações do Rio antigo”, de Cícero, Jorge de Oliveira e Hélio Turco, “Epopéia do petróleo”, de Aureo Sousa e Gustavo Neves, e “Secas do nordeste”, de Gilberto de Andrade e Waldir de Oliveira, entre outros sambas-enredo. Também em 1960, tornou-se um dos campeões do carnaval com o samba “Fechei a porta”, de Sebastião Mota e Ferreira dos Santos, escolhido em concurso do Departamento de Turismo do Rio de Janeiro. Em 1961, gravou os sambas “Meu barracão de zinco”, de sua parceria com Jair Costa, “Qual o que”, de sua autoria, e “Mais do que amor”, de João Roberto Kelly.
Em 1962, gravou o LP “Jamelão canta para enamorados”, apresentando “Foi assim” e “Meu natal”, de Lupicínio Rodrigues, e “Afinal eu sabia” e “Não serve para mim”, ambas de Sebastião Cirino e B. Gomes. No mesmo ano, gravou pela Continental o LP “Aqui mora o ritmo com as músicas “O tango do fim”, com Osório Lima; “Triste recordação”, com Alcebíades Nogueira; “Tanto ciúme”, com Aledio Américo dos Santos, e “Como vai você”, com Erasmo Silva, além de “Fofoca no morro”, de Osvaldo Vitalino e Ferreira dos Santos; “Flores estrelas e mulheres”, de Antônio Bruno; “Acaba como eu”, de Armando Nunes e Jorge Medeiros; “Quem sou eu”, de Guio de Morais; “Nossa quimera”, de Lucas Vieira e Domicio Augusto; “Vá conhecer Niterói”, de Hélio Nascimento e Aledio Américo dos Santos; “Chega de amor”, de Del Loro e Ferreira dos Santos, e “Um minuto de silêncio”, de Osvaldo Vitalino e Ferreira dos Santos. No mesmo ano, gravou pela Continental o LP “Aqui mora o ritmo com as músicas “O tango do fim”, com Osório Lima; “Triste recordação”, com Alcebíades Nogueira; “Tanto ciúme”, com Aledio Américo dos Santos, e “Como vai você”, com Erasmo Silva, além de “Fofoca no morro”, de Osvaldo Vitalino e Ferreira dos Santos; “Flores estrelas e mulheres”, de Antônio Bruno; “Acaba como eu”, de Armando Nunes e Jorge Medeiros; “Quem sou eu”, de Guio de Morais; “Nossa quimera”, de Lucas Vieira e Domicio Augusto; “Vá conhecer Niterói”, de Hélio Nascimento e Aledio Américo dos Santos; “Chega de amor”, de Del Loro e Ferreira dos Santos, e “Um minuto de silêncio”, de Osvaldo Vitalino e Ferreira dos Santos.
Em 1963, gravou os sambas “Eu agora sou feliz”, de sua parceria com Mestre Gato, e “Não adianta”, de sua autoria. Como cantor de samba e de samba-canção fez sucesso com: “Fechei a porta”, de Sebastião Motta e Ferreira dos Santos; “Leviana”, de Zé Kéti; “Folha Morta”, de Ary Barroso; “Não põe a mão”, de Arnô Canegal e Buci Moreira; “Matriz ou filial”, de Lúcio Cardim; “Exaltação à Mangueira”, de Enéas Brites e Aluisio da Costa; “Eu agora sou feliz”, de sua parceria com Mestre Gato; “O samba é bom assim”, de Norival Reis e Helio Nascimento; e “Quem samba fica”, parceria com Tião Motorista. Nos anos 1950 iniciou sua carreira de intérprete de samba-enredo para a Estação Primeira de Mangueira. Ficou conhecida a preferência do cantor em ser chamado de intérprete de samba-enredo e jamais “puxador”, como habitualmente são denominados os cantores de samba-enredo na maioria das escolas de samba. Além de ter o seu nome definitivamente ligado à história do samba-enredo, é reconhecido como o maior intérprete da obra de Lupicínio Rodrigues, cujos antológicos sambas-canções como “Esses moços”, “Ela disse-me assim” e “Quem há de dizer” tornaram-se clássicos na sua voz. Em 1963, seu samba “Eu agora sou feliz”, parceria com Mestre Gato da Mangueira, foi um dos mais tocados no carnaval dauqle ano segundo informação do jornal O Globo.
Em 1969, gravou na RCA Victor o LP “Cuidado moço”, apresentando o samba-enredo “Mercadores e suas tradições”, de Darcy, Jurandir e Hélio Turco, “A vida é isso”, de Lupicínio Rodrigues, e “Sincera”, de Tito Madi. Em 1972, gravou o LP “Jamelão interpreta Lupicínio Rodrigues”, totalmente dedicado ao repertório do compositor gaúcho, com arranjos do maestro Severino Araújo e acompanhamentos da Orquestra Tabajara. No mesmo ano, participou da coletânea “Carnaval – 73”, da Musicolor/Continental, que contou ainda com as participações de artistas como Alcides Gerardi, Noite Ilustrada, Titulares do Ritmo, Gilberto Alves e outros, Nesse LP interpretou as músicas “Meu carnaval que passou”, parceria com Carlos Cruz, e “Me dá meu paletó”, parceria com Ataulfo Alves. Em 1973, lançou em LP “Ela me convidou”, de sua autoria, “Primeira via”, de Jony Santos e Lúcio Cardim, e “Loucura”, de Lupicínio Rodrigues. No ano seguinte, gravou “Sou verde-rosa”, de sua autoria, em homenagem à escola de samba Mangueira, “Se é verdade”, de Lupicínio Rodrigues, “Molambo”, de Jaime Florence e Augusto Mesquita, e “Castigo”, de Dolores Duran. Ainda em 1974, lançou o LP “Os melhores sambas-enredo 75”, com destaque para “Imagens poéticas de Jorge de Lima”, de Mosar, Tolito e Delson, “Macunaíma”, de Norival Reis e David Corrêa, “O segredo das minas do Rei Salomão”, de Zé Pinto, Mário Pedra, Nininho Rossi e Dauro, e “Zaquia Jorge, a estrela do subúrbio, vedete de Madureira”, de Avarése. Em 1975, lançou o LP “Samba-enredo – sucessos antológicos”, que apresentou clássicos sambas-enredo como “O grande presidente”, de Padeirinho, “Casa grande e senzala”, de Zagaia, Comprido e Leléo, além de “Exaltação à Mangueira”, de Aloísio Costa e Enéas Brites.
Em 1977, lançou o LP “Folha morta”, com diversas composições de Lúcio Cardim, entre as quais, “Deus perdoa”, Ela é assim” e “Foi feitiço”, essa última parceria com Antônio Bruno, além de “Mormaço”, de João Roberto Kelly. Em 1980, gravou “Risque”, de Ary Barroso, “O amanhã será melhor”, de sua parceria com Tairzinho, e “Nem eu”, de Dorival Caymmi. Em 1984, gravou o LP “Mangueira, a super campeã”, com 11 sambas premiados na escola de samba verde e rosa como “Mangueira em tempo de folclore”, de Enéas Brites e Aloísio Costa, e “No reino da mãe-do-ouro”, de Tolito e Rubens da Mangueira, além de “Quando eu falo da escola”, uma homenagem de sua autoria. Em 1987, voltou a gravar um LP inteiramente dedicado a Lupicínio Rodrigues, incluindo clássicas como “Nunca” e outras menos conhecidas como “Ex-filha de Maria” e “Pra Sâo João decidir”.
Antes do domínio completo do samba-enredo nos carnavais, emplacou na folia belas melodias, como a de “Eu agora sou feliz”, assinada junto com mestre Gato. Em 1994, lançou o CD “Minhas andanças”, com música título de sua autoria, além de “Proposta” e “Ressaca”, de Lúcio Cardim. Em 2000, lançou o CD “Por força do hábito”, pela Som Livre, com acompanhamento da Orquestra Tabajara de Severino Araújo, em que gravou 14 músicas, sendo 12 do compositor Alberto Gino. Dentre elas, destacam-se “Quanta gente aí”, “Êxtase” e “Não vou mudar”, sendo a última um sucesso nas rádios do Rio de Janeiro. Em 2001, participou em Brasília da homenagem do Ministério da Cultura às escolas de samba, realizando um show ao lado de D. Ivone Lara e Martinho da Vila no Dia da Cultura, sob a regência do maestro Chiquinho de Moraes. O show foi repetido no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e na Quinta da Boa Vista, também no Rio, além de gravado em CD. No mesmo ano, inaugurou, no Centro do Rio, o novo local do bar Empório 100, inteiramente dedicado à chamada “música de raiz”. Numa noite memorável, cantou seus principais sucessos e brindou o público com uma antologia de sambas-enredo, mostrando-se em forma, aos 88 anos de idade. Em 2003, apresentou dois shows no Bar do Tom acompanhado por Anselmo Mazoni no piano, Ériston Gonçalves no baixo e Kadu Mazoni na bateria, interpretadno seus grandes sucessos. No mesmo ano, lançou o CD “Cada vez melhor”, no qual interpretou, entre outras, “Piano na Mangueira”, de Chico Buarque e Tom Jobim, “Segredo”, de Herivelto Martins e Marino Pinto, “Vou brigar com ela”, de Lupicínio Rodrigues, e um pot pourri em homenagem à Mangueira com os sambas-enredo “Avatar e a selva transformou-se em ouro” e “Brasil com Z é pra cabra da peste, Brasil com S é nação do Nordeste”. Ainda em 2003, comemorou seu 90º aniversário com um baile promovido pela Mangueira na casa de shows Scala, no Rio de Janeiro, onde cantou acompanhado da Orquestra Tabajara. Recepciou os convidados na porta, dançou e mostrou-se de ótimo humor, contrariando a sua consagrada fama de rabugento. Também na seqüência das comemorações por seus 90 anos, foi homenageado no Prêmio Rival BR de música, com show que reuniu nomes como Nana Caymmi, Elza Soares, Zeca Pagodinho, Zélia Duncan, Luiz Melodia, Emílio Santiago e o grupo vocal As Gatas. Em 2013, completaram-se 100 anos de seu nascimento, data que passou despercebida e sem maiores homenagens salvo uma reportagem na revista da UBC.
(Com Carioca e sua orquestra)
(Com Onéssimo Gomes)
(Com Antenógenes Silva)
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