Cantor. Compositor. Instrumentista.
Sua mãe, Glória Maria da Conceição, conhecida como Flora Mourão, era cantadora de coco, sendo uma das mais requisitadas nas festas da cidade de Alagoa Grande. Flora Mourão tocava o ganzá e cantava, acompanhada por João Feitosa, que tocava a zabumba. Desde cedo, Jackson viu e ouviu a mãe cantando cocos, ao toque de zabumba e ganzá. Jackson queria tocar sanfona, mas esse era um instrumento muito caro. Aos oito anos, vendo a mãe entristecida, pois o zabumbeiro não aparecera para a apresentação, pegou a zabumba e começou a tocar. Sua mãe lhe deu, então, de presente, um pandeiro. Aos 13 anos, seu pai faleceu e ele teve que ir com a mãe e os irmãos morar em Campina Grande, também na Paraíba. Trabalhou como engraxate, entregador de pão e fazendo pequenos serviços. Na feira de Campina Grande, nos intervalos entre um serviço e outro, se divertia ouvindo emboladores de coco e tocadores de viola. Admirador de cinema, gostava bastante dos filmes de faroeste, especialmente do ator Jack Perry. Nas brincadeiras infantis, ficou conhecido pelo apelido de Jack.
Aos 17 anos, trabalhava numa padaria, quando, durante o carnaval, viu passar um bloco e, abandonando o serviço, foi atrás dele. Na mesma época, passou a atuar como substituto do baterista de um conjunto que se apresentava no Clube Ipiranga, efetivando-se, mais tarde, como percussionista do grupo. Atuou como ritmista em diversas festas na cidade. Em 1939, passou a fazer dupla com José Lacerda, irmão mais velho de Genival Lacerda, usando o nome artístico de Jack do Pandeiro. Em 1940, mudou-se para João Pessoa, capital paraíbana, onde atuou em diversos cabarés. Em 1946, foi contratado para atuar no regional da Rádio Tabajara. Em 1948, mudou-se para o Recife, em Pernambuco, usando por algum tempo o pseudônimo de Zé Jack. Começou a trabalhar na Rádio Jornal do Commércio na capital pernambucana, onde o diretor do programa em que atuava sugeriu que trocasse o Jack do nome para Jackson, que seria mais sonoro para ser pronunciado ao microfone. No mesmo período formou dupla com Rosil Cavalcanti, com quem foi parceiro em diversas composições, entre as quais “Os cabelos de Maria”, “O trabalho que deu” e “Na base da chinela”. Em 1953, já no Rio de Janeiro, gravou seus primeiros discos e logo grandes sucessos: o coco “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti, e o rojão “Forró em Limoeiro”, de Edgar Ferreira. No mesmo ano, gravou a valsa “Vamos rir e cantar”, de Ariovaldo Pires, o Capitão Furtado.
Na Rádio Jornal do Commércio, conheceu Almira Castilho, com quem se casou em 1956. Fizeram uma dupla que alcançou sucesso, com ele cantando e ela dançando, participando de diversos filmes nacionais. No mesmo ano, começou a trabalhar na Rádio Nacional. A paixão pela mulher era tão grande, que ele registrou muitas de suas composições em nome dela, o que dificulta o conhecimento real de sua obra. Uma dessas composições é, provavelmente, a marcha “Naquela base”, registrada como parceria de Almira com Paulo Gracindo e W. Freitas. Em 1954, emplacou outro grande sucesso, o coco “1 X 1”, que seria, posteriormente, gravado por outros artistas, entre os quais os “Paralamas do Sucesso” nos anos 1990. Gravou em 1955, o rojão “Forró em Caruaru”, de Zé Dantas. No ano seguinte, gravou outro grande sucesso, o batuque “O canto da ema”, de Alventino Cavalcanti, Aires Viana e João do Vale. Em 1957, gravou o coco “Lapinha de Jerusalém” e a marcha “24 de dezembro”, motivos populares com arranjos de sua autoria. Em 1959, gravou a marcha “Quem não chora não mama”, de Paquito e Romeu Gentil. No mesmo ano, gravou outro samba, de sua parceria com Gordurinha, “Chiclete com banana”, que se tornaria um de seus maiores sucessos e que seria regravada posteriormente por Gilberto Gil. Gravou, também, o batuque “Saravá o Endá”, de Átila Nunes e Betinho. Em 1961, gravou o samba “Serenou”, de Almira Castilho e Lindolfo Silva, e a marcha “Velho gagá”, de Almira Castilho e Paulo Gracindo, e o arrasta-pé “Dá eu pra ela”, de Venâncio e Corumba.
Em 1962, fez grande sucesso com o rojão “Como tem Zé na Paraíba”, de Manezinho Araújo e Catulo de Paula, e com o frevo “Frevo do bi”, de Braz Marquez e Diógenes Bezerra, em homenagem ao bicampeonato mundial de futebol conquistado pela seleção brasileira naquele ano. Gravou ainda “Vou ter um troço”, de Arnô Provenzano e Otolindo Lopes, grande sucesso do carnaval daquele ano. Em 1963, gravou “Twist, não”, de João Grilo e Roberto Faissal, um protesto contra a crescente invasão do novo ritmo que vinha da América do Norte. Em 1967, separou-se de Almira Castilho, sua mulher por 13 anos, desfazendo a dupla de sucesso. No início dos anos de 1970, foi procurado em sua casa no subúrbio de Olaria, no Rio de Janeiro, por Alceu Valença, para cantar com ele no Festival Internacional da Canção, interpretando a composição “Papagaio do futuro”, que Jackson interpretou como o coco do ano 2000. Formou o grupo Borborema, composto por familiares seus, que percorreu o Brasil fazendo apresentações. Em 1975, na série de discos “MPB 100 – Um século de Música Popular Brasileira”, editada pela Rádio MEC e com roteiro do jornalista R. C. Albin, teve os LPs cinco e seis em homenagem à sua obra.
Em 1976, realizou show no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, em companhia de Zé Ramalho. Em 1977, viajou o Brasil inteiro apresentando-se com Alceu Valença pelo projeto Pixinguinha.Também tocaram com ele Dominguinhos e Severo. Gravaram obras suas, entre outros, Djavan, Gal Costa, João Bosco, Geraldo Azevedo, Genival Lacerda, Cascabulho, Leila Pinheiro, Mestre Ambrósio e Moraes Moreira. Diversos cantores e compositores se dizem influenciados por seu trabalho. O compositor Guinga compôs “Influência do Jackson”, com referências a versos de sucessos e lugares por onde Jackson do Pandeiro passou. Esteve presente como instrumentista em quase todos os primeiros discos da cantora Elba Ramalho, que relançou com sucesso “Ouvi o toque da sanfona me chamar”.
Em 1981, gravou seu último disco pela PolyGram, o LP “Isto que é forró”. O cantor e compositor Tom Zé dedicou-lhe o disco que lançou em 1999. Os críticos têm se espantado ao pesquisar sua obra, pela facilidade por ele apresentada para cantar os mais diversos gêneros musicais, baião, coco, samba-coco, rojão e marchinhas de carnaval. Dominguinhos e Severo, músicos que tocaram com ele, o consideram como um grande “sanfoneiro de boca”. Aprimorou nas apresentações em cabarés sua enorme capacidade jazzística. Em seus shows, mostrava uma performance toda especial, mistura de malandro carioca e nordestino. Sua maneira de dividir música tornou-se famosa, o que gerou uma célebre observação de Jacob do Bandolim que dele disse ser o cantor com maior sentido de ritmo do país. Em 1982, ao apresentar um show em Santa Cruz de Capiberibe, sentiu-se mal, mas mesmo enfartado prosseguiu com o show. Seguiu para cumprir compromissos em Brasília, mas sentiu-se mal novamente no aeroporto, onde desmaiou. Recordista de público e venda nas décadas de 1950 e 1960, morreu de embolia pulmonar, pobre e quase esquecido pela mídia e pelas gravadoras. Deixou mais de 400 composições gravadas e dezenas de discos, entre 78 rpm, compactos e LPs. Seus biógrafos, que fizeram cerca de 150 entrevistas em quatro anos de pesquisas sobre sua obra pelo Brasil afora, fazem uma comparação com os astros do futebol, dizendo que, para a música popular, Luiz Gonzaga seria Pelé e Jackson do Pandeiro seria Garrincha. Em 1995, o artista pop David Byrne produziu e lançou pelo selo Luaka Bop o CD “Forró etc”. Eleito o “Rei do coco”, foi o artista homenageado na entrega do Prêmio Sharp de Música Popular Brasileira, em 1998. Em 1999, saiu uma grande homenagem em disco pelos seus 80 anos.
Em 2001, teve sua biografia, de autoria de Fernando Moura e Antônio Vicente, lançada pela Editora 34, na coleção “Todos os cantos”. Na ocasião do lançamento foram realizados três dias de festa em sua homenagem em João Pessoa na Paraíba, reunindo grupos nordestinos como o Cascabulho. Em 2004, a EMI lançou o CD duplo “Jackson do Pandeiro – 50 anos de ritmos” que reuniu as faixas gravadas por ele entre 1953 a 1958, quando se transferiu para a Colúmbia, atual Sony. Consta na antologia sucessos em ritmos nordestinos como, entre outros, “O Canto da Ema”, “Sebastiana”, “Côco social”, “Xote de Copacabana”, “Forró em Limoeiro”, “A mulher do Aníbal” e “Ele disse”. Esta última, composição que Edgard Ferreira, compôs em homenagem ao presidente Getúlio Vargas, em tom de rojão. Ainda na segunda fase da seleção, consta a faceta de sambista nordestino está registrada em sucessos como “Quem samba fica”, “Te consola comigo” e “Onde está você”, entre outros. A escolha daqueles primeiros cinco anos, deveu-se a um entendimento da EMI de que, embora o artista tenha continuado gravando pela Columbia e depois por outros selos, até sua morte em 1982, aquele período já seria representativo do seu talento e da sua importância pelas rádios da Paraíba e de Pernambuco, onde conheceu e conviveu com importantes músicos como Hermeto Pascoal, Moacyr Santos, Sivuca, Severino Araújo e Luiz Gonzaga.
Em 2004, foi homenageado com o musical “Jackson do Pandeiro – As aventuras de Zé Jack e seu pandeiro solto na buraqueira”, com direção de João Falcão levado à cena na sala Baden Powell. Em julho de 2006, por ocasião dos 24 anos de seu falecimento, foi apresentado o projeto “Jackson do côco, forró, samba e pandeiro” que mostrou uma série de quatro shows, no CCBB-Centro Cultural do Banco do Brasil- no Rio de Janeiro. A homenagem ao compositor contou com convidados como os cantores e compositores Luciane Menezes, Silvério Pessoa, Adryana BB, do grupo Rio Maracatu e Rouxinol que interpretaram clássicos de autoria dele, e mesmo sucessos de outros compositores, eternizados por ele, como o”O Canto da Ema”, de João do Vale, e “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti, acompanhados da banda Regional Pau de Arara. O projeto combinou dados biográficos e canções, ressaltando a importância de Jackson do pandeiro para a música popular brasileira, especialmente na ligação da cultura nordestina com o samba do sudeste. Em 2008, o cantor e compositor Kojak do Forró lançou um CD, de produção independente, com a direção de Kleber Matos, “O afilhado no rei do ritmo”, no qual homenageou Jackson do Pandeiro, regravando as seguintes canções que fizeram sucesso com ele: “Canto da Ema”, de Jõao do Vale, Alventino Cavalcante e Aires Viana; “Forró em Caruaru”, de Zé Dantas; “Falso Toureiro”, de José Gomes e Eleno Clemente; “Sebastiana”, de Rossil Cavalcante; “Ele disse (carta de Getúlio)”, “Forró em Limoeiro”, “Um a um”, “17 na corrente” e “Cremilda”, de Edgar Ferreira; “A mulher do aníbal”, de Nestor de Paula e Jenival Macedo; “Cantiga do sapo”, de Jackson do Pandeiro e Buco do Pandeiro; “Chiclete com banana”, de Gordurinha e Almir Castilho; “Cabeça feita”, de Sebastião Batista e Jackson do Pandeiro; “Vem cá Maria”, de Dominguinhos e Durval Vieira; “História do Anel”, de Severino Ramos e Antônio Rodrigos; “A catinga da perua”, de José Gomes Filho e Elias Soares; “Procurando tu”, de Antonio Barros e J. Luna; “Vou de Tutano”, de J. Cavalcante e José Gomes Filho; “Tm pouca diferença”, de Durval Vieira; “Chote de Copacabaana; de José Gomes; “Casaca de couro”; de Rui Morais e Silva; “Maria do angá”, de Antonio Barros e Alexio Enrique; “Mané Gardino”, de Ari Monteiro e Elias Soares; e “Lamento cego”, de Nivaldo Lima e Jackson do Pandeiro. Ainda em 2008, foi lançado um DVD, também de produção independente e dirigido por Kleber Matos, no qual Kojak do Forró interpreta as canções ao vivo, do CD “O afilhado do rei do ritmo”, que homenageou Jackson. Em 2010, o cantor e copositor Zé Ramalho gravou o CD em sua homenagem: “Zé Ramalho Canta Jackson do Pandeiro”. O repertório do disco, lançado pela Microservice, apresentou releituras de músicas compostas por Jackson, principalmente do repertório de cocos e forrós. No mesmo ano, teve a sua música que fora lançada em 1972, “Nem vem que não tem”, gravada por Chico Salles, no CD “O Bicho Pega”, do selo Som Livre. m 2011, a gravadora Discobertas lançou seu primeiro registro de show, gravado em cassete, em 1980, dois anos antes do seu falecimento. No mesmo ano, a Universal Music lançou a coletânea “Jackson do Pandeiro – dois lados”, com dois CDs. Um dos discos trouxe seu lado cantor das próprias composições e de canções de outros colegas da música brasileira. O segundo disco consistiu apenas em composições suas gravadas por grandes intérpretes da MPB. Em 2014, o selo Discobertas lançou a caixa “Jackson do Pandeiro – anos 60: 1966-1969”, com quatro LPs seus dessa época remasterizados e convertidos em CD, entre eles “O cabra da peste”, de 1966, e “A brasa do norte”, de 1966. Em 2016, recebeu homenagem da Universal Music com o lançamento da coleção “Jackson do Pandeiro – O Rei do Ritmo”, que consistiu em uma caixa com 15 discos, sendo 6 CDs duplos e 3 simples, com 235 faixas no total, passeando desde seu primeiro disco de 78 rotações, até o último LP, produzido meses antes de sua morte em 1982. A coleção foi produzida por Rodrigo Faour.
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Em 2019, foi homenageado em show de Kojak do Forró no Festival Nata Forrozeira, realizado em Santana de Parnaíba (SP), no show “Grandes Mestres”. A homenagem procurou reverenciar, além de Jackson, grandes ícones da música nordestina, como Dominguinhos e Luiz Gonzaga.
Também foi homenageado no Festival de Inverno de Garanhuns com um show no Palco Dominguinhos com sua obra sendo revisitada pelos artistas Silvério Pessoa, Geraldo Maia, Lucinha Guerra, Lady Laay, Mari Periférica, Elba Ramalho, Zéli Duncan, Maciel Melo e Luiza Fitipaldi.
Também em 2019, por ocasião das comemorações de seu centenário de nascimento foi homenageado pelo grupo Casuarina que realizou na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro (RJ), uma série de shows intitulada “Cem anos do Rei do Ritmo – Casuarina canta os sambas de Jackson do Pandeiro”.
Em 2019, ainda por conta do centenário de seu nascimento, o pesquisador Rodrigo Faour organizou uma reedição de discos lançados pelo artista na Columbia e na CBS. Foi também lançado o documentário “Jackson – Na batida do pandeiro”, dirigido por Marcus Vilar e Cacá Teixeira, com entrevistas inéditas de Almira Castilho e Geraldo Correa. Foi também publicada pelo jornal O Globo uma reportagem de duas páginas sobre o Rei do Ritmo na qual o jornalista Leonardo Lichote escreveu: “Jackson do Pandeiro tinha – na performance de palco, na temática das canções – um apelo popular inegável, apoiado no humor e no ritmo. Era pleno daquilo que costumamos chamar de “brasilidade” – como poucos foram antes e depois”. Segundo levantamento realizado pelo MAPP – Museu de Arte Popular Paraibana – ao longo da carreira o artista gravou 117 sambas, 72 rojões, 42 baiões e 40 marchas. Foi também apresentado um especial na TV Brasil, no programa “Recordar é TV” com homenagens, performances e entrevistas do cantor e compositor paraibano, além de depoimentos de Adelson Alves, Alceu Valença e Chico Feitosa.
Em 2019, também foi homenageado, em comemoração ao centenário de seu nascimento, na segunda edição do evento anual “Trem do Forró”, realizado no Rio de Janeiro (RJ), tendo seu repertório cantado por artistas como Sergival e Kojak do Forró. A apresentação saiu da estação Central do Brasil de trem em direção à estação de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, com apresentações de vários artistas ligados ao universo do forró, e o evento foi considerado uma referência em termos de reunião de artistas ligados ao forró no calendário do gênero na cidade e região.
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.
FUSCALDO, Chris. Discobiografia Mutante: Álbuns que revolucionaram a música brasileira. Rio de Janeiro: Editora Garota FM Books, 2018. 2ª ed. Idem, 2020.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
MOURA, Fernando e VICENTE, Antônio. Jackson do Pandeiro. O rei do ritmo. Editora 34, 2001.
Jackson foi um Rei do Ritmo. Não apenas porque ele tocava – e muitíssimo bem – o pandeiro, mas também – aí o seu maior segredo – por empregar a voz com tal maestria, que ela também era um instrumento, ritmo e bossa. E, segundo, porque o Brasil nunca agradeceu o bastante a Jackson enquanto vivo, anos a fio relegado a posições secundárias. E, finalmente, porque nada mais justo que os músicos se ponham a agradecer-lhe a arte insuperável, a ele Rei do Ritmo mais verdadeiro que foi.
Ouvi Jackson desde os meados da década de 50, no “Programa César de Alencar”, sábados à tarde, na gloriosa Rádio Nacional. Quando Jackson ia defender, junto com Almira (Castilho), seus sucessos na “Parada dos maiorais Walda”, o auditório vinha abaixo, eletrizado pela força do seu ritmo alucinante. E tome lá de “Um a um”, “Sebastiana”, “Forró em Limoeiro” e “Muié do Aníbal”, seus principais êxitos, que se revezavam, meses a fio, no “hit parade” da época. Era sair um e entrar outro, para deleite do Brasil inteiro.
Jackson era de baixa estatura, vestia-se modestamente, era muito tímido no convívio pessoal e tinha algo de Carlitos. Explico melhor: usava um bigodinho fino, margeando todo o lábio superior, e portava quase sempre um pequeno chapéu-coco preto, que menor ainda lhe ficava na larga cabeça achatada.
Certa vez, Jackson me visitou no Museu da Imagem e do Som. E ali eu testemunhei uma cena rara. Jacob do Bandolim, que estava comigo na sala, ao vê-lo entrar, levantou-se, impertigou-se solenemente e beijou a mão do Jackson, dizendo-lhe: “Quero reverenciar o cantor que canta com maior sentido rítmico no Brasil.” Jackson resplandeceu. Não disse uma palavra, tirou duma suja sacola de pano o pandeiro e cantou durante quase meia hora para nós dois, que, embevecidos, degustávamos o raro e inesperado recital privado.
Ricardo Cravo Albin