Cantora.
Paulistana do bairro do Brás, nasceu na Rua Alegria. Sobrinha do famoso pintor José Pancetti. Ainda menina, ajudava na loja da família, engarrafando vinho. Foi lá que começou a demonstrar o seu talento musical, pois, enquanto envasava as garrafas, ia cantando. A mãe resolveu então levá-la a um programa de calouros, quando ela tinha 13 anos. Era o programa “A Hora da Peneira Rhodine”, da Rádio Cultura, onde foi eliminada. Fez nova tentativa um ano depois, em 1937, na Rádio Record, no programa de Otávio Gabus Mendes, onde interpretou “Camisa Listrada”, obtendo o primeiro lugar. Foi casada com o pianista e organista Walter Wanderley, com quem viveu uma atribulada vida em comum e por quem sempre se mostrou publicamente apaixonada. Da união resultou uma única filha, Mônica. Recebeu de Blota Júnior o slogan: “Isaurinha, A Personalíssima”, que acabou batizando o seu primeiro LP. Morou por toda a vida na capital paulista, onde faleceu em julho de 1993.
Iniciou sua carreira profissional depois do concurso na Rádio Record, que lhe valeu o convite para participar de um programa de calouros especiais. Em 1938, foi contratada por aquela emissora, permanecendo como uma das principais cantoras de seu cast ao longo de toda a sua carreira. No início formou dupla com o cantor Vassourinha, apresentando-se na Record, em shows e circos. No começo da carreira, inspirou-se em Carmen Miranda e Aracy de Almeida, das quais era fã. Estreou na gravação com um “jingle” publicitário (do sapólio Radium). Gravou o primeiro disco em 1941, pela Columbia, com “Chega de tanto amor”, choro de Mário Lago e “Pode ser?”, samba de Geraldo Pereira e Marino Pinto com acompanhamento de Benedito Lacerda e seu conjunto regional. No mesmo ano, gravou a marcha “A baratinha”, de Antônio Almeida e os sambas “Eu não sou pano de prato”, de Mário Lago e Roberto Martins; “Aproveita o beleléu”, de Marino Pinto e Murilo Caldas e “O telefone está chamando”, de Benedito Lacerda e Popeye do Pandeiro, também com acompanhamento de Bendito Lacerda e seu conjunto regional.
Em 1942, gravou mais quatro sambas com acompanhamento de Benedito Lacerda e seu regional: “Sem cuíca não há samba”, de Germano Augusto e João Anrtônio Peixoto; “Teleco-teco”, de Marino Pinto e Murilo Caldas; “Consciência”, de Herivelto Martins e Príncipe Pretinho e “Partida precipitada”, de Herivelto Martins e Marino Pinto. No mesmo ano, transferiu-se para a Victor e lançou os sambas “Batendo na minha porta”, de Frazão e F. Malfitano e “Quem paga o pato sou eu”, de F. Malfitano com acompanhamento de Luiz Americano e seu regional. Em 1943, lançou seu primeiro sucesso, o samba “Aperto de mão”, de Horondino Silva (Dino), Jaime Florence (Meira) e Augusto Mesquita. No mesmo ano, gravou os sambas “O sorriso de Paulinho”, de Gastão Viana e Mário Rossi e “Duas mulheres e um homem”, de Ciro de Sousa e Jorge de Castro. Nessa época, participou de vários programas consagrados do rádio e apresentava shows em boates. Em 1944, gravou os sambas “Não era adeus”, de Herivelto Martins e Cícero Nunes e “Adivinhe coração”; deCustódio Mesquita e Evaldo Rui; “Se você visse”, de Horondino Silva e Del Loro e “Toma juízo”, de F. Malfitano e o clássico samba canção “Linda flor (Ai ioiô), de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto.
Em 1945, gravou dois sambas da dupla Custódio Mesquita e Evaldo Rui: “Não faças caso coração” e “Eu fico”. No mesmo ano, gravou os sambas “Incidente”, de Horondino Silva e Del Loro, “Prá quê?”, de Marino Pinto e Mário Rossi, “Tinha graça”, de Valdemar Gomes e Aldo Cabral e “Barulho no morro”, de Roberto Martins. Em 1946, gravou com sucesso o samba “Mensagem”, de Aldo Cabral e Cícero Nunes, que se tornou um clássico de seu repertório. Gravou no mesmo ano os sambas “Edredon vermelho”, de Herivelto Martins e “Século do progresso”, de Noel Rosa e “Mulher de malandro” e “Quando um sambista morre”, de Hervê Cordovil. Em 1947, gravou com Os Namorados do Luar o samba “De conversa em conversa”, de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa com o qual fez grande sucesso. No mesmo ano, gravou em dueto com Nelson Gonçalves os sambas “Teu retrato”, de Nelson Gonçalves e Benjamim Batista e “Dona Rosa”, de Aluísio Silva Araújo e Armando Silva Araújo. Em 1948, gravou o choro “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro e o samba canção “No Rancho Fundo”, de Ary Barroso e Lamartine Babo.
No fim da década de 1940, já era uma cantora de expressão nacional, que recebia convites para se apresentar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro no programa César de Alencar e na boate do Hotel Copacabana Palace. Nesse período, fez várias excursões pelo país. Em 1949, lançou o samba “Paraíso da sorte”, de Horondino Silva e Del Loro e os choros “Marido maluco”, de Gadé e “Sofres porque queres” e “Seresteiro”, ambos de Pixinguinha e Benedito Lacerda. Em 1950, gravou de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira o “Baião no Braz”. No mesmo ano, fez sucesso com o choro “Velho enferrujado”, de Gadé e Valfrido Silva e o baião “Pé de manacá”, de Hervê Cordovil e Marisa Pinto Coelho, este último, em dueto com o próprio Hervê Cordovil. No ano seguinte, lançou o samba “Indiferença”, de Newton Teixeira e David Nasser e o samba-canção “Chuva…”, de Hervê Cordovil e Armando rosas. Em 1952, voltou a gravar com Hervê Cordovil registrando o “Baião da solidâo”, do próprio Hervê Cordovil e Marisa Coelho. No mesmo ano, gravou os fados “Beijo frio” e “Sejam felizes”, de Augusto Mesquita, o samba-canção “Nunca”, de Lupicínio Rodrigues e os sambas “O morro silenciou” e “Quem é você”, da dupla Newton Teixeira e Blecaute. Foi eleita a primeira Rainha do Rádio Paulista, em 1953. No mesmo ano, gravou os baiões “Volta prá mim”, de Lindolfo Gaya e Eme de Assis e “Passarinho vai”, de Mário Vieira e Bob Júnior e os sambas “Recado não aceito”, de Lupicínio Rodrigues e “Sei que você volta”, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme. Em 1954, gravou a marcha “Eh! Eh! Paisano”, de Grande Otelo, Blecaute e Osvaldo França, o samba-canção “Vento vadio”, de Hianto de Almeida e Evaldo Rui e os sambas “Falaram de você”, de Hervé Cordovil e René Bittencourt e “Cachorro de madame”, de Dênis Brean e Osvaldo Guilherme. No mesmo ano, voltou a gravar em dueto com Hervé Cordovil registrando o xote “Carro de bigode”, de Filhinho e Talma de Oliveira e o baião “Tá tá”, de René Bittencourt.
Em 1955, gravou a toada “Que bom seria”, de Newton Teixeira e Blecaute e o samba “Restinho de amor”, de Nássara e Osvaldinho. No mesmo ano, gravou em dueto com Ivon Curi a polca “Negócio de família”, de Filhinho, Caco Velho e T. de Oliveira. No ano seguinte, gravou o samba “Amar é sofrer”, de Billy Blanco. Ainda em 1956, transferiu-se para a Odeon e estreou com o samba-choro “Mocinho bonito”, de Billy Blanco e o samba-canção “Contando estrelas”, de Alfredo Borba e Edson Borges com acompanhamento de Luis Arruda Paes e sua orquestra. No ano seguinte, com o mesmo acompanhamento, gravou o samba “Goteira”, de Alfredo Borba e Mário Pretextato dos Santos e a marcha “Garrafa cheia”, de Adoniran Barbosa e Raguinho. Ainda em 1957, gravou o primeiro LP, em 10 polegadas, com o título “A Personalíssima”, que teve arranjos de Luís Arruda Pais, com destaque para “Mocinho bonito”, de Billy Blanco, “Deixa pra lá”, de Vinicius de Moraes e “Se Deus me desse”, de Alfredo Borba. No ano seguinte, lançou com o instrumentista Walter Wanderley o LP “Foi a noite”, música título de Newton Mendonça e Tom Jobim, que incluiu anda as composições “Noite de chuva”, de Hector Lagna Fietta e Ernesto Bonino, em versão de Zuleika Maria; “Fracassos de amor”, de Tito Madi e Milton Silva; “Solidão”, de Antônio Bruno; “Insônia”, de Mário Albanese e H. Carillo; “Já é tarde demais”, de Jair Gonçalves e Alberto Roy; “Cansei de ilusões”, de Tito Madi; “Um momento de amor”, de Alfredo Borba e Édson Borges; “Longe de ti”, de Hianto de Almeida; “Quatro paredes”, de Geraldo Queiroz e Arnaldo Passos; “Tanto amor”, de Fernando Lobo e Paulo Soledade, e “Marrequinha”, de Denis Brean e Raul Duarte. Em 1959, gravou os sambas “Feiura não é nada”, de Billy Blanco, “E daí!…”, de Miguel Gustavo e “Meditação”, de Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça. No mesmo ano, gravou o LP “Sempre personalíssima”, no qual cantou “Saia do meu caminho”, de Evaldo Rui e Custódio Mesquita e “De conversa em conversa”, de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa.
Em 1960, gravou o samba “Saudade querida”, de Tito Madi. O mesmo samba deu título a seu LP daquele ano que incluiu também “Corcovado”, de Tom Jobim e “Edredon vermelho”, de Herivelto Martins. No ano seguinte, lançou os sambas “Palhaçada”, de Luiz Reis e Haroldo Barbosa e “Velho gagá”, de Fernando César. Ainda nesse ano, lançou o LP “A pedida é samba”, com destaque para “Água de beber”, de Vinícius de Moraes e Tom Jobim. Ainda em 1961, participou do LP “Hebe comanda o espetáculo”, da Odeon, interpretando o samba-canção “Só em teus braços”, de Tom Jobim. Em 1962, gravou o samba-canção “Meu nome é ninguém”, de Haroldo Barbosa e Luiz Reis e o samba “Amor e paz”, de Tito Madi. Em 1963, fez grande sucesso com o samba “Tem bobo pra tudo”, de João Correia da Silva e Manoel Brigadeiro.
Conheceu seu futuro marido, Walter Wanderley, numa excursão a Recife, PE. Depois de casada, lançou com ele alguns LPs: “Sempre personalíssima” (1959); “Atualíssima” (1963) e “Sambas da madrugada” (1963). Em 1969, gravou dois LPs pela Continental: “Martinho da Vila e Dolores Duran na voz de Isaura Garcia”, no qual cantou, entre outras, “O pequeno burguês” e “Casa de bamba”, de Martinho da Vila e “Castigo” e “A noite do meu bem”, de Doloes Duran e “Ary Barroso e Billy Blanco na voz de Isaura Garcia”, no qual cantou “Viva meu samba” e “Pano legal”, de Billy Blanco e “Folha morta”, “Camisa amarela” e Três lágrimas”, de Ary Barroso, entre outras. No mesmo ano, participou do V Festival de MPB na TV Record, de São Paulo, interpretando “Primavera” de Lupicínio Rodrigues e Hamilton Chaves. Em 1970, lançou novo LP com músicas de Noel Rosa e Chico Buarque, que trazia “Januária”, “Com açúcar, com afeto” e “Carolina”, de Chico Buarque e “Feitio de oração”, “Eu sei sofrer” e “Século do progresso”, de Noel Rosa. No mesmo ano, aposentou-se na Rádio Record. Nessa época, fez várias apresentações nas boates paulistas “Igrejinha”, “Casa da Badalação” e “Tédio”. Também no mesmo ano, gravou com Noite Ilustrada o LP “Papo furado” no qual interpretaram pot-pourris de Herivelto Martins e Ataulfo Alves além de outras composições. Em 1973, gravou o LP “Isaura Garcia”, pela Continental com “Mensagem”, de Aldo Cabral e Cícero Nunes, “Desespero”, de Antônio Carlos e Jocafi e “Desmazêlo”, de Jocafi, Tavares e Antônio Carlos.
Em 1976, gravou o LP “Nua e crua” pela EMI-Odeon cantando antigos sucessos a maioria em forma de pot pourri. Em 1978, gravou pelo selo Arlequim o LP “Eu, Isaura Garcia”, com destaque para “Pisou na bola”, de Jonny Alf, “Trocando em miúdos”, de Chico Buarque e Francis Hime, “A dor de uma paixão”, de José Ribeiro e Nelson Cavaquinho e “Cuide-se bem”, de Adauto Santos. Em 1981, o selo Cristal da WEA lançou o LP “Isaura Garcia” dentro da série “O fino da fossa – volume 4”, apresentando, entre outras, “Nunca mais”, de Dorival Caymmi, “Fim de caso”, de Dolores Dura, “Só louco”, de Dorival Caymmi e “Bom dia tristeza”, de Adoniram Barbosa e Vinícius de Moraees. Em 1987, a gravadora Eldorado lançou “Isaura Garcia – Documento Inédito”, incluindo, entre outras, músicas de Dorival Caymmi e Roberto e Erasmo Carlos. Gravou mais de 50 discos em 78 rpm e mais de 10 LPs, ao longo da carreira. Foi a primeira Rainha do Rádio Paulista, Rainha da Noite e Rainha dos Taxistas. Em 2003, entrou em cartaz o musical “Isaurinha – personalíssima”, idealizado pelo neto da cantora Rick Garcia, com direção de Jaqueline Laurence, tendo como estrela a atriz Rosa Maria Murtinho que interpretou a cantora e cantou seus sucessos, além de de contar sua atribulada vida amorosa, que incluiu uma tentativa de suicídio. A peça estrou no Teatro Municipal de Niterói no Rio de Janeiro e seguiu para temporada em São Paulo. Depois da temporada paulista, retornou ao Rio de Janeiro passando a ser apresentada no Teatro Villa Lobos. Em 2012, sua interpretação para o samba “E o mundo não se acabou”, de Assis Valente, foi incluída no CD duplo “Assis Valente não fez bobagem – 100 anos de alegria” lançado pela EMI em homenagem ao centenário de nascimento do compositor.
(Coletânea)
(Com Hervé Cordovil)
(Com Os Namorados do Luar)
(Com Nelson Gonçalves)
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CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
EPAMINONDAS, Antônio. Brasil brasileirinho. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1982.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.
VASCONCELLO, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira – volume 2. Rio de Janeiro: Martins, 1965.