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Nome Artístico
Ian Guest
Nome verdadeiro
János Geszti
Data de nascimento
23/5/1940
Local de nascimento
Budapeste, Hungria
Data de morte
23/04/2022
Local de morte
Tiradentes (MG).
Dados biográficos

Compositor. Arranjador.

O músico húngaro chegou ao Brasil  no Rio de Janeiro, com a família, em 1956. Na ocasião houve, na Hungria país, um levante popular contra a ditadura pró- União Soviética, que reagiu com invasão e perseguição aos que eram a favor da chamada Revolução Húngara. A família de Ian Guest veio então para o Brasil como refugiados.

No Rio de Janeiro, János Geszti (nome verdadeiro de Ian Guest), filho do pianista húngaro George Geszti, morou em Copacabana na rua Duvivier, próximo aos bares do Beco das Garrafas. Lá conviveu musicalmente e pessoalmente com nomes da bossa nova como  Luizinho Eça e Sergio Mendes e Tom Jobim, acrescentando a vivência da música brasileira ao seus estudos de música erudita. 

Bacharel em composição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Berklee College of Music, em Boston, Estados Unidos. Foi o fundador do Centro Ian Guest de Aperfeiçoamento Musical (Cigam), em 1987.

No Rio, foi professor de Raphael Rabello, Almir Chediak, Zélia Duncan, Leila Pinheiro, Vittor Santos, Hélio Delmiro, Maurício Einhorn, Luiz Carlos Vinhas, Henrique Cazes, Maurício Carrilho, Maurício Tapajós e Mario Adnet, entre outros.

Introduziu o Método Kodaly em várias cidades brasileiras. Ministrou cursos e oficinas em diversos locais importantes do país, como no Conservatório Brasileiro de Música, na Universidade Federal do Rio de Janeiro e na Universidade Federal de Minas Gerais.

Em junho de 2020 estreou, no Youtube, o documentário “O imprefeccionista”, que conta a história do músico e professor. O filme foi dirigido por Marcello Nicolato.

Ian Guest morava em Tiradentes (MG) e dava aulas na Bituca – Universidade de Música Popular, em Barbacena.

Morreu em Tiradentes de causas naturais.

Dados artísticos

O início do profissionalismo de Ian Guest foi como técnico de som na Odeon, nos anos 1960, pelas mãos do diretor técnico da grvadora, o também húngaro  Zoltán Merky. Guest trabalhava, principalmente, na área de corte dos discos de vinil, correspondente ao que, desde o estabelecimento dos CDs é chamado de  masterização.

Durante os anos 1960, trabalhando como técnico de estúdio e compositor, Ian Guest transitou entre a bossa nova e a jovem guarda. Algumas vezes escreveu canções usando o pseudônimo de Atila. Entre as composições da época  estão “Todo Meu Amor Você Levou”, interpretada pela banda  Renato e Seus Blue Caps, e “Se por acaso te encontrar”, cantada por Márcio Greyck. No terreno da bossa nova, Ian fez, com Vinicius de Moraes, “Tempo de solidão” e “Pergunte a você”, entre outras composições com outros parceiros. Também teve gravada, por Milton Banana, a música “Ora bolas”. Mais tarde aconteceu a parceria com Raul Seixas: a música “Ainda é hora de chorar”. Suas composições foram gravadas também por Vittor Santos, Nelson Faria, Golden Boys e Trio Ternura, entre outros. Fez ainda trilhas sonoras sonoras para cinema, teatro e comerciais, como “Guerra conjugal” (1975), de Joaquim Pedro de Andrade, e “Anti-Nelson Rodrigues” (1974), de Nelson Rodrigues.

No início dos anos 1970, foi contratado pela CBS. Lá estabeleceu a parceria com Raul Seixas que gerou o LP “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista”, em 1971, com  o próprio Raul, Miriam Batucada, Edy Star e Sergio Sampaio. O trabalho na CBS terminou após o lançamento de “Som, Sangue e Raça” (1971), de Dom Salvador e Abolição. A Banda Abolição é considerada o embrião da Banda Black Rio, tendo o saxofonista Oberdan Magalhães e o guitarrista Claudio Stevenson em sua formação. Ian foi também responsável por arranjos e direção musical de discos gravados por Marcos Valle, João Donato e Fagner, entre outros.

Bacharel em composição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1975 foi para os EUA estudar música na Berklee College of Music, em Boston. Quando voltou ao Brasil, se tornou, definitivamente, um professor.

Em 1987, abriu o CIGAM, curso de música próprio, no centro do Rio de Janeiro. O curso ainda existe sob outra gerência desde 1997, ano em que Ian Guest se mudou para Minas Gerais.

Ian nunca deixou de atuar como professor, dando aulas e oficinas em universidades federais, estaduais, conservatórios e escolas de música. Nos últimos anos, ministrou aulas na Bituca – Universidade de Música Popular, em Barbacena.

Após o falecimento do professor, diversos ex-alunos se manifestaram pelas redes sociais.

O guitarrista Nelson Faria declarou que “hoje faleceu um grande amigo. Ian Guest. Esse vai fazer uma falta gigantesca… O conheci em Ouro Preto em meados dos anos 80 durante o 1º seminário brasileiro da música instrumental. Vou levar seus ensinamentos pra sempre. Obrigado por tudo amigo. Siga em paz em sua trajetória…”

O pianista e arranjador Itamar Assiere trouxe conversas que teve com o professor e amigo para homenageá-lo:

“‘O músico tem que ser o melhor amigo do músico. Não adianta nada ter ideias maravilhosas e escrever a partitura de qualquer maneira, cheio de garranchos, sem que o músico consiga entender o que tá escrito.”
‘Não entendi por que você fez essa porcaria de exercício. É inacreditável. As regras estão todas certas, mas isso não é você. Não adianta nada acertar as regras e não produzir beleza. Pra fazer isso, era melhor não ter feito nada!’
“Naqueles anos 80, quem queria ser músico popular só tinha as escolas de música clássica pra estudar – isso para aqueles que tinham acesso ao ensino de música clássica. Algo inaceitável no país que tem a música popular como o grande produto cultural, reconhecido no mundo inteiro.
“E é nessa época que o húngaro Ian Guest, formado na música clássica e na popular, resolve abraçar a causa do ensino de música popular no Brasil. Primeiro como professor particular, tendo como alunos músicos já consagrados, que procuravam o mestre para poder entender e sistematizar o que já faziam na prática. E depois resolve abrir uma escola dedicada à música popular, o CIGAM, no Centro do Rio, que atingiu seu auge no inesquecível casarão da Rua Primeiro de Março.
“E lá fui eu, em 1988, já decidido a ser um músico popular, atrás do estudo de harmonia, improvisação e arranjo. Foram pouco mais de 4 anos convivendo com a personalidade incrível do Ian, que era muito mais que um professor: era um mentor. Um agregador de conhecimento e de amizades. E portador de uma franqueza lancinante, capaz de produzir pérolas como as que citei no início. Todo aluno dele coleciona passagens como essa!
“Foram muitos anos sem nos encontrarmos, e nos esbarramos bem pertinho da minha casa em setembro de 2019, quando fiz essa foto. Ele estava radiante com as exibições particulares que fazia do filme Ian Guest – O Imperfeccionista, que trouxe detalhes de sua vida surpreendentes até pra nós que o conhecíamos bem.
“Neste fim de semana, Ian descansou, de causas naturais. Fica um vazio, uma saudade enorme, mas, ao mesmo tempo, a certeza de ter sido um privilegiado, por ter convivido tão de perto com o mestre e, acima de tudo, ter sido seu amigo.
Obrigado por tudo, Ian. “
Claudio Bergamini, atual diretor do Cigam, também fez uma homenagem ao seu ex-professor:

“Te conheci em 1987, no Cigam recém fundado, naquele prédio do Amarelinho, lembra?

Eu sei que você sabe de sua importância na formação de boa parte dos músicos de minha geração. Mas talvez não tenha tido a oportunidade de te dizer que você é a minha principal referência. Na verdade, a minha formação musical se divide em antes e depois do lan!

Minha biografia está repleta de momentos lan Guest. Foi no Cigam que me tomei professor. Com grande orgulho, mas também com muito medo recebi o seu convite para assumir a direção do Cigam, escola que já havia abraçado como aluno, depois como professor. De início hesitei, você sabe, mas acabei topando porque aquele projeto tão bonito e que reunia tanta gente boa não poderia ser interrompido. Acho que foi também uma pequena retribuição do tanto que aprendi com você.

Obrigado por tudo, grande mestre!”

Foi lançada, em maio de 2023, no dia 19, composição inédita póstuma: o single “Diluviando”, interpretado pelo violonista Daniel Murray. A peça foi consequência de trocas de e-mails entre Daniel e Ian Guest. No dia 24 do mesmo mês foi lançada a partitura da peça no site do Acervo Violão Brasileiro. O lançamento da partitura celebrou o aniversário de Ian Guest, no dia anterior.

Discografias
2023 Diluviando

Single póstumo interpretado por Daniel Murray

2021 Aventura de Lápis e Borracha: Música Popular Camerística

Com Hemathacama

Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2009.