
Violonista. Compositor.
Nasceu na Rua Orestes, no bairro carioca do Santo Cristo. Filho de Caetano José da Silva, fundidor do Lóide Brasileiro, e de Cacemira Augusta da Silva, conhecida pelo apelido de Filhinha. Seu registro de nascimento foi feito em agosto, motivo pelo qual em algumas obras importantes está consignada a data de 5 de agosto como sendo a de seu nascimento. Sua relação com o violão vem desde a infância. Seu pai era violonista amador, assim como outros amigos que freqüentavam a casa. Estava sempre atento ao movimento musical ao qual prestava enorme atenção. Começou a praticar inicialmente o bandolim, que abandonou pouco depois pelo violão.
Ao terminar o curso primário, empregou-se como operário em uma confecção de calçados. Por essa época já participava de festas e saraus familiares, onde revezava o violão com seu pai. Em uma dessas ocasiões, conheceu Jacó Palmieri (pandeirista) e Augusto Calheiros (cantor), figuras que teriam grande importância para seu ingresso na vida profissional.
Por volta de 1934, passou a acompanhar Calheiros em espetáculos de circo, ganhando pequena remuneração que complementava a do trabalho na fábrica de calçados.
Por essa época, já dominava o repertório musical de toadas, valsas e sambas que aprendia através do rádio. Seu modelo de acompanhamento era fornecido pela dupla Nei Orestes e Carlos Lentine, violonistas do Regional de Benedito Lacerda, um dos mais sólidos regionais da época. Esse tipo de aprendizado foi definitivo em sua carreira. Daí vieram o repertório e a capacidade de acompanhar diversos gêneros, entre tantas outras peculiaridades.
Em 1943, quando o Regional de Benedito Lacerda exibia-se no programa “Piadas do manduca” de Lauro Borges, conheceu aquela que seria sua grande companheira, Dª Rosa, com quem teve um filho, Dininho, também músico (contrabaixista) com grande atuação na MPB. Em 1954, ao mandar fazer seu primeiro violão de sete cordas, o que o fez um dos pioneiros do gênero no Brasil, passou a ser conhecido co mo Dino Sete Cordas. Faleceu de pneumonia aos 88 anos após quase um mês de internação no Hospital do Andaraí.
Segundo Marcia Taborda na Dissertação de mestrado “Dino Sete Cordas – Criatividade e revolução nos acompanhamentos da MPB.”, Dino é um dos maiores violonistas brasileiros de todos os tempos, tendo entrado definitivamente para a história da música popular por seu exímio trabalho de acompanhador. Apoiado na tradição violonística de Tute (Arthur de Souza Nascimento, 1886-1951), introdutor do violão de sete cordas nos conjuntos de choro, Dino alcançou posição de relevo e prestígio musical, pela sua capacidade de inovar, criar, surpreender sempre com extrema musicalidade e bom gosto. Foi o único violonista da MPB a adquirir fama, sendo apenas acompanhador no âmbito discreto dos regionais”. Iniciou sua carreira artística em 1937, quando foi convidado a substituir o violonista do Regional de Benedito Lacerda, Nei Orestes, que adoeceu e teve de ser hospitalizado. Meses antes, Jacó Palmieri o havia levado ao “Dragão da Rua Larga”, casa comercial que anunciava muito nas rádios para assistir à apresentação do regional de Benedito Lacerda, quando o convidaram a participar da roda, na qual, se saiu muito bem. Foi assim que, por sugestão de Valdiro Frederico Tramontano, o Canhoto (Cavaquinho), Dino passou a substituir Nei Orestes no conjunto. Do ponto de vista econômico, uma grande mudança para o jovem operário e uma completamente nova rotina: ensaios, gravações, programas de rádio nas grandes emissoras, etc. Segundo relato do violonista, a primeira gravação da qual tomou parte – “eu estava tremendo de medo” – foi a de “Chão de estrelas” de Silvio Caldas e Orestes Barbosa, embora a discografia da música popular demonstre que esta foi de fato a terceira gravação do conjuntona qual atuou ao violão. Com o falecimento de Nei Orestes, foi definitivamente integrado ao conjunto. Durante um curto período, com a saída de Lentine, foi o único violonista do grupo, até a entrada de Jaime Florence, o Meira, “momento em que se constituía uma das mais importantes, criativas e virtuosísticas bases de acompanhamento na história da música popular, ou seja, a relação musical estabelecida entre os violões de Dino e Meira junto ao cavaquinho de Canhoto”. Em 1940, aos 22 anos, iniciou sua atividade de compositor. São desse ano as gravações da marcha “Pára maestro”, com Gastão Viana, e a batucada “Não vai Miguelina”, com Canhoto, ambas registradas por Almirante na Odeon. Em 1941, Castro Barbosa, que além de intérprete assinou com Dino a parceria, gravou “Quem ri no fim, ri melhor”. Sua última composição gravada em 78 rpm foi o samba-canção “Pretexto”, com Augusto Mesquita, num registro de Ângela Maria. Ao todo, foram 35 músicas, 25 vocais e 10 instrumentais. Em 1942, já um profissional da música, resolveu aprender teoria músical, o que fez sob a orientação de Veríssimo, um pianista de navios do Lóide Brasileiro. Fato marcante para a trajetória do conjunto, que teve sempre uma carreira de êxito, foi a entrada de Pixinguinha com seu sax-tenor em 1946, estabelecendo-se a partir de então a parceria Pixinguinha-Benedito Lacerda, que até 1950 rendeu além de composições uma série de 17 discos.
O contato com Pixinguinha foi fundamental para a criação musical de Dino. Os fraseados característicos do sax de Pixinguinha foram magistralmente transpostos para o violão, agora um sete cordas, na época feito pelo lutier de maior prestígio no Rio de Janeiro, Sylvestre Delamare Domingos.
Em 1951, Benedito Lacerda abandonou o grupo, formando-se assim o conjunto “Canhoto e seu regional”, que se manteria em atividade com Dino e Meira na base, por um período de aproximadamente 30 anos, que se encerraria com a morte de Canhoto e Meira. Na década de 60, o advento da bossa nova e do iê-iê-iê determinou o declínio do violão de regional. Por um período em sua carreira, Dino teve de empunhar uma guitarra elétrica, que tocava no conjunto de danças de seu amigo Paulo Barcelos.
Em 1966, Jacob do Bandolim criou o conjunto “Época de Ouro”, grupo que teve grande importância no movimento de resistência do choro na década de 60, época em que a bossa nova imperava nos meios de comunicação. Em sua primeira formação, era integrado por Dino Sete Cordas, violão (Horondino José da Silva, 1918)
César Faria, violão Carlos Leite, violão , Jonas da Silva, cavaquinho –
Gilberto dÁvila, pandeiro – Jorginho, ritmo.
O conjunto se exibia com freqüencia para personalidades estrangeiras, nos célebres saraus promovidos por Jacob em sua casa de Jacarepaguá.
O Época de Ouro gravou vários LPs na RCA Victor, sendo o primeiro deles o disco “Chorinhos e Chorões”.
Em 1968, participou com Elizeth Cardoso e Zimbo Trio de um show memorável no Teatro João Caetano promovido pelo Museu da Imagem e do Som, gravado ao vivo e lançado em dois LPs pelo próprio MIS, produzidos por Ricardo C. Albin, então diretor da instituição.
Em 1969, o conjunto lançou pela RCA o LP “Época de Ouro – Jacob do Bandolim”, no qual o acompanhamento está a cargo de uma orquestra.
Na discografia do conjunto destaca-se o LP “Vibrações”, considerado por muitos músicos um marco na trajetória e na organização do conjunto regional.
Depois da morte de Jacob, em 1969, o grupo se desfez por alguns anos, voltando a atuar em 1973 sob o comando de César Faria, contando com Damásio no lugar de Carlinhos e Deo Rian substituindo Jacob.
A convite de Paulinho da Viola, participaram do show “Sarau”, realizado no Teatro da Lagoa e dirigido por Sérgio Cabral, marcando a redescoberta do choro na década de 70.
Em 1974, o conjunto lançou o LP “Conjunto Época de Ouro”, onde registraram clássicos do choro como “Noites Cariocas”, de Jacob do Bandolim e “Choro negro”, de Paulinho da Viola.
Dois anos mais tarde, lançou pela Continental o LP “Clube do choro – Época de Ouro”.
Mantendo-se ainda em atividade, o Época de Ouro participou de shows e festivais como o Free Jazz Festival, em 1985, e também do Projeto Pixinguinha.
Nesse mesmo ano, Jonas abandonou o conjunto.
Em 1994, viajaram por todo o Brasil com o projeto Brasil Musical ao lado do pianista Arthur Moreira Lima e em seguida foram a Frankfurt, na Alemanha, para uma série de apresentações.
Desde 1997, o conjunto apresenta-se com César Faria, Dino Sete Cordas, Toni (violão sete cordas), Jorginho, Jorge (cavaquinho) e Ronaldo (Bandolim).
Como didata, durante muitos anos mantém-se como professor da casa Bandolim de Ouro. No entanto, sua atividade didática ultrapassa o contato direto com os alunos, uma peculiaridade do aprendizado de violão, baseado pruncipalmente na audição de discos. Quem toca violão de sete cordas no Brasil se expressa no idioma por ele criado. Exemplo marcante foi a relação estabelecida com o grande violonista Raphael Rabello, seu discípulo confesso, que em 1995, declarou: “Me dediquei inteiramente ao Dino por muitos anos; por uns 15 anos me dediquei a estudar tudo o que ele fez, a saber tudo o que ele fazia. Hoje em dia, eu e ele somos uma coisa só; meu trabalho, mesmo solando, tem influência do Dino. A inflexão é igual, o sotaque…”. O violonista foi ainda responsável por arranjos e regência de muitos discos célebres, entre os quais os dois primeiros discos de Cartola em 1974 e 1975, e do disco de Guilherme de Brito. Manteve-se no começo do século XXI, atuando como professor e músico. Quatorze cantores interpretaram suas 25 peças vocais, alguns deles, a maioria, incluídos entre os maiores da MPB : Almirante, Castro Barbosa, Orlando Silva, Isaura Garcia, Ciro Monteiro, Gilberto Alves, Carlos Galhardo, Déo, Silvio Caldas, Léo Vilar, Jane, Carminha Mascarenhas, Ângela Maria e Linda Batista. Em 2001, foi homenageado no festival “Chorando no Rio” promovido pelo MIS na sala Cecília Meirelles e transmitido para todo o Brasil com apresentação de R. C. Albin. Na época, lançou o CD “Café Brasil”, em que o Conjunto Época de Ouro recebeu como convidados Paulinho da Viola, Ademilde Fonseca, Leila Pinheiro, João Bosco, Marisa Monte, Martinho da Vila e Sivuca. Em 2006, durante seu período de internação foi organizado um show tributo no Teatro Carlos Gomes, no centro do Rio de Janeiro com a participação de amigos como o sambista Paulinho da Viola sendo toda a renda do espetáculo revertida para a família.
Em 2018, por ocasião do centenário de seu nascimento foi homenageado pelo conjunto Época de Ouro num show realizado na Casa do Choro.
Taborda, Marcia (1995). “Dino Sete Cordas, Criatividade e revolução nos acompanhamentos da MPB.” Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro.