
Compositor. Pianista. Filho do médico Cordovil Pinto Coelho e de Maria de Lucca Pinto Coelho, que se dedicava amadoristicamente à música. Sua musicalidade aflorou já na infância, e por volta dos cinco anos de idade já dedilhava ao piano as canções tocadas por sua mãe. Passaram a viver na cidade mineira de Manhuaçu e por volta dos 10 anos de idade Hervé transferiu-se para o Rio de Janeiro onde ingressou no Colégio Militar concluindo o curso em 1931. Integrou a banda de música do colégio e junto a outros colegas formou um grupo de jazz que se apresentava em casas de oficiais e em bailes promovidos pelo próprio colégio. Passou a ter aulas com Romeu Malta, maestro da banda do colégio e como já compunha algumas músicas arriscou-se a apresentá-las a Eduardo Souto, diretor da Casa Edison, que o desencorajou a seguir como compositor. Aos 17 anos, ingressou na Faculdade de Direito de Niterói, diplomando-se em 1936. Em 1941, casou-se com Daicy Portugal Cordovil com quem teve quatro filhos, um deles o cantor/compositor Ronnie Cord, figura importante do movimento pop brasileiro que se estruturou em torno da jovem guarda, a partir de 1965. Outra filha sua, Maria Regina teve curta carreira artística no começo dos anos 1960 quando gravou diversos discos. Entre 1941 e 1945, trabalhou como advogado em Manhuaçu (MG).
Estreou em 1931 na Rádio Sociedade como pianista e compositor da Orquestra de Romeu Silva. Rapidamente tornou-se um dos pianistas mais requisitados pelas rádios cariocas. Em 1933, transferiu-se para a Rádio Philips. Foi compositor de jingles, e em 1934 compôs em parceria com Lamartine Babo a marcha “Madame do barril”, uma sátira à figura francesa “Madame Du Barry”, uma de suas primeiras composições no gênero. Nesse mesmo ano fez sucesso com a marcha “Carolina”, com Bonfiglio de Oliveira, gravada por Carlos Galhardo na época cantor em início de carreira. Em 1935, regeu a orquestra que participou do filme “Estudantes”, dirigido por Wallace Downey, passando desde então a musicar peças de teatro entre as quais “Da favela ao Catete” escrita por Freire Júnior. Neste mesmo ano destacou-se com a composição “Triste cuíca” parceria com Noel Rosa, lançada por Aracy de Almeida. Em 1936, compôs para o filme “Alô, alô carnaval”, de Ademar Gonzaga, a marcha “Não resta a menor dúvida”, parceria com Noel Rosa. Ainda nesse ano, transferiu-se para a Rádio Guarani de Belo Horizonte onde atuou por dois anos, cumprindo o compromisso de apresentar uma música inédita por dia. Por essa época compôs “Pé de manacá”, parceria com sua prima Marisa Pinto Coelho, música que fez sucesso alguns anos mais tarde, registrada por Isaura Garcia. De volta ao Rio de Janeiro, compôs em 1938 o jingle “Esquina da sorte”, em parceria com Lamartine Babo, feito para uma casa lotérica e gravado pelo próprio Lamartine em dueto com Aracy de Almeida. No ano seguinte, teve o samba-jongo “Negro está sambando”, parceria com Humberto Porto, gravado por Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco. Em 1940, transferiu-se para a Rádio Tupi de São Paulo. Quatro anos mais tarde, o samba “Veja você”, com Valdomiro Pereira, foi lançado pelo Conjunto Tocantins. Em 1945, foi convidado a trabalhar na Rádio Record de São Paulo onde permaneceu por 26 anos, aposentando-se em 1971. Ainda em 1945, teve o samba “Nêgo” incluído no filme “Caídos do céu” em gravação de Isaura Garcia. Nesse mesmo ano, os sambas “Mulher de malandro” e “Quando morre um sambista” foram gravdos por Isaura Garcia. Em 1946, o choro “Gavião chô chô” foi lançado por Isaura Garcia. Dois anos depois, o grupo vocal Vagalumes do Luar gravou a marcha “A galinha do vizinho”, parceria com Armando Rosas. Em 1948, o maxixe “Louco por tuba”, com Arrelia e Ivando Luiz, foi gravado pelo palhaço de crico Arrelia. Nesse ano, a marcha “Você quer casar comigo?”, parceria com David Nasser, foi incluída no filme “Poeira de estrelas” na interpretação de Emilinha Borba. Em 1949, o balanceio “Cabeça inchada”, sobre motivos mineiros, foi incluído no filme “Uma aventura no Rio” na interpretação de Carmélia Alves, que com ele alcançou grande sucesso, sendo ainda gravado por Solon Sales, Adelaide Chiozzo, Eliana, Francisco Canaro, Abel Ferreira e seu conjunto e Sylvio Mazzucca. Ainda nesse ano, os cantores Ivon Curi e Carmélia Alves lançaram em dueto o baião “Me leva”, parceria com Rochinha. Em 1950, obteve grande sucesso com a composição “Sabiá lá na gaiola”, com Mário Vieira, lançada por Carmélia Alves e incluída no filme “Aí vem o baião”. Nesse ano, o baião “Pé de manacá” composto anos antes foi lançado por Isaura Garcia, em dueto com ele mesmo, tendo conhecido ainda gravações dele próprio, Carmélia Alves, Marlene e Ivon Curi, Muraro e Portinho e sua orquestra. Também em 1950, o samba “Tem pena de mim” foi gravado por Aracy de Almeida recebendo ainda registros de Solon Sales, Carmélia Alves, André Penazzi, Norma Avian, Sambistas do Asfalto e Simonetti e sua orquestra. Em 1951, o baião “A saudade é de matá (Adeus Pernambuco)”, parceria com Manezinho Araújo, foi gravada em dueto por Carmélia Alves e Jimmy Lester, recebendo ainda registro de Luiz Gonzaga. Neste mesmo ano, teve gravadas por Carmélia Alves os baiões “Adeus, adeus morena”, com Manezinho Araújo, e “Baião vai, baião vem”. Teve ainda o samba-canção “Chuva” gravado por Isaura Garcia. Esta composição foi também registrada por André Penazzi, Carmélia Alves, Hebe Camargo, Agnaldo Rayol e Jonny Alf. Também em 1951, teve três composições incluídas em filmes: “a toada-baião “Esta noite serenou”, no filme “Meu destino é pecar”, e a toada-baião “Moreninha. Moreninha”, e a polca “Tô sobrando”, ambas com Luiz Gonzaga, incluídas no filme “O comprador de fazendas”, as duas últimas na interpretação de Luiz Gonzaga, então no auge do sucesso. Ainda no mesmo ano, gravou seu baião “Sei lá”, em dueto com Carmélia Alves em disco lançado pela Continental. Em 1952, fez grande sucesso com o “Baião da garoa”, parceria com Luiz Gonzaga, que o lançou, tendo sido ainda regravado por Carmélia Alves, Guio de Morais e seus parentes, Sérgio Reis e Dominguinhos. Nesse ano, gravou em dueto com Isaura Garcia o “Baião da solidão”, parceria com Marisa Pinto Coelho. Teve ainda o baião “Xaxado”, com Luiz Gonzaga, interpretado pelo grupo vocal Quatro Ases e Um Coringa no filme “Simão, o caolho”. Outro sucesso desse ano, foi o samba-canção “Jangada” que recebeu gravações de Jimmy Lester, Esterzinha de Souza, Sílvio Caldas, Leny Eversong e José Tobias. Em 1953, obteve novo grande sucesso em composição feita em parceria com Luiz Gonzaga, o xote-baião “A vida viajante”, que foi gravado por Luiz Gonzaga e recebeu regravações entre outros de Gonzaguinha, Marinês, Pena Branca e Xavantinho, Trio Nordestino e Chico Buarque. Nesse ano, outras de suas composições receberam mais de uma gravação, como foi o caso do samba-canção “De tanto acreditar”, com Renê Cordovil, lançado por Dircinha Batista, José Tobias e Morgana, o samba “E ela não vem”, com Vicente Leporace, que foi gravado por Titulares do Ritmo, Leny Eversong e Carmélia Alves, e o samba-canção “Falaram de você”, com Renê Cordovil, registrado por Almir Ribeiro e por Isaura Garcia. Ainda em 1953, fez os arranjos para o motivo popular “Mulher rendeira” gravado pelo Trio Marabá e que fez parte da trilha sonora do filme “O cangaceiro”, de Lima Barreto, o primeiro filme brasileiro a obter sucesso no estrangeiro, sendo interpretado por Homero Marques, Zé do Norte e Demônios da Garoa. Em 1954, teve duas composições interpretadas por Carmélia Alves em dois filmes diferentes: o baião “O Miguel é o maior”, com Pascoal José e Marcílio, no filme “Carnaval em Caxias”, e a marcha “Disco voador”, do filme “Carnaval em lá maior”. Em 1956, gravou, em dueto com Carmélia Alves, os sambas “Nego Difíci”, e “Nego Tabuleta”, ambas com Osvaldo Molles. Em 1959, gravou, pela Copacabana a “Polca Do Fritz” e o choro “Não Tem Choro”, ambos de sua autoria. Em 1961, fez sucesso nacional com a marcha “Carta a Papai Noel”, gravada por sua filha Maria Regina, então uma criança de 5 anos de idade. Em 1964 compôs músicas no estilo “jovem guarda” entre as quais “Rua Augusta”, “Boliche legal” e a versão da música “Biquíne de bolinha amarelinha”.
De sua produção, algumas composições foram feitas em parceria com seus filhos Ronnie Cord e Hervé Cordovil. Em 1966, compôs “Canto ao Brasil”, peça sinfônica orquestrada por Gabriel Migliori e executada pela Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo.
Em 1977, participou do show comemorativo “30 Anos de Baião”, realizado no Teatro Municipal de São Paulo, ocasião na qual também se apresentaram Luiz Gonzaga, Carmélia Alves e Humberto Teixeira.
Em 1997, foi publicado o livro “Hervé Cordovil – um gênio da música popular brasileira” de autoria de Maria do Carmo Tafuri Paniago.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
Paniago, Maria do Carmo Tafuri – Hervé Cordovil – um gênio da música popular brasileira – João Ecortecci Editora – São Paulo – 1997