
Compositor.Instrumentista (violonista). Economista.
Irmão caçula do cartunista Henfil e do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Seu interesse musical manifestou-se aos cinco anos de idade, tocando bongô, atabaque e violão, incentivado por Betinho, que reunia amigos para ouvir Bach, Tchaikovsky e Chopin. Autodidata no violão, desenvolveu sua técnica de forma intuitiva, durante os períodos de repouso a que era obrigado a fazer por conta da hemofilia de que era portador. Aprendeu a tocar viola de 12 cordas com seu tio Geraldo. Em 1965, ingressou na Juventude Estudantil Católica de Belo Horizonte como membro da direção regional. Nessa época, costumava tocar violão durante os momentos de lazer e meditação dos jovens e nas missas gregorianas dos freis dominicanos. No ano seguinte, morando em São Paulo, passou a fazer parte do movimento estudantil secundarista como membro da União Brasileira dos Estudantes. Atuou como jornalista no Estado de São Paulo e como crítico musical na extinta revista “Realidade”. Aos 19 anos, já casado, deu aulas para sobreviver, ao mesmo tempo em que se graduava em Economia e Análise de Sistemas. Nessa época, estudou violão com o professor Henrique Pinto e criou o método de música em cores para crianças, aplicando técnicas dramáticas e músicas folclóricas brasileiras. O método foi utilizado por várias escolas de São Paulo e em cursos para professores. Escreveu diversas histórias infantis para a revista “Recreio”, da editora Abril. Trabalhou como consultor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Em 1978, mudou-se para o Rio de Janeiro. Nesta cidade, começou a estudar arranjo e teoria com o professor Roberto Gnattali. Concluiu o curso de pós-graduação em Engenharia de Sistemas na Coppe (RJ).
Em 1978, realizou seu primeiro show, “Ouro Preto”. O espetáculo contou com arranjos de Roberto Gnatalli e foi apresentado no Parque Lage e na Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a participação de Marcos Ariel (flauta), Henrique Drach (cello), Alberto Gabeira (baixo), Maria Antônia (flauta) e Marcos Dantas (percussão).
No ano seguinte, gravou seu primeiro LP, “Terra”, lançado também no México. O disco ganhou elogios do conterrâneo e poeta Carlos Drummond de Andrade. “Terra” teve as participações de Joyce, Quarteto em Cy, Antonio Adolfo, Airton Barbosa e Chiquinho do Acordeon, entre outros. Ainda em 1979, participou, na condição de vice-presidente da Associação dos Produtores de Discos Independentes (APID), do encontro de produção cultural alternativa de discos independentes, em Curitiba (PR). Nesse evento, ficou constatado que o lançamento de discos de MPB era cinco vezes menor do que o de música sertaneja. Ao lado de Antonio Adolfo, Danilo Caymmi e da dupla Luli e Lucinda, todos pioneiros do disco independente, levantou a bandeira para músicos, compositores e intérpretes que não conseguiam penetração no mercado. Também nesse ano, participou do XII Festival de Inverno de Ouro Preto (MG).
Em 1980, entrou em estúdio para gravar o LP “Revolta dos palhaços”, graças à ajuda financeira de 200 pessoas que compraram o disco antes de ficar pronto. O encarte, de autoria do cartunista Nani, apresentava uma lona de circo com a assinatura dos co-produtores que apoiavam a idéia do disco independente. O repertório incluiu parcerias com Aldir Blanc, Paulo Emílio, Fernando Rios, o jornalista Tárik de Souza e o ator Giafrancesco Guarnieri, além das participações especiais de Ivan Lins, MPB4, Lucinha Lins, Boca Livre, Mauro Senise, Luiz Claudio Ramos, Danilo Caymmi e Djalma Correa, entre outros. A capa foi desenhada pelo irmão Henfil.
Em 1981, participou do V Festival de Oposicion, realizado no México. Nesse país, gravou o disco “Terra”. Também nesse ano, gravou o LP “Versos e viola”, ao lado de Francisco Julião, que acabara de chegar do exílio. O disco foi vetado pela censura na época.
De volta ao Brasil, gravou seu primeiro LP instrumental, “Conversa de cordas, palhetas e metais”, contemplado em 1983 com o Troféu Chiquinha Gonzaga, como Melhor Disco de Música Instrumental. O disco contou com capa de Elifas Andreato, foto de Fernando Carvalho e a participação de Rafael Rabello, Nivaldo Ornellas, Zeca Assumpção, Antonio Adolfo e Afonso Machado. Nessa época, começou a estudar teoria com o professor Adamo, indicado por Ian Guest, e publicou o livro de poemas “Painel brasileiro”.
Em 1984, recebeu o 1º Prêmio no Festival de Ouro Preto com a música “São Paulo”.
Dois anos depois, com a mesma canção, foi contemplado com o prêmio de Melhor Arranjo no Festival dos Festivais (MG).
Ao lado de sua esposa Nívia, atuando em parceria com a revista “Cadernos do Terceiro Mundo”, iniciou um projeto de produção independente dos melhores músicos brasileiros, cuja única produção foi o disco de piano solo de Radamés Gnattalli, “Retratos”.
Em 1985, gravou mais um LP instrumental, “Pijama de seda”, com destaque para a faixa-título, dedicada a Pixinguinha, e “Ressurreição”, uma homenagem ao seu irmão Henfil. O disco, cuja capa foi assinada por Noguchi, teve show de lançamento na Sala Cecília Meireles (RJ), nesse mesmo ano.
Em 1986, lançou o LP “Retratos”, destacando-se a canção “Cuba”, dedicada a Silvio Rodrigues e Pablo Milanes. A capa foi criada por Lobianco. Ainda nesse ano, apresentou músicas novas em seu último show, no projeto “Suíte Brasil”, da Rioarte, realizado no Parque da Catacumba (RJ).
Em seguida, abatido por uma pneumonia, ficou sabendo que havia contraído o vírus da Aids, contaminado por alguma das muitas transfusões de sangue que fez ao longo da vida, em decorrência da hemofilia. Ao deixar o hospital no início de 1987, foi com a família para a Fazenda da Serra, em Itatiaia (RJ) e compôs suas três últimas obras: “Dança do Mar”, “Suíte Brasil” e “Tempo”. Ainda nesse ano, gravou, no estúdio Sonoviso, os discos “Dança do Mar”, com sete movimentos que refletem as mudanças da natureza e das estações, “Suíte Brasil”, uma leitura musical na História do Brasil, do descobrimento às eleições diretas, e “Tempo”, uma homenagem a Charles Chaplin, com destaque para a canção “São Paulo”.
Escreveu os livros “Ressurreição” (durante o período em que esteve internado no hospital da UFRJ), “Como fazer um disco independente” (Editora Vozes) e “Painel Brasileiro” (livro de poemas).
Em dezembro de 1987, mais de 30 artistas subiram ao palco do Teatro João Caetano (RJ) para um show beneficiente em prol de seu tratamento de saúde. Entre eles, Milton Nascimento, Chico Buarque, Gonzaguinha, Dona Ivone Lara, Paulinho da Viola, Emilio Santiago, Joyce, Claudio Nucci, Fagner, Aldir Blanc e Élton Medeiros, além de seu filho Marcos Souza.
No ano seguinte, artistas mineiros, como Beto Guedes, Paulinho Pedra Azul, Gilvan de Oliveira, Tadeu Franco e Rubinho do Vale, fizeram show equivalente no Teatro Cabaré Mineiro, em Belo Horizonte (MG).
Faleceu em 14 de março de 1988, deixando material inédito para três discos. Depois de sua morte, sua esposa e produtora, Nívia Souza, e seus filhos, Marcos, Ana e Karina, lançaram os álbuns póstumos: “Dança do Mar” foi lançado na Sala Cecília Meireles, em 1988, com as participações de Rafael Rabello, Antonio Adolfo, Mauro Senise, Rique Pantoja, David Chew e Galo Preto e apresentação do ator Tony Ramos: “Suíte Brasil” foi lançado em 1992, por Marcos Souza, no Centro Cultural Banco do Brasil.
Em 1995, foram relançados em CD os discos “Conversa de Cordas, couros, palhetas e metais”, “Pijama de seda” e “Retratos”.
Dois anos depois, foram relançados em CD os discos “Terra” e “Dança do Mar”, ao mesmo tempo em que foi realizada uma exposição sobre o compositor no Museu da Imagem e do Som (RJ) e no Crav (Belo Horizonte, MG).
Em 1998, foi realizado o projeto “Francisco Mário – 50 anos”, um evento que contou com exposição, vídeo, teatro, shows e leitura de poemas.
No ano seguinte, seu filho Marcos de Souza selecionou obras contidas nos discos “Terra” e “Revolta dos palhaços” para a produção do CD “Marionetes”, com Regina Spósito. Ainda em 1999, foi relançado em CD o disco “Suíte Brasil”.
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2009.
SOUZA, Nívia. Texto redigido para a exposição realizada no Museu da Imagem e do Som e no Museu do Telephone (RJ).