5.001
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Nome Artístico
Ernesto Nazareth
Nome verdadeiro
Ernesto Júlio de Nazareth
Data de nascimento
20/3/1863
Local de nascimento
Rio de Janeiro, RJ
Data de morte
4/2/1934
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Compositor. Pianista. Filho de Vasco Lourenço da Silva Nazareth (ex-despachante aduaneiro) e de Carolina da Silva Nazareth, nasceu em uma modesta casa no morro do Nheco, hoje morro do Pinto, no bairro da Cidade Nova, no Rio de Janeiro.

Criou-se durante períodos caracterizados por grandes mudanças e instabilidade social e política no país, como a guerra do Paraguai, o movimento abolicionista e a instauração da República.

Ainda na infância, sofreu uma queda que lhe afetou o ouvido direito, causando problemas auditivos que lhe acompanharam por toda a vida.

Sua iniciação musical foi feita por sua mãe, que era pianista e faleceu quando ele tinha apenas 10 anos. Estudou ainda com Eduardo Madeira (músico amador), teve algumas lições com Lucien Lambert, passando desde então a formar-se autodidaticamente.

Sua primeira música, a polca-lundu “Você bem sabe”, dedicada a seu pai, foi composta aos 14 anos de idade. Na ocasião, Eduardo Madeira levou-o ao pianista e editor Artur Napoleão, que a publicou entusiasmado com o novo ritmo. A Casa Arthur Napoleão, grande estabelecimento de pianos e músicas e também editora, foi durante muito tempo um dos centros de maior irradiação musical no Rio de Janeiro, promovendo constantes audições em seu salão. A partir de 1889, quando já se tornara Casa Arthur Napoleão e Miguez, passou a publicar também uma “Revista Musical e de Belas-Artes”. Situado na Rua do Ouvidor, o estabelecimento propiciou ao compositor travar valiosas relações com o mundo musical de então. Daí em diante, passou a ser um profissional do piano e da música.

Em 1886, aos 23 anos de idade, casou-se com Teodora Amália de Meireles, a quem dedicou o tango “Dora”, nome pelo qual era tratada na intimidade. O casal teve quatro filhos. Em 1907, foi nomeado terceiro escriturário do Tesouro Nacional, onde permaneceu por pouco tempo. Quando saiu do Tesouro Nacional, passou a viver exclusivamente de música, de aulas particulares de piano e de tocar em casas de música, de família e clubes. Em 1918, o compositor perdeu sua filha, Maria de Lurdes, o que lhe causou grande abatimento. Em 1929, faleceu sua esposa. Por volta de 1932, passou a residir em Laranjeiras. Em 1933, após um longo processo de perda de audição, o compositor foi definitivamente vitimado pela surdez, fato que veio a causar-lhe perturbação mental e conseqüente internação no Instituto Neuro-psiquiátrico situado na Praia Vermelha e posteriormente na Colônia Juliano Moreira, situada em Jacarepaguá.

Em fevereiro de 1934, saiu para um passeio pelas alamedas do sanatório e, sem ser visto, fugiu, desaparecendo. Após alguns dias de busca, o corpo do compositor foi encontrado nas águas da Cachoeira dos Ciganos.

Dados artísticos

Um dos compositores de maior importância para a cultura brasileira, deixou obra essencialmente instrumental, particularmente dedicada ao piano. Suas composições, apesar de extremamente pianísticas, por muitas vezes retrataram o ambiente musical das serestas e choros, expressando através do instrumento a musicalidade típica do violão, da flauta, do cavaquinho, instrumental característico do choro, fazendo-o revelador da alma brasileira, ou, mais especificamente, carioca. A esse respeito, diz o musicólogo Mozart de Araújo: “As características da música nacional foram de tal forma fixadas por ele e de tal modo ele se identificou com o jeito brasileiro de sentir a música, que a sua obra, perdendo embora a sua funcionalidade coreográfica imediata, se revalorizou, transformando-se hoje no mais rico repositório de fórmulas e constâncias rítmico-melódicas, jamais devidas, em qualquer tempo, a qualquer compositor de sua categoria”. Na produção musical do compositor, destacam-se numericamente os tangos (em torno de 90 peças), as valsas (cerca de 40) e as polcas (cerca de 20), destinando-se o restante a gêneros variados como mazurcas, schottisches, marchas carnavalescas etc. É sabido  que o compositor rejeitava a denominação de maxixe a seus tangos, distinguindo-se daquele fundamentalmente pelo caráter pouco coreográfico e predominantemente instrumental de sua obra. Deve-se ainda ressaltar em sua produção a influência de compositores europeus, notadamente de Chopin, compositor  cuja obra se dedicou a estudar meticulosamente e cuja inspiração se reflete, sobretudo, na elaboração melódica  de  suas valsas. Em 1877, aos 14 anos de idade, fez sua primeira composição, a polca lundu “Você bem sabe”, que foi editada no ano seguinte pela Casa Artur Napoleão.
Em 1879, escreveu a polca “Cruz perigo” (na verdade seu primeiro tango). Em 1880, com 17 anos de idade, fez sua primeira apresentação pública, pelo menos que se tenha registro, no Clube Mozart. No ano seguinte, compôs a polca “Não caio noutra”, seu primeiro grande sucesso, com diversas reedições. Em 1885, apresentou-se em concertos em diferentes clubes do Rio de Janeiro. Em 1890, teve publicado o tango “Cruz perigo”, pela Casa Viúva Canongia, situada na Rua do Ouvidor. Neste mesmo ano, publicou uma nova polca, “Atraente”, que, como a anterior, obteve grande sucesso no Rio de Janeiro. Em 1893, a Casa Vieira Machado lançou uma nova composição sua, o tango “Brejeiro”, com o qual alcançou sucesso nacional e até mesmo internacional, na medida em que a Banda da Guarda Republicana de Paris passou a incluí-la em seu repertório, chegando até mesmo a gravá-la.
Seu primeiro concerto como pianista realizou-se em 1898, no Salão Nobre da Intendência da Guerra, iniciativa do Clube de São Cristóvão. No ano seguinte foi feita a primeira edição do tango “Turuna”. Em 1904, conheceu o pianista norte americano Ernest Schelling que levou inúmeras obras suas para seu país. Em 1905, teve sua primeira obra gravada, o tango “Brejeiro”, na Odeon, pelo cantor Mário Pinheiro com o título de “O sertanejo enamorado”, com letra de Catulo da Paixão Cearense. No mesmo período, a Banda da Casa Edson gravou seu tango “Escovado”, que fez bastante sucesso, e, a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro gravou os tangos “Brejeiro” e “Turuna”. Provavelemnte no ano seguinte, o pianista Artur Camilo gravou na Odeon, ao piano, os tangos “Favorito” e “Escovado”. Em 1908, começou a trabalhar como pianista na Casa Mozart. No ano seguinte, participou de recital realizado no Instituto Naciona de Música, interpretando a gavotta “Corbeille de fleurs” e o tango “Batuque”. Na mesma ocasião, acompanhou o maestro Villa-Lobos na obra “Le cygne”, de Saint-Saens. Em 1910, começou a se apresentar na sala de espera do Cine Odeon em homenagem ao qual compôs o tango “Odeon”. Em 1912, a Banda Escudero gravou na Odeon sua polca “Os teus olhos cativam”. Por essa época, o cantor Mário Pinheiro gravou, também na Odeon, o tango “Favorito”, com letra de Catulo da Paixão Cearense. Ainda em 1912, gravou na Odeon uma série de 4 discos tocando piano, com Pedro de Alcântara na flauta, interpretando as polcas “Choro e poesia”, de Pedro de Alcântara, e “Linguagem do coração”, de Joaquim Antônio da Silva Calado, e os tangos “Favorito” e “Odeon”, de sua autoria. Por essa época, a Banda da Casa Fauhaber e Cia gravou, na Favorite Records, a valsa “Ouro sobre azul”.
Em 1913, o Grupo dos Sustenidos gravou o tango “Bambino”, o Quarteto Luiz de Souza, a polca choro “Correta”, e a Orquestra da Casa Edson, o tango “Atrevido”, todos na Odeon. Em 1914, teve publicada a polca “Apanhei-te cavaquinho”, que obteve grande sucesso. Em 1915, a polca “Apanhei-te cavaquinho” foi gravada na Odeon pelo grupo O Passos no Choro, e pela Orquestra Odeon. Em 1917, retornou ao Cine Odeon de onde havia saído quatro anos antes, agora, regente uma pequena orquestra da qual acredita-se fazia parte o maestro Villa-Lobos, tocando violoncelo. Por essa mesma época, o compositor francês Darius Milhaud, que esteve durante algum tempo no Brasil, publicou na França  artigo, em que assim analisava a produção musical brasileira então vigente: “É de lamentar que os trabalhos de compositores brasileiros desde as obras sinfônicas ou de música de câmara, dos srs. Nepomuceno e Oswald, às sonatas impressionistas do sr. Guerra  ou às obras de orquestra do sr. Villa-Lobos (um jovem de temperamento robusto, cheio de ousadias), sejam um reflexo das diferentes fases que se sucederam na Europa, de Brahms a Debussy, e que o elemento nacional não seja expresso de uma maneira mais viva e mais original. A influência do folclore brasileiro, tão rico de ritmos e de uma linha melódica tão particular, se faz raramente sentir nas obras dos compositores cariocas. Quando um tema popular ou o ritmo de uma dança é utilizado numa obra musical, este elemento indígena é deformado porque o autor o vê através das lunetas de Wagner ou de Saint-Saens, se ele tiver sessenta anos, ou através das de Debussy, se não tiver mais de trinta. Seria de desejar que os músicos brasileiros compreendessem a importância dos compositores de tangos, de maxixes, de sambas e de cateretês, como Tupinambá ou o genial Nazareth. A riqueza rítmica, a fantasia indefinidamente renovada, a verve, o entrain, a invenção  melódica de uma inspiração prodigiosa destes dois mestres, fazem destes últimos a glória e o mimo da arte brasileira.”
Em 1919, empregou-se na Casa Carlos Gomes – mais tarde Carlos Wehrs – fundada por Eduardo Souto e Roberto Donati, com a função de  executar músicas para serem vendidas (das 12 às 18 hs), na época  a  maneira mais  corrente de tomar contato com as novidades musicais. Não havia rádio, os discos eram raros, e o cinema, mudo. Em 1921, a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro gravou na Odeon os tangos “Sarambeque” e “Menino de ouro”, e, a valsa “Henriette”. No mesmo ano, o maestro Villa-Lobos dedicou-lhe o “Choro nº 1” para violão. Sua entrada no ambiente musical “erudito” deu-se em 1922, quando, a convite do compositor Luciano Gallet, participou de um recital no Instituto Nacional de Música, onde executou os tangos “Brejeiro”, “Nenê”, “Bambino” e “Turuna”.  Esta iniciativa encontrou muita resistência, tendo sido surpreendentemente necessária a intervenção policial para garantir a realização do concerto. Em 1926, a Cultura Artística de São Paulo preparou uma homenagem ao compositor, que ainda deu recitais no Teatro Municipal e  no Conservatório Dramático e Musical de Campinas. No mesmo ano, o escritor Mário de Andrade proferiu conferência sobre o compositor na Sociedade de Cultura artística de São Paulo, na qual afirmou: “Por todos esses caracteres e excelências, a riqueza rítmica, a falta de vocalidade, a celularidade, o pianístico muito feita de execução difícil, a obra de Ernesto Nazaré se distancia da produção geral congênere. É mais artística do que a gente imagina pelo destino que teve, e deveria estar no repertório dos nossos recitalistas. Posso lhes garantir que não estou fazendo nenhuma afirmativa sentimental não. É a convicção dessassombrada de quem desde muito observa a obra dele. Se alguma vez a prolixidade encomprida certos tangos, muitas das composições deste mestre de dança brasileira são criações magistrais, em que a força conceptica, a boniteza da invenção melódica, a qualidade expressiva, estão dignificadas por uma perfeição de forma e equilíbrio surpreendentes”. Em 1927, o compositor retornou ao Rio de Janeiro.
Foi um dos primeiros artistas da Rádio Sociedade (Rádio MEC do Rio de Janeiro), fundada por Roquette-Pinto. Em 1930, concluiu sua última composição, a valsa “Resignação”. No mesmo ano, gravou ao piano, na Odeon, a convite do diretor artístico Eduardo Souto, a polca “Apanhei-te cavaquinho”, lançada no selo como choro, e, o tango brasileiro “Escovado”, de sua autoria. Em 1932, apresentou pela primeira vez um recital só com músicas de sua autoria, realizado no Estúdio Nicolas, em um concerto precedido por uma conferência de Gastão Penalva. Neste mesmo ano, realizou uma turnê pelo sul do país, a convite de admiradores gaúchos.
Em 1943, “Apanhei-te cavaquinho” recebeu letra de Darci de Oliveira, e foi gravado por Ademilde Fonseca. No mesmo ano, teve a valsa “Gotas de ouro” e o choro “Bambino” gravadas por Custódio Mesquita e sua Orquestra. Em 1945, sua valsa “Turbilhão de beijos” e seu choro “Odeon” foram gravados por Fon-Fon e sua orquestra na gravadora Odeon. Em 1946, o então iniciante sanfoneiro Luiz Gonzaga gravou, na Victor, o choro “Brejeiro”. Em 1947, seus choros “Nenê” e “Tenebroso” foram gravados na Odeon por Carioca e sua orquestra. Em 1950, Pixinguina e Benedito Lacerda gravaram o choro “Matuto”, na RCA Victor. Em 1951, o violonista Garoto gravou ao bandolim o choro “Famoso”, pela Odeon.
Em 1952, a RCA Victor lançou o LP “Jacob revive músicas de Ernesto Nazareth”, no qual o músico Jacob do Bandolim interpretou os tangos “Atlântico”, “Nenê”, “Odeon” e “Tenebroso”, e as valsas “Saudade”, “Confidências”, “Faceira” e “Turbilhão de beijos”. Em 1953, a pianista Carolina Cardoso de Menezes regravou “Brejeiro” pela Sinter. No mesmo ano, o maestro Radamés Gnattali gravou, pela Continental, ao piano uma série de três discos com as valsas “Expansiva” e “Confidências”, os tangos “Tenebroso” e “Fon-fon”, o tango característico “Batuque” e a polca choro “Apanhei-te cavaquinho”. Radamés Gnatalli ainda o homenageou em um dos quatro movimentos de sua suíte “Retratros”, feita para bandolins e orquestra de cordas (e dedicada a Jacob do Bandolim).
Em 1963, foi comemorado o centenário de nascimento do compositor. A pianista Eudóxia de Barros gravou  a obra do compositor no LP “Ouro sobre azul”, lançado pela gravadora Chantecler. No mesmo ano, seu clássico tango “Odeon” foi gravado pelo maestro Portinho no LP “Toca a banda maestro – Portinho e sua banda” da gravadora RCA Candem. Em meados dos anos 1970, o pianista Arhur Moreira Lima revisitou sua obra em dois LPs duplos lançados pelo selo Marcus Pereira. Entre seus choros mais conhecidos destacam-se “Apanhei-te cavaquinho” e “Ödeon”. Este último recebeu letra de Vinícius de Moraes, na década de 1960, a pedido de Nara Leão, que o gravou em LP para a Philips. Esta gravação foi tema de abertura da telenovela “A sucessora”, realizada pela Rede Globo, em 1978, a partir do romance homônimo de Carolina Nabuco. Em 1994, foi homenageado pelo grupo Regional de Seresteiros no CD “Zequinha de Abreu e Ernesto Nazareth”. No mesmo, foram interpretadas suas obras “Apanhei-te cavaquinho”; “Atlântico”; “Brejeiro”; “Turbilhão de beijos”; “Beija flor” e “Guerreiro”. Em 1996, o pianista Marcelo Verzoni defendeu na Universidade do Rio de  Janeiro – Uni-Rio, a tese de mestrado intitulada  “Ernesto  Nazareth e o tango brasileiro”, onde, além da análise musical do repertório  de tangos do compositor, elabora uma discussão bibliográfica em torno da inserção do compositor  na historiografia da música  brasileira, capítulo intitulado “Crônica de um preconceito”, seguido de um esboço biográfico. Em 1997, a pianista Maria Teresa Madeira e o  bandolinista Pedro Amorim gravaram o CD “Sempre Nazareth”, lançado pela gravadora Kuarup.  Neste mesmo ano  foi lançado o CD-ROM “Ernesto Nazareth o rei do choro” (selo CDArte).
Recebeu de Mário de Andrade um grande elogio. Ao referir-se a ele o ilustre escritor e musicólogo afirmou:  “compositor brasileiro dotado de uma extraordinária originalidade, porque transita com fôlego entre a música popular e erudita, fazendo-lhe a ponte, a união, o enlace”. Ainda segundo Mário de Andrade, teria sido o fixador do maxixe.
Em 2000, foi homenageado no show “Do choro ao samba” que integra a série “MPB – a história de um século”, quatro espetáculos encenados no CCBB, onde foi executado pela pianista Maria Tereza Madeira e pelo saxofonista Paulo Sergio Santos. O espetáculo – bem como os 3 outros – foram criados e dirigidos por Ricardo Cravo Albin. Em 2001, foi homenageado pelo pianista Orlando Massiére com o show “Crises em pencas”, na Casa de Cultura Laura Alvim no Rio de Janeiro. O show recebeu o mesmo título de um samba carnavalesco composto pelo compositor em 1930 e que permaneceu inédito. Participaram da homenagem a pianista japonesa Yuka Shimizu e o percussionista Di Lutgardes. Na ocasião, foram expostos partituras e objetos pessoais do artista. Sua obra é executada com alguma frequência em salas internacionais. Em 2003, por ocasião dos 140 anos de seu nascimento a pianista Maria Teresa Madeira gravou dois CDs com 29 obras do compositor, entre as quais “Confidências”, “Odeon”, “Fon Fon”, “Ameno Resedá” e “Apanhei-te cavaquinho”. Ainda em 2003, foi concluído um livro sobre sua vida e obra de autoria do pesquisador Luis Antônio de Almeida, herdeiro familiar e guardador de todo seu acervo. Em 2004, por ocasião dos 70 anos da morte do compositor, a STV em parceria com a produtora paulistana We Do Comunicação apresentou o documentário “Ernesto Nazareth”, com direção de Dimas de Oliveira Junior e Felipe Harazim, refazendo a trajetória artística do compositor desde seu primeiro sucesso, “Você bem que sabe”, de 1877, quando tinha 14 anos. Estão presentes no ducumentário declarações das pianistas Eudóxia de Barros e Maria Tereza Madeira, do compositor Oswaldo Lacerda, e do biógrafo e compositor Luiz Antonio de Almeida, entre outros. O documentário narra ainda fatos marcantes dos últimos dias de vida do compositor como a morte da esposa e as conseqüências de um tombo que lhe causou a perda contínua da audição. Tais fatos, contribuíram juntamente com a sífilis, mal sofrido por ele, segundo seu biógrafo Luiz Antonio de Almeida, acabariam resultando no enlouquecimento do músico. Em 2005, foi homenageado com a publicação de sua biografia de autoria do pesquisador Haroldo Costa, e com a edição de um disco com suas obras interpretadas pelo Quinteto Villa-Lobos. Nesse disco estão presentes composições como “Odeon”, “Apanhei-te cavaquinho”, “Brejeiro”, “Tenebroso” e outras. No mesmo ano, seu acervo foi adquirido pelo Instituto Moreira Sales passando a ser catalogado e digitalizado. Desse material fazem parte anotações pessoais do músico além de inúmeras partituras. Em 2009, foi lançado pelo selo Biscoito Fino o CD “Luciano Alves interpreta Ernesto Nazareth” no qual foram interpretados seus clássicos “Odeon”, “Brejeiro”, “Apanhei-te Cavaquinho”, “Coração que Sente”, “Escorregando”, “Escovando”, “Fon-fon”, “Eponina”, “Cavaquinho Porque Choras?”, “Sustenta a Nota”, “Favorito” e “Pipocando”.
Em 2009, foi homenageado pela cravista Rosana Lanzelotte que lançou um CD interpretando obras do compositor adaptadas para cravo com acompanhamento de percussão além de um violão. Do CD fizeram parte músicas como “Escorregando” e “Lundu”. Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin, a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 1 desses CDs estão incluídos seus tangos “Brejeiro” e “Apanhei-te cavaquinho” na interpretação de Altamiro Carrilho e conjunto. No mesmo ano foi lançada a caixa “Todo Nazareth – Obras completas”, dividas  em seis brochuras: Polcas, Tangos I, Tangos II, Tangos III, Valsas e Peças de Concerto e Danças Diversas. A caixa resultou de uma pesquisa de três anos elaborada pelos pesquisadores Cacá Machado e Thiago Cury. Em 2012, foi lançado no Instituto Moreira Salles o site sobre o pianista e compositor visando o sesquicentenário de seu nascimento a ser comemorado em 2013. Por ocasião do lançamento foi feito um show com as obras do artista interpretadas por Marcíulio Lopes, Marcelo Bernardes, Luciana Rabello, Maurício Carrilho e Paulo Aragão. Em 2013, no dia em que se completavam os 150 anos de seu nascimento foi homenageado no Instituto Cultural Cravo Albin com uma palestra realizada pelo seu biógrafo Luiz Antonio de Almeida. Na ocasião, o violonista Genésio Nogueira interpretou duas obras de seu repertório. No mesmo ano, ainda por conta das comemorações de seus 150 anos de nascimento, foi homenageado pelo pianista Luiz Eduardo Domingues que, em seu primeiro CD, “Os pianeiros”, gravou seus sambas “Arrojado” e “Comigo é na madeira”, a valsa-lenta “Turbilhão de beijos”; a valsa-capricho “Elegantíssima”, os tangos “Maly” e “Batuque”, e o tango-habanera “Crises em penca”. Também em 2013, por conta das comemorações dos seus 150 anos de nascimento foi lançado pelo selo Revivendo o CD “Ernesto Nazareth 150 anos – Volv. 1”, no qual foram interpretados os tangos “Brejeiro”, “Turuna”, “Está chumbado” e “Saranbeque”, todos pela Banda do Corpo de Bombeiros, que também aparece no CD com as gravações da valsa “Henriette” e do tango brasileiro “Menino de ouro”. Estão presentes ainda no CD os tangos “Favorito”, pelo pianista Artur Camilo; “Dengoso”, péla Banda Columbia; “Ferramenta”, pela Banda do 52º de Caçadores; “Odeon”, pelo flautista Pedro de Alcântara; “Atrevido”, com a Orquestra da Casa Edison; os tangos brasileiros “Paulicéia como és formosa” e “Quebra cabeças”, com Orquestra Pan American; “Cacique”, com a Simão Nacional Orchestra, e “Escovado”, na interpretação do próprio autor ao piano; os maxixes “Escorregando”, pela Jazz Band Sul-Americano, e “Proeminente”, com Orquestra Pan American do Cassino Copacabana, e as polcas “Ameno Resedá”, com o Grupo do Louro, e “Correcta”, na gravação do Grupo do Louro. Ainda em comemoração aos seus 150 de nascimento foi homenageado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro na abertura da temporada 2013 de concertos da Orquestra Sinfônica Brasileira, com a participação especial do violonista Yamandu Costa, encarregado “de dar ritmo a valsas e choros que remetem à trajetória musical de Nazareth”, segundo reportagem  da Revista Rio Show”, do jornal O Globo. Sobre o espetáculo, assim falou o maestro  da OSB Roberto Mincsuk: “O espetáculo é uma obra para violão e orquestra, dividida em três movimentos. No primeiro, a relação de Nazareth com Darius Milhaud, um dos mais importantes compositores franceses do século XX. No segundo, é relembrada a amizade do homenageado com Heitor Villa-Lobos. Já no terceiro e último movimento, são citadas as inúmeras influências que o mestre legou à música popular brasileira”. Deixou um total de 214 composições sendo 90 tangos, 30 polcas e 40 valsas, além de sambas, marchas e quadrilhas. Em 2014, foi homenageado pelo pianista João Carlos Assis Brasil que lançou o CD “Nazareth revisitado” no qual ele interpretou clássicos do compositor como “Brejeiro”, “Faceira”, “Apanhei-te cavaquinho”, e a valsa “Coração que sente”. O CD contou ainda com as participações especiais do cantor Carlos Navas interpretando “Bambino”, letra de José Miguel Wisnick,  e “Odeon”, parceria com Vinícius de Moraes, e da cantora Alaíde Costa cantando “Sertaneja”. O CD foi gravado a partir do show realizado pelo pianista no ano anterior em homenagem ao sesquicentenário do nascimento do compositor. Em 2016, foi lançada pela pianista Maria Teresa Madeira a caixa com 12 CDs intitulada “Ernesto Nazareth integral” com 215 composições para piano que ela garimpou em diferentes arquivos a partir da premiação  do Prêmio de Música Brasileira da Funarte. No mesmo ano, foi lançado pela Funarte o livro “O Rio de Ernesto Nazareth” da escritora Beth Ritto, que traça um paralelo entre a vida do compositor e as mudanças pelas quais a cidade do Rio de Janeiro passou no período de vida dele.

Discografias
1930 Odeon 78 Apanhei-te cavaquinho/Escovado
1912 Odeon 78 Favorito

(Com Pedro de Alcântara)

1912 Odeon 78 Linguagem do coração

(Com Pedro de Alcântara)

1912 Odeon 78 Odeon

(Com Pedro de Alcântara)

Obras
A bela Melusina
A flor dos meus sonhos
A florista (c/ Francisco Teles)
A fonte de Lambari
Adieu
Adorável
Ai, rica prima
Alaor Prata (c/ Maria Mercedes M. Teixeira)
Albingia
Alerta
Alvorecer
Ameno resedá
Apanhei-te, cavaquinho
Arreliado
Arrojado
Arrufos
As gracinhas de nhonhô
Atlântico
Atrevidinha
Atrevido
Até que enfim
Bambino
Batuque
Beija-flor
Beijinho de moça
Bernardo de Vasconcelos
Bicyclette club
Bom-bom
Brejeira
Brejeiro
Cacique
Canhoto
Canção cívica Rio de Janeiro
Capricho
Cardosina
Carioca
Carneiro Leão (c/ Maria Mercedes M. Teixeira)
Catrapuz
Cavaquinho, por que choras?
Caçadora
Celestial
Chave de ouro
Chile-Brasil
Comigo é na madeira
Condor
Confidências
Coração que sente
Corbeille de fleurs
Correta
Crises em penca
Cruz, perigo!
Cruzeiro
Crê e espera
Cubanos
Cuera
Cuiubinha
Cutuba
De tarde (c/ Augusto de Lima)
Delicia
Dengoso
Desengonçado
Digo
Dirce
Divina
Dor secreta
Dora
Duvidoso
Elegantíssima
Elegia
Elite
Elétrica
Encantada
Encantador
Ensimesmado
Eponina
Escorregando
Escovado
Espalhafatoso
Españolita
Está chumbado
Eulina
Expansiva
Exuberante
Faceira
Fado brasileiro
Famoso
Fantástica
Favorito
Feitiço
Feitiço não mata (c/ Ari Kerner)
Ferramenta
Fidalga
Floraux
Floriano Peixoto (c/ Maria Mercedes M. Teixeira)
Fon-fon
Fonte do suspiro
Fora dos eixos
Fraternidade
Furinga
Garoto
Gaúcho
Gemendo, rindo e pulando
Genial
Gentes, o imposto pegou?
Gentil
Gotas de ouro
Gracietta
Guerreiro
Helena
Henriette
Ideal
If I Am not Mistaken
Improviso
Insuperável
Ipanema
Jacaré
Jangadeiro
Janota
Julieta
Julita
Labirinto
Lamentos
Laço azul
Magnífico
Maly
Mandinga
Marcha fúnebre
Marcha heróica aos 18 do Forte
Mariazinha sentada na pedra
Marieta
Matuto
Meigo
Menino de ouro
Mercedes
Mesquitinha
Miosótis
Mágoas
Nazaré
Nenê
No jardim
Noturno
Nove de Julho
Nove de Maio
Noêmia
Não caio noutra!!!
Não fujas assim
O nome dela, grande valsa brilhante
O que há
Odeon (c/ Vinícius de Moraes)
Onze de Maio
Orminda
Os teus olhos cativam
Ouro sobre azul
Pairando
Paraíso
Paulicéia, como és formosa!
Pedro II (c/ Maria Mercedes M. Teixeira)
Pereira Passos (c/ Leôncio Correia)
Perigoso
Pierrô
Pingüim
Pipoca
Pirilampo
Plangente
Plus ultra
Podia ser pior
Polonaise
Por que sofre?
Primorosa
Proeminente
Pássaro em festa
Quebra-cabeças
Quebradinha
Ramirinho
Ranzinza
Rayon d'or
Rebuliço
Recordações do passado
Remando
Resignação
Respingando
Ressaca
Retumbante
Rosa Maria
Sagaz
Salve, nações reunidas (c/ Maria Mercedes M. Teixeira)
Samba carnavalesco
Sarambeque
Saudade
Saudades dos pagos (c/ Maria Mercedes M. Teixeira)
Saudades e saudades
Segredo
Segredos de infância
Sentimentos d'alma
Soberano
Suculento (c/ letra de Netuno)
Sustenta a nota
Sutil
Talismã
Tenebroso
Thierry
Time is money
Topázio líquido
Travesso
Tudo sobe
Tupinambá
Turbilhão de beijos
Turuna
Vem cá, branquinha
Vitorioso
Vitória (c/ José Moniz de Aragão)
Você bem sabe
Vésper
Xangô
Zica
Êxtase
Íris
Íris
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

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VASCONCELOS, Ary. Panorama da música popular brasileira. Rio de Janeiro: Martins, 1965.

Crítica

Nazareth é uma unanimidade: todos o louvam. Para Francisco Mignone, ele “deve ser considerado um clássico da música brasileira nacionalista. Talvez um Glinka da nossa música”. Luciano Gallet apontou: “Apesar da clara influência de Chopin, nenhum compositor alcançou tal índice de brasilidade com tão escassos meios.” Villa-Lobos foi mais longe: “Nazareth é a verdadeira encarnação da alma brasileira.”

O compositor considerava a valsa como o estilo mais nobre, mas os seus “tangos brasileiros” constituem talvez a sua maior contribuição para a nossa música. Foi notável também nas polcas e chorinhos. Na verdade, Nazareth foi um compositor essencialmente carioca pela brejeirice e malícia, um precursor do maxixe. Ele aliava enorme “métier” a um hábil refinamento na composição, além de notável invenção melódica, riqueza harmônica e rítmica.

Nazareth retratou com muita graça e sabor o ambiente tranqüilo e gostoso do Rio Antigo, do início do século XX, época em que toda a gente andava de bonde, ia ao Centro da cidade assistir a uma sessão de cinema e depois tomar algo numa casa de chá da Cinelândia. Ele soube captar aquela atmosfera romântica das festinhas burguesas, das passeatas dos seresteiros e dos ranchos carnavalescos. Entre seus maiores sucessos, destaco “Apanhei-te, cavaquinho”! (1914), “Turuna” (1899) e “Brejeiro” (1893). Darius Milhaud, o famoso compositor francês que viveu no Rio de Janeiro no fim dos anos 10, bem o definiu: “Genial.”

Termino citando palavras felizes de Mário de Andrade: “Nazareth era um ‘virtuoso’ do piano. A síncopa nas suas mãos é como o jogo de bolas do pelotiqueiro. Faz dela o que quer. Ela se transfigura, move-se dentro do compasso, irrequieta e irregular, num saracoteio perpétuo. Ninguém melhor do que ele para representar o espiritamento achacoalhado e jovial do carioca.”

Recomendo o CD-ROM “Ernesto Nazareth, o rei do choro”, editado pela LN Comunicação e Informática, do Rio de Janeiro, aos interessados em conhecer mais pormenorizadamente a história do compositor e de sua música.

Vasco Mariz