Compositor. Arranjador. Instrumentista. Produtor musical.
Neto e sobrinho de músicos, iniciou os estudos de piano aos seis anos de idade, no Conservatório de Música de Nova Friburgo (RJ). Foi aluno de Jacques Klein e Aurélio Silveira. Em 1968, viajou a Paris e teve como professores de análise e orquestração Nádia Boulanger e o compositor Jean Baralaque, um discípulo de Schoenberg e Webern. Transitou dos teclados (piano acústico, piano elétrico, sintetizador e órgão) aos violões de seis, oito, 10, 12 e 14 cordas, e realizou experimentações com vários tipos de tons e sons, utilizando flautas indígenas (ocarina e jacuí), kalimbas e sinos. Sua música aproxima as áreas erudita e popular.
Em 1968, participou do III Festival Internacional da Canção (RJ), com sua composição “O sonho”, interpretada pelo grupo Os Três Moraes. Escreveu para a música um arranjo para uma orquestra de 100 integrantes.
Em 1969, viajou para a Europa e atuou, durante um ano e meio, como arranjador e regente da orquestra que acompanhava Marie Laforêt. Nessa época, fez seu primeiro show internacional, apresentando-se no Festival de San Remo (Itália). Ainda nesse ano, gravou seu primeiro LP, “Egberto Gismonti”, lançado pela Elenco, que incluiu no repertório a canção “O sonho”.
Gravou, em 1970, “Sonho 70”, lançado pela Polydor, que continha, entre outras, “Mercador de serpentes”, canção que concorreu ao V Festival Internacional da Canção. Viajou, em seguida, para a Europa, gravando, na França, os discos “Janela de ouro” e “Computador” e, na Alemanha, o LP “Orfeo novo”.
De volta ao Brasil, lançou os LPs “Água e vinho” (1972), “Egberto Gismonti” (1973), com destaque para as faixas “Tango”, “Encontro no bar” e “Luzes da ribalta”, todas com Geraldo Carneiro, e o instrumental “Academia de danças” (1974).
Em 1975, lançou “Corações futuristas” e, no ano seguinte, “Dança das cabeças”, um dueto com o percussionista Naná Vasconcelos, nomeado Álbum do Ano pela Stereo Review e premiado com o Grober Deutscher Schallplattenpreis.
Em 1977, gravou o LP “Carmo”. No ano seguinte, lançou os LPs “Sol do meio dia” e “Nó caipira”.
Em 1979, lançou o LP “Solo”, tocando violão de oito cordas, piano e sinos. O disco vendeu 100.000 cópias nos Estados Unidos. Nesse mesmo ano, lançou, com Naná Vasconcelos e Walter Smetak, o LP “Egberto Gismonti & Naná Vasconcelos & Walter Smetak”.
Em 1980, gravou os LPs “Circense” e “Sanfona”, com ênfase para o seu violão tocando uma diferente improvisação de órgão indiano. Nesse mesmo ano, uniu-se ao baixista Charlie Haden e ao saxofonista Jam Garbarek para a gravação dos LPs “Mágico” (1980) e “Folk songs” (1981). O trio apresentou-se em turnê pela Europa, incluindo um concerto no Berlin Jazz Festival.
Ainda na década de 1980, gravou os LPs “Em família” (1981), “Fantasia” (1982), “Cidade coração” (1983), “Egberto Gismonti” (1984), “Duas vozes” (1985), com Naná Vasconcelos, “Trem caipira” (1985), cuja música-título, de Heitor Villa-Lobos, recebeu letra do poeta Ferreira Gullar, “Alma” (1986), com destaque para as faixas “Palhaço” e “Loro”, “Feixe de luz” (1988) e “Dança dos escravos” (1989), que sublinha a virtuosidade do instrumentista na execução de violões de seis, 10, 12 e 14 cordas.
Na década de 1990, lançou os discos “Infância”(1990), “Amazônia” (1991), “Casa das andorinhas” (1992), “Música de sobrevivência” (1993), inspirado em Manoel Bandeira, “Zigzag” (1996) e “Meeting point” (1997), uma homenagem a Carlo Gesualdo e Igor Strawinski, gravado com a Orquestra Sinfônica Estatal da Lituânia.
Constam, ainda, de sua discografia: “Kuarup” (1989), “Amazônia” (1991) e “El viaje” (1992), trilhas sonoras para o cinema, os infantis “A viagem do vaporzinho Tererê” (1980) e “O país das águas luminosas ” (1980), ambas com Dulce Bressane, e “O dirigível Tererê”, com Francis Hime (1981), as antologias poéticas de João Cabral de Melo Neto (1979), Ferreira Gullar (1979) e Jorge Amado (1980) e “A revolta”, com a Orquestra de Câmara de Curitiba, baseado nas esculturas de Franz Krajcberg, todos lançados no Brasil.
Atuou como produtor musical, arranjador e instrumentista com vários artistas, como Dulce Nunes (“O samba do escritor”, 1968), Maysa (1969), Agostinho dos Santos (1969), Marie Laforêt (“Computador” e “Janela de ouro”, 1969, França), Johnny Alf (“Nós”, 1973), A Barca do Sol (1975), Flora Purim (“Open your arms, you can fly”, 1975, Estados Unidos), Airto Moreira (“Identity”, 1975, Estados Unidos), Paul Horn (“High sun”, 1976, Estados Unidos), Wanderléa (“Vamos que eu já vou”, 1977), Marlui Miranda (“Olho dágua”, 1979), Naná Vasconcelos (“Saudades”, 1979, Alemanha), A Cor do Som (“Intuição”, 1984), Bernard Wystraete (“Intromission”, 1985, França), Edu Lobo, Elba Ramalho e Paula Toller, entre outros.
Lançou no Brasil, pelo seu selo Carmo, os discos “Entre duas palavras” (André Geraissati), “Violão” (Nando Carneiro), “Luiz Eça” (Luiz Eça), “Bateria” (Robertinho Silva), “Caminho do interior” (Piry Reis), “Oferenda” (Aleuda), “Um mito, uma coruja branca” (Antônio José), “Sete dias, sete instrumentos, música” (Carioca), “Aurora Dorica para o embaixador de Júpiter” (Grupo Papavento), “Carmo ano 1” (vários artistas), “Azul e areia” (Luigi Irlandini), “Meu continente encontrado” (Mú Carvalho), “O homem do madeiro” (William Senna), “Mantra Brasil” (Nando Carneiro), “Triângulo” (Luiz Eça, Robertinho Silva e Luiz Alves), “Fragmentos da casa” (Marco Bosco), “Rio zero grau” (Piry Reis) e “Barracas barrocas” (Fernando Falcão).
Lançou no exterior, pelo seu selo Carmo/ECM, como intérprete e produtor de outros artistas, os CDs “Árvore” (Egberto Gismonti Group and Orchestra), “Circense” (Egberto Gismonti Group and Orchestra), “Violão” (Nando Carneiro), “Kuarup” (Egberto Gismonti Group and Orchestra), “Academia de danças” (Egberto Gismonti Group and Orchestra), “Trem caipira” (Egberto Gismonti Group), “Nó caipira” (Egberto Gismonti Group and Orchestra), “Amazônia” (Egberto Gismonti Group), “Sete dias, sete instrumentos, música” (Carioca), “Alma” (Egberto Gismonti), “Guitarreros” (Ernest Snajer & Palle Windfeld), “Antonio” (Delia Fischer), “Quaternaglia” (Quaternaglia), “Água & Vinho” (Rodney Waterman & Doug De Vries).
É autor da trilha musical dos seguintes espetáculos de ballet: “Maracatu” (coreografia de Décio Otero, com o Ballet Stagium, 1974), “Corações futuristas” (coreografia de Vítor Navarro, com o Corpo de Baile do Teatro Municipal de São Paulo, 1976), “Conforme a altura do sol, conforme a altura da lua” (coreografia de Décio Otero, com o Ballet Stagium, 1978), “Dança das cabeças” (coreografia de Décio Otero, com o Ballet Stagium, 1978), “Construção” (coreografia de Klaus e Angel Vianna, 1978), “Sonhos de Castro Alves” (coreografia de Antonio Carlos Cardoso, com o Corpo de Baile do Teatro Castro Alves, 1982), “Variações” (coreografia de Graziela Figueroa, com o Grupo Coringa, 1984), “Maracatu” (coreografia e performance do Ballet Babinka, 1986, Uruguai), “Pantanal” (coreografia de Décio Otero, com o Ballet Stagium, 1986), “Variações sobre Villa-Lobos” (coreografia de Décio Otero, com o Ballet Stagium, 1987), “Jogo de búzios” (coreografia de Antonio Carlos Cardoso, com o Corpo de Baile do Teatro Castro Alves, 1988), “Natura” (coreografia de Laura Dean para o Laura Dean Dancers and Musicians, 1988, Estados Unidos), “Sonhos de Castro Alves 2” (coreografia de Vítor Navarro para o Corpo de Baile do Teatro Castro Alves, 1988), “Inconfidentes” (Corpo de Baile do Teatro Palácio das Artes, 1988), “Iemanjá” (coreografia de Joe Alegado para o Tanz-Forum, com o Ballet da Ópera de Colônia, performance musical ao vivo com a Filarmônica de Colônia, 1990, Alemanha), “Danças solitárias” (coreografia de Jochen Ulrich para o Tanz-Forum, com o Ballet da Ópera de Colônia, performance musical ao vivo com a Filarmônica de Colônia, 1990, Alemanha), “7 anéis” (coreografia de Jochen Ulrich para o Tanz-Forum, com o Ballet da Ópera de Colônia, performance musical ao vivo com a Filarmônica de Colônia, 1990, Alemanha), “Carmen” (coreografia de Jochen Ulrich para o Tanz-Forum, com o Ballet da Ópera de Colônia, performances em Colônia e Ludwigsburg, 1993, Alemanha), “Orixás” (coreografia de Luís Arrieta para o Corpo de Baile do Teatro Castro Alves, 1995), “Selva” (coreografia de Armando Duarte para a Companhia de Dança Cisne Negro, 1997), “Sonhos de Castro Alves Sinfônico” (coreografia de Vítor Navarro, com o Corpo de Baile do Teatro Castro Alves e Orquestra Sinfônica da Bahia, 1997), “Impromptu” (coreografia de Tindaro Silvano para a Companhia de Dança Cisne Negro, 1997) e “Festa do interior” (coreografia de Lilian Shaw e Robson Lourenço para o Corpo de Baile do Teatro Municipal de São Paulo, 1998).
Compôs as trilhas musicais das seguintes peças teatrais: “Maria Minhoca” (1969), de Maria Clara Machado, “Encontro no bar” (1973), de Bráulio Pedroso, com direção de Celso Nunes, “Seria cômico se não fosse sério” (1974), de Durrenmat, com direção de Celso Nunes, “Dor de amor” (1976), de Bráulio Pedroso, com direção de Paulo César Pereio, “Festa de sábado” (1976), de Bráulio Pedroso e Geraldo Carneiro, com direção de Daniel Filho e Antônio Pedro, “O pequeno prínicipe” (1978), de Saint Exupery, “Passageiro da estrela” (1984), direção de Sérgio Fonta, “Bandeira dos cinco mil réis” (1985), de Geraldo Carneiro, com direção de Aderbal Jr., “O homem sobre o parapeito da ponte” (1987), de Guy Forssy, “Sonhos de uma noite de verão”, de William Shakespeare, com direção de Werner Herzog.
É autor das trilhas sonoras dos seguintes filmes: “A penúltima donzela” (1969), dirigido por Fernando Amaral, “Em família” (1971), dirigido por Paulo Porto, “Confissões do Frei Abóbora” (1972), dirigido por Braz Chediak, “Janaína” (1973), dirigido por Olivier Perroy, “Quem tem medo do lobisomem” (1973), dirigido por Reginaldo Farias, “Terra do Guaraná” (1974), documentário, “Nem os bruxos escapam” (1974), dirigido por Valdir Ercolani, “Polichinelo” (1975), dirigido por Jean Pierre Albicoco, “Raoni” (1976, França), dirigido por Jean Pierre Dutilleux, “Parada 88” (1977), dirigido por José Anchieta, “Cruising” (1979, Estados Unidos), dirigido por William Frietkin, “Ato by violência” (1980), dirigido por Eduardo Escorel, “Pra frente Brasil” (1981), dirigido por Roberto Farias, “Euridyce” (1983), documentário dirigido por Mauro Alice, “L”Avaeté” (1985), dirigido por Zelito Vianna, “La bela Palomera” (1987), dirigido por Ruy Guerra, “Kuarup” (1988), dirigido por Ruy Guerra, “Amazônia” (1990, Estados Unidos), dirigido por Monti Aguirre, “El viaje” (1991, Argentina), dirigido por Fernando Solanas, “Estorvo” (1999), dirigido por Ruy Guerra, e “Gaigin II” (2001), dirigido por Tisuka Iamasaki.
Compôs músicas para as seguintes exposições de artes plásticas, todas realizadas no Brasil: “Os muito universos” (1985), de Marilda Pedroso, “Ita-Parica” (1985), de Marilda Pedroso, “Figueira branca” (1986),de Akiko Fujita, “Os sete anéis” (1986), de Antonio Peticov, e “A revolta” (1995), de Franz Krajcberg.
É autor de músicas para as seguintes séries especiais de televisão: “As nadadoras” (TV Manchete, 1986), de Mariza Álvares Lima, “Diadorim” (1987), de José de Anchieta, “Pantanal” (TV Manchete, 1986), documentário de Washington Novaes, “O pagador de promessas” (TV Globo, 1988), de Dias Gomes, com direção de Tisuka Iamasaki, “Um grito pela vida” (Estados Unidos, 1991), de Haroldo e Flávia Castro, “Amazônia, parte II” (TV Manchete, 1992), de Tisuka Iamasaki e Regina Braga, com direção de Tisuka Iamasaki, “Kuarup” (TV Manchete, 1992), de Ruy Guerra, e “Los ramos talleros guaranies” (Espanha, 1998), de Ana Maria Zanotti, contemplado como Mejor Video Iberoamericano no XX Festival de Cine Científico, em Andaluzia.
Assinou as trilhas sonoras dos filmes “Tempo de paz” (2009) e “Chico Xavier” (2010), ambos dirigidos por Daniel Filho.
Em 2010, a cantora Jane Duboc lançou o CD “Canção da espera”, contendo exclusivamente composições de sua autoria: “Quatro cantos”/ “Memória e fado”, “Ano Zero”, “Sanfona”, “Água e vinho“, “Bodas de prata”, “Auto-retrato”, “Janela de ouro”, “Feliz Ano Novo” e a faixa-título, todas com Geraldo Carneiro, e ainda “Saudações” (c/ Paulo César Pinheiro) e “Mais que a paixão” (c/ João Carlos Pádua). Nesse mesmo ano, foi capa da revista “Carioquice”, publicação do Instituto Cultural Cravo Albin (ano VII, nº 27), que trouxe matéria sobre sua trajetória artística intitulada “Doçuras dodecafônicas”, assinada por Deborah Duman.
Em 2011, a pianista e cantora Délia Fischer lançou o CD “Saudações, Egberto”, registrando composições de sua autoria, como “Baião malandro”, “Palhaço” (c/ Geraldo Carneiro), “Prum samba”, “Cor de sol/Loro” (c/ Eugênio Dale), “Baião malandro”, “Frevo”, “Sonho”, “Pêndulo” (c/ Ronaldo Bastos) e outras, além de “Saudações” (c/ Paulo César Pinheiro), que contou com a sua participação. Nesse mesmo ano, apresentou-se no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em recital solo de piano, pelo ciclo “Série Sala Contemporânea”.
Lançou, em 2012, o CD duplo “Carta de amor”, registro de um show realizado em abril de 1981, na sala de concertos Amerika Haus, em Munique, ao lado do saxofonista norueguês Jan Garbarek e do baixista americano Charlie Haden. No repertório, suas composições “Cego Aderaldo”, “Don Quixote”, “Branquinho” e “Palhaço”, além da faixa-título, entre outras.
Em 2016 apresentou o concerto de abertura da primeira edição do Festival MIMO na cidade de Amarante, em Portugal.
Em 2018 celebrou os 15 anos do Festival MIMO, apresentando-se ao lado de seu quarteto formado por cello, voz, acordeão e piano. Participou do MIMO em outras nove edições ao lado do Quinteto de Cordas, Naná Vasconcelos, Jaques Morelenbaum, dentre outros.
Em 2019 o documentário sobre sua vida começou a ser filmado pelo cineasta Zelito Viana. O roteiro contou com histórias de suas parcerias com João Gilberto, Naná Vasconcellos e Paulinho da Viola. A direção de fotografia foi realizada por Walter Carvalho.
(ao vivo)
(infantil) Egberto Gismonti e Francis Hime
(infantil) Egberto Gismonti e Dulce Bressane
(infantil) Egberto Gismonti e Dulce Bressane
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2009.
COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.