Cantora.
Começou a cantar ainda adolescente, participando, em 1947, do programa “Papel carbono”, de Renato Murce, levado ao ar pela Rádio Nacional. No ano seguinte, foi apresentada a Almirante, diretor da Rádio Tupi, pelo cantor Alcides Gerardi. Submetida a um teste para cantora, foi aprovada e começou a participar dos programas musicais da rádio.
Começou sua carreira profissional em 1951, aos 17 anos de idade, como cantora da Rádio Tupi, tendo trabalhado na emissora durante oito anos. Ainda em 1951, gravou seu primeiro disco, em 78 rpm, pela gravadora Todamérica, com os sambas “Se você se importasse”, de Peterpan, que ficou em primeiro lugar nas paradas de sucesso durante três meses, e “Fecho meus olhos…vejo você”, de José Maria de Abreu. Em 1952, gravou os sambas “Quantas vezes?”, de Peterpan; “Bate um sino além”, de Alberto Ribeiro e José Maria de Abreu, e “Sou tão feliz”, de Roberto Mário e Maurício de Lima, e o bolero “Nunca te direi”, de José Maria de Abreu e Jair Amorim. No mesmo ano, foi eleita “Rainha dos Cadetes”. Em 1953, gravou os sambas “Você não sabe”, de Antônio Almeida e Frazão, e “Linguagem dos olhos”, de José Maria de Abreu e Alberto Ribeiro, e o beguine “Ruínas”, de Haroldo Eiras e Vitor Berbara. Ainda em 1953, foi levada para o cinema. Estrelou “Agulha no palheiro”, de Alex Viany, cantando a música homônima, sendo eleita a melhor atriz do ano por sua atuação no filme. Vieram, em seguida, “Rua sem sol”, “Tudo é música”, “Carnaval em Caxias”, “De vento em popa”, “A carrocinha”, “O espetáculo continua” e “Copacabana Palace”, uma produção italiana dirigida por J. Teno, com participação de Tom Jobim (como ator), além de João Gilberto e Luiz Bonfá. Em 1954, gravou os sambas “Basta dizer adeus”, de Hilton Simões, Luiz Lemos e Humberto Pinheiro e “Desejo”, de Wilson Batista e Jorge de Castro. No ano seguinte, transferiu-se para a gravadora Continental, e estreou com os sambas “Por que razão”, de José Maria de Abreu e Luiz Peixoto, e “Quando tu passas por mim”, de Antônio Maria e Vinícius de Moraes. No mesmo ano, gravou os sambas-canção “Se é por falta de adeus”, de Tom Jobim e Dolores Duran, e “Dó-ré-mi”, de Fernando César, que fez bastante sucesso, com arranjos de Antônio Carlos Jobim. Ainda em 1955, fez uma temporada no Cassino de Punta del Este no Uruguai. Em 1956, gravou o samba-cançao “Engano”, de Luiz Bonfá e Tom Jobim, e a toada “Gosto da vida”, de Hianto de Almeida e Francisco Anísio. No mesmo ano, lançou o LP “Confidências de Dóris Monteiro com música de Fernando César” no qual interpretou músicas do compositor, entre as quais, “Vento soprando”; “Graças a Deus”, um de seus grandes sucessos; “O amor é isso” e “Cigarro sem baton”.
Em 1957, ingressou na gravadora Columbia, e lançou o LP “Dóris Monteiro”, que tinha na contra capa texto do compositor Fernando César. Este LP tinha entre outras, “Faça de conta”, de Fernando César; “Mocinho bonito”, de Billy Blanco, outro de seus sucessos; “Meu tempo”, de Edson Borges, e “Marcada”, de Maysa. No mesmo ano, fez apresentações com Dorival Caymmi, em Lisboa e Coimbra, em Portugal. Em 1958, gravou a toada “Real conclusão”, de Edgardo Luiz e Amado Régis, o bolero “Faça de conta”, de Fernando César, e o samba canção “Eu não existo sem você”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. No ano seguinte, gravou os sambas “Argumentação”, de Afonso Chiodi, Lomonaco e Nanai, e “Uma só vez”, de Caco Velho. Ainda em 1959, lançou o LP “Doris”, com as composições “Cartão de Visita”, de Edgardo Luis e Nilton Pereira de Castro, “Sonhar”, de José Maria de Abreu e Jair Amorim, “Prelúdio Op 32”, de Eduardo Dutra e Victor Dagô, “Argumentação”, de Afonso Chiodi, Lomonaco e Nanai, “Domingo Próximo”, de Alfredo Borba e Édson Borges, “Depois de Tanto Esperar”, de Armando Nunes e Othon Russo, “Vem Me Beijar”, de Erlon Chaves, “Uma Só Vez”, de Caco Velho, “Sempre Teu”, de Fernando César e Britinho, “A Saudade e Você”, de Fernando César, “O Maior Problema”, de Billy Blanco, e “Sou Toda Tua”, de Dolores Duran e Fernando César. Em 1960, lançou mais um LP, pela Continental, “Vento soprando”, que trazia antigas gravações, e, ainda, “Joga a rede no mar”, de Fernando César e Nazareno de Brito, um de seus maiores sucessos, e “Sempre teu” e “Paraíso perdido”, da dupla Fernando César e Britinho.
Em 1961, foi para a gravadora Philips, e lançou os sambas “Palhaçada”, que fez bastante sucesso, e “Fiz o bobão”, de Haroldo Barbosa e Luiz Reis, “Sei lá”, de James Levi, e “Coração só faz bater”, de João Melo. Em 1963 lançou, pela Philips, o LP “Gostoso é sambar”, com destaque para as músicas “Nós e o mar”, “Você e eu”, “Parti” e “Olhou pra mim”, com arranjos de Walter Wanderley e Ed Lincoln. No ano seguinte, lançou o LP “Doris Monteiro”, com arranjos do maestro Lindolpho Gaya, lançando a música “Diz que fui por aí”, que seria depois consagrada na voz de Nara Leão. Em 1966, gravou o LP “Simplesmente”, com o qual estreou na gravadora Odeon, com arranjos de Meirelles e Lyrio Panicali, com destaque para “Muito à vontade”, de João Donato e João Mello, “Meu refrão”, de Chico Buarque, e “Sem mais adeus”, de Francis Hime.
Em 1969, lançou o LP “Mudando de conversa”, pela Odeon, com destaque para a música título, de Maurício Tapajós e Hermínio Bello de Carvalho, um de seus grandes sucessos, “Vou te contar”, de Tom Jobim, “Canção da volta”, de Ismael Netto e Antônio Maria, e “Chamego”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia. No ano seguinte, gravou, com o cantor Miltinho, o LP “Dóris, Miltinho e charme”, que apresentou diversos pot-pourris. Ainda em 1970, lançou LP solo onde se destacaram as músicas “A feira”, de Nonato Buzar, “Garota do Pasquim”, de Carlos Imperial, “Brasil, brasa, braseiro”, de Antonio Adolfo, “Glória, Glorinha”, de Erasmo Carlos, e “Vou deitar e rolar”, de Baden Powell. No ano seguinte, gravou outro LP com Miltinho, com destaque para “A pedida é samba”, de Julinho de Castro, “Fim de caso”, de Dolores Duran, “Quero-te assim”, de Tito Madi, e “Nunca”, de Lupicínio Rodrigues. Ainda em 1971, lançou o LP “Doris”, no qual interpretou “É isso aí”, de Sidney Miller; “Mas que doidice”, de Antônio Carlos e Jocafi; “Mundo pequeno”, “Eu quero, eu quero, eu quero” e “Hey você”, de Elizabeth; “De pilantra e de poeta”, de Alberto Land; “Ao amigo Tom”, de Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Osmar Milioto; “De noite na cama”, de Caetano Veloso; “Conversa de botequim”, de Noel Rosa; “Coco verde”, de Sérgio Sampaio; “Vamos partir pro mundo”, de Tibério Gaspar e Antônio Adolfo, e “Mais um adeus”, de Toquinho e Vinícius de Moraes. Em 1972, gravou o terceiro LP com Miltinho, com destaque para “Diz que sim”, de Luiz Antônio, “Doce lembrança”, de Waldemar Gomes, “O amor e a rosa”, de Pernambuco e “Deixa”, de Vinícius de Moraes e Baden Powell. No mesmo ano, gravou sozinha “Dose pra leão”, de César Costa Filho e Walter Queiroz, “Essa menina”, de Sidney Miller, “Moço”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, e “Regra três”, de Toquinho e Vinícius de Moraes. Em 1973, lançou LP solo, pela Odeon, no qual interpretou “Eu só quero um xodó”, de Dominguinhos e Anastácia, “Jogo duro”, de Tom e Dito, “Viagem”, de Paulo César Pinheiro e João de Aquino, e “Água na fonte”, de Nenéo. No mesmo ano, gravou o quarto LP da série com Miltinho no qual a dupla interpretou “Quando eu vim de Minas”, de Xangô da Mangueira, “Se Deus quiser”, de Jair Rodrigues e Wando, “Minhas razões”, de Antônio Carlos e Jocafi, e “Lendas do Abaeté”, de Jajá, Manoel e Preto Rico.
Em 1974, partcicipou da série radiofônica, em cadeia nacional de emissoras, “MPB 100, ao vivo”, de que resultaram oito elepês nos quais ela interpretou Billy Blanco e os compositores da bossa ao lado de Lúcio Alves e Alaíde Costa, com roteiro, direção e apresentação de R. C. Albin. No mesmo ano, lançou LP no qual interpretou clássicos como “Nem eu”, de Dorival caymmi, “Fiz a cama na varanda”, de Dilú Melo e Ovídio Chaves, “Vingança”, de Lupicínio Rodrigues, e “Dor de recordar”, de Olegário Mariano e Joubert de Carvalho. Em 1976, lançou o LP “Agora Dóris Monteiro” no qual gravou “Flauta de lata”, de Cacaso e Sueli Costa, “Lugar comum”, de Gilberto Gil e João Donato, “Dia de feira”, de João de Aquino e Jesus Rocha; “Eu hein, Rosa!”, de Paulo César Pinheiro e João Nogueira, e “Tema de Dóris”, de Ricardo. Em 1978, gravou um LP com Lúcio Alves, a partir de repertório de apresentações no Projeto Pixinguinha, com destaque para “Mudando de conversa”, de Maurício Tapajós e Hermínio Bello de Carvalho , “Pra dizer adeus”, de Edu Lobo e Torquato Neto; “Sábado em Copacabana”, de Dorival Caymmi, e “De conversa em conversa”, de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa.
Em sua carreira, destacam-se as gravações de “Joga a rede no mar” e “Dó ré mi”, de Fernando César e Nazareno de Brito, “O que eu gosto em você”, de Sílvio César, “Olhou pra mim”, de Ed Lincoln e Sílvio César, “Apelo”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, e “Coqueiro verde”, de Roberto e Erasmo Carlos, entre outras. Foi uma das cantoras de maior prestígio dentro da TV Tupi, onde chegou a ter programa com seu próprio nome, e onde chegou a ser bastante admirada pelo dono da emissora, Assis Chateaubriand. Em 1986, participou do disco “Essas mulheres: Dóris, Elizeth, Helena e Ângela Maria”, lançado pela Continental. Em 1990, esteve no Japão, a convite de Lisa Ono, e se apresentou em teatros de Osaka, Nagoya e Tóquio. Nessa ocasião, gravou a música “Praia nova”, de Lisa Ono e Paulo César Pinheiro, no disco “Bossa nova underground”. No ano seguinte, participou, ao lado de Emilinha Borba, Ivon Curi e Zezé Gonzaga, de espetáculo comemorativo dos 70 anos do rádio no Brasil, escrito e dirigido por Ricardo Cravo Albin, e encenado no Teatro do BNDES, com grande sucesso, interpretando o início de sua carreira, famosa na época por usar uma única trança no cabelo, quando estava sempre acompanhanda por sua mãe, que não a deixava sozinha um momento sequer. Em 1992, gravou pela Sony Music o CD “Samba canção”, da série Academia Brasileira de música, com estaque para “Chove lá fora”, de Tito Madi, “Ronda”, de Paulo Vanzolini, “Jura secreta”, de Sueli Costa e Abel Silva, “Manhã de carnaval”, de Antônio Maria e Luiz Bonfá, e “Pra você”, de Sílvio César. Em 2002, fez show na Sala Baden Powell, em Copacabana dentro da série “Na hora do chá”, da RioArte. Em 2003, apresentou-se com Miltinho em show no Centro Cultural Banco do Brasil cantando antigos sucessos dos anos 1950 como “Palhaçada”, de Luiz Reis e Haroldo Barbosa.
Em 2004, em comemoração aos seus 70 anos, foi presenteada pelas gravadoras Universal e EMI com o relançamento em CD de doze de seus melhores discos. Na ocasião, realizou dois shows de lançamento no Bar do Tom, em Ipanema. Em 2008, abriu a temporada de shows do projeto “Adoniran – Oito e meia” no Memorial da América Latina, em São Paulo. Na ocasião, acompanhada pelo tecladista Ricardo Júnior, interpretou diversas canções da fase de ouro do rádio brasileiro, entre as quais, “Mocinho Bonito”, de Billy Blanco, “Valsa de uma Cidade”, de Antonio Maria, “Copacabana”, de Braguinha e Alberto Ribeiro, “Conversa de Botequim”, de Noel Rosa, e “Se Todos Fossem Iguais a Você”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Em 2010, juntamente com o saxofonista Aurino Ferreira, foi homenageada na Calçada da Fama de Ipanema,em frente à Toca do Vinícius. Em 2011, apresentou-se no Teatro SESI, no centro do Rio de Janeiro, dentro do projeto “Samba e outras coisas” comandado por Haroldo Costa. Na ocasião interpretou sucessos como “Gostoso é sambar”, de João Mello, e “O que eu gosto de você”, de Sílvio César. Ainda em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas, em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin, a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 5 estão incluídas suas interpratações para as músicas “Eu e a brisa”, de Johnny Alf; “Ninguém me ama”, de Antonio Maria e Fernando Lobo; “Se eu morresse amnhã”, de Antonio Maria; “Castigo”, de Dolores Duran; “Se é por falta de adeus”, de Dolores Duran e Tom Jobim, e “A banca do distinto”, de Billy Blanco, sendo que nessa última, fez dueto com Johnny Alf. No mesmo ano, participou da série “MPB 12:30 em ponto” no Centro Cultural Light no centro do Rio de Janeiro com direção de Haroldo Costa e roteiro e apresentação do historiador Ricardo Cravo Albin. Em 2012, sua interpretação para a marcha “Boas festas”, de Assis Valente, foi incluída no CD duplo “Assis Valente não fez bobagem – 100 anos de alegria” lançado pela EMI em homenagem ao centenário de nascimento do compositor. No mesmo ano, passou a integrar o grupo As Cantoras do Rádio, em sua nova formação, que estreou no show “MPB pela ABL – A volta das cantoras do Rádio”, récita única no auditório Raimundo Magalhães Jr., todas acompanhadas por Fernando Merlino, com apresentação, criação e roteiro de Ricardo Cravo Albin. Ainda em 2012, participou, juntamente com as cantoras Sonia Delfino e Ellen de Lima, da homenagem prestada no Instituto Cultural Cravo Albin à cantora Marlene, por ocasião do 90º aniversário natalício da mesma com a exposição “Marlene – 90 anos de glórias”. Na ocasião, foi realizado um espetáculo com o grupo Cantoras do Rádio. Nesse espetáculo, interpretou solo os sambas “Nasci para bailar”, de Joel de Almeida, “Morana filosofia”, de Monsueto e Marcléo, e “Saudosa maloca”, de Adoniran Barbosa. Em conjunto com Ellen de Lima e Sonia Delfino cantou os sambas “Zé Marmita”, de Luiz Antônio e Brasinha, e “Se é pecado sambar”, de Manoel Santana, e as marchas “Sapato de pobre”, de Luiz Antônio e Jota Júnior, e “Lata dágua”, de Luiz Antônio e Jota Júnior. Em 2013, apresentou-se na casa de espetáculos Miranda, zona sul do Rio de Janeiro, no show “Uma noite para Dolores Duran” – com Rodrigo Faour convidados. Em 2017, apresentou-se no popular baile carnavalesco da Cinelândia cantando no sábado e no domingo. No mesmo ano, foi homenageada na casa de show Cariocando, por Leny Andrade, sua colega e amiga.
Em 2019 foi homenageada, com Leny Andrade, ganhando o Troféu Feira de Vinil do Rio de Janeiro, no evento Clube do Vinil, realizado no Instituto Dos Arquitetos do Brasil, no Rio de Janeiro (RJ). Neste mesmo ano, se apresentou no espetáculo As Divas do Sambalanço com Claudette Soares e Eliana Pittman. No mesmo ano participou do programa “Um Café Lá em Casa”, do canal no Youtube do guitarrista Nelson Faria, que gerou um EP nas redes de streaming.
Em 2020 o show “Divas do sambalanço” foi lançado como álbum ao vivo, também em CD, pelo selo Discobertas.
Em novembro de 2022 “Divas do sambalanço” foi lançado também em vinil, com apresentação no programa do Faustão, na Rede Bandeirantes
Com Claudette Soares e Eliana Pittman
EP
Reedição
Reedição
Coletânea
Dóris, Elizeth, Helena e Ângela Maria
EP
Exemplar promocional
EP
Este disco é o volume 3 da série Coletânea
Exemplar promocional
Exemplar promocional
"Na contra-capa, texto de Fernando Cesar"
Na contra-capa, texto de Sérgio Lobo
"Na contra-capa, texto de Djalma Sobrinho"
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
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SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.
Há certos cantores que extrapolam sua própria importância e são considerados como “históricos”.
Dóris Monteiro começou em pleno início da década do samba-canção, 1950. Mas, apesar de ter cantado todos os sambas doloridos que tinha direito, Dóris sempre teve dentro dela a descontração e o fraseado da bossa nova. Ou, ao menos, de uma música mais moderna, do mesmo jeito que Johnny Alf, Dick Farney e Lúcio Alves, companheiros seus de geração, de 1950 para cá. Pois foi em 1950 que Dóris começou a ser observada pelo meio artístico, depois de participar como caloura no programa “Papel carbono”, de Renato Murce, na Rádio Nacional.
A filha de portugueses Adelina Monteiro era uma adolescente de 16 anos e usava uma trança única, que de tão comprida repousava romanticamente no colo bem talhado. Virgem juramentada, mudou de nome e logo começou a cantar na permissiva radiofonia carioca — primeiro Rádio Guanabara, logo depois Rádio Tupi, onde se faria estrela em menos de um ano. Mas — fato importante para os cronistas da época — preservou a virgindade a sete chaves. Ela, propriamente não, porque sua guardiã era a mãe, uma austera senhora de buço, que não deixava a filha solta um minuto sequer, marcação cerrada que fez as delícias do começo da década de 50. Sérgio Porto, o fero Stanislaw Ponte Preta, me diria, anos depois, que Dóris Monteiro foi a virgem mais cobiçada pelos gaviões em toda a história da MPB. Dóris cantava na Tupi, gravava na Todamérica (“Se você se importasse”, Peterpan, seu primeiro sucesso, em 1951) e filmava, como estrela, “Agulha no palheiro” (1953) e “Rua sem sol” ( 1954), ambos de Alex Viany. Sempre com a mãe ao lado. Mamãe só a deixou quando – envergando, é claro, um esvoaçante vestido branco de noiva e frente ao altar – Dóris se casou com um cadete da Marinha (1954), união que acabaria em pouco tempo para alívio geral dos seus muitos fãs.
Livre, Dóris recomeçou a carreira e logo descobriria Fernando César, um industrial cujo hobby era compor e de quem gravou grandes sucessos como “Graças a Deus” e “Joga a rede no mar”, além do triunfal “Dó ré mi” (Você é dó/ É ré, mi, fá / É sol lá si). E foi um não parar mais de fazer sucesso. Até porque tinha um programa só seu na TV Tupi, queridíssima que era do dono da emissora, o galante “tycoon” Assis Chateaubriand. Em 1956, por exemplo, Billy Blanco entregou-lhe, entre outras jóias, a vigorosa crônica carioca de época “Mocinho bonito” (Que é falso malandro de Copacabana/ O mais que consegue é vintão por semana/ Que a mana do peito jamais lhe negou) e que encabeça seu amplo repertório até hoje.
Há poucos anos atrás, quando a radiofonia celebrou 75 anos, escrevi e dirigi um espetáculo no BNDES estrelado por Emilinha Borba, Ivon Curi, Zezé Gonzaga e Dóris Monteiro. A ação se passava em 1954. E era conduzida pelo ator Gerdal dos Santos, fazendo o papel de Vítor Costa. Pedi a Dóris que envergasse de novo sua famosa trança única e selecionei seus sucessos de quase 50 anos atrás. No que ela abriu a boca, as quase mil pessoas cantaram junto todas as suas antigas criações.
Prova provada que saudade não tem idade. E que o bom volta sempre. Especialmente, em se tratando de uma estrela do porte de Dóris Monteiro.
Ricardo Cravo Albin